O Funcionário do Fast-Food escrita por Ellaria M Lamora


Capítulo 21
XXI — Lembranças


Notas iniciais do capítulo

MUITO TEMPO DEPOIS, AQUI ESTAMOS.
8k de palavras em forma de desculpa, podem me matar!!!



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 XXI

LEMBRANÇAS

 

 

O ESCARLATE CONSUMIU LENTAMENTE O MUNDO DE NARUTO.

Começou com as bochechas sendo acariciadas pelos fios vermelhos de Gaara, cujo envolveu o funcionário do fast-food em um abraço apertado, escondendo o rosto entre seus ombros e raspando o suéter vermelho felpudo na pele pálida do amigo. A cor então revelou-se nos sinais vitais contínuos — apresentados por um monitor ao canto do quarto, adornado por detalhes igualmente rubros em sua estrutura metálica. O tom destacava-se principalmente no fio carmesim que escapava dos conectores da televisão presa a uma parede esquecida. Antes que ele sequer conseguisse raciocinar, o vermelho estava preenchendo seu campo de visão, passando a ser a única coisa que fazia sentido.

            Piscando em confusão ao ser atraído a um detalhe tão corriqueiro, o aspirante a chefe forçou-se a encarar o cabo de cor purpura na parede branca. Ali descobriu que suas pálpebras pesavam e respirar não era mais simples como antes. Era como se não dormisse há anos e as sobrancelhas, com dificuldade, foram arqueadas e franzidas em interrogações mentais. As órbitas anis tentaram mirar o condutor de eletricidade, mas parecia que uma névoa tomava conta do leito, obstinada a borrar sua visão, deixando-o desnorteado. O Uzumaki então descobriu-se alheio ao que acontecia ao seu redor, incapaz até mesmo de ouvir o que seu amigo dizia, reparando apenas na vibração que o corpo produzia quando ele falava algo, cujo ouvido do loiro não conseguia captar.

Naruto soube que algo estava muito errado quando a visão começou a escurecer e o negro propagou-se na bruma translúcida de antes. Temendo desmaiar, arregalou bem os olhos, erguendo as pálpebras o máximo possível, encarando petrificado os medidores de seus sinais vitais. As luzes dos monitores refletiram na íris azulada, piscando num apavorante escarlate e, surrealmente, falhando a cada dois segundos... Não percebeu aterrorizado, elas não estavam falhando. A máquina funcionava sem problemas, exibindo siglas e informações que somente a equipe médica era capaz de entender.

Era ele.

O problema era ele.

A compreensão veio ao perceber que não sentia mais os braços do Sabaku ao redor de seu corpo. O calor do amigo desapareceu e dele restou apenas um sentimento oco, a clareza de seu estado solitário e a sensação de que nunca mais voltaria a sentir alegria em sua vida. O torpor excruciante fez os olhos com a cor do céu quase saltarem de seu lugar e o funcionário do fast-food quis gritar quando tudo ficou escuro.

De repente uma pálida luz reluziu e ele surpreendeu-se quando começou a recuperar a visão, a qual revelou Gaara na sua frente, fitando-o com tristeza. O amigo tremia e lágrimas escorriam pelo canto de seus olhos, mas Naruto não conseguia escutá-lo. Na verdade, sequer conseguiu visualizar seu rosto, focado no escarlate que se sobressaía naquele quarto. O carmesim começou a escorrer lentamente pelos fios macios do amigo, gotejando no piso níveo e trazendo ao mundo o mais puro vermelho.

Estático, o rapaz assistiu o púrpuro do chão alastrando-se pelo cômodo. Ele dissolveu-se no piso, contaminando tudo que encontrou em sua frente, consumindo os móveis e objetos que se colocavam em seu caminho. O branco foi maculado pelo tom forte e, aterrorizado, o Uzumaki viu quando a cor encontrou seu presente. Como se abocanhasse a flor, o vermelho devorou as pétalas douradas — cujas não aguentaram sua intensidade e desbotaram ao absorverem a cor mortífera — desfazendo o símbolo da vida em ataques cruéis, até que a due de girassóis definhasse e nada mais restasse.

Completamente atônito, Naruto encarou as cinzas avermelhadas.

Gotas pesadas pingaram do jarro que a flor do sol havia exibido sua austeridade. O vaso sangrava em dor e a morte afligiu o jovem, que levou as mãos aos ouvidos quando batidas profundas de um coração começaram a ressoar no interior de sua cabeça. Nesse instante o Sabaku foi consumido pelo carmesim, que jorrava por todo seu corpo, escorrendo de seus cabelos como uma cachoeira. Ao tentar abrir a boca, buracos surgiram em suas bochechas e o rubro aproveitou as fendas para infiltrar-se ali, irrompendo para dentro do amigo. Gaara começou a engasgar com a grande quantidade do que agora se assemelhava a sangue, pois o líquido — que não era só mais uma cor — preenchia todo seu corpo, encobrindo-o no mais puro carmesim.

Sabaku no Gaara tornou-se um com o vermelho, desaparecendo dentro do tom forte que apagou sua existência, até que nada mais restasse. O funcionário do fast-food arquejou, incapaz de expressar sua incredulidade em palavras e, mais uma vez, o som de batidas de coração ecoaram dentro de sua mente. Eram pulsantes e dolorosas, rápidas e intensas. Elas traziam ao mundo do Uzumaki apenas desespero, arrancando-o de seu torpor quanto a Gaara, apenas para jogá-lo na mais pura insanidade de seu estado caótico.

Dentro dele, o buraco vermelho na bochecha do amigo reluzia como um rubi. A figura do Sabaku não existia mais, sendo só uma silhueta enevoada, marcada pelo ferimento que sangrava continuamente e o som do coração cada vez mais forte, como se fosse explodir, desmanchando-se em loucura e sangue.

Sem aguentar mais aquela loucura, o Uzumaki cerrou os próprios punhos, agarrando os tufos de cabelos e os puxando com força, querendo arrancá-los. Doeu. Doeu pra caralho e um guincho escapou por sua boca, gutural e quase animalesco. Foi o primeiro de uma série psicótica. Os próximos foram seguidos pelos próprios punhos socando uma parede escarlate, em um quarto que nada mais existia, se não a cor vermelha velando suas lágrimas.

Ele berrou, caminhando pelo local e clamando por ajuda. Um pesado sentimento de solidão o seguia silenciosamente, acompanhando-o em seu surto, impedindo-o de sentir qualquer coisa naquele lugar vazio. A passagem do tempo tornou-se incompreensível e Naruto não saberia há quanto tempo estava no lugar, se era dia ou noite, se o sol estava em seu ápice ou se a lua cintilava em algum lugar. A única coisa que o funcionário do fast-food tinha consciência é de que ninguém nunca viria por ele. Ninguém.

O vermelho transformou-se em seu mundo. O carmesim era tudo o que importava. A cor de sangue era tudo que existia e fazia sentido. Não havia mais nada para ele. As conversas e sorrisos, os momentos de estresse, lágrimas e olhos atentos de Sasuke em sua direção não representavam mais nada. As noites velando o sono de Iruka, os dias de primavera em que Kakashi trazia cerejeiras para casa, as tardes de verão em que nadava em piscinas com seu grupo.... O vermelho consumia tudo. A loucura o engolia e restou a ele cair no chão de joelhos, urrando em desespero.

