O Funcionário do Fast-Food escrita por Ellaria M Lamora


Capítulo 6
VI — Hora de Cozinhar




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ATRAVESSANDO AS PORTAS automáticas de vidro daquele supermercado, Sasuke fitava o loiro discretamente, achando engraçado a maneira estupefata que ele olhava para os chamativos anúncios de promoção de macarrão instantâneo. Seu corpo se esticara, em total alerta. Os olhos claros esbugalharam-se, quase saltando para fora do corpo e a história que ele contara — algo sobre seu trabalho — simplesmente fora esquecida. De uma transparência surreal, o Uchiha refletiu, segurando o ombro do amigo, prevendo que se não o fizesse, Naruto sairia correndo desesperado naquela direção, agarrando o máximo possível de comida que seus braços pudessem carregar, tratando a situação exatamente como se fosse o fim do mundo e ele necessitasse de cada por cento de energia que pudesse obter.

Com força, o puxou para onde pudessem pegar um carrinho e tentou não rir da expressão de choro que o Uzumaki fez quando eles se afastaram dos alimentos em promoção. De um jeito engraçado, as bochechas de Naruto inflaram-se e um pequeno bico infantil despontou em seus lábios. Sasuke viu-se na obrigação de revirar os olhos, mesmo contento uma risada interna e refletiu que dada as situações — o drama infantil, as roupas ensopadas e a possível gripe e resfriado que estavam por vir — era surpreendente que não estivesse puto. Pelo contrário, seu humor estava ótimo.

— O que vamos comprar? — Naruto questionou com as mãos nos bolsos da jaqueta e lhe direcionando um olhar emburrado, o desafiando a enfrentar sua birra.

— Um cavalo. — Sasuke entrou no jogo e uma expressão confusa cintilou na face do outro — O que acha? Comida, seu idiota!

— Isso eu sei, teme! Quero saber que tipo de comida!

O Uchiha estava prestes a dizer que seriam ingredientes para um típico café da manhã japonês, quando uma súbita ideia estourou em sua mente.

— Isso você que vai me dizer. — Declarou, recebendo mais confusão do loiro — Você que vai fazer o café da manhã, então fica por sua escolha.

Com satisfação, contemplou o amigo atrapalhar-se nas palavras, o xingando e afirmando que não poderia fazer uma coisa daquelas. Sasuke, no entanto, deu de ombros e seguiu empurrando o carrinho pelo mercado, certo de que aquela decisão iria trazer bons resultados. Como não poderia, quando seu paladar tinha sentido o talento do Uzumaki na cozinha? Sendo tão imprevisível, Naruto revelara seu dom, demonstrando saber dosar o tempero daqueles simples ovos mexidos e conseguindo tocar o coração do Uchiha mais novo, deixando a singela refeição tão saborosa, manifestando um extremo conhecimento com seus sabores trabalhados e construídos em uma suavidade única.

— O que quer fazer? — Sasuke provocou, colocando mais pressão no nervoso loiro. Virando-se para trás, viu que ele contava alguma coisa em seus dedos. Os olhos claros fuzilaram ele, ainda descrentes daquela ideia absurda.

— Posso fazer o que eu quiser? — Arriscou, hesitante.

O Uchiha assentiu.

— Peguei dinheiro do Itachi, então pode gastar o quanto quiser.

Naruto titubeou, fitando o chão e Sasuke viu que — por trás daquela incerteza e hesitação — um entusiasmo consumia a alma dele, louco para colocar em práticas as ideias que sua mente formulava. O Uchiha quase conseguia ouvir o som das engrenagens movendo-se lá dentro, trabalhando para decidir qual caminho traçar diante da infinidade de opções disponíveis.

— Desembucha, dobe. — Grunhiu, o retirando de seus pensamentos.

— Vou fazer um American Breakfast! — A certeza em sua voz fascinou Sasuke, que aquiesceu em silêncio — Sabe aqueles cafés da manhã das séries americanas? Aquele tanto de coisa é para ajudar eles a terem mais energia durante o dia, já que os americanos não comem muito no almoço. Acho que só um sanduiche ou algo assim.

