Eu, Ela e o Bebê escrita por Lara


Capítulo 9
O Segundo Contato


Notas iniciais do capítulo

Oi Cupcakes ♥! Desculpa ter demorado dois dias para atualizar, mas é que eu tive que fazer uns trabalhos da faculdade e não tive tempo de escrever. Em compensação, esse capítulo está um pouquinho maior do que os outros e possui alguns momentos fofos e pequenas demonstrações de afeto de Felicity e Oliver. Ah, por favor, leiam as notas finais!!!

Muito obrigada Juliana Lorena, Titânia, Jade, Pequena Rosa, Isabelle, kaialasilva, Lari, Bruninha, Olicity e Delena, Renataafonso e isabelsilva pelos comentários que me inspiraram tanto a escrever esse capítulo. Espero que vocês gostem. Boa leitura..



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Capítulo VIII – O Segundo Contato

 

“Nenhuma palavra seria capaz de explicar o que eu senti quando eu o vi. Foi um misto de descarga elétrica com um aperto no peito, uma sensação avassaladora que cheguei a perder a firmeza das pernas. Bem, pelo menos por um segundo [...] nunca esteve tão bonito, com o azul de seus olhos combinando com o tom da blusa. Engoli em seco”.

Azul da Cor do Mar – Marina Carvalho

 

Para um dia repleto de desastres, dramas, brigas e suspenses, terminar a noite sendo atingindo por uma cristaleira não parecia ser algo tão surpreendente assim. Por outro lado, jamais imaginei acordar com uma Felicity desesperada, chorando intensamente e se perguntando se isso era carma por ter me tratado tão mal, não era exatamente o que eu poderia esperar como desfecho daquela segunda-feira.

Ainda atordoado pelo impacto que recebi nas costas e na cabeça, abro meus olhos com cautela e tento recuperar por completo os sentidos. Minha cabeça latejava e eu sentia minha camiseta molhada, o que me levava a crer que eu havia conseguido meu segundo corte graças ao desastre de minha colega de trabalho.

Eu estava deitado com a cabeça apoiada nas pernas de Felicity. Ela segurava um pano contra minha nuca e o rosto estava pálido, com a expressão desesperada. E ainda que estivesse descabelada e com a face manchada pelas lágrimas, sem os óculos, eu conseguia ver com clareza quão bonita Felicity é. E então, ela nota que eu havia despertado e um sorriso de alívio se faz presente.

— Oliver! – Exclama Felicity, preocupada, enquanto me ajuda a levantar do chão. A cristaleira se encontrava caída ao meu lado e eu estava surpreso por ela não ter se quebrado. – Você está bem? Me desculpe, por favor!

— Nada que eu já não esteja acostumado. – Respondo, fraco. Tento sorrir, mas desisto da ideia ao sentir o corte latejar ainda mais. – Infelizmente.

— Vamos ao hospital. – Avisa Felicity, ajudando-me a sentar em uma cadeira que havia na cozinha. – Espere um pouco.  Eu vou pegar as minhas coisas.

Suspiro e pego no pulso da loira, antes que ela saísse. Felicity me encara confusa, desesperada e culpada. Balanço a cabeça, lentamente, e, mais uma vez, tento sorri para acalmar minha colega de trabalho. Assim que me sinto mais lucido, analiso Felicity para ter certeza de que ela não havia se machucado.

— Você está sentindo alguma coisa? Você se machucou? – Questiono, observando Felicity com atenção.

— Machucada? Oliver, foi você quem teve uma cristaleira de madeira caindo sobre si! – Argumenta a garota, ainda mais desesperada.

— Felicity, fica calma! Você é a prioridade aqui. Não sou eu que estou carregando uma vida dentro de mim. Então me diga. Você está machucada? – Pergunto com seriedade.

— Não. Eu não estou machucada. – Sussurra, em um leve estado de choque. Aparentemente, Felicity ainda não havia se acostumado com a sua atual situação. Procuro qualquer sinal de que ela pudesse estar mentindo, mas para o meu alívio, ela estava bem. – Mas você está machucado. Sua cabeça está sangrando. Vamos ao hospital.

— Eu não vou ao hospital por causa de um pequeno corte. - Reviro os olhos e suspiro. Sob o olhar preocupado de Felicity, eu me levanto e a coloco sentada em meu lugar. – Eu estou bem.

— Deixa de ser teimoso! – Felicity dá um tapa em meu braço e eu gemo de dor. Ela me encara culpada e sorri envergonhada. – Apenas vamos logo a um hospital. Nós nem sabemos se você machucou mais alguma parte do corpo. Você bateu a cabeça e desmaiou.

— Deixa de ser mandona! Eu estou bem. Eu preciso apenas de um curativo e uma bolsa de gelo. – Respondo e ela bufa, frustrada. E de forma bem estranha, ela pareceu realmente adorável quando irritada.

— Tudo bem. Então ao menos me deixe fazer o seu curativo. – Pede e eu acabo cedendo. E após perceber que eu não havia me oposto à sua sugestão, Felicity sorri aliviada, mais uma vez, e vai em direção ao seu quarto. Sento-me em seu lugar e observo o teto da cozinha, pensativo.

Não era como se eu não quisesse ser tratado. Eu apenas não aguentava mais ir para hospitais. Desde que eu era criança, por causa dos problemas de saúde de minha mãe, eu passava mais tempo em hospitais do que em casa e depois dos transtornos que passei com Felicity mais cedo, o último lugar que eu gostaria de ir era o hospital. Aquele lugar não me trazia boas lembranças.

E mais uma vez, eu estava viajando em meu passado, algo que tenho feito com bastante frequência desde a chegada de Felicity em minha vida. Constatar isso me deixa assustado, porque é como se tudo que estivesse evitado a minha vida toda estivesse me assombrando novamente em forma de lembranças dolorosas que insistem em voltar a minha mente. Mas, o que tornava tudo ainda mais assustador era o fato de que ao olhar os olhos cerúleos de Felicity, relembrar meu passado já não parecia mais carregar um peso tão insuportável quanto antes em meu coração.

— Tire a camisa. – Dita Felicity, voltando a cozinha com uma caixa de primeiros socorros.

— Nossa. Não vai nem mesmo me convidar para tomar uma bebida? Me levar para jantar? Você acha que eu sou fácil assim? – Brinco e ela revira os olhos, diante de meu humor.

— Pelo visto, você já está bem melhor, idiota! – A loira dá uma risada forçada e isso me faz ri ainda mais. – Tira logo essa camisa e fica de costas para mim!

— Tudo bem. – Concordo e tento tirar minha camisa, mas qualquer movimento brusco era doloroso demais.

Ao ver minha dificuldade, Felicity coloca a caixa que carregava no chão e se aproxima de mim. Ao tê-la tão perto de mim, sinto meu corpo ficar tenso. E com cuidado, ela me ajuda a puxar minha camisa para cima. Sua respiração tocava minha pele e causava um certo arrepio. Eu não conseguia entender as minhas reações. Era a primeira vez que eu me sentia tão atraído por alguém como estava me sentindo por Felicity.

E a única explicação plausível era de que eu estava realmente enlouquecendo. Como uma pessoa tão oposta ao meu tipo ideal de mulher poderia fazer eu me sentir tão confuso e amedrontado? A forma como ela me tira do sério e me diverte era intrigante. Não tinha lógica. Quanto mais eu pensava nisso, mais perdido eu me sentia. Por que mesmo os meus instintos gritando para que eu me mantivesse afastado mais eu me aproximava da garota desastrada, mandona e imprevisível?

— Oliver? – A voz suave de Felicity me desperta de meus pensamentos incômodos, assim que conseguimos nos desfazer de minha camisa, e eu não consigo evitar não me sentir atordoado. Levanto-me da cadeira de uma vez. – Você está bem?

— Sim. Eu só... – Tento pensar em alguma desculpa, enquanto me afasto da loira, mas nada parecia fazer sentido na minha mente naquele momento.

— Você só... – Incentiva Felicity, encarando-me com atenção. – Está tudo bem?

— Sim. Eu estou bem. Não se preocupe. – Garanto, rindo nervoso. Respiro fundo, tentando me controlar.

— Estranho. – Sussurra a loira, encarando-me confusa. Provavelmente, cansada demais para me questionar, ela apenas dá de ombros e aponta para a cadeira. – Senta de costas para que eu possa ver o corte na sua cabeça e se você machucou as costas.