Não demorou para que o rubro penetrasse em suas mãos, o prendendo ao chão. As esferas cristalinas então se arregalaram e Naruto arquejou completamente insano quando percebeu que não conseguia soltar-se da poça escarlate, incapaz de fugir para longe. O nível do líquido — que agora se assemelhava a sangue: pegajoso e escuro — começou a subir e o Uzumaki assistiu aflito seu corpo ser incorporado ao mar rúbeo,

Ele tentou ao máximo soltar-se do que o prendia, lutando com todas as suas forças para não se afogar naquela insanidade. Os batimentos de seu coração misturaram-se ao som estranho de antes, em um ritmo acelerado. O ruído de uma respiração ofegante vibrou no pé de seus ouvidos e ele ergueu os olhos para o teto, deixando que as lágrimas escorressem pela face esgotada.

Para sua surpresa, encontrou o céu azul de verão cintilando acima de sua cabeça. Algumas nuvens branquinhas deslizavam preguiçosamente pela infinitude anil e o barulho agudo de centenas de cigarras cantando não foram capazes de acobertar a desordem produzida por viaturas, ambulâncias e disparos de armas em ruas próximas.  A paisagem de uma estação tão sufocante também lhe trouxe um presente: do outro lado da rua, alguém desconhecido, provavelmente de alguma gangue violenta, jazia morto com um buraco no meio da testa, encarando o céu sem percebê-lo. Mas não foi isso que o surpreendeu, pois ao abaixar os olhos — e perto de si —, encontrou um jovem virado de barriga para baixo, no asfalto quente, carregando uma pistola que havia acabado de ser usada. O cabelo dele — antes um albino quase prateado — agora era uma confusão de sujeira, alternando entre o marrom da lama e o carmesim de seu próprio sangue. A regata preta, calça jeans e as botas desgastadas encontravam-se ensopadas pelo escarlate. Até mesmo as correntes de ossinhos — confeccionadas por ele mesmo e seu maior orgulho — não haviam escapado do destino cruel que o vermelho trazia.

Naruto estacou, reconhecendo-o como seu melhor amigo: Kimimaro.

Aquele que o havia protegido de se tornar uma vítima na briga entre as gangues.

Olhos azulados fitaram assombrados a ferida que jorrava o líquido apavorante: ela encontrava-se acima do pulmão direito e o menino respirava com dificuldades, engasgando-se no próprio sangue. De olhos fechados, gemia baixinho e ofegava, tentando mover as mãos e pernas, buscando alcançar o celular que estava próximo ao corpo.

— Naruto... Me ajuda. — Suplicou quando conseguiu abrir as pálpebras.

As esferas esverdeadas de Kimimaro encararam o adolescente em angústia.

Essa foi a deixa para que o Uzumaki despertasse de seu torpor.

Erguendo-se, disparou na direção do amigo, buscando qualquer coisa que pudesse fazer por ele. O choque roubou as palavras que queria dizer e o loiro descobriu-se arrancando a própria jaqueta, tentando em vão estacar o ferimento que continuava a jorrar sangue. Não demorou para que as próprias mãos estivessem sujas pelo líquido espesso. Não se passou muito tempo para que as lágrimas começassem a brotar, enquanto ele tentava acariciar a bochecha do amigo, sussurrando que tudo ia ficar bem.

— Não consi... ver nad — Kimimaro sussurrou sôfrego, olhando para o céu como se contemplasse o vazio — Eu vou morrer, não vou?

— Você vai ficar bem. — O adolescente garantiu debulhando-se em soluços — Você vai sobreviver, Kimi. Nós vamos sair daqui e vou te levar no seu barzinho favorito. Eu vou...

O garoto esticou a mão, tateando os fios dourados do outro com tristeza.

— Nã... quer... morrer. — Admitiu em uma voz falha e quebradiça, tão baixa que o menino precisou se aproximar para escutá-lo — Não posso... ainda...  A vovó... precis... mim. Não posso, Naru...

A fala foi cortada por uma tosse que parecia não ter fim. Ele expeliu sangue, afogando-se no próprio líquido e produzindo sons angustiantes para o jovem que assistia sua morte. O Uzumaki chorou, tentando fazer qualquer coisa para ajudá-lo, buscando o celular e tentando contatando o número de emergência do Japão. O aparelho, infelizmente, estava descarregado.

Em meio ao caos, o canto das cigarras cresceu ao ponto de tornar-se insuportável.

E então cessou abruptamente.

O silêncio engoliu a rua no momento em que Kimimaro respirou pela última vez. Sua face, desfigurada por uma briga anterior e pela dor do tiro, adquiriu uma expressão serena quando as esferas esverdeadas encararam o amigo pela última vez, desvanecendo-o no vazio. O corpo, que havia se retesado em seu último momento em agonia, relaxou. O escarlate, é claro, continuou escorrendo de seu machucado, mas não havia mais qualquer sinal de sofrimento em sua aparência.

Cuidadosamente e com o máximo de carinho possível, o menino dos cabelos dourados fechou seus olhos pela última vez. Ele encarou o melhor amigo por alguns segundos, completamente atônito aos barulhos que voltavam a surgir: as sirenes da polícia se aproximando cada vez mais, os sons de passos correndo pelos becos japoneses, alguém atirando longe....

Um guincho consumido pela dor escapou por entre seus lábios. Seus braços envolveram o corpo sem vida, abraçando-o com força, recusando-se a acreditar no que estava acontecendo. Não era possível. Ontem mesmo ele e Kimimaro estavam dividindo um cigarro de maconha, rindo ao assistir transeuntes ocupados em não se atrasarem para pegar o trem. Há apenas uma semana o albino o tinha convidado para tomar café da manhã consigo, o apresentando ao Ichiraku, o melhor padeiro do país. E agora seu corpo jazia, inerte, em seus braços.

— Puta que pariu. — A voz de Sabaku no Gaara o arrancou de seu estado catatônico e Naruto ergueu os olhos, encontrando o amigo fitando o corpo igualmente em choque, carregando um cigarro na mão esquerda e uma arma na direita. Acima dele, o céu limpo de verão parecia rir com crueldade dos dois adolescentes — Puta que pariu. — Repetiu, caminhando apressado na direção dos dois.

O Uzumaki, envolvido em seu transe, não se mexeu. Apenas voltou sua atenção para o corpo que ainda continuava quente, tateando com doçura a bochecha de Kimimaro, esperando que ele voltasse a abrir os olhos, para que pudesse topar com seus sorrisos de canto, as piadas ácidas e seu amor pela confecção de bijuterias. Mas só o vazio respondia, cravando em sua memória o momento em que as órbitas esverdeadas se perderam do vácuo da morte. As lembranças, sem nenhum tipo de convite, chutavam a porta de sua mente e sentavam-se, servindo a ele memórias cruéis: dias simples em que não faziam nada demais, dias em Kimimaro e Gaara não estavam em uma gangue e apenas aproveitavam a passagem do tempo preguiçosamente consigo. Ele, Gaara e Kimimaro. Só os três. Sem envolvimento com a polícia, sem laços com crimes, sem mortes. Somente os três e suas vidas.