Assombrado, o Uchiha mais novo viu-se movendo a cabeça em um aceno, tentando mais uma vez não se espantar com os diversos conhecimentos daquele sem-noção. Não funcionou muito, pois seus olhos negros ocuparam-se em dedicar toda a atenção para o idiota loiro, que parecia meditar qual receita faria.

Ele murmurava nomes que Sasuke nunca tinha ouvido falar em sua vida, movendo os dedos pelo ar como se visualizasse processos e cortes dos ingredientes.

— Faz algo com ovo. — Sasuke viu-se surpreso quando ouviu sua própria voz proferindo aquele pedido. Maldito Uzumaki que sabia fazer ovos tão saborosos!

— Ovo? — Naruto perguntou e o Uchiha confirmou enfezado — Já sei! — Declarou saltitante, como se tivesse descoberto a cura do câncer — Vou fazer algo que você vai adorar, teme! Você me ligar no meio da noite implorando por mais comida, tô certo!

Ele saiu na frente, correndo para buscar os ingredientes.

Sem opções, Sasuke o seguiu, empurrando o carrinho em suas mãos.

Os dois atravessaram corredores empanturrados de prateleiras com todo tipo de comida e Sasuke viu-se empolgado com a animação do aspirante à culinária em sua frente, que parecia saber exatamente o que estava fazendo. Naruto ia jogando uma gama de ingredientes dentro do carrinho, sem nenhuma hesitação em suas escolhas e o moreno pegou-se observando como o ar ao seu redor mudava quando o assunto era a culinária. Ele podia ver a atmosfera ao redor do amigo tornar-se mais séria e uma interessante sombra pairar atrás dos olhos azulados, provavelmente uma representação do conhecimento e a certeza de Naruto sobre aquele mundo.

De repente, só existia a comida e o Uzumaki.

— Se seu prato for aprovado por mim e pelo Itachi, eu te pago o macarrão instantâneo. — O Uchiha comunicou e Naruto estacou no meio do corredor, virando-se rapidamente para trás. Aos olhos do moreno, pela surpresa que o loiro apresentou, pareceu que ele tinha se esquecido que estava sendo acompanhado

A insinuação de um sorriso brincou nos lábios de Sasuke — que assistiu com satisfação o atrapalhado Uzumaki ressurgir. As palavras vieram à boca vermelha de Naruto, mas não foram pronunciadas e as órbitas prenderam-se no Uchiha, o azul derramando-se na negritude em uma incredulidade e devoção quase palpáveis.

Seu transe, porém, foi interrompido quando uma criança trombou nas pernas do Uzumaki, indo direto ao chão. Naruto desviou os olhos de Sasuke, dedicando um olhar preocupado para a pequena estatelada no piso claro, ajudando ela a ficar em pé e perguntando se estava bem.

— Mirai! — A voz de uma mulher cortou a resposta da criança, aproximando-se em saltos altos. Ela estava vestida formalmente e seus cabelos eram negros e longos — O que eu disse sobre sair correndo na frente, Mirai?

— Eu queria achar os biscoitos! — Protestou, triste.

— Nós vamos ter uma conversinha quando chegarmos em casa.  — Ralhou, levantando os olhos da criança e um som surpreso preencheu o corredor — Oh, Naruto! É você mesmo? Quanto tempo!

— Kurenai! — O espanto fez-se presente na voz do Uzumaki.

Confuso, Sasuke assistiu a desconhecida envolver o amigo em um abraço apertado e nostálgico, acompanhado da menina — que exclamou ao reconhecer o loiro —, jogando-se em seus braços e sendo recebida com carinho. Naruto a levantou e girou-a, fazendo a pequena gargalhar.

— Quem é esse, Naru? Seu namorado? — Mirai perguntou quando foi colocada no chão e o Uzumaki estapeou o topo de sua cabeça — Ai! Isso dói!

— Esse é o Sasuke, meu amigo — Ele explicou e o Uchiha viu que suas bochechas estavam coradas — Essas são Kurenai e Mirai, mulher e filha de um primo.

Sasuke assentiu, cumprimentando elas.

— É um prazer. — Kurenai o saudou, sorrindo — Oh, Naruto! O Asuma não vai acreditar nisso! Já faz tanto tempo que não nos vemos...

— Um ano, hein? Como estão as coisas em Miyazaki?

