Kiku to Higanbana escrita por Tsuchimikado


Capítulo 3
O dragão em suas costas


Notas iniciais do capítulo

Eu realmente me empolguei escrevendo esse capítulo, ainda mais com essa trilha sonora ao fundo: https://www.youtube.com/watch?v=C7ckV1yf6dY

Mais uma vez desejo uma boa leitura!

Termos utilizados:

— Chan: Honorífico de tratamento carinhoso, normalmente associado com diminutivo.
— Onmyouji: Espécie de místico do Japão antigo. Usavam-se do onmyoudo, uma prática nascida do xintoísmo, budismo e taoismo e era dito que podiam realizar feitiços e prever o futuro.
— Reiki: Do japonês significaria algo como "a união da energia manifestada ou energia não manifestada". Rei seria a energia cósmica ou divina e Ki seria a energia humana.
— Kimono: Vestimenta tradicional japonesa.
— Katana: Espada tradicional japonesa a qual só possui um gume.
— Ikatteiru ryu: Dragão iracundo, dragão furioso.
— San: Honorífico de tratamento mais respeitoso.
— Ofuda: Tira de papel normalmente usada em encantamentos como um talismã xintoísta, apesar de também ser observado no budismo.
— Kyu kyu nyo ritsu ryo: "Com pressa, de acordo com a lei", é uma frase dita comumente em encantamentos por onmyouji e originada de decretos imperiais da antiga China.
— Dono: Honorífico muito respeitoso. Normalmente usado para se referir a outro como "mestre" ou "senhor", e atualmente é entendido como um indicativo de "igualdade" entre os falantes.
— Nee: Sufixo que indica "irmã mais velha".
— Anego: Modo de falar "Irmã mais velha", mais puxado pra "mana". Associada com delinquentes femininas.



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Enquanto Ene caía colina abaixo sua expressão soltava um grito mudo. Ikari fora completamente engolido pelas chamas rubras.

“Para trás!”, ela tinha gritado há pouco, mas não fora capaz de protege-lo. Ela sentia a ânsia de chorar e não fazia esforço algum para se controlar. Mesmo assim não caíam lágrimas.

Sentiu seu corpo se chocando contra o solo conforme rolava pela grama vermelha. Seus olhos se voltavam para o topo. Quando conseguiu se por de pé não perdeu um único segundo e correu de volta para onde estava.

Ela estava com medo, um medo que nunca sentira em sua vida. “Por que?”, se perguntava, mas não importava, não naquele momento. As chamas estavam parando e, assim que chegou lá, um misto de surpresa e felicidade atacou-lhe: Ikari estava bem.

Ele cobria o rosto como se uma luz forte tivesse passado por si, mas além disso estava completamente normal, até mesmo suas roupas estavam intactas. O rapaz olhou para suas mãos, passou a mão no rosto e soltou um sorriso nervoso.

— He.. hehe... Eu to bem...

— Você... Tá bem... – completou Ene.

Yuuki deu um sorriso leve.

— Entendo, não foi coincidência naquele dia... – disse ele enquanto os outros dois viravam-se para o ruivo – Assim você dificulta meu trabalho, Shidou-chan!

“Aquele fogo... Não estava quente?”, perguntou Ikari para si mesmo, “Naquele dia... O que exatamente aconteceu naquele dia?”.

Ikari não disse nada, apenas começou a dobrar as mangas de sua blusa até o meio do antebraço. Em seguida passou a mão em seu cabelo, levantando a franja. Quando baixou as mãos seus olhos pareciam pegar fogo de tão intensos.

  Ikari tremia um pouco, aquele ruivo à sua frente lhe aterrorizava, mas um surto de confiança preenchia seu corpo de tal forma que o fez duvidar de suas próprias certezas. Yuuki não demonstrou sinal de medo, mas involuntariamente levou a mão à sua espada.

— Parece que agora eu também estou envolvido nessa briga... – comentou enquanto a energia vermelha flamejante da há pouco se acumulava ao redor do seu corpo. Ikari parecia não notar, mas ela crescia a cada segundo, pouco a pouco cobrindo-o por completo – E para com essa merda de “Shidou-chan”, meu nome é Oga Ikari!