Agora o melhor amigo encontrava-se morto em seus braços e Naruto despedaçava-se com o buraco que surgia em seu coração.

— É melhor sairmos daqui. — O dono dos fios escarlates declarou. Sua voz não passava de um sussurro doloroso e quebrado. As esferas verdes escondiam-se atrás de pesadas lágrimas que ele lutava para não liberar — Os tiras vão chegar logo. — Explicou com carinho, quando o namorado não se mexeu — Não posso deixar que o mesmo aconteça com você.

O adolescente aquiesceu, mas seu corpo não se mexeu.

Os ruídos da cidade o engoliram, enquanto continuou a fitar Kimimaro. Mais uma morte, disse a voz em sua cabeça. Mais uma morte que você não foi capaz de impedir. Mais uma morte... você sabe que seu destino é a solidão. Seu pai, sua mãe, Kimimaro... E logo mais vai ser o Gaara. Você não pode e não consegue salvar ninguém. Está sozinho. E vai ficar sozinho.

— Naruto. — Gaara voltou a chamá-lo, com as mãos em cada lado de seu rosto, obrigando-o a encará-lo — Nós precisamos ir agora, Naru.

As órbitas claras se encontraram e o Uzumaki soluçou, tombando na direção do namorado, que o acolheu sem pestanejar.

— Quantas pessoas mais vou perder? — Perguntou para o nada, escondendo seu rosto no pescoço de Gaara, tentando esquecer o cheiro de sangue e morte daquela rua — Quantas vezes mais vou ter que suportar isso? Eu disse para ele que entrar para a gangue era um erro, Fósforo! Eu disse e mesmo assim ele... e você...

O silêncio de Gaara veio em resposta e ele abaixou a cabeça tristemente, esticando o braço e desviando o olhar daquele que se encontrava em lágrimas.

Naruto fungou uma última vez, aceitando sua ajuda para ficar em pé e fugir dali. O Sabaku entrelaçou as mãos e arrumou a própria pistola, pronto para atirar em quem surgisse no seu campo de visão e representasse qualquer perigo para o namorado. O loiro encarou o amigo mais uma vez, lamentando deixá-lo ali, amaldiçoando-se por não ficar ao lado dele até que alguém chegasse. Mas Gaara estava certo: eles precisavam correr, desaparecer, antes que algo acontecesse.

As cigarras entoaram uma canção triste e Naruto fechou as pálpebras quando o ruivo começou a marchar em sua frente: a arma pronta e olhos alertas.

 

***

 

A foto de Kimimaro sorridente — acompanhada por incensos e bolinhos de arroz no jazigo da família Kaguya — foi a primeira coisa que Naruto reparou ao abrir os olhos. Ele estava no cemitério e o terno preto e triste parecia sufocá-lo no calor de um verão lamentável. Após os ritos funerários, todos haviam ido embora e só restavam ele e Gaara nos túmulos silenciosos, observando a fumaça desaparecer no céu claro de um dia insuportável.

— Me prometa que vai deixar a gangue. — O Uzumaki de repente disparou, voltando-se para o namorado — Eu não posso te perder também.

O Sabaku suspirou, titubeando entre as palavras.

— Por favor, Gaara.

— Não é simples assim. — Anunciou triste.

— Você tem que dar um jeito, pois não posso mais levar essa vida. — Admitiu, caminhando com pesar até um banquinho mais próximo e escondendo o rosto nas próprias mãos ao sentar-se— Estou farto de bebidas, drogas e mortes. Não consigo mais aguentar isso.

— Eu sei disso. — O outro o confortou, acompanhando-o.

— Então me prometa que vamos deixar tudo isso para trás. Por favor.

— Naruto, eu...

— Você tem que me prometer. — Insistiu — Eu sei que a nossa vida está em cacos e é uma merda, mas não vou conseguir suportar se você morrer nos meus braços, como aconteceu com o Kimimaro. E temos que pensar no Tio Iruka e na Temari, caso algo aconteça conosco! — Exclamou em prantos — Você viu como a avó do Kimi quase infartou? Viu o estado dela ao recolher as cinzas do neto? Não posso deixar meu tio passar por isso, Gaara. Preciso pensar nele.

O farfalhar das árvores veio em resposta, tão suave quanto os risos que um dia Kimimaro havia produzido. Naruto cerrou os punhos e desferiu contra as próprias pernas, assustando ao adolescente de fios escarlates.

— Minha irmã me obrigou a ir em uma terapeuta. — Gaara revelou e seu tom triste encobriu o desespero do outro — É a Shizune. Fui vê-la ontem. Ela disse que depois de tudo o que aconteceu, o melhor seria ir pra Austrália, ficar com meu irmão por um tempo. Procurar atividades para distrair a mente: algo como escultura de argila e surf. — Ele sorriu sarcástico — Já pensou nisso? Eu, que sei bolar um cigarro de maconha em segundos, que sei mexer com bong e aprendi a atirar em pouco tempo... alguém como eu, vivendo na praia e fazendo esculturas? Soa inacreditável até mesmo para mim.

O Uzumaki fitou-o estupefato, tentando processar o significado daquelas palavras.

— A Temari concordou com a ideia. — Anunciou, desviando o olhar para o chão de terra em que seus sapatos velhos descansavam — Não sei o que pensar disso.

— É uma ótima ideia. — Respondeu o outro, sorrindo sem humor algum — Você estaria livre da gangue.

— E longe de você, Naruto.

Lábios se esticaram em tristeza.

— Você vai estar vivo, cabeça de fósforo.

— Mas eu não quero ficar longe de você!

Naruto desabotoou o terno e afrouxou a gravata, enfiando a mão por dentro da própria gola. Dali, tirou um colar, com um pingente em formato de ferradura. Os olhos do Sabaku se arregalaram e sua boca abriu-se, ao compreender o significado daquele gesto.

— Em todo aniversário, o Kimimaro me dava um. Devo ter uns 3 ou 4 no total. — Confessou, disfarçando as lágrimas que brotavam silenciosamente — Ele sempre foi o cara das bijuterias e produzia sozinho suas coisas, sabendo cada curiosidade absurda... Até mesmo contou que os gregos antigos entendiam o ferro como o elemento mais poderoso da época, e por isso usavam a ferradura como talismã de proteção contra o mal e boa-sorte.

— Aquele desgraçado daria um ótimo professor de história.

O Uzumaki assentiu, fitando o objeto com carinho.

— Ele sempre usava um, Gaara. A vó dele me contou que não tinha um dia em que o Kimi saía sem seu colar de proteção. Exceto... exceto naquele dia...

A fala foi cortada por ruídos baixos de um choro desesperador.

— Eu sei que ele te dava anéis com o símbolo da bússola viking entalhados.

— Vegvisir. — O dono dos fios vermelhos sussurrou o nome certo.

— É, esse. Pesquisei sobre isso ontem e descobri que os nórdicos o usavam como um talismã de proteção e orientação nas viagens, para que não se perdessem em seus caminhos. — Concluiu, pendendo a cabeça como se seu peso fosse mais do que seu corpo conseguia suportar — O Kimimaro sempre quis o nosso melhor e depositava toda sua preocupação e carinho nesses presentes.