— Estão indo bem e a Mirai se adaptou muito bem!

— Miya é linda, Naru! Você devia vir morar com a gente! — Mirai manifestou-se, puxando a manga da jaqueta do primo para ganhar sua atenção — Se vier com a gente, prometo que nunca vai ficar triste! Dá para ver o mar todinho lá!

Naruto sorriu com afeto.

— É mesmo, Mi? — A menina assentiu freneticamente e o loiro gargalhou — Vou pensar na sua oferta.

— E como vai o Iruka? — As sobrancelhas de Sasuke franziram-se com a expressão tristonha que tomou conta da face da mulher e o jeito como Naruto torceu as mãos, como se não quisesse falar sobre o assunto.

— Há dias bons e dias ruins. — Respondeu, afagando os cabelos da criança.

— Você sabe que se precisar de qualquer ajuda, pode ligar para nós.

— Sim, mas estou me virando bem. Então não precisa se preocupar. — Um frágil sorriso o acompanhou e Sasuke conseguiu enxergar que ele estava mentindo. A mulher, no entanto, ficou aliviada com aquela resposta.

— O Asuma ficará feliz de saber disso. — Declarou, buscando a mão da filha — Posso entrar em contato com você depois para marcamos algo? Infelizmente preciso ir logo, pois estou ajudando uma amiga com os preparativos do casamento dela e está tudo uma loucura.

— É claro. Diz para o Asuma que estou mandando lembranças.

— Foi um prazer te rever, Naru! — Mirai exclamou, abraçando ele fortemente.

As duas despediram-se e saíram, deixando a sós os dois rapazes. O Uzumaki respirou profundamente e voltou-se para o Uchiha, que se mantinha em silêncio, o avaliando atentamente. Sasuke estava incomodando-se com o silêncio, quando a criança reapareceu e abraçou o loiro novamente, com força.

— Visitamos o Minato e a Kushina ontem. — Ela avisou em uma voz trêmula, afundando o rosto na perna dele — Levei azaleias e bicos-de-papagaio.

Um sorriso tristonho cruzou a face de Naruto.

— Obrigado, Mirai. Eles devem ter ficado felizes.

A criança assentiu e despediu-se, voltando para a mãe.

Sasuke viu-se tentado a perguntar quem seriam aquelas pessoas, mas soube que não devia. A expressão do Uzumaki denunciava que aquele era um ponto sensível para ser discutido em um supermercado.

— Falta muito? — Perguntou, tentando fazer que Naruto pensasse em outra coisa. Pareceu funcionar, pois o loiro direcionou sua atenção para o carrinho e começou a analisar o que tinha ali. A mente de chefe voltando ao seu lugar.

— Só mais algumas coisas. Ah! Falta! Meu lámen!

O Uchiha soltou uma risada anasalada.

— Só se eu aprovar a comida, dobe.

Naruto fez uma careta e voltou a ir atrás das coisas que precisava. Sem nenhuma hesitação ele jogou dentro do carrinho cebolas, bacon, batatas, tomates, pimentões, manjericão e queijos. Sasuke voltou a segui-lo silenciosamente, envolvido no torpor da aura de chefe de cozinha que tomava conta do loiro, fascinado com seus murmúrios de processos e técnicas, garantindo que não estava esquecendo-se de nada.

Alguns minutos depois eles se apertavam embaixo do guarda-chuva vermelho, disputando espaço no meio das sacolas com os mais variados tipos de insumos. Caminharam pelas ruas molhadas, tentando fugir da deprimente chuva torrencial, enquanto Sasuke tentava descobrir o que se poderia fazer com aquele monte de coisas, dependendo de um conhecimento que havia adquirido cozinhando coisas rápidas e fáceis — afinal a vida de universitário não permitia tempo para elaborar refeições complexas. Isso quando o moreno não se arriscava provando as gororobas de Itachi, colocando sua saúde em risco. Ele vivia mesmo no extremo!

— Eles chegaram! — Sasuke ouviu a conhecida voz de Sakura exclamar quando ele ajudava Naruto a depositar as sacolas em cima das bancadas da cozinha, seguida de um som de uma porta de quarto sendo aberta e fechada. O Uchiha apostaria seu café da manhã que a amiga e o irmão estavam jogando no seu PS4, no seu quarto.