Aquiesço e faço o que ela pede. Meu peito estava agitado e minha mente em branco. Sentado, encaro a janela da cozinha, observando a escuridão da madrugada. Olho para meu relógio de pulso e vejo que ainda eram um pouco mais de três da manhã. Felicity se movimenta atrás de mim e não demora muito a tocar minhas costas. Sinto meu corpo se arrepiar com a delicadeza com a qual ela contornava os hematomas.

— Você vai ficar roxo por muito tempo. – Murmura Felicity de forma culpada. – O lado positivo é que o corte não parece ter sido muito profundo. Apenas fez um galo e por estar em um local onde você movimenta muito, acaba sangrando com maior intensidade.

— Eu te disse que não precisávamos ir a nenhum hospital. – Respondo e eu quase consigo ver Felicity revirar os olhos diante de meu comentário.

Sem dizer nada, Felicity pega uma cadeira para se sentar atrás de mim e começa a cuidar de meus ferimentos com bastante maestria. Mesmo sentindo dor, ela tinha tanto cuidado, que eu nem mesmo percebia que ela estava limpando o corte e passando algumas pomadas cicatrizante em meus hematomas. Era como se tivesse bastante experiência na área e soubesse exatamente o que fazer, sem precisar pensar muito. Como uma verdadeira enfermeira. Sorrio com esse pensamento, ao cogitar como seria se ela trabalhasse em um hospital, sendo tão desastrada como é. Com certeza, enlouqueceria a todos.

—  Você leva muito jeito para isso. – Comento e ela ri baixo, parecendo se sentir satisfeita com o meu elogio.

— Obrigada. Eu aprendi sozinha, cuidando de meus machucados quando criança. – Responde Felicity, pensativa.

— Por que você era muito desastrada e vivia se machucando? – Sugiro e ela ri levemente.

— Eu gostaria de negar, mas esse também era um dos motivos. – Afirma com o tom de voz distante.

— “Também”? – Questiono, curioso. Como jornalista, qualquer comentário poderia ser considerado a partir de diversos ângulos. Uma palavra pode mudar qualquer declaração. – Tinha mais algum motivo?

Felicity suspira e parece incomodada com aquele assunto. Ela permanece em silêncio por um longo período e quando penso que ela iria ignorar a minha pergunta, Felicity suspira e volta a cuidar do ferimento em minha cabeça. Com a voz pesada e distante, ela finalmente me responde.

— Quando criança, eu sofri muito bullying por ser filha de uma atriz de filmes eróticos. Apesar de não aparecer na televisão, minha mãe era bastante conhecida por estrelar filmes pornográficos. As crianças não aceitavam bem a profissão da minha mãe e seus pais faziam questão de incentivar as atitudes cruéis de seus filhos. – Felicity volta a mexer em sua caixa de primeiros socorros, parecendo procurar mais materiais. – Ser gordinha também não era algo que contribuía para a simpatia dos meus colegas de escola. Então, eu era o alvo das constantes provocações e agressões dos valentões.

— Crianças podem ser criaturas horríveis. – Afirmo, observando a aproximação de Felicity pelo canto do olho. Ela coloca os algodões e curativos na mesa de jantar que estava ao seu lado, se senta em sua cadeira e volta a se concentrar em meu ferimento.

— Você nem imagina. – Felicity afirma com tristeza, enquanto suspira com pesar. – Mas a parte mais complicada foi quando eu comecei a desenvolver o meu corpo e os garotos começaram a achar que eu deveria ser tão fácil quanto minha era nos filmes. Eu sofria bastante assédio e perdi as contas de quantas vezes meu uniforme era roubado, rasgado ou puxado de meu corpo apenas para me expor para todos.

— É por isso que você esconde tanto o seu corpo? – Suponho, juntando as peças do quebra-cabeça.

— Apenas me sinto mais segura, sem mostrar tanto a minha pele. – Responde, dando de ombros. – Eu sei que é estranho esse meu comportamento. Ainda mais pelo fato de que eu fui casada por cinco anos. Mas eu simplesmente não consigo esquecer dos comentários maldosos daquelas crianças quando eu tento vestir algo mais curto ou transparente.

— E você nunca dizia nada a sua mãe? – Pergunto, virando um pouco o meu tronco para conseguir observar o rosto de Felicity, que estava sério e com o olhar distante.

— Como eu poderia? Minha mãe já tinha problemas demais para lidar. – Conta Felicity, suspirando mais uma vez. – Eu nunca conheci o meu pai. Nem mesmo sei quem ele é. Minha mãe sempre conta uma história diferente sobre ele, quando eu tento descobrir sua verdadeira identidade. Então, para conseguir me dar uma vida mais confortável, minha mãe trabalhava o dia todo e eu acabava ficando sozinha. E foi assim que eu aprendi a fazer curativos.

— Você é realmente uma pessoa estranha, Felicity. – Sussurro e volto a encarar a janela a minha frente. – Mas talvez seja isso que a torne tão interessante.

 De repente, sinto o corpo de Felicity mais próximo ao meu. Sua testa encostada em minhas costas e seus braços ao redor de minha cintura. Eu não sabia o que fazer e sua atitude imprevisível havia me pegado de surpresa. Acabo ficando tenso e imóvel, tentando entender o que estava acontecendo.

— Felicity...? – Chamo com a voz um pouco rouca.

— Apenas fique quieto e me deixe ficar assim por um instante. Depois esqueça o que quer que eu faça ou diga nesse momento. – Pede a loira, soltando um longo suspiro. – Obrigada por não sentir nojo de minha mãe e por não me olhar com pena. Obrigada também por me fazer ficar mais calma e me dar tanto apoio, ainda que isso não seja obrigação sua. E me desculpa por você acabar sempre se tornando o alvo do meu desastre. Eu acho que eu realmente não teria aguentado tantos problemas se não fosse por você, Oliver. Talvez você seja o milagre que eu precisava e a luz de esperança que eu tanto pedi.

As palavras de Felicity fazem meu coração bater mais rápido. Eu sentia como se ele pudesse sair de dentro do meu peito a qualquer momento. Atordoado demais para reagir à suas confissões, permaneço imóvel, sentindo os braços de Felicity me trazendo um conforto que nunca havia experimentado antes. Era caloroso, singelo e acolhedor. E naquele momento, somente naqueles míseros minutos em que eu era abraçado com carinho por Felicity, eu tivesse conhecido o sentimento de ser importante, necessário para alguém.

 

¶¶¶

 

Depois de experimentar correr atrás de um suspeito de assassinato, ficar preso em um elevador, ir para o hospital e descobrir que Felicity estava grávida, brigar com meu pai, ter tido contato com o provável assassino de um segundo caso e ter me tornado vítima de uma cristaleira, levantar da cama no dia seguinte foi um grande desafio para mim.

Meu corpo estava dolorido e eu não havia conseguido pregar os olhos a noite toda, pensando nos meus sentimentos e tentando entender o porquê de me sentir tão ligado a Felicity, mesmo que não a conhecesse a tanto tempo. Tudo estava confuso e intenso demais.  Uma combinação perigosa para alguém que está fazendo de tudo para se manter afastado de sentimentos tão perturbadores quanto os que eu estou conseguindo definir.

Após o incidente na casa de Felicity, eu resolvi voltara para a minha casa. Eu estava perturbado demais para permanecer sozinho no mesmo ambiente que ela. Eu já não conseguia mais confiar em meu autocontrole.

A ida ao trabalho é feita no modo automático e, como de costume, a primeira coisa que faço é correr para a minha amada cafeteira na sala de Alec. Eu precisava de muita cafeína para me manter acordado e com a mente ocupada com o trabalho. Meu chefe, como era de se esperar, nem mesmo se incomoda em me repreender ou me cumprimentar por invadir sua sala sem qualquer educação.

— Alguém parece ter tido uma noite difícil. – Comenta, dando um gole em seu café logo em seguida. – Garota nova e com fetiches estranhos?

— Antes fosse. – Respondo, jogando-me na cadeira de frente para sua mesa de maneira desleixada. Bebo um generoso gole de café e encaro Alec com cansaço.

— A garota te deu mais trabalho do que você imaginava pela manhã? Ela não aceitou seus termos para transar com você? – Supõe meu chefe, curioso com a minha reação.

— A garota que me fez isso se chama Felicity Smoak e eu te garanto que eu não dormir com ela. – Respondo, surpreendendo Alec.

— O que você fez para ela te deixasse tão machucado? – Pergunta Alec, ainda tentando assimilar a minha afirmação.

— Eu fiquei no caminho do desastre dela e acabei me tornando seu alvo oficial. – Afirmo, fazendo Alec risse ainda mais de mim.