Gaara assentiu, incapaz de formular qualquer frase que fizesse sentido.

— Por isso, vamos prometer por ele. — Naruto aproveitou a deixa, estendendo o colar na direção do namorado — Vamos ficar limpos pelo Kimimaro, largar o álcool e todas as drogas, esquecer sobre gangues, armas, mortes e sangue. Viver a vida que o Kimimaro perdeu me protegendo, sabendo que ele faria o mesmo por você sem hesitar. — A fala ficou embolada e o Sabaku o recebeu em seus braços, acariciando suas costas — Vamos prometer, por favor. Me prometa que você não vai morrer igual ele, que vamos virar velhinhos rabugentos e viver de sopas e caldos sem sabor nenhum.

Gaara, com gentileza, o afastou e afagou os fios tão dourados quanto o sol.

— Nem se você quisesse conseguiria virar um velho rabugento... — Disse com ternura e, ao respirar fundo, afirmou: — Está bem, eu prometo.

De rosto inchado — decorrente de dias chorando sem fim — e olhos cansados, Uzumaki Naruto produziu um sorriso puro. Em um cemitério triste e vazio, acompanhado por túmulos silenciosos, ele esticou o colar que significava o mundo na direção do namorado e declarou:

— A partir de hoje, vamos usar o colar como símbolo dos nossos sentimentos: não importa se você for para a Austrália ou não, ao usar o talismã do Kimimaro, vamos continuar unidos e limpos.  Por nós e por ele.

O ruivo assentiu, deixando que o adorno fosse depositado em seu pescoço.

— Tenho mais uns dois em casa, então também irei usá-lo, não se preocupe. — Naruto explicou, voltando a arrumar sua gravata e terno. E, olhando na direção do jazigo da família Kaguya, murmurou: — Vamos viver, Kimimaro. Por você.

Ruídos de árvores farfalhando levaram a promessa até a fotografia do amigo e a fumaça produzida pelo incenso atraiu sua atenção, alcançando o céu em uma fina linha escura, dispersando-se ali, no céu sufocante de verão.

 

***

 

As nuvens eram tão escuras quanto o humor de Naruto ao encarar o rastro dos aviões que decolavam no céu: linhas brancas sem fim, anunciando partidas e términos de ciclos. Os ventos frios de inverno chispavam em seus ouvidos, zombando de suas roupas quentinhas, afirmando que nem elas iriam protegê-lo de congelar no Aeroporto de Narita.

— Me avise quando chegar lá. — Temari pediu pela vigésima vez naquele dia.

 — Que seja. — A voz de Gaara soou aborrecida e ele revirou os olhos.

Naruto, que estava oficialmente limpo há um ano, ainda encontrava dificuldades para lidar com seu estresse e não censurou o ex-namorado por sua grosseria. Ele só queria que Temari parasse de falar sobre as praias de Gold Coast e ficasse quieta por um minuto, pois sua voz trazia enxaquecas que nenhum comprimido resolvia.

Ele sabia que o problema não era a amiga, mas sim a abstinência. Shizune havia dito que aquilo era normal: seu corpo o levaria ao limite, para conseguir o que precisava. Naruto só não imaginava que o limite era tão baixo assim e, portanto, vivia estressado e rabugento com tudo e todos, desejando que o período de adaptação passasse o mais rápido possível.

— Diz pro Kankuro que estou mandando um oi. — Shikamaru pediu, abraçando a namorada — E me manda foto da prancha de surf que você comprar depois.

— Nem sei se vou surfar.

— Ah, você vai sim! — A loira chiou e Naruto bufou baixinho — Continue seguindo tudo o que a Shizune te falou e sugeriu, ou eu mesma vou para a Australia te matar.

Gaara deu de ombros e virou-se para o Uzumaki.

— Você vai ficar bem? Posso desistir ainda. — Sugeriu com esperança.

— Vou sim, cabeça de fósforo. — Mentiu, lhe presenteando com um de seus sorrisos amistosos — A gangue não vai te encher o saco lá, depois do inferno que foi para você pular fora dela. E vai ser mais fácil melhorar longe da confusão daqui.

O ruivo respirou fundo, levando as pontas dos dedos até o colar em seu pescoço. Um sentimento caloroso preencheu o coração de Naruto ao reconhecer o gesto e ele o repetiu, encontrando embaixo da própria blusa o amuleto que simbolizava uma promessa importante.

— Meus sentimentos não mudaram e não vão mudar, Naruto. — Declarou quando o casal se afastou, dando a privacidade desejada para os dois — O que eu sinto por você...

— Eu sei, Gaara. — Suspirou, sabendo que não estava pronto para continuar aquela conversa. Era doloroso dizer adeus, mesmo sabendo que estava fazendo o melhor por aquele que tinha lhe acompanhado nos últimos anos — Mas não há outra opção: o tio Iruka precisa de mim e ficar aqui só está te fazendo mal. Não há outra opção. — Repetiu, envolvendo o corpo dele com seus braços, tentando passar tudo o que sentia naquele gesto: a raiva, o carinho, a tristeza e a alegria.  — Só me garanta que vai ficar limpo e vai viver sua vida, conhecer muita gente legal, aproveitar a Austrália, comer várias comidas incríveis e nunca mais lidar com bebidas e drogas. Só isso.

— Eu te prometo.

— Então você vai ficar bem. — Garantiu, colando as testas e sorrindo para passar a segurança que o outro precisava, reunindo toda a energia que precisava para esticar os lábios naquele momento tão difícil para si — Estou orgulhoso de você, cabeça de fósforo.

O outro não sorriu, apenas assentiu e deu-lhe as costas quando uma voz anunciou o número de seu voo. Temari aproximou-se com lágrimas nos olhos, abraçando o irmão e beijando com ternura sua bochecha, dizendo o quanto o amava. Shikamaru juntou-se ao grupo, dando tapinhas amigáveis no ombro do cunhado. A Naruto restou apenas um aperto de mão e a tristeza da despedida do que havia sido um relacionamento conturbado, mas importante.

— Boa viagem, Gaara. — Pronunciou, esticando os lábios e deixando que o brilho claro dos olhos do outro penetrassem sua alma — Se cuida.

— Obrigado, Naruto.

Sabaku no Gaara partiu em silêncio, arrastando uma mala de rodinhas tão vermelha quanto o sangue que jorrou do corpo de Kimimaro. Sua figura desapareceu no meio dos transeuntes do aeroporto de Narita e o adolescente despediu-se dos amigos, dizendo precisar resolver qualquer coisa na região — recusando educadamente a carona que eles lhe ofereceram.

Ao jovem de cabelos dourados restou apenas o vazio e ele correu para despejar sua tristeza no banheiro mais próximo. O vômito veio dolorido e angustiante: o corpo se retesava em sofrimento, desespero e lágrimas. Alguém bateu na porta da cabine, perguntando se ele estava bem e Naruto grunhiu uma mentira. Seu coração estava estilhaçado, o corpo passava a sensação de atropelamento e a mente era uma confusão de pensamentos, sentimentos e ideias.

