O Funcionário do Fast-Food escrita por Ellaria M Lamora


Capítulo 10
X — A Ternura das Astromélias


Notas iniciais do capítulo

Voltamos à programação normal
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por enquanto, rs.



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X

A TERNURA DAS ASTROMÉLIAS

A VOZ DE UZUMAKI NARUTO rompeu o silêncio do quarto branco e sem-graça daquele hospital, quando o loiro ficou em pé e apontou acusadoramente para Sabaku no Gaara, ameaçando partir para cima dele. Ao seu lado, Sai observava a pilha de cartas com atenção, seguido por um cansado Shikamaru que estava largado no chão, ao lado de uma parede, cochilando.

— Seu ladrão! — O Uzumaki bradou.

— Escolho a cor azul.

— Vai ter que comprar +4. — O rapaz de cabelos negros anunciou — Ele te pegou de jeito, Naruto. — Indicou com os olhos a única carta restante na mão do jovem, que segundos atrás comemorava a possível vitória.

Gaara encolheu os ombros, murmurando:

— Uno.

— Não quero mais jogar também! — O Uzumaki declarou, recusando-se a comprar as cartas e jogando a sua própria, um +2 vermelho, no montinho — O Gaara roubou! Não tinha como ele saber a cor da minha carta, nem fodendo!

— Quanta imaturidade — Sai rolou os olhos, recolhendo o jogo.

— Eu te conheço, só isso. — Gaara pareceu ofendido e o rapaz brigão trouxe aos lábios um bico infantil, mostrando o dedo do meio para ele.

Ao fundo, Shikamaru resmungou alguma coisa qualquer em seus sonhos, remexendo-se inquieto. Naruto riu e esqueceu da briga, aproximando-se do amigo e o cobrindo com sua jaqueta colorida. Sai aproveitou a situação para fechar as janelas, apreciando a quietude e silêncio provindos daquele bairro nobre, em uma noite calma e de clima levemente ameno.

Sentando-se novamente ao lado do rapaz de cabelos rubros, o Uzumaki viu quando as pontas de seus dedos contornaram o ferimento coberto pela atadura. A dor apresentou-se em sua face e Gaara desviou os olhos para as Astromélias na mesinha ao lado de sua cama, esticando a mão e acariciando as delicadas flores com carinho.

— Esse tom é raro. — Sai assegurou fascinado, apontando para a planta — A coloração branca, misturada com as pontadas pintadas de lilás, tão milimetricamente semelhantes, transbordando vida... nunca vi antes.

— Os Yamanakas trabalham com a excelência. — Naruto proferiu o slogan da floricultura e sorriu — Quando vi essas Astromélias, foi impossível não lembrar de um certo cabeça de fósforo.

O Sabaku arqueou as sobrancelhas.

— Presentear alguém com Astromélias significa desejo de amizade eterna e felicidade plena, representa também agradecimento e saudade... — Sai leu, com o celular em mãos — Definitivamente, lembra ele mesmo.

Ruborizado, o funcionário do fast-food arquejou estarrecido por ter o significado de seu presente exposto daquele jeito. O insuportável sorriso dos amigos fez com que ele desejasse que o chão se abrisse, para que pudesse pular dentro e jamais tornasse a sair.

— Eu gostei. — O enfermo garantiu, fitando o loiro — Só é uma surpresa não ter comprado lámen ou algum café do Ichiraku — Levantou os ombros.

— Acha que ele não tentou?

— Vai se foder, Sai! — Exclamou o Uzumaki, petrificado de vergonha.

— Ele me ligou desesperado. — O artista contou, ignorando a suplica do amigo — Disse que a Temari tinha ameaçado, falando que se ele trouxesse algo do tipo, ela iria proibi-lo de te visitar.

Os lábios do Sabaku se curvaram em um pequeno sorriso e seus olhos se prenderam aos do perdedor do Uno, que gaguejava uma desculpa esfarrapada e puxava os fios dourados com aflição. Diante da intensidade das órbitas claras, Naruto paralisou, sentindo-se mais leve, como se o silêncio do outro tivesse forças suficiente para acalmá-lo e destruísse todas as inseguranças e medos.

O Uzumaki não saberia dizer quanto tempo ficaram presos um ao outro, já que era comum que perdesse a noção do tempo quando estava perto de Gaara. Algumas vezes teorizava que a presença do rapaz era tão comum a si, que ele se transformava em alguma parte de sua essência. Supunha que isso decorria dos momentos tão únicos e miseráveis que presenciaram no passado: aquilo criara uma espécie de conexão que provavelmente jamais seria destruída.

— Parece que fui atropelado — Shikamaru gemeu, atraindo todos os olhares em sua direção. Sua fala era embolada e grogue, pelo sono — Ah, cara, que horas são?

— Umas oito. — Sai respondeu.

— Obrigado pela consideração às minhas costas. — Resmungou, esticando-se e ouvindo um estalo — Ótimo. — Bufou, jogando-se no sofá — Vocês realmente podiam ter me mandado deitar aqui.

— Ah, mas você estava tão bonitinho ali. — Naruto ironizou, rindo — A gente não quis te incomodar.  

Ele revirou os olhos e seu estômago manifestou-se, exigindo atenção.

Perante ao som, o Uzumaki exibiu um sorriso ladino e puxou a desgastada mochila do chão, retirando de dentro dela uma sacola.

— Eu pensei que a Temari... — Sai sussurrou, sendo cortado.

— Ela falou de lámen e café do Ichiraku. Não de sobremesas. — Explicou, retirando algumas fatias de torta de morango de dentro da bolsa.

Ao fazer isso, recordou-se de que Uchiha Sasuke uma vez tinha comentado o quanto amava tudo que envolvia aquela fruta e mordeu os lábios, lembrando-se que nos últimos dias não havia conseguido responder suas mensagens. Lamentou não ter tempo, sabendo que estava sendo cruel com o universitário, que esporadicamente enviava uma ou duas mensagens, puxando assunto. Compreendia que seu orgulho o impedia de enviar toneladas de perguntas, questionando o sumiço repentino. Contudo, temendo a raiva acumulada pela distância que criava, Naruto não tinha forças para lidar com o amigo o pressionando. Estava exausto demais para tudo e só podia enganar a si mesmo, prometendo que logo mais responderia aquelas mensagens.

— É de morango? — Sai perguntou, sentindo o aroma preencher o quarto.

— Sim! Foi o Kakashi que fez, quando foi lá em casa no início na semana passada. Só que ele fez duas e como sou só eu e o Tio Iruka, não conseguimos comer tudo.

— E você trouxe os restos para nós? — Shikamaru provocou e o Uzumaki bufou — É inacreditável que você não tenha comido tudo e tenha sobrado algo.

— Não sou fã de doces. Só de café e lámen!

— Eu passo. — Gaara grunhiu, deitando-se na cama e se cobrindo.

— Ah! Eu esqueci que você não gosta de morangos! — Naruto exclamou, chocado — Foi mal, Gaara! Juro que não lembrava disso! — O horror de ter esquecido algo tão crucial deixou ele pálido. Droga! Estava tão acostumado com o ranzinza Uchiha proclamando seu amor pelo fruto e deixara passar que com Gaara era o oposto.

— É melhor desse jeito. Assim ele não come e não fode o corpo dele e a cirurgia. — O Nara consolou o amigo, devorando uma fatia da torta.

Sai acenou com a cabeça, imitando seu gesto.

— Quando sair daqui, vou te levar no Ichiraku! — O Uzumaki garantiu, recebendo em seguida um curto sorriso como resposta.

Mais uma vez, aquilo foi suficiente para tranquilizá-lo, pois sabia que o outro não era de muitas palavras. As expressões faciais, os gestos e olhares de Gaara diziam mais do que sua boca e com muito esforço, no decorrer dos anos, o loiro tinha aprendido a ler e compreender o que se passava dentro da conturbada mente daquele jovem tão problemático.

Retribuindo a emoção, Naruto comeu sua própria fatia em silêncio, observando os amigos discutirem sobre o inverno que se aproximava. A televisão, pelo que narrava Shikamaru, garantia que o frio seria rigoroso e Sai demonstrava um genuíno interesse no cenário branco que tomaria conta de Tóquio. Era perceptível que ele estava empolgado com a possibilidade de produzir quadros expondo a melancolia de uma estação tão cruel e dura com a natureza e a própria vida.

Contudo, sentindo o doce do morango tão saboroso, o funcionário do fast-food não deu atenção ao bizarro interesse do artista.

Sua mente processava uma nova descoberta, compreendendo que — em anos — era a primeira vez que o quarteto estava junto novamente e seus os olhos, tão cristalinos e puros, foram tomados por um sentimento de afeição, quando o Uzumaki percebeu que sentira falta daquela conexão.

Não importava se estava frio, se Gaara tinha levado um tiro e eles estavam em um hospital. O fato de que estavam todos ferrados e mergulhados em algum tipo de dor, não representava nada. No fim, eles continuariam sendo as mesmas pessoas e manteriam sua essência: Shikamaru sempre reclamaria de estar cansado, Sai provocaria ele, Gaara assistiria tudo rindo discretamente e Naruto faria alguma algazarra.

Era um sentimento confortável, cujo carregava uma intimidade e familiaridade que o singelo rapaz não trocaria por nada no mundo. A nostalgia preenchia seus sentidos, trazendo à sua mente todos os momentos que eles tinham vividos juntos, lembrando ao Uzumaki que ele não estava sozinho. O funcionário do fast-food tinha amigos e eles apreciavam sua existência, ao contrário do pensamento recorrente que sempre o convencia do contrário, manipulando-o até que acreditasse que estava destinado para solidão e nada mais.

— Estou dizendo, não vou responder por mim se algum idiota aparecer implorando para que eu pinte um estupido Papai Noel sobrevoando Tóquio com aquelas renas ridículas. — Sai resmungou, atraindo a atenção do loiro — Vocês não acreditariam na quantidade de pessoas que me procuram querendo essa merda.

Shikamaru riu, limpando a boca com a manga do casaco.

— Acabei de descobrir uma forma de gastar meu dinheiro no Natal. — Provocou e o rapaz de cabelos negros atirou nele a caixinha do Uno — Acho que a Temari ficaria encantada de receber um presente tão delicado. — Completou, desviando do objeto.

— Ela quebraria ele na sua cabeça. — O Sabaku afirmou e o grupo mergulhou em uma calorosa discussão sobre o que a mulher faria.

Era sabido que Temari não tinha paciência para imaturidades: ela era bruta e carregava dentro de si uma teimosia e orgulho que poderia ultrapassar Uchiha Sasuke facilmente. Não gostava de provocações desnecessárias e apreciava a paz que a vida cotidiana apresentava. Quando confrontada, revelava uma face assustadora, que levava as pessoas a correrem e se afastarem o máximo possível. No entanto, também escondia uma personalidade delicada e sensível quando as coisas não saíam como esperado.

Levados a refletir sobre como a namorada do Nara reagiria ao receber o quadro infantil, os rapazes entraram em uma calorosa discussão acerca de como a mulher destruiria a provável arte. Naruto concordou com o Sabaku e Sai afirmou que ela jogaria a pintura pela janela do apartamento. Shikamaru tentou defender a amada, grunhindo que os amigos tentavam complicar as coisas para o lado dele.

Envolvido naquele tema, foi uma surpresa quando o Uzumaki ficou em pé, os olhos refletindo uma geniosa ideia que se passava na mente nele, a boca escancarada a pose de quem tinha descoberto o maior feito do século.

— Já sei! Nós vamos andar de trenó quando o inverno chegar! — Anunciou, empolgado com a possibilidade de repetir o que tinha sido a maior diversão deles no passado. Uma fagulha de animação preencheu os olhos claros de Gaara, enquanto Sai parecia ponderar a ideia e Shikamaru bocejava, indicando o quão exaustivo seria o programa.

— Talvez possa ser interessante, tirando o fato de que vamos congelar até a morte depois. — O artista murmurou, afundando-se no sofá com o Nara — Faz um tempo desde a última vez que saímos mesmo. Acho que seria divertido.

— Vamos! Vamos! — Naruto implorava como uma criança — Qual é, a última vez que descemos as colinas foi antes do Gaara viajar... dois anos atrás!

— Precisamos ver se ele vai se recuperar até lá. — Shikamaru tentou trazer o amigo à realidade, preocupado com o estado do cunhado.

— Ele vai! — Insistiu, buscando a mão do ruivo — Sei que o Gaara vai se esforçar para ficar bom o mais rápido possível. Acredito nele!

Demonstrando sua fé, o loiro entrelaçou seus dedos com os do Sabaku e os apertou, tentando transmitir esperança. Foi inevitável não lembrar da noite na casa do Uchiha, quando o álcool manipulara suas ações, permitindo que o rabugento universitário demonstrasse uma atenção e carinho que até então estavam sendo raros na vida de Uzumaki Naruto. Um sorriso discreto cobriu seus lábios e ele teve de desviar os olhos do Sabaku, para que não fosse mal compreendido.

— Naruto está certo. — Gaara resmungou e foi perceptível que estava encabulado com o gesto do amigo.

— Viu!

— Está bem. — Shikamaru deu-se por vencido, levando as mãos ao alto — Vou chamar a Temari.

— Será que o Iruka gostaria de ir? — Sai arriscou, hesitante.

O Uzumaki deu de ombros.

— Provavelmente só com a supervisão do Kakashi. — Explicou, guardando as embalagens vazias dentro da bolsa — Mas nada que uma pirraça e uma cerveja não resolvam — garantiu, piscando e rindo contente.

Inebriado na felicidade que o dominava, o Uzumaki não percebeu um detalhe que não fazia parte daquele momento. Rindo com seus amigos, os provocando e ouvindo suas histórias, ele não notou que em sua mochila a tela de seu celular estava acessa, ao passo de que o aparelho emitia uma vibração contínua e desesperada.

A determinação e exasperação de um número privado desejando atenção.


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Notas finais do capítulo

É isso aí, chegamos ao capítulo 10 e nem consigo acreditar nisso! Agradeço muito o apoio de todos vocês que leem, comentam e estão por aqui, seja favoritando ou aparecendo para dar um olá. ♥
O capítulo foi levinho, mas já diria o ditado:
"A calmaria antecede a tempestade"
ENTÃO APROVEITEM
é isto



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