A estudante rapidamente surgiu na porta da cozinha, enfiada em um pesado sobretudo escuro. Ela pareceu feliz por ver Naruto ao lado do moreno e jogou-se nele, o envolvendo em um profundo abraço. O Uzumaki pareceu surpreso com aquele gesto, mas retribuiu na mesma intensidade. Nesse meio tempo Itachi juntou-se ao grupo, revirando o conteúdo das sacolas como um moribundo.

— O Naruto vai cozinhar. — Sasuke revelou diante do olhar confuso dele.

— É mesmo? — A Haruno mostrou-se interessada — Um passarinho me contou que um certo aspirante a chef, cozinha muito bem.

— Vai cozinhar? — Itachi pareceu surpreso e seus olhos ficaram correndo do irmão para o Uzumaki. Uma sobrancelha arqueou-se — Você que sugeriu?

Sasuke assentiu, sem entender o Itachi estava sugerindo com a troca de sorrisos que ocorria entre ele e Sakura. Ignorou isso e separou o que o loiro poderia usar para cozinhar, deixando tudo ao seu alcance.

— O Sasuke insistiu. — A voz de Naruto intrometeu-se na conversa, constrangida — Mas se vocês preferirem fazer o café, está tudo bem.

— Não! — O Uchiha mais novo trovejou junto da Haruno.

— Está tudo bem, Naruto. Pode cozinhar. — Itachi o acalmou.

— Tem certeza?

— Ignora eles, dobe. Só cozinha. — Sasuke recomendou e jogou-se em uma cadeira, sendo acompanhado da dupla.

Naruto pareceu meio hesitante, mas diante dos olhares carregados de expectativas não pôde recuar. Em um interesse genuíno, Sasuke viu ele despir a jaqueta, enfiando-se em um avental azul que Itachi tinha lhe dado e separando os insumos que usaria. Em um piscar de olhos, compreendeu que o Uzumaki separava tudo em uma organização impecável, movimentando-se com precisão e sem brechas para incertezas.

— Vou começar com o acompanhamento, fazendo um Hash Browns. — Naruto explicou — É um pequeno petisco de batatas raladas. Bem fácil na verdade.

E seguiu ralando batatas no ralador, jogando-as em uma vasilha com água.

— Ela vai perder o amido aqui. — Explicou, apertando-as embaixo do liquido. Depois espremeu-as, transferiu para uma vasilha nova e mais uma vez temperou com energia e dedicação, usando cortes e insumos equilibrados.

Por fim, após tudo pronto, jogou farinha de trigo e começou a montar bolinhos. Para Sasuke, pareciam pequenos discos de batatas raladas e Sakura comentou que eram consideravelmente fofos. Transferiu a comida para o forno e deixou lá.

— Agora vou fazer uma Frittata. — O loiro seguiu, quando Sakura perguntou o que ele estava fazendo — É quase uma omelete, de origem italiana. — Ele pareceu lembrar-se de algo e resmungou baixinho, coçando a testa com as costas das mãos — Só que não vou fazer nada típico italiano! Eles só comem muito isso no café da manhã americano. — Um bico emburrado apareceu e ele deu de ombros — Vai entender.

— Isso é a globalização: a troca entre as culturas. — Sakura explicou amavelmente — E você vai fazer alguma coisa clássica ou vai ousar?

O loiro pareceu empolgar-se com a pergunta.

— Vou fazer a receita do Gordon Ramsey! Um dos maiores chefes dos Estados Unidos! — Ele faltava saltitar ao falar do homem e Sasuke pegou-se escondendo um sorriso com aquela euforia.

— Aquele que apresentava MasterChef? — Itachi quis saber.

— Esse mesmo!

— Você assiste isso? — Sasuke virou-se indignado para o irmão.

— Você arruma suas meias por ordem de cor, Sasuke. Não tem moral para falar de mim. — Retrucou e a cozinha explodiu em gargalhadas diante dessa informação.

Enquanto Sakura discorria sobre as manias esquisitas do Uchiha mais novo, Naruto derreteu a manteiga e começou a fritar fatias de bacon em uma frigideira. Sasuke tentou acompanhar seus movimentos tão rápidos quanto um raio, mas encontrou dificuldades. O Uzumaki não parava, sempre se movendo de um lado para o outro, tão hiperativo que só de assistir o moreno se cansava daquela energia. De início, ele até pensara que Naruto estava perdido, movimentando as panelas sem parar, cortando e correndo para lá e para cá.