Ele nutria muita coisa por Gaara, mas sabia que se o amigo continuasse ali, acabaria morto como Kimimaro. Esse pensamento embrulhava seu estômago, pois não conseguia imaginar-se enterrando o ex-namorado. No entanto o peso da partida o consumia. Sabaku no Gaara havia o acompanhado nos últimos anos, ajudando-o a superar a morte dos pais, a realidade de uma nova vida, o peso de cuidar de Iruka... O rapaz de expressão emburrada sempre estava lá para oferecer seu ombro, deixando que o loiro descansasse e chorasse ali, enquanto afagava as mechas claras, Era ele quem preenchia as noites silenciosas com risadas e observações engraçadas. Ele quem protegia o Uzumaki dos perigos noturnos da vida que levavam. Junto a ele, Kimimaro sempre aparecia com cafés e bolinhos doces. E agora Naruto havia perdido os dois. Um para sempre. O outro... só deus sabe quando o encontraria novamente.

Deus, o quanto sentia falta de cheirar. Só necessitava um pino. Só isso. Ou ao menos se tivesse um cigarro de maconha para conseguir lidar com a partida do Sabaku, sabia que ficaria bem... Quem sabe uma dose de whisky. Sim, uma pequena dose acalmaria o tremor que se espalhava por suas mãos, ao qual ele tinha a certeza que seria transferido para todo o seu corpo em questão de minutos. Ah, quem sabe se misturasse o cigarro e o whisky... Já podia sentir o sabor do narcótico em seus lábios, amargando seu paladar, enquanto o calor da bebida faria seu trabalho, aquecendo-o por completo. No passado, a combinação sempre o acalmara, roubando seus problemas e tristezas até que restasse apenas o vazio.

E para alguém perturbado como ele, não sentir nada era uma benção.

— Puta que pariu. — Naruto ofegou, caindo em si e estapeando o próprio rosto.

Os olhos de Kimimaro perdendo o brilho tão característico brotaram em sua mente e ele — após dar descarga — caiu sentado no chão do banheiro apático, abraçando os próprios joelhos, deixando que as memórias jorrassem. As lágrimas vieram sem controle e o rapaz chorou silenciosamente, enfrentando o caos mental, a desordem que sua abstinência trazia. Era tão duro querer algo, sabendo que não o podia ter. Em seu desespero, barganhava com sua própria consciência, garantindo que seria apenas uma dose. Só uma cheirada... Contudo, sabia a verdade: se voltasse, não pararia. A bebida voltaria a ser constante em seus dias e ele se renderia a ela mais uma vez. A dor psicológica o torturava e tornava-se cada vez mais difícil não ceder a pressão mental, às necessidades físicas de um corpo viciado e sôfrego com a partida do ex-namorado...

Estava a um passo de uma crise, perdendo-se na confusão mental, quando se lembrou de algo há muito esquecido e sacou seu celular, abrindo o reprodutor de músicas, caçando a playlist que Kimimaro havia compartilhado com ele um dia antes de morrer. Naquela época, o rapaz albino havia sorrido sem-graça, pedindo que Naruto não o julgasse, mas admitindo que amava ouvir aquelas músicas enquanto produzia suas coisinhas.

A voz feminina soou potente e certa nos fones de ouvido, declarando:

“I'm gonna marry the night”.

Eu vou casar com a noite.

As lágrimas rolaram livres e pesadas, quando o Uzumaki começou a visualizar o antigo amigo, no meio da noite, sentado em seu quarto e usando metal e demais materiais para produzir presentes para ele e Gaara, ouvindo aquela mulher declamar: “sou um soldado contra o meu próprio vazio” e cantando baixinho. Tinha a certeza de que o falecido se encontrava naquelas letras, dado o fato da solidão de crescer sozinhos e sem pais em um dos bairros mais pobres da capital. Mesmo assim, Kimimaro sempre chegava saltitante após essas noites, não se importando com os próprios dedos rasgados, olheiras e olhares estupefatos de seus colegas. Ele contentava-se apenas em arrancar sorrisos dos amigos e reforçar o quanto era grato por eles terem aparecido em sua vida.

Ao abrir a galeria do celular e, deslizando entre as fotos do trio, o Uzumaki pegou-se rindo das caras e bocas daquele menino. Lá estava ele, distraído encarando um boneco que havia feito com cobre, sorrindo tão juvenil. Em outra foto, o garoto agarrava Gaara pelos ombros e apontava para uma cerejeira, dizendo algo que o tempo já havia apagado das memórias do loiro. As melhores fotos, sem dúvidas, eram as que ele estava dormindo após um dia de trabalho, todo contorcido e cansado demais para perceber os desenhos que Naruto rabiscava em sua face. Se fechasse os olhos, o jovem tinha a certeza de que conseguiria ouvir os risos dessas noites, a televisão rodando algum filme ruim e como a cama vibrava com os roncos do amigo, ou seus sussurros repetindo curiosidades históricas. Kimimaro era incrível e teria dado um ótimo professor. Ele amava ler e descobrir sobre o passado da humanidade, empolgando-se mais ainda em compartilhar o conhecimento com seus amigos, declamando em momentos inesperados — como quando Naruto corria para o banheiro, após duas horas bebendo sem parar — como as primeiras civilizações haviam se organizado, ou como a queda de Alexandria havia atrasado toda a humanidade.

 Lembranças aconchegantes abraçaram o loiro e, Naruto — sempre tão esgotado —, surpreendeu-se com a tranquilidade que seu espírito encontrou. Revivendo as memórias tão dóceis e singelas, inocentes de qualquer narcótico. — e recitando o ritmo da música favorita de Kimimaro, junto com cantora nomeada Lady Gaga — o Uzumaki descobriu que estava, enfim, em paz.

Kimimaro havia o salvado mais uma vez — e do seu próprio jeito hilário.

Naruto sorriu com a ironia.

***

 — Ele acordou!

Questionou-se quem seria o dono daquela voz desesperada, pronto para grunhir que queria ser deixado em paz no banheiro, ou chamaria a polícia caso um espertinho o tentasse importunar. Suas pálpebras pesavam e o corpo subitamente pareceu mais fraco do que antes. Estranhou o sumiço do celular, com a melodia de Merry The Night ressoando e ergueu-se em um impulso, concluído que havia apagado no banheiro e, portanto, haviam roubado seu celular.

Droga, há quanto tempo estava sem dar notícias a Iruka? Ele devia estar furioso.

No entanto, ao levantar-se, deu de cara com um jovem de mechas escuras, o encarando com preocupação e ansiedade. Ele trazia um travesseiro nos braços e uma barra de chocolate. Ao ver o loiro em pé, deixou que tudo caísse no chão e pulou em cima dele, agarrando-o pelos ombros e disparando com nervosismo:

— Como você se sente? — Ali, tão perto, o Uzumaki descobriu que pesadas olheiras se abrigavam embaixo de seus olhos. As mechas eram uma confusão e a roupa dele parecia amassada. Naruto franziu as sobrancelhas, pronto para perguntar quem era aquele maluco e onde diabos estavam. — Ei, você sabe quem eu sou, certo, dobe? — O tom de voz soou preocupado e o jovem de cabelos dourados arregalou os olhos — Naruto?