Ene o observou, surpresa, entrar em uma pose de luta. Em vez de impedi-lo ela assentiu e pegou sua lança no chão. Lado a lado ambos encaravam com seriedade o seu oponente.

— Assim você dificulta meu trabalho, Shidou-chan... – disse Yuuki sacando mais uma vez a lâmina.

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Lin olhava com um certo desespero para o local onde há poucos instantes se encontrava Ikari. Ela vira claramente uma explosão de fogo engoli-lo, e não pudera fazer nada...

Será que Ikari estava bem? Será que ele está vivo?

“Bem, agora somos só nós dois...”, ela lembrou-se. “Eu vou cuidar de você!”

Uma promessa que fez a Ikari três anos atrás. Ela agora temia que não poderia cumpri-la. Sentiu vontade de chorar, mas ao se lembrar do rosto do mais novo em lágrimas ela convencia a si mesma de que teria de ser forte, forte por seu irmãozinho.

Ela olhou para as próprias mãos, sem um pingo de poder, e as fechou em frustração.

“De que adianta tanto treino se eu não posso ajuda-lo quando algo assim surge? Assim como papai e mamãe...”

Uma mão tocou sem ombro.

“Takeshi?”, dizia uma esperança no fundo de sua mente influenciada por lembranças.

Ela se virou e não era ele.

— Kamui-san? – ela perguntou ao homem de olhos dissimulados atrás de si – Como...

— Podemos deixar os detalhes para depois, Lin-dono. – disse gentilmente o homem dirigindo seu olhar para o topo da colina. – Ikari-dono precisa de ajuda, não?

Ela assentiu para Kamui. Apesar de vestir-se de uma forma um tanto estranha, tal qual um onmyouji feudal, ele não parecia atrair atenção alguma para si.

— Eu não sei o que aconteceu, mas quero ajudar no que puder.

— Eu também não sei exatamente o que foi aquilo, mas farei o que puder. – Assegurou-lhe com calma.

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Não era bem uma voz, estava mais para uma pequena presença no fundo de sua mente que o instruía sem dizer palavra alguma. O que importava era que essa presença parecia estar dando energia para Ikari.

Quando ele viu Ene e Yuuki lutarem há pouco aquilo parecia-lhe humanamente impossível, mas nesse momento ele conseguia acompanhar, mesmo estando mais lento que Ene. Isso lhe deu confiança até perceber que o ruivo brincava com ambos. Com Ikari ele era mais complacente, simplesmente desviando ou aparando seus golpes com o braço, já com Ene ele parecia realmente querer matá-la com sua espada.

A luta continuou até que surgiu uma oportunidade. Ene atacou-o por cima com sua lança, forçando Yuuki a se defender, e aproveitou para chutar-lhe a lateral. Ikari seguiu a deixa e chutou-lhe pelo outro lado. Com os braços levantados e sem evidente intenção de desviar, Yuuki apenas abriu um sorriso de canto de rosto.

Ene percebeu de último instante e tentou, desesperadamente, se afastar. Uma barreira de chamas se formou, girando, no tronco do garoto e se expandindo, empurrando Ikari e Ene. Yuuki não foi atrás, apenas permaneceu em seu lugar com a espada apoiada no ombro.

Ambos caíram no gramado, produzindo um som seco.

— Ikari... – Ene arfava, mas se esforçava para sorrir – Cuidado, você tá desperdiçando Reiki... Assim você vai se cansar rápido...

“Reiki?”, Ikari pensou. Depois percebeu que estava, de fato, ofegante.

— Mais importante, você está bem?! – Perguntou tirando os olhos momentaneamente de seu adversário e se assustou quando olhou para Ene.

Sua base parecia fraca e seu corpo exibia diversos cortes e queimaduras sob um kimono rasgado em diversos pontos. Ela não o respondeu.

“Ela... Tá suportando todo o peso dessa luta...”, pensou Ikari com senso de urgência “E não parece nem um pouco perto de terminar...”.

O desespero o fez, inconscientemente, aumentar ainda mais a aura que queimava ao seu redor.

— Já está óbvio, não é? – constatou Yuuki despreocupadamente, ele estava ileso – Vocês são fracos de dar dó! Mas tenho de lhes dar certo crédito, me forçaram a usar a chama sagrada! Bem, agora já está bom de brincadeiras, o mestre está ficando irritado...