Estava errado.

A constatação veio quando percebeu o barulho da fritura estourando um decibel acima do comum. Foi um som pequeno, quase imperceptível e abafado pela conversa de Sakura e Itachi sobre o trânsito na cidade. Contudo, isso não passou despercebido por Naruto, que se virou para a panela e mexeu mais na proteína, estudando sua forma e textura. Sasuke pensara que era coincidência, mas o gesto passou a se repetir sem parar.

E ele soube que o Uzumaki se guiava pelos sons das panelas, dos cortes e pelos cheiros. Ia muito além do paladar, deixando que as panelas o orientassem pela cozinha e próximas ações. As panelas conversavam com o loiro. Ele compreendia muito além do que estava visível e isso chocou o universitário.

Em um momento, viu o Uzumaki batendo ovos em um vigor invejável. No outro, o rapaz cortava os tomates, cebolas e pimentões, deslizando a faca pelos ingredientes rapidamente, sem nenhum medo de qualquer corte. Nesse instante, Sasuke notou que as pontas de seus dedos tinham finas cicatrizes e supôs que sua agilidade provinha de muitos erros passados. Deixando isso de lado, assistiu ao espetáculo de cores formar-se quando o Uzumaki misturou os insumos ao bacon, cozinhando tudo com milho e ervilhas.

O cheiro dos temperos usados esbofeteou o estômago de Sasuke, que viu-se salivando por aquele alimento. Naruto, no entanto, permanecia alheio aos olhares famintos, concentrando-se em sua tarefa e misturando os ovos a combinação. Ele mexeu mais um pouco, finalizou com queijo ralado e deixou que cozinhasse. No fim, serviu a Frittata em um prato decorativo que Itachi lhe entregou, com um sorriso alegre. O Uchiha mais novo respirou fundo com aquele cheiro delicioso.

— Quem quer chutar o que vai vir agora? — Naruto cantarolou, checando sua batata no forno.

— Um doce? — Sakura arriscou.

— Suco? — Itachi tentou.

Sasuke não precisou pensar para responder:

— Café.

Naruto aquiesceu com seu sorriso de ruguinhas e olhar cúmplice para o Uchiha mais novo. Ah, o café! O que seria do mundo sem aquela bebida?

— Vou fazer o Mocha Latte. Ele é bem simples: café normal, uns quadradinhos da barra de chocolate, deixando derreter. — O grupo prestava atenção naquela explicação simples e pausada — Depois só ferver o leite, separar a espuma em uma xícara, junta o leite no café e usa a espuminha em cima! Bem fácil e fica uma delícia. — Pausando, levou um dedo até o queixo e pareceu pensar — Não como o do Ichiraku, lá eles fazem mágica. Mas vale a pena. — Comentou a última parte para Sasuke, em uma piada interna que só os dois compreenderam.

Alguns minutos depois ele estava servindo a comida que tinha acabado de preparar. Sasuke ainda tentava processar como simples ingredientes haviam virado algo de aspecto tão saboroso: a Frittata tinha um dourado convidativo para uma massa fofinha, as batatas raladas em seus bolinhos pareciam bem assadas e o café cheirava muito bem. Sakura quase chorou emocionada e decidiu fotografar a refeição, postando em todas suas redes sociais e agradecendo infinitamente o loiro. Itachi, por outro lado, parecia não acreditar que era possível cozinhar tão bem, visto sua falta de habilidade na cozinha.

Sendo alvo de tantos elogios, Naruto adiantou-se para cortar a Frittata em algo que se assemelhava a fatia de bolo. A faca deslizou pela massa, envolvendo o grupo em um aroma delicioso e revelando uma aparência semelhante a uma torta salgada. Sasuke conseguiu captar uma faceta de emoções passarem pelos olhos cristalinos, indo desde alegria até uma suave melancolia., parando em olhos esbugalhados e o som das cadeiras sendo arrastadas quando Naruto arquejou em dor.

De alguma forma ele conseguira cortar o dedo.