A realidade atirou-se contra ele ao ouvir o apelido e o rapaz percebeu que os momentos anteriores haviam apenas sido sonhos, fragmentos de memórias que reviveu durante um colapso exaustivo. O cansaço se fez presente e ele não teve forças para sorrir, somente assentindo para o Uchiha, que continuava a sustentar ansiedade.

— Sai! — Exigiu a voz firme de Gaara, saindo subitamente do banheiro e afastando a enfermeira que entrava no quarto. Ele marchou na direção do enfermo, exibindo o mesmo olhar inquieto de Sasuke — Naruto? Você está bem?

— Você não devia estar aqui. — O estudante de direito cuspiu, sentando-se ao lado do menino internado — Só é permitido um por vez no quarto. — Afirmou, erguendo uma sobrancelha e fuzilando-o com suas pedras negras e frias.

— Como se eu ligasse. — Retrucou, pisando na barra de chocolate e travesseiro do outro. Sasuke cerrou os punhos e ergueu-se, pronto para ir para cima do dono das mechas cor-de-fogo. — Como está se sentindo, Naru? — Questionou, ignorando o outro.

A resposta não veio, interrompida por uma jovem enraivecida.

— Deixem-no respirar! — Sakura trovejou, entrando no quarto como um furacão e puxando o amigo de perto do funcionário do fast-food — Você também, dê o fora! — Indicou o rapaz de cabelos ruivos que se aproximava do outro lado da cama— Não é à toa que ele desmaiou! — Ela bufou, lançando aos dois um olhar ameaçador — Deixem os profissionais cuidarem disso.

O toxicômano cruzou os braços em frente ao peito, recusando-se a seguir suas ordens.

— Seria muito bom se todo paciente tivesse uma acompanhante tão sensata. — A enfermeira de antes comentou com uma risadinha discreta — Isso facilitaria muito meu trabalho. — Afirmou, presenteando o Sabaku com uma expressão irritada.

— Ah, vai por mim, sei como alguns acompanhantes são um pé no saco. — A voz de Sakura respondeu e ela aproximou-se do loiro — E quanto a você, Naruto? O que te falei sobre dormir e se alimentar direito?

O funcionário do fast-food fez um biquinho, tentando se encontrar no meio daquela confusão que seus amigos traziam para seu quarto.

— Estou bem.

— Estou vendo. — Ela grunhiu irônica — Está tão bem que não foi INTERNADO às pressas, não RETIROU o acesso do soro, muito menos caiu duro no chão, com a pressão no núcleo da terra e completamente desmaiado por... Nossa, minha memória está uma merda. Ele está com o quê mesmo, Tenten? Resfriado? Gripe?

— Anemia. 

— Estou bem, Sakura. Juro, foi só um des...

Naruto calou-se quando viu a feição dura da amiga. Ele soube então que não estava mais falando com aquela adorável universitária que compartilhava fotos de animais fofinhos e discutia com ele músicas da Lady Gaga. Ali, em sua frente, estava uma futura médica muito responsável e que parecia a ponto de matá-lo por trair sua confiança.

— Quando entrei nesse quarto pude te dar um diagnóstico horrível só de bater o olho em você. — Ela continuo seu monólogo, exibindo um semblante decepcionado — Sua pele está tão pálida e os indícios de que não se alimenta direito e nem dorme há dias são como bolas de fogo no meio da noite. Seu corpo está gritando: PRECISO DE VITAMINAS E DESCANSO. E, no entanto, você estava tentando fugir do hospital.

— Espera! Não é is...

— Você desconectou o soro de manhã. — Prosseguiu colérica, expondo para os presentes o fato — Não almoçou e sei que estava bolando um plano para fugir do hospital. Ou assinar os papéis para ir embora logo. Não minta para mim, posso ver na sua cara que estou falando a verdade.

O rapaz desviou o olhar para longe dela, ocupando-se em encarar a enfermeira que substituía o soro do acesso em seu braço. Ela devia ser poucos anos mais velha do que ele e sorria simpática, tentando acalmá-lo perante a fúria da Haruno. Gaara, por outro lado, continuava prostado ao pé da cama, como se tivesse criado raízes ali e dividia-se entre fuzilar com os olhos aquela maluca de cabelos claros e o Uchiha. Sasuke aproveitava o sermão para recolher suas coisas do chão, sentando-se na poltrona e destinando ao amigo toda sua preocupação e angústia.

— E ainda por cima achou uma grande ideia ficar em pé e andando por aí, com a pressão alcançando o fundo da Fossa das Marianas! — Censurou, massageando as próprias têmporas, incapaz de acreditar naquele absurdo — Sorte sua que seu amigo te segurou quando você caiu, ou teria enfiado a cabeça no chão, rachado ela e sabe-se lá o que mais o quê!

— Estou bem, Sakura-chan. Foi só um susto. — Naruto resmungou, tentando moldar um sorriso em seus lábios. Em resposta, a feição de Sakura endureceu mais ainda e ela aproximou-se completamente enraivecida.

— Não me venha com essa! Já conversei com seu médico e você vai receber uma quantidade gigante de vitaminas nas próximas horas. Vai ficar em observação e não sai daqui enquanto não melhorar essa pressão.  — Cuspiu em um tom que não dava margens para ser contrariada, apontado o dedo indicador para ele em um aviso ameaçador.

O enfermo bufou, odiando ser tratado como um pirralho.

— Acho que ele já entendeu, Sakura. — A voz bondosa e calma de Itachi de repente se fez presente no quarto e a figura do homem passando pelo vão da porta atraiu a atenção dos que ali se encontravam. Ele estava vestido da cabeça aos pés em traje social: como se tivesse acabado de deixar o tribunal, vestindo um pesado cachecol negro em seus ombros e carregando uma maleta de mesmo tom em uma das mãos, enquanto a outra trazia sacolinhas cheias da loja de conveniência 7-Eleven. — Boa noite, Naruto. Você nos deu um baita susto.

— Susto é pouco! — A futura médica cuspiu, mirando-o com olhos esverdeados raivosos — E não me diga que trouxe alguma porcaria pra ele comer! O Sr. Uzumaki está sob uma dieta restrita até botar os pés fora daqui.

Transbordando paciência, o Uchiha mais velho deixou suas coisas perto do irmão e voltou-se para o pequeno furacão em sua frente.

— Imaginei que você estivesse com fome, já que passou o dia na universidade. E o Sasuke não comeu nada desde o almoço, preocupado com a saúde do Naruto. Então achei que seria bom trazer alguma coisa para vocês jantarem. — Explicou sem-graça e dirigindo a atenção ao mais novo, pronunciou: — Desculpe vir só agora, Sasuke. O tribunal estava fervendo hoje e quase não consigo sair de lá.

O universitário deu de ombros, mas a gratidão estava estampada em sua face.

— Você tem amigos bem exóticos — Tenten sussurrou para o Uzumaki, enquanto os irmãos Uchihas tentavam conter a fúria da Haruno, que havia voltado a reclamar, seguidos pela irritação de Gaara — Os meninos ficaram muito preocupados quando você passou mal e discutiram feio no corredor. Precisou de 4 enfermeiros para separarem eles, ou acabaríamos com mais gente internada.

