À Espreita escrita por EsterNW, Entusiasta


Capítulo 16
Casa dos segredos


Notas iniciais do capítulo

Ester:
Hallo hallo, meu povo! Estão bem depois de toda a emoção do cap anterior? Espero que sim, porque... Hoje teremos ainda mais emoções! Então preparem os hearts, porque o cap de hoje tem bastante ação.
Boa leitura ;)



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Após aquela breve conversa, um pouco estranha, devo dizer, o silêncio baixou dentro do carro, estando cada um mais perdido em sua própria mente inquieta. A paisagem passava conforme íamos avançando até o bairro de Camila... Natalie... Que seja. Devido à tempestade de antes, dirigia com cuidado redobrado pelas pistas molhadas e, graças a árvores caídas ao longo do trajeto, era obrigado a mudar o percurso, atrasando ainda mais nossa chegada.

— Acalme-se, o desespero apenas nos atrapalha — Edgar foi o primeiro a cortar o silêncio dentro daquele carro, após eu bufar de nervosismo.

Apesar de tudo, ele ainda ostentava a mesma máscara calma de sempre, sendo visíveis através dos seus olhos, pequenos indícios do que se passava dentro de si. Era impressionante como ele conseguia se controlar até ali.

— Estamos atrasados, Edgar. Camila já deve ter chegado lá. — Bati as mãos no volante quando encontramos outra árvore caída, tendo que fazer um novo desvio. Soltei o ar pela boca devagar, tentando me acalmar.

— Concentre-se em dirigir, eu vou dar um jeito em tudo — o homem disse mais para si mesmo, voltando novamente àquele estado de imersão em pensamentos de anteriormente.

Ri sem graça alguma, invejando aquela calma inabalável dele. Infelizmente, minhas emoções eram mais fortes do que eu gostaria. Tentando distrair aqueles pensamentos ininterruptos, liguei o rádio e mudei a marcha logo em seguida. Talvez uma música tirasse-me daquele clima de tensão que tomava cada vez mais conta de mim. Talvez também servisse de trilha sonora para aquela ficção que minha vida tinha se tornado desde então.

“Faz frio em Porto Alegre toda noite

E de longe eu não posso te ver

Então me perco em pensamentos de um passado

Que há muito tempo eu quero esquecer”

Quase soltei uma exclamação de surpresa quando aqueles versos preencheram o silêncio do carro. Estiquei a mão em um ímpeto para mudar de estação. Será que ela perseguiria-me em todos os lugares? Parecia que eu nunca teria paz, com ela sempre em minha mente

— Deixe — Edgar pediu, saindo de seu transe, e minha surpresa deixou meus lábios, passando para minha face.

— Você gosta disso? — Ele apenas deu de ombros em resposta. Encarei-o incrédulo por alguns segundos, voltando a atenção para a pista escorregadia em seguida. — Camila ama essa música — comentei amargo, fazendo uma curva fechada e vendo as ruas do Jardim Nova Lima darem-me as boas vindas enquanto eu diminuía um pouco a velocidade do veículo.

“Eu vivo condenado e sem saída

De um passado que parece não ter fim

Você não sabe de mim”

— Acho que sabemos por quê — Edgar mencionou como se fosse o óbvio e, pela primeira vez, prestei atenção àquela letra.

“Só não queria dizer adeus

Eu não queria perder o que sempre foi meu

Pois não há alguém que possa te amar

Pois não há alguém que possa nos salvar”

Encarei Edgar assustado, porém, ele parecia estar de volta imerso em seus pensamentos, praticamente deixando-me sozinho naquele carro. Céus, aquela música... Dizia tanto sobre aquilo que atormentava Camila e seus sentimentos e eu nunca... Eu nunca havia questionando-me o porquê de seus gostos. Afinal, era uma banda “emo” e ela se disfarçava como uma.

Mas, ao que parecia, tudo relacionado a ela escondia algo. Mesmo aqueles pequenos detalhes. E, agora, aquilo também estava em minha mente, incomodando-me como seu fantasma que nunca me deixava.

Eu nunca havia compreendido aquela máscara que ela usava. E talvez nunca soubesse quem estava por trás daquela maquiagem.

“Eu não queria dizer adeus

Só não queria perder o que sempre foi meu”

Observei Edgar com sua expressão reflexiva e seus olhos emotivos. Aquela canção também lembrava muito a ele e sua história. E eu iria ajudá-lo a recuperar o que havia sido tirado dele: seu filho.

A música foi chegando ao fim e preencheu totalmente o interior do veículo com seu final estrondoso, em contraponto do começo melancólico. Do lado de fora, passamos pela ponte do Jardim Nova Lima, aquela mesma que eu cobrava quando vi Camila pela primeira vez. Fui diminuindo a velocidade, até parar de vez na rua em que ela vivia.

Edgar soltou o cinto e saltou do carro assim que estacionei.

— Ande, temos que compensar o tempo perdido — perdeu aquela sua paciência de anteriormente e sai atrás dele, guiando o caminho até a casa que visitei havia poucos dias. — Ela realmente se escondeu muito bem — comentou irônico, sendo reprovado pelo olhar escrutinador da vizinha na janela. A mesma de sempre. Observando a tudo como uma espectadora daquela história.

— O que fazemos agora? — questionei sem saber como proceder a seguir. Seria idiota se batesse na porta como um convidado. Ao mesmo tempo, era errado... — O que acha que está fazendo?!

Assustando-me, Edgar deu um pontapé forte na fechadura da porta carcomida. Ele conseguiu o que queria, não precisando muito para derrubar aquela porta carunchada, e entrou com pressa, ignorando completamente a minha presença. Cerrei os punhos e apertei os lábios em uma linha fina, entrando na casa e tentando seguir seus passos rápidos, que exploravam tudo, abrindo com um estrondo cada uma das portas daquele corredor misterioso.

— Onde ela está? — Edgar gritou, perdendo o controle de suas emoções. — Pra onde ela foi? Onde?! — berrou a pergunta para mim, assim que entrei no quarto em que ele estava parado.

— Eu não sei... — Ele não quis ouvir-me, se retirando do cômodo e socando a porta na saída, pisando em algo que fez um barulho estranho. Ele não se importou.

Olhei para baixo e, com a meia luz que entrava pelas frestas da janela, peguei um dos outros brinquedos de Miguel. Havia outros pertences da criança espalhados pelo chão daquele quarto tão simples. Então era por isso que ela mantinha todas essas portas trancadas.

Guardei o brinquedo do Pato Donald no bolso. Daria aquilo para Edgar mais tarde. Sai com o barulho dos meus sapatos ecoando pelo corredor e tive minha atenção atraída para outro dos cômodos misteriosos. Entrei, vendo que Edgar revirava gavetas, atirando algumas roupas e outros pertences como vidro de perfume, escovas e maquiagem ao chão, com tamanha fúria que mexia naquela cômoda.

— Ela foi embora. Levou todos os documentos e deixou algumas roupas e pertences para trás — afirmou arfando um pouco e finalmente parando alguns instantes desde que entrou naquela casa.

— Ela deve ter fugido — afirmei o óbvio e vi o outro revirar os olhos naquela meia luz. Confesso, eu não era de muita ajuda naquele momento. A realidade vivida na pele parecia mais dura daquela que eu apresentava no meu programa.

— Pra onde ela foi? — questionou em novo rompante de energia, saindo do quarto e sendo seguido por mim com rapidez. — Natalie deve ter ido para outra cidade de novo.

Saímos para a rua, sendo agraciados pelo sol pós-tempestade e agradecendo mentalmente por finalmente ter uma claridade maior e poder sair daqueles corredores escuros e sombrios.

— Edgar, nós podemos tentar ir atrás dela...

— Pra onde, Heitor? Pra onde? — Edgar soltou outro urro de raiva e socou a porta de entrada. — Tanto trabalho pra nada…

— Eu vou chamar a polícia pra vocês! — Uma voz esganiçada impediu que Edgar gritasse mais uma vez. Olhamos para o lado, surpresos, vendo a vizinha mexeriqueira com um celular em mãos e mais afastada da janela, talvez com medo de nós dois.

— Acalme-se, minha senhora, não é necessário. — Aproximei-me dela, que acuava-se de mim, ao mesmo tempo que devolvia-me seu costumeiro olhar escrutinador. —  Nós já estamos indo embora — tentei convencê-la, temeroso do que isso fosse gerar. Por sorte, não havia mais ninguém por perto além dela e de um grupo de crianças brincando ao longe.

Edgar saiu de onde estava, apoiado na porte carunchada da casa de Camila, e foi em direção à elas. Reclamei em um sussurro, como se fosse de alguma utilidade, ele estar agindo com impulsividade. Aquele Edgar contido e com uma máscara de calma de minutos antes, era apenas uma memória, dando lugar a um homem — e pai — desesperado.

— Por acaso a senhora não saberia me dizer o que aconteceu com a Camila? — Apontei com o polegar para a casa atrás de mim e a senhora olhou-me de cima a baixo. — Ela é minha namorada, como a senhora deve saber… Nós dois estamos preocupados com o que pode ter acontecido com ela. A casa estava vazia…

— Eu só vou contar pro senhor porque gosto do seu programa e sei que o senhor é um homem de bem — a senhora afirmou, gerando uma expressão em minha face com direito a cenho franzido. Será que era por isso que ela sempre me vigiava quando eu vinha até aqui? E acreditava eu que conseguia  ser discreto. — A Camila desceu de um táxi e entrou dentro de casa correndo. Ela nem me deu boa tarde quando me viu na janela e ela sempre me dá boa tarde. — A senhora começou a tagarelar e eu torcia mentalmente para que isso não durasse muito. Cada minuto era precioso. — Aí uns minutos depois ela saiu correndo com umas bolsas, uma sacola e segurando o menino pela mão e foram pra lá. — Apontou com o celular para o morro ao longe, onde as casas começam a diminuir de quantidade. — Daí um pouco depois vocês chegaram. Sabe, eu…

Dispensei o falatório da senhora, agradecendo pela informação, e indo atrás de Edgar, que havia finalizado o interrogatório com as crianças e dirigia-se com passos rápidos até a direção que a senhora indicara-me. Corri um pouco até ele.

— Camila…

— Ela fugiu com o Miguel, eu sei — afirmou, talvez tendo descoberto a informação com as crianças. Ele sequer olhava para mim, alguns passos atrás, mantendo o foco no caminho à frente, com o desespero à mostra em sua voz. — Você tem alguma pista sobre onde ela possa ter ido?

— Não, eu não vim muitas vezes até o bairro. Sequer conheço a região direito — afirmei tomando uma respiração longa. Eu realmente não estava preparado para tanta ação de uma vez.

Edgar suspirou, talvez cansado, sabe-se se de todo aquele percurso, da situação ou dos dois.

— Como você pôde namorar com uma pessoa que você mal conhece? — Aquela ironia havia voltado para sua voz por breves instantes.

— Eu me pergunto a mesma coisa. — Parei no meio do caminho do morro, levando as mãos até os joelhos e curvando as costas. Respirei fundo, tentando tomar fôlego, porém, tudo o que consegui foi torcer o nariz e segurar um espirro. — Você está sentindo isso? — Espirrei e Edgar parou alguns passos à frente. — Parece…

— Algo queimando.

O homem apontou com a cabeça para o morro ao leste, de onde saía uma fumaça escura, que começava a ser visível apenas de onde estávamos. Nos encaramos e voltamos a subir o morro com ainda mais pressa.


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Notas finais do capítulo

Ester:
A música que toca no carro é Porto Alegre do Fresno: https://youtu.be/Rl6bWN_OR3g
Acho que agora descobrimos porque a Camila/Natalie gosta tanto dessa música, não é mesmo? Porque tudo nessa história tem um motivo -q
Por hoje é só, povo! Vejo vocês na próxima segunda, em mais uma aventura de menino Heitor e Edgar trevoso -q