Sasuke foi o primeiro a chegar ao seu lado e pôde contemplar o rubro espalhando-se pela extensão de seu dedo, quando o Uzumaki se afastou da comida, deixando que o sangue pingasse no chão branco da cozinha dos Uchihas. Itachi e Sakura também caíram em cima dele, oferecendo panos para estacar o sangramento e questionando se o rapaz estava bem. Agarrando a mão dele, o mais novo dos Uchihas conseguia ver que o corte não havia sido profundo, mas pelas caretas que Naruto fazia, supôs que ele devia estar sentido muita dor.

— Eu tô bem. — O idiota mentiu, mordendo lábio e disfarçando o sofrimento.

Sasuke lançou um olhar indignado para o sem-noção, furioso com aquela péssima mentira. Puto, ignorou as ordens da Doutora Haruno, a aflição de Itachi e a confusão do mentiroso. Em pura revolta, o Uchiha mais novo o puxou pela mão até a torneira mais próxima, abrindo-a e enfiando a mão do loiro embaixo da água, lavando o machucado. No mesmo instante agarrou o pano que o irmão oferecia, envolvendo a mão do tapado com pouca delicadeza.

— Cadê a caixa de primeiros socorros? — Murmurou com seus dedos fechados no pulso do Uzumaki e o puxando para a porta da cozinha.

— No banheiro. — Itachi respondeu, curioso.

— Eu cuido dele. Arrumem tudo.

Dito isso, Sasuke saiu arrastando o pobre rapaz bruscamente.

Abriu a porta do banheiro em um empurrão colérico, ordenando que Naruto se sentasse na privada fechada enquanto ele revirava os armários atrás da caixinha vermelha, achando-a sem demora. Retirou o antisséptico e um pacotinho de gaze, voltando sua atenção para a confusão cristalina que o fitava assustado.

— Dá para parar de ter medo de mim? — Cuspiu, ajoelhando-se e afastando o pano, para checar se o sangramento havia parado.

Naruto pareceu surpreso.

— Não é isso.

— Não é? Sério, Naruto? — Ironizou, revirando os olhos.

— O que deu em você, teme? — Agora o Uzumaki também demonstrava sinais de irritação, puxando a mão para si e o fitando com raiva.

Sasuke tentou respirar fundo, contendo uma forte vontade de socar a face cansada daquele idiota. Subitamente, questionou-se o motivo de agir daquele jeito e a resposta escapou por sua voz antes que ele terminasse de refletir.

— Estou preocupado, seu imbecil.

A surpresa foi expressa pelos dois.

— Preocupado? — Naruto repetiu, sem acreditar.

Sasuke suspirou.

— Você está machucado, porra! Está sangrando e com dor, mas fica mentindo por achar que eu vou te expulsar por qualquer motivo estúpido. — Desabafou, sentindo os efeitos da ressaca amolecerem seu corpo — Caralho, Naruto! Só queria te ajudar e cuidar da porra do seu corte, mas você insiste em me ver como um monstro.

— Não é isso! — Protestou, levantando a voz — Eu só não quero que você se irrite e deixe de me ver como um amigo por isso, seu idiota! Não quero te sobrecarregar! — Revelou e o choque ficou expresso em sua face, deixando óbvio que ele não queria ter contado aquilo — Droga, Sasuke! Esquece tudo isso! — Exclamou, levantando-se e seguindo até a porta, parecendo decidido a ir embora.

Uma ação interrompida pela mão alva do moreno, que segurou seu ombro.

— Me larga, teme!

Os dedos claros buscaram o machucado dele

— Que se fodam os detalhes, nós somos amigos — sussurrou em um tom afetado, desarmado pelas recentes informações — e eu vou cuidar do seu ferimento, porque é isso que amigos fazem.


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Notas finais do capítulo

Peço que compreendam o Naruto. Vocês tiveram um POV dele e conseguem entender melhor o que se passa dentro dessa cabeça oca, mas o Sasuke não, então ele precisa lidar com o que ACHA que está acontecendo, enquanto tenta ajudar nosso bolinho Uzumaki. A insegurança não é tão fácil assim de desaparecer e os dois vão precisar trabalhar um pouquinho mais para que ela tire umas férias pdkasopdkasd.



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