— Eles brigaram?!

— Não chegaram a encostar no outro, mas estavam perto. — Ela confessou, preenchendo sua ficha — O de cabelo preto saiu furioso, ligando para os amigos, contando sua situação e dizendo que passaria a noite aqui. Acho que ele foi comprar um travesseiro em uma loja aqui perto. Nunca vi alguém tão transtornado e perturbado. O outro não saiu de perto da porta, esperando os médicos liberarem a visita. E encheram tanto o saco que permitimos que entrassem, mas fizemos eles prometer que não causariam mais tumulto, ou seriam expulsos do prédio. Aí você acordou no momento que um retornava das compras e o outro saía do banheiro.

Ao escutar aquilo, Naruto gargalhou.

O som de sua risada preencheu o quarto, dissipando a fúria de Sakura, o mau humor de Gaara, as sobrancelhas franzidas de Sasuke e trazendo à face de Itachi uma expressão aliviada.

— Que pena que não morri. Seria engraçado ver vocês se descabelando na pós vida.

— Não acredito que estou ouvindo isso! — A Haruno bradou escondendo o riso, arrancando o travesseiro das mãos do amigo e o jogando contra o Uzumaki, que gargalhou alto e fingiu se defender das investidas dela — Vou te fazer ficar sem o jantar também, seu idiota!

— É sobre isso que estou falando. — Tenten piscou, saindo do quarto.

 

***

 

O ruído de uma porta sendo aberta despertou o Uzumaki e ele viu quando a luz do corredor iluminou seu quarto, revelando a presença de Itachi. Ao pé da cama, Sasuke e Gaara cochilavam sentados no chão, exaustos após tanto tempo naquele hospital. O homem caminhou calmamente pelo cômodo, estendendo a parte de cima de seu terno sobre a jovem que dormia na poltrona, livrando-a do frio noturno.

— Eu te acordei? — Questionou ao perceber as esferas azuladas acompanhando-o — Desculpe, precisei fazer umas ligações e jogar o lixo do jantar fora.

— Ninguém dorme bem em um hospital.

O Uchiha tomou um tempo para refletir as palavras e acabou por assentir. Naruto afastou-se ligeiramente para o lado, liberando espaço e o convidando a se sentar em sua cama.

— Obrigado.

— Vocês não precisavam passar a noite aqui, Itachi. Não sei nem se isso é permitido.

— Ah, não se preocupe com isso. Conheço o filho do diretor do hospital. — Comentou com um dar de ombros e o Uzumaki arregalou os olhos, perplexo — Só precisei ligar e explicar que um amigo estava mal e ele resolveu tudo para mim.

 — Mesmo assim...

Itachi fez pouco caso do assunto, concentrando-se em seu café que até então o enfermo não havia reparado. Naruto sorriu ao pensar em como aquela família devia ser viciada na bebida tão energética e um sorriso maior cruzou seus lábios na noite fria. O homem não percebeu, destinando sua atenção ao irmão que cochilava ao chão, silenciosamente.

— O Sasuke ficou bem preocupado. — Comentou mordiscando o copinho de papelão — Ele tinha me mandado mensagens quando vocês vieram para cá e depois me ligou no almoço. Pensei que tudo ia ficar bem, já que as notícias eram boas. E então, menos de uma hora depois, me ligou em desespero. Nunca vi ele assim, tão transtornado e aflito.

— Eu sinto muito. — A frase saiu rapidamente e com o peso da culpa — Não queria preocupar ninguém, mas a Sakura-Chan infelizmente estava certa: a minha pressão ficou bem baixa. — Grunhiu beliscando-se por baixo das cobertas e detestando a sensação de sentir-se um fardo.

— Não foi nada. — Garantiu, deixando a bebida de lado e focando nos girassóis iluminados pelo luar — Eles são realmente bonitos. Quem te deu? A Sakura?

O jovem negou, balançando a cabeça.

— Foi o Sasuke.

Itachi ficou em um silêncio contemplativo, analisando as flores.

— Ele tem bom gosto quando quer. — Disse por fim, com um sorriso que o Uzumaki acompanhou — Era isso que queria conversar. — O riso morreu e ele encarou as esferas anis com firmeza — Meu irmão se importa muito com você. Sei que o que aconteceu hoje foi uma sequência de desordens, mas fiquei surpreso em como ele se preocupou com sua saúde, em como você está e em como afirmou que não te deixaria até que ficasse bem. Sei que para o Sasuke é bem difícil demonstrar sentimentos, mas ele realmente se importa e tenta mostrar do jeito dele.

O Uzumaki sorriu com afeição, coçando a nuca sem-graça.

Era estranho ser o centro das atenções e digno de tanto carinho.

— Eu sei.

— E eu prezo pelo conforto e segurança daqueles que são importantes para a ameba que é o Sasuke. — Declarou, sem desviar o contato visual — Então quero que você saiba que se precisar de qualquer coisa, estou aqui para te ajudar.

O funcionário do fast-food encontrou dificuldades para decifrar o significado daquelas palavras e deixou que o silêncio se arrastasse entre eles, perguntando-se o que Itachi queria dizer. Iruka havia dito algo para Sasuke? Ou o mais velho dos Uchihas estava apenas sendo gentil, depois de perceber o quanto a vida do Uzumaki encontrava-se caótica? Será que o irmão mais novo tinha comentado sobre a pobreza em que vivia?

— Não quero seu dinheiro. — Apressou-se em dizer, ofendido.

Ele trabalhava muito, ganhava pouco e vivia exausto, é verdade. No entanto se orgulhava do que conseguia fazer. Ao menos Iruka podia contar consigo, conseguia se alimentar bem e viver seus dias sem estresse. O tio tinha todo o apoio que precisava e o sobrinho orgulhava-se sim de ser o responsável por isso. Depois de tanta merda, ao menos não era mais o adolescente inconsequente que havia sido um dia e honrava a memória de Kimimaro, levantando-se e enfrentando o que a vida lhe fornecia, sem recuar.

— Não era minha intenção te ofender. — Itachi disparou, sem-graça — Só quero que saiba que se precisar de qualquer coisa, estou aqui. Você é como alguém da família para nós.

— Não preciso de nada. — Garantiu e arquejou quando constatou o óbvio — Espera aí, esse não é o hospital que meu plano de saúde cobre. O que vocês fizeram?!

— O Sasuke te trouxe para o hospital do nosso plano.

— Puta que pariu! — Exclamou e cobriu a boca com as mãos, temendo ter acordado a Haruno e os amigos que dormiam — Puta que pariu. — Sussurrou mais baixo.

— Nós vamos arcar com quaisquer gastos.

— Não, eu vou pagar. — Disse com firmeza, buscando seu celular — Me diz quanto ficou que eu te transfiro agora. Que merda, vou matar o teme quando ele acordar!