— Pelo visto, vocês estão se dando bem. – Comenta Alec, após beber um pouco mais de café. – Mas eu não sei se devo me preocupar ou não com isso.

— O que você está insinuando? – Pergunto, intrigado com a maneira como Alec me encarava.

— Felicity é a minha única sobrinha, Oliver. E apesar de toda a consideração que eu tenho por você, melhor do que ninguém, eu sei que você não quer se envolver. Minha sobrinha ficou viúva há pouco tempo e ainda está sofrendo muito por tudo que aconteceu, então eu jamais ter perdoaria se a machucasse mais do que ela já está machucada. – Responde o homem, encarando-me de maneira intensa. – Eu gosto muito de você, Oliver. Você sabe que eu te vejo como um filho, mas não brinque com os sentimentos de minha sobrinha.

— Não acha que você está exagerando? – Questiono, rindo um pouco nervoso. – Eu não vou dormir com Felicity, se é isso que você está pensando. Ela e eu somos completamente diferentes. Então não se preocupe. Eu não vou trair a sua confiança.

— Então você está me dizendo que não há possibilidade alguma de que vocês possam desenvolver um relacionamento amoroso? – Indaga Alec, desconfiado.

— Isso! – Concordo e meu chefe parece indeciso entre acreditar em mim. Por fim, ele dá de ombros e volta a se encostar de maneira confortável em sua cadeira. – O que achou da matéria de Felicity sobre o assassinato de Charles Brandon?

— Excelente, como sempre. – Afirma, sorrindo orgulhoso. Ele toma um último gole de seu café e, depois de deixar a xícara sobre o pires em sua mesa, Alec cruza os braços, pensativo. – Eu me surpreendi ao saber que Donna foi uma das testemunhas do caso. Felicity deve ter ficado bastante incomodada.

— Por que não me contou que sua irmã era tão divertida? – Pergunto com sinceridade, enquanto ria ao lembrar dos momentos com a mulher. – Uma pena que Felicity esteja cego pelo passado traumático e não consiga enxergar a mãe incrível que ela tem.

— Apesar de toda a loucura de minha irmã, a positividade dela é realmente invejável. Desde que éramos crianças, Donna sempre foi a pessoa que mais me apoiava e tentava ver o lado positivo das coisas. Por outro lado, assim como eu, Felicity tende a ser mais cética quanto ao mundo, então as duas acabam discutindo com frequência. Mas, eu não acho que Felicity não saiba o quanto a mãe dela é uma pessoa incrível. – Conta Alec, dando um fraco sorriso. – Eu acho que ela apenas foi manipulada demais pelo falecido marido, que detestava Donna e vice-versa. Ele sempre dizia que tinha nojo da profissão da minha irmã. Eu posso estar errado, mas eu tenho quase certeza de que Felicity deveria ter vergonha do comportamento da mãe.

— Quanto mais eu ouço falar sobre o ex-marido de Felicity, mais eu duvido do caráter dele. Independentemente de sua profissão, Donna é uma pessoa radiante e pelo pouco do contato que tive com ela, eu vi o quanto ela ama Felicity. – Respondo, pensativo. Alec me lança um sorriso significativo, mas não diz nada. – O quê?

— Não é nada. – Afirma meu chefe, dando de ombros. Encaro-o com intensidade, insatisfeito com sua resposta. Alec sabe o quanto eu odeio respostas pela metade, então ele ri e me encara divertido. – Eu nunca imaginei que fosse dizer isso, mas talvez você possa ser uma boa influência para Felicity.

— O que quer dizer com isso? Eu sempre sou uma boa influência. – Brinco e Alec revira os olhos e ri um pouco mais de meu comentário.

— Apenas fique ao lado dela. Felicity pode se mostrar mandona e ter um temperamento difícil às vezes, mas por detrás dessa máscara tem uma garota sensível e que precisa de muito amor. – Responde Alec, olhando para mim com esperança. – Eu sei que você não gosta de se aproximar emocionalmente das mulheres, mas poderia tentar ser o amigo que Felicity precisa?

— Não se preocupe. – Digo, dando um fraco sorriso. – Eu serei.

A porta da sala é aberta de uma vez e eu não preciso me virar para saber quem era. O único sem noção, além de mim, naquele setor que invadia a sala de Alec sem permissão era Tommy. Meu melhor amigo vai até a cafeteira da sala, sem qualquer preocupação e sorri para meu chefe, que leva a mão aos olhos, parecendo se perguntar o que tinha feito para nos merecer.

