O Funcionário do Fast-Food escrita por Ellaria M Lamora


Capítulo 13
XIII — Eu vou te proteger




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「Você é importante para mim 」


            AS CORES EXPLODIRAM NO SOTURNO QUARTO quando Uchiha Sasuke confessou ao loiro seu segredo. As palavras — articuladas com carinho e gentileza — penetraram o escudo recheado de dor e sofrimento que o Uzumaki passara tanto tempo criando. Destruindo-o, elas o ultrapassaram com doçura, e pousaram em sua alma, abraçando o jovem que até então só conhecia o vazio e a tristeza. Foi aí que Naruto percebeu que estavam acompanhadas por aqueles olhos inteligentes que o sondavam com afeição, prestando atenção em cada detalhe que pudessem registrar, obstinados a arrancar dele qualquer sinal de angústia que demonstrasse.

            Deixando que seus dedos queimados se entrelaçassem com os do Uchiha, o funcionário do fast-food respirou e — pela primeira vez em muito tempo — sentiu seus ombros leves. O quarto inteiro parecia ter ganhado vida com aquelas palavras que representavam tudo o que ele queria ouvir e, encantado, Naruto contemplou o responsável por aquilo. Sasuke começava a demonstrar sua timidez, já que as bochechas adquiriam um tom rubro e ele franzia as sobrancelhas, mas parecia se esforçar para não quebrar a atmosfera que o loiro estava apreciando.  Sua atitude não passou despercebida e o rapaz de cabelos dourados sorriu, fascinado em como aquele carrancudo conseguira afugentar toda a mediocridade daquele ambiente. De repente a tinta descascada não parecia mais tão importante assim. O cobertor velho o convidava para uma boa-noite de sonhos. Os móveis degastados pelo tempo tinham um aspecto de quem já tinha sobrevivido ao impossível.  Ao tomar essa percepção, Naruto concluiu que Sasuke o fizera ter respeito por sua própria história, fazendo com que ele reconhecesse o quão forte era.

            E o mais importante: o Uchiha reluzia como o sol e o Uzumaki notou que começava a se abrigar no calor reconfortante que seu corpo produzia. Grato por tudo que ele estava fazendo, o miserável fechou as pálpebras e apreciou o sabor dos lábios do amigo. Um sorriso bobo despontou no canto de sua boca quando lhe ocorreu a comparação do selinho com gosto de café. A dualidade brincou em seus pensamentos: era um sabor forte, mas trazia consigo algo bom, carinhoso e delicado. Era exatamente como Sasuke se parecia: alguém ranzinza e frio, mas que carregava dentro de seu coração uma pureza e gentileza comovente.

            Abandonando o entrelaçar de dedos — uns calejados pelas noites em que passaram escrevendo relatórios e anotações, ao passo de que os outros estavam queimados e cortados, maltratados pela vida que pressão de uma cozinha cobrava — O Uzumaki abriu os olhos e deixou que a intensidade azul se derramasse nas órbitas negras. Comovido pelo sentimento, Sasuke o abraçou. Com força. As mãos buscaram seu corpo, deixando que as pontas dos dedos o contornassem e foi então que Naruto se sentiu protegido e em paz depois de tantos anos.

            Era uma paz diferente daquela que as drogas traziam. Após tanto tempo, descobriu que não precisava estar chapado para sentir-se seguro, muito menos embriagar-se com as bebidas tóxicas que tomava no passado, com a sensação de que tudo seria passageiro. Ali, sentindo a respiração calma de Sasuke em seus ombros e suas mãos dedilhando suas costas em gestos suaves e carinhosos, o Uzumaki sentiu-se verdadeiramente em paz. O silêncio, geralmente tortuoso e incômodo, agora transbordava entre eles. Mas era especial. Bom. Ele carregava palavras e promessas que a fala e a voz jamais seriam capazes de entoar, trazendo consigo significados profundos e afetuosos.

            Não soube quanto tempo ficou ali, refém do carinho daquele universitário ranzinza. Os minutos transcorreram silenciosamente, além da percepção dos dois. Os corpos continuaram na mesma posição por um tempo inestimável e Naruto deixou que o calor em seu coração florescesse, permitindo que suas bochechas também corassem com a noção de talvez aquilo tudo talvez se transformasse em algo maior. Um sorriso brincou em seu rosto com o pensamento e ele riu, quando Sasuke tentou esconder um bocejo.

            — Está com sono?

            — Não.

            — Está sim, teme!

            — Posso ficar aqui a noite inteira. — Sasuke garantiu, mas foi assolado por outro bocejo. Uma risada anasalada acompanhou Naruto, que bocejou junto.

            — Tenho uma ideia melhor. — Sussurrou, mas quando tentou se mover, um sonolento Uchiha o segurou com força — Confie em mim. — Pediu, a voz não passando de um sussurro, com medo de assustá-lo.

            As mãos dele relaxaram e Naruto sentiu quando elas lhe largaram. Em um movimento suave, ele afastou-se do universitário, encontrando a curiosidade transparecendo em seus olhos. O Uzumaki sorriu como uma criança e engatinhou para a ponta da cama, abrigando-se debaixo do cobertor e repousando a cabeça no travesseiro que agora parecia trazer consigo uma maciez nunca antes sentida pelo funcionário do fast-food. As ônix o devoraram, indecisas quanto ao que se fazer e restou ao Uzumaki aquiescer, anuindo com a cabeça e permitindo sua aproximação.

            O colchão cedeu quando o corpo de Sasuke afundou-se ao lado do dono de bonés com sorrisos amarelos. Puxando o cobertor até o queixo deles, Naruto deitou-se de frente para o amigo de comportamento sisudo e o fitou com diversão, indagando:

            — Bem melhor, hein?

            Sasuke bufou e revirou os olhos, mas admitiu:

            — Não é tão ruim.

            — Não precisa ter inveja das minhas ideias, um dia você chega lá — Alfinetou, só para ver as sobrancelhas do outro se franzirem quando um bico rabugento tomou conta dos lábios dele — Você sabe que estou brincando, né? — Sussurrou de repente, preocupado com a possibilidade de ter quebrado a atmosfera amistosa que tinham criado.

            Como resposta encontrou o silêncio do Uchiha.

            — Sasuke. — Chamou, tocando sua bochecha. O universitário o segurou pelo pulso e Naruto teve medo que ele o afastasse, pulando para fora da cama e indo embora. No entanto, contrariando seus pensamentos, ele começou a avaliar a ponta de seus dedos, aproximando-se mais dele.

            — O que aconteceu com eles? — Quis saber e o Uzumaki percebeu que o amigo trazia em seu olhar uma adorável atenção dedicada a ele. Em sua memória, Naruto não se lembrava de Sasuke fitando outras pessoas daquele jeito e, por isso, sentiu seu coração palpitar mais rápido com a possibilidade do que aquela informação queria dizer. — Desculpe, não precisa falar. — Sussurrou, parecendo perceber os batimentos cardíacos dele — Eu não quero te deixar nervoso, dobe.

            — Não estou nervoso.

            — Sua mandíbula sempre treme e seus olhos tem um tique, não sei. Eles piscam mais rápido e sua pupila dilata. — Observou divertido, tocando as pálpebras e o queixo do amigo enquanto explicava.

            —  Pensei que você não tinha tempo para notar essas coisas, já que está sempre tão atarefado e de mau-humor.

            — O café me deixa atento.

            Naruto ergueu uma sobrancelha, confuso sobre o que aquela frase queria dizer. Enquanto isso, o Uchiha tinha em seus lábios um sorriso de canto, de forma que o Uzumaki tomou a resposta como uma ironia.

            — O que aconteceu? — Sasuke tornou a perguntar, indicando com as órbitas negras os dedos do amigo, que suspirou e — debaixo do cobertor — apenas deu de ombros.

            — São várias histórias. Cada corte tem a sua própria.

            — Que bom que eu não vou embora tão cedo.

            — Ah, teme! Outro dia eu te conto... estou com sono, poxa! — Protestou, deixando que uma expressão infantil tomasse conta de sua face. Sasuke resmungou um palavrão e o Uzumaki revirou os olhos — Vou socar sua cara, teme.

            — Você não seria capaz. — Pirraçou.

            O funcionário do fast-food, ao ouvir essas palavras, preparou-se para empurrar o Uchiha para longe da cama. No entanto, era exatamente isso que Sasuke esperava que ele fizesse, de modo que o segurou pelos pulsos e puxou para perto, envolvendo o idiota em seus braços e deixando que a cabeça dele cabeça repousasse em seu peito. Ali, Naruto pôde sentir sua respiração acelerada e os batimentos cardíacos do rabugento acelerados.

            Envolvido pelos braços quentes de cor alabastro, Naruto viu-se relaxando quando os dedos dele começaram a brincar com as pontas de seus cabelos, ocupando-se vez ou outra em lhe fornecer cafunés agradáveis. Hesitante, o Uzumaki deixou que seu braço escorregasse pela barriga dele, parando por fim na cintura, o prendendo em um abraço apertado.

            Soube que aquela tinha sido a intenção do amigo desde o início, quando uma risada contida escapou-lhe pelo nariz.

            — Idiota. — Sussurrou, dominado repentinamente por um sono inesperado.

            As palavras se esvaíram quando o Uchiha aproveitou o momento e depositou um beijo em sua testa. O gesto carinhoso trouxe de volta toda a atmosfera anterior e Naruto fechou os olhos, permitindo que por aquele momento Sasuke o protegesse do mundo.


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