— Eu mesmo irei pagar a conta, Naruto. — O Uchiha mais velho assegurou — Sei que está chateado pelo que meu irmão fez, mas entenda que ele pensou que você estava morrendo e agiu sem pensar. O Sasuke só queria o seu melhor e há o fato de que precisa se recuperar e cuidar das suas coisas, então não vai ser justo gastar seu dinheiro agora. Por isso se concentre em melhorar e depois nós conversamos sobre isso.

Uma risada amarga foi a resposta.

— Eu não quero que pense que estou me aproximando de vocês por causa de dinheiro, Itachi. Eu trabalho e consigo me virar, está bem? Sei que vivemos em realidades diferentes, mas não é certo isso. O problema é meu, não seu ou do teme. — Sabia estar sendo duro, mas os remédios deixavam sua língua solta e naquele momento pouco importava a reação do Uchiha mais velho.

A mão de Itachi, no entanto, o silenciou, quando ele a depositou em seu ombro.

— Nunca pensaria isso. — O acalmou, em sua fala tranquilizadora — Você não imagina o bem que faz para o Sasuke, Naruto. Ele mudou depois que te conheceu e se posso fazer algo para retribuir isso, irei fazê-lo sem pestanejar.

O Uzumaki corou ao ouvir aquelas palavras, surpreso.

— Não é justo...

— Então conversamos quando você estiver melhor e longe daqui.

Itachi ergueu-se, parecendo satisfeito com o final da conversa e lançou um olhar para a dorminhoca Haruno, que agora se esticava na poltrona em uma posição exótica para qualquer ser humano. A cabeça moveu-se em negação e ele suspirou.

— Se acha que está dando algum trabalho para mim, olhe para ela. — Grunhiu, voltando a cobrir a universitária, que se remexeu e acabou acordando.

Sakura coçou os olhos, olhando confusa para as sobrancelhas arqueadas do Uchiha.

— Que horas são?

— Duas da manhã.

— Desde quando estou dormindo?

— Você jantou, encheu o saco do Naruto, brigou com o Sasuke e o Gaara e apagou no momento que sentou aí.

Ela bufou e ao perceber o Uzumaki acordado, ficou em pé em um pulo.

— Você devia estar dormindo! — Vociferou, destinando a ele a força de seus punhos — Não vai receber alta amanhã se não dormir bem, porra! Quer ficar mais um dia aqui?!

— Mocinha, por favor, olha a hora! — A cabeça de uma enfermeira idosa surgiu na porta e ela fitou a Haruno com raiva — Os pacientes estão dormindo! — Resmungou, partindo colérica.

A troca de olhares divertida entre Itachi e Naruto foi interrompida quando a universitária rosnou, aproveitando a deixa para medir os sinais vitais do loiro. Estudou-os criticamente e, ao não encontrar nada preocupante, suspirou aliviada.

— De verdade, Naruto, volte a dormir e descanse bem até amanhã. — O rapaz assentiu freneticamente, incapaz de contrariar a médica — Já que eles sempre dão alta pelo almoço, nos espere sentadinho, está bem?  Não aceite carona de mais ninguém, pois vou te levar no mercado e te entupir de vitaminas e coisas saudáveis. E sem dizer um A! Está decidido.

E voltando-se ao Uchiha mais velho, perguntou em uma voz mais calma:

— Você veio de carro?

— Sim.

— Pode me levar em casa? Não tomei banho ainda e preciso finalizar um trabalho, antes que a Ino faça picadinho de mim. Ah, deuses, ela vai me destruir quando acordar e ver que não terminei o slide de ontem também... — e percebendo que Naruto talvez se culpasse pelo seu drama, acrescentou: — Por isso fique bem para que minha morte não seja em vão!

Itachi riu.

— Sem problemas, Sakura. Amanhã te busco na universidade também.

— Por isso sou 100% Team Uchiha! — Exclamou animada, como se não tivesse se comportado como uma ditadora minutos atrás — Você é um fofinho, Ita. — Elogiou, apertando sua bochecha — Prometo que te compro uma expressão duplo amanhã! — E, destinando um olhar firme ao Uzumaki, declarou: — Já sabe, meio-dia no estacionamento me esperando! Nem ouse fugir! Vou pedir pro Sasuke e o Gaara te amarrem.

Sem escolhas, Naruto apenas assentiu.

Sakura pegou suas coisas e despediu-se do enfermo, pontuando novamente suas dicas médicas. Antes de saírem, Itachi tomou as coisas dela em mãos e cobriu os ombros pequenos e delicados com o terno. Os dois saíram silenciosamente do quarto, deixando o Uzumaki finalmente em paz.

Havia muita coisa que queria conversar, tanto com Sasuke, quanto com Gaara. Havia muitas questões que precisava refletir, lembranças que necessitava revisitar, preocupações e mensagens a enviar para Iruka e Kakashi. Sozinho e no meio da noite silenciosa do hospital, o Uzumaki desejava levantar e fugir, voltando a viver e própria vida e parando de dar trabalho... No entanto, os efeitos dos remédios pareciam estar mais fortes e ele sentia a exaustão, o cansaço e a fraqueza de um moribundo.

Por isso, apenas fechou as pálpebras e se permitiu descansar um pouco.

Só um pouco.


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Notas finais do capítulo

Antes de tudo, como sempre, obrigada a quem não desistiu.
Esse capítulo foi muito difícil de escrever, por conta de todos os problemas, de tudo o que aconteceu nesse tempo de HIATUS. Na verdade, ainda não estou 100% contente com ele, já que queria fechar o arco do hospital aqui... só que estamos com OITO MIL FUCKING PALAVRAS e não dava mais, o final do capítulo já estava em outro ritmo e, por mais que tentasse encaixar algo, simplesmente não dava. Por fim, me reuni com meus divertidaments e, tirando a parte que berrava EXCLUA A HISTÓRIA, a maioria votou por finalizar aqui.
tô brincando, calma, não fui internada (ainda!!!)
mais uma vez, obrigada a todos que não desistiram. aos que me mandam mensagem, me mandam um OI, VC TÁ VIVA? OI? OLÁ! HEEY, TÔ AQUI, VIU?
é engraçado, mas a escrita sempre teve um poder terapeutico na minha vida. algo que me traz tranquilidade, um ponto em que encontro conforto, aconchego. um exercício em simples, mas libertador. é engraçado voltar e perceber como sinto falta disso, como a paz que me rodeia nesse hobbie faz falta na minha vida. foram anos terríveis, de inúmeros bloqueios e caos no mundo inteiro, então voltar a fazer isso — ainda mais eu, que sempre desisto de tudo kkkk —, começar a deixar pra trás todo esse caos... não consigo descrever em palavras. para vcs terem noção, teve momentos em que estava tão absorvida pela escrita, digitando fascinada com os acontecimentos que, ao ser chamada pelo meu irmão, levei um susto e demorei um momento para entender o que estava acontecendo, pois tinha simplesmente mergulhado de cabeça e alma na história.
espero que consigam sentir tudo o que senti nesse trabalho. que tenham mergulhado com a alma também. que não tenha decepcionado ninguém. e, nesses anos de mudanças que passamos, ainda possam apreciar essa singela obra, perdida nesse site.
obrigada por continuarem aqui. é por causa de vocês que continuo.
até a próxima, girassóis ♥



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