— Bom dia, chefe! – Cumprimenta Tommy, dando um gole de café em seguida. – Bom dia, Ollie!

— Quando vocês dois vão aprender a bater em minha porta e pedir permissão para entrar e roubar o meu café? – Pergunta Alec com repreensão.

— Nunca. – Respondo, dando de ombros.

— Não espere isso de nós. – Afirma Tommy, repetindo os meus gestos.

— Idiotas. – Fala Alec, descrente, e Tommy e eu começamos a ri, divertindo-nos com a careta de nosso chefe.

— Ah, Ollie! A bolinho estava te procurando agora a pouco. Acho que ela queria te mostrar um novo caso ou algo assim. – Avisa Tommy, aproximando-se de mim. No mesmo instante, Felicity aparece e lança um olhar ameaçador a meu melhor amigo, que arregala os olhos e sorri envergonhado. Antes que ele tivesse chance de se desculpar, Felicity avança contra ele e dá um soco em suas costelas. – Ai!

— Eu já te falei para não me chamar assim! – Fala Felicity entredentes. Ela realmente odiava o apelido. Preciso fazer um grande esforço para segurar o riso.

— Mas bolinho é um apelido tão legal e fofo. – Choraminga Tommy, massageando o local onde havia sido acertado.

— Você não tem medo da morte, não é, Tommy? – Questiono, rindo e sendo acompanhado por Alec.

— Ele não tem é noção, mesmo. – Resmunga Felicity, revirando os olhos. Depois de respira fundo, ela me encara com um sorriso força e eu sinto que ela queria falar algo comigo. – Oliver, você tem um minuto?

— Claro. – Concordo, levantando-me para pegar mais café e ir conversar com Felicity. Encho minha xicara com o meu maior vício e, após um generoso gole, sigo minha colega de trabalho, despedindo-me dos outros dois com um aceno. – Aconteceu alguma coisa?

— Não exatamente. - Ela sorri envergonhada e balança a cabeça, negando. – Você se importaria se fossemos a lanchonete que tem do outro lado da rua?

— Não. Apenas me deixe pegar minha certeira. – Respondo, estranhando aquele mistério todo por parte de Felicity.

O caos continuava por toda parte no departamento. Os telefones tocavam alucinados, os editores e a equipe de reportagem trabalhavam incessantemente em seus computadores a procura de mais notícias. Era apenas mais um dia qualquer no jornal, mas eu realmente me sentia grato por todas as vezes que eu parava para observar aquele ambiente. E eu via o mesmo brilho nos olhos de Felicity, enquanto me esperava buscar as coisas para irmos à lanchonete.

Após conferirmos se estávamos mesmo com os nossos celulares e carteiras, descemos pelas escadas até o térreo – algo bastante cansativo, mas Felicity ainda parecia estar um pouco traumatizada pelo que ocorreu no dia anterior, então preferi ceder ao seu desejo. As nuvens escuras e a ventania deixavam o tempo sombrio. Provavelmente não demoraria muito para que a chuva começasse a cair pela cidade.

— Parece que vai chover. – Comenta Felicity assim que saímos do prédio da editora.

— É melhor nós não demorarmos muito. – Digo e a loira concorda, começando a andar em direção a faixa de pedestre que havia em frente ao prédio. – Eu realmente estou curioso para saber o que de tão importante você quer falar comigo que os outros não podem saber.

— Na verdade, isso tem a ver com a minha gravidez. No jornal, os únicos que sabem sobre isso são você e Tommy. – Responde, suspirando em seguida. Ela começa a encarar o sinal, esperando que ele abrisse para que os pedestres passassem.

— Isso me leva a questionar o motivo de não ter contado sobre a sua gravidez para sua mãe e nem para o seu tio. Não é como se você tivesse feito algo de errado. Apesar da situação complicada que você está, eu tenho certeza que eles ficariam felizes e te ajudariam. – Afirmo e ela dá de ombros, como se concordasse, mas ainda estivesse incerta sobre o que fazer.

— Não é que eu queira esconder ou que não confie neles. Eu apenas quero me acostumar com essa ideia primeiro antes de anunciar para o mundo. Eu serei uma mãe solteira, afinal. Tudo o que esse bebê tem é a mim. Há uma vida dependendo de mim. Isso é assustador. – Responde Felicity com seriedade, enquanto começa a atravessar a sua. – Até agora, eu tenho vivido a minha vida por conta própria. Ainda que eu fosse casada, a vida do meu marido não dependia da minha. Mas agora... Tudo está diferente e essa falta de controle sobre a minha vida me assusta.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa a Felicity, um carro desgovernado atinge o carro que estava parado na faixa de pedestre. Por impulso, puxo Felicity contra o meu corpo e, por muito pouco, consigo evitar que ela fosse atingida pelo carro que avançou com o impacto da batida. E por causa do susto, encarávamos a cena, assustados, enquanto eu abraçava o corpo de Felicity de forma protetora.

— Você está bem? Se machucou? – Pergunto, afastando Felicity apenas para analisar a garota.

— Eu estou bem. – Responde, ainda impressionada pelo que havia acontecido. – Isso foi perigoso. Obrigada mais uma vez. Você me salvou de novo.

— E é por essas e outras que eu sinto que tenho que ficar de olho em você o tempo todo. – Resmungo, pegando na mão da mulher para leva-la até a lanchonete. – É como se você fosse a personificação do azar.

— Sinto muito por isso. – Lamenta, rindo nervosa.

— Vamos nos sentar e, aproveitando que estamos aqui, vamos pedir alguma coisa. – Respondo, suspirando. Meu coração batia descompassado e ainda que fosse cedo, minha cabeça latejava somente em pensar que o dia estava apenas começando.

— Está bem. – Concorda Felicity, sorrindo sem graça. – Mas, antes disso, poderia soltar a minha mão? Está doendo um pouco.

Solto a mão de Felicity, sentindo-me envergonhado por ter apertado com tanta força. Eu havia ficado tão nervoso que nem mesmo estava conseguindo controlar as minhas ações. Saio em direção as mesas, apenas para evitar o olhar confuso e questionador de Felicity. Ainda que ela me perguntasse, naquele momento, eu não saberia dizer o porquê do meu comportamento tão estranho.

— O que você quer comer? – Pergunto, assim que sentamos em uma das mesas e começamos a olhar o cardápio.

— Torta de limão, com muito glacê por cima e muito recheio. – Responde a loira, salivando. – Ah, e eu quero um copo bem grande de limonada.

— Quanto limão! – Exclamo, surpreso. Ela sorri sem graça, mas dá de ombros. – Tudo bem. Eu já volto.

  Após fazer os nossos pedidos e pegá-los na mesma hora, volto para a mesa com as bandejas e observo Felicity atacar a torta como se estivesse sem comer há semanas. E apesar de estranhar o seu comportamento, eu estava feliz por ver sua satisfação com aquele gigante pedaço de torta e a jarra de limonada.

— Posso comer mais um pedaço de torta? – Pergunta e somente nesse momento que percebo que ela havia terminado de comer tudo em menos de cinco minutos. Eu a encaro um pouco surpreso, mas dou de ombros, concordando.

— Vai em frente. – Respondo, ainda dando a minha segunda colherada em meu waffles. Felicity se levanta e pede mais um pedaço de torta, que dessa vez, pareceu ter o dobro do tamanho do primeiro pedaço. Ela retorna para a mesa com um grande sorriso no rosto e os olhos brilhando em ansiedade para experimentar mais uma vez a torta. – E então? O que exatamente você queria falar comigo?

— É que eu... Nossa, essa torta está muito boa. – Fala com a boca suja de glacê. Ela engole o restante de torta que comia e me encara com um sorriso envergonhado. – Eu sei que é um pouco estranho pedir isso a você e sei que você também não tem obrigação alguma de concordar com isso, mas é que eu marquei com a obstetra para fazer a minha primeira consulta de acompanhamento gestacional. Eu gostaria de saber se você se importaria de ir comigo.

— Eu? Você tem certeza disso? – Pergunto, um pouco surpreso. Seu olhar se torna um pouco triste, provavelmente imaginando que eu não aceitaria. – Não me leve a mal. Eu não me importo em te acompanhar, na verdade eu até ficaria feliz, mas é que eu não entendo nada sobre isso. Talvez, Tommy seja a pessoa mais indicada para ir com você. Apesar da cara de tonto, ele já tem três sobrinhos e acompanhou a gestação da irmã dele de perto.

— Não há o que entender. Você apenas tem que ficar ao meu lado. Eu não estou pedindo um especialista em acompanhamento gestacional. Eu apenas estou nervosa em ir nessa consulta sozinha e, bem, você é a pessoa que mais tem estado ao meu lado e tem suportado todos os meus surtos e desastres. – Responde a loira, olhando-me com esperança.

— Tudo bem. Eu vou com você. – Concordo e Felicity abre um grande sorriso. Pego um guardanapo que havia na mesa e limpo a boca suja de glacê da mulher. – Mas depois não diga que eu não avisei.

Felicity ri e dá de ombros, voltando a comer sua torta de maneira gulosa e, dando um grande gole em sua limonada. Era realmente engraçado a maneira como ela se sujava comendo e parecia tão feliz por saborear aquela torta. Continuo a comer e a observá-la, até que o meu celular toca. Pego o aparelho e estranho ao ver que era um número desconhecido.

— Alô. – Atendo, pegando mais um guardanapo para limpar a boca de Felicity mais uma vez.

Olá, Oliver Queen. – Eu conhecia aquela voz. Permaneço estático por um tempo, surpreso com a ligação. No entanto, assim que me recupero, coloco meu celular para gravar a ligação. – Eu realmente estou feliz por poder conversar com um grande jornalista como você.

— Bruce Wright? – Digo, chamando a atenção de Felicity. Ela me encara surpresa e interessada em saber se eu realmente estava conversando com um dos possíveis assassinos de Charles Brandon. – Por que está me ligando?

Eu apenas quero te dar um aviso. – Responde e é possível ouvir o som de um trem passando ao fundo da chamada. – Muito em breve, eu voltarei. Prepare seu bloco de notas e a sua inteligência. Um grande espetáculo está para começar. A morte de Charles Brandon foi apenas o primeiro ato dessa tragédia que se iniciou.

— Por que você me escolheu? O que você tem em mente? – Questiono, querendo tirar o máximo possível daquele homem.

Por que será? Eu estou contanto com a sua inteligência para desvendar o mistério. Use a sua mente brilhante para revelar o verdadeiro culpado, Oliver. Eu confio em você. – Bruce ri de maneira irônica e meus instintos me alertam que aquele homem era muito mais perigoso do que eu imaginava.

— Quem é você? – Insisto e Bruce ri mais uma vez.

É o que você tem que descobrir. Qual seria a graça de uma tragédia sem o seu suspense? – Afirma o homem, bem-humorado. – No momento certo, você saberá, meu caro Queen. Mas, para você não dizer que eu sou uma pessoa injusta, deixarei uma pista como presente por sermos os personagens principais dessa história.

— Dica? – Repito, confuso.

Eu estou muito mais perto de você do que pode imaginar, Oliver, e estou ansioso para me tornar o melhor e mais grandioso mistério de sua vida.

E sem me dar chances de responder, Bruce desliga a chamada. Eu permanecia perdido, perplexo demais com as palavras repletas de significados e segundas intenções. Felicity me encara preocupada e confusa. Respiro fundo e dou um sorriso animado, correspondendo ao seu olhar. Se Bruce estiver certo, a morte de Charles Brandon foi apenas o começo de um mistério que estava ansioso para desvendar.


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Notas finais do capítulo

Oii Cupcakes ♥! O que acharam? Como podem ver, as coisas estão começando a evoluir entre eles. Felicity já possui mais confiança em Oliver e ele já começou a perceber que ela mexe com ele de maneiras diferentes. Próximo capítulo teremos momentos fofuras em torno da bebê e mais sobre o mistério envolvendo Bruce Wright.

E agora vamos a um aviso importante. Eu estou fazendo uma votação para decidir o nome da bebê de Felicity. A votação está ocorrendo pelos comentários da fanfic e no grupo do Facebook. Então, escolham entre os três nomes abaixo para ser o nome da filha da Felicity.

A) Olivia
B) Thea
C) Amanda

Espero que tenham gostado e espero vocês amanhã (se nada der errado). E se você ainda não faz parte dos meus grupos de leitores, participe! Os links estão logo abaixo. Beijocas ♥.

Cupcakes da Lara: https://www.facebook.com/groups/677328449023646
Família Cupcake 2.0: https://chat.whatsapp.com/E6wkn6DU0rR0IoR0d3EOLi