“Ene não está em condição alguma de lutar... Não posso deixar ele se aproximar!”, a aura explodiu com ainda mais intensidade enquanto ele corria na direção do ruivo.

— Shidou-chan, pare de atrapalhar um pouco, está bem? – Disse Yuuki acertando o plexo solar de Ikari com o cabo da katana. A reação foi quase que instantânea, Ikari ficou caído de joelhos, sem respirar, e sua aura avermelhada se dissipou completamente.

Yuuki passou por ele como se não fosse nada. Ene ainda se mantinha em posição de luta, mas parecia devastada.

“Eu... Não consigo usar encantamentos...”, pensou com a respiração irregular “Não consigo... Me concentrar...”, ela apontou a lança para ele.

— ... mas um tigre só para de lutar quando a presa é abatida... – ela bradou e endireitou sua postura - ... ou quando morre!

  Ela tinha um olhar frio e feroz. Um olhar de morte.

— Ótimo, então morra. – disse Yuuki indiferentemente enquanto afastava a lança da garota com um fraco movimento de espada.

Ene não percebera que ele já estava tão perto. Seu olhar frio foi substituído por um olhar que ela não demonstrava há anos... O medo...

O ruivo a levantou com uma das mãos, estrangulando-a como se não fosse nada.

— Talvez eu devesse te queimar? – o olhar de Ene tremeu e Yuuki sorriu – Você tem medo do fogo, não é? Do meu fogo...

Yuuki tinha um largo sorriso aberto e um olhar relaxado.

— Não... Ouse... – disse Ikari, ainda sem ar.

— Eu tenho certa pena de você...

— Pare já com isso... – ordenou Ikari, demonstrando dificuldade para se levantar.

— Se a sua alma não fosse tão podre talvez houvesse esperança para meu fogo salvá-la!

A fúria borbulhava em Ikari. Era uma situação familiar, novamente alguém morreria na sua frente e novamente ele não podia fazer nada. A aura vermelha retornou, ainda fraca.

— Pra começo de conversa, acho que se sua alma não fosse tão impura não teríamos chegado até aqui!

— Se afaste dela... – Ikari queimava e avançava. Um senso de dever se apoderou dele enquanto ele se aproximava de ambos.

Yuuki abriu uma expressão gentil para Ene.

— Meu mestre tem de agradecer a vocês dois! Se não fosse pelos infortúnios do passado talvez seus olhos nunca tivessem se aberto para a verdade!

— Eu... Nem... Te conheço... – Ene lutou para dizer.

— Mas eu sei muito bem quem você é... – finalizou Yuuki lugubremente. Sua lâmina encheu-se de chamas enquanto ele a apontava para o rosto da rosada.

— Eu não permitirei que faça isso novamente! – exclamou Ikari com sua voz reverberando, como se ela expressasse um grito em conjunto com alguém.

— Não me atrapalhe novamente, Shidou-chan, a brincadeira acabou... – disse Yuuki com um tom sério. Atrás de si chamas se formaram e se solidificaram, formando uma cúpula de vidro vermelho.

Ikari socou e quase quebrou a mão, mas seu olhar mostrava que desistência nem passava por sua mente. Ele socou novamente, e novamente. Sua mão latejava conforme filetes de sangue escorriam.

— Você pode ser imune às chamas sagradas, mas não quer dizer que pode passar por uma barreira assim de qualquer jeito. Fique quietinho que eu já lido com você.

— Por quê... O seu mestre... Me odeia tanto? – perguntou Ene.

— Ele não te odeia... Ele odeia no que você se tornou... Sua existência se tornou inaceitável!

— Você não faz... Sentido... – disse Ene quase sem forças.

Ikari continuava a socar o vidro vermelho que os separava, cada vez com mais força, com mais frequência, com mais urgência. A aura flamejante começava a se moldar, acumulando-se em seus punhos.

Ele socou e o vidro pareceu tremer. Isso parou a lâmina de Yuuki. Ele socou e o vidro se rachou.

A aura vermelha não era mais tão perceptível. Estando quase toda ela concentrada em seus punhos, pouco a pouco pareciam tomar uma forma física, faixas negras. A bandagem começou, de pouco em pouco, envolver a mão do rapaz, passando para seu antebraço. Cada vez que ele afastava o punho para socar a barreira, ele retornava com mais força.

Yuuki se virou para Ikari, finalmente tirando seus olhos de Ene, e o que viu o fez se estremecer.

A imagem durou centésimos de segundo, mas estava clara como o dia. Um dragão negro parecia acompanhar Ikari. Não, Ikari era esse dragão, com pupilas reptilianas repletas de fúria.

O ruivo sentiu medo. Ele soltou a rosada e segurou a Katana com ambas as mãos.

Desperte — Urrou Ikari inconscientemente com as palavras que lhe vinham à boca – IKATTEIRU RYU!

As bandagens terminaram de amarrar suas mãos quando ele soltou um devastador soco que arrebentou a barreira em minúsculos pedaços que se espalhavam como areia. Yuuki saltou para trás e aprontou sua arma como um animal acuado. Ikari apenas permaneceu lá, encarando-o com raiva.

Quando Yuuki o observou de novo ele apenas via Ikari, nenhum dragão. Sua respiração se acalmou, assim como seu semblante. Yuuki passou uma das mãos em seu cabelo e começou a rir.

“Eu não sei o que foi isso, mas certamente foi assustador!”, pensou consigo mesmo.

Ikari estava com suas mãos em guarda quando se apercebeu das bandagens.

“De onde veio isso?”, pensou, ignorando Yuuki, quando voltou sua atenção para a rosada caída à sua frente.

— Ene! San... – Ela era sua amiga de infância, então talvez não tivesse problema chama-la pelo nome. Depois de adicionar o honorífico se repreendeu por não ser hora para formalidades.

— Só Ene... – pediu ela, fraca. Sua expressão era fraca e ela parecia incomodada com algo.

— Consegue se levantar?

— Sim... – ela respondeu enquanto Ikari a ajudava. Ela ainda segurava sua lança, mas se apoiava em Ikari.

Yuuki finalmente parou de rir.

— Aposto que hoje está sendo um dia e tanto para você, não é mesmo, Shidou-chan? Bem, para mim também... – e retirou uma tira vermelha de papel do bolso.

— U-um ofuda?! – espantou-se Ene.

Eu decreto, ó almas purificadas, que ouçam o chamado de seu mestre e sirvam lealmente a mim! — E uma aura flamejante como a de Ikari, esta, porém, dourada, juntou-se ao seu redor. A aura logo foi sugada para a tira de papel em frente ao seu rosto – Pois as legiões da pura destruição hão de se levantar contra toda a sujeira desse mundo, assim eu comando! Kyu-kyu nyo ritsu ryo!

  Chamas brotaram ao redor de ambos, pouco a pouco tomando formas humanoides. Eram humanos, enormes, cobertos por chamas. Sua carne deformada parecia-se com brasas e eles emitiam gemidos de dor.

— O que diabos é isso? – perguntou Ikari, tentando montar uma postura de guarda enquanto segurava Ene.

— Bem, eles são alguns falhos... Não são todas as almas que podem se tornar perfeitas, sabe? – disse Yuuki sem preocupação alguma.

Yuuki tinha um sorriso desconcertante, como naquele dia.

Eles estavam encurralados. Ene não estava em condições de lutar e Ikari estava quase caindo de cansaço. Rapidamente ele apoiou Ene no chão e virou-se para os monstros em guarda.

— Foi mal, Ene, aguenta aí...

— Ikari, não...

Um dos monstros se aproximou. Com seus longos e grossos braços ele tentou desajeitadamente pegar os dois, mas como um canhão Ikari disparou um chute que lhe arrancou a cabeça. Sem perder tempo ele virou-se para outro que se aproximava e, com uma cotovelada na barriga o seu corpo se desfez em cinzas.

“Eles estão pegando fogo mas não estão quentes... Que estranho...”, pensou.

— Relaxa! – disse ele com uma confiança surpreendente para si – Hoje eu tô 200%!

Ene o olhou, admirada com seu sorriso, e sorriu em concordância. A verdade era que Ikari estava à beira do colapso, mas recusava a admitir.

— Você me mostrou algo interessante, Shidou-chan... E eu quero ver de novo!

— Eu creio que isso não será necessário! – soou uma voz masculina surpreendendo a todos os três.

Chamas azuis e calmas varreram o campo, atravessando Ikari e Ene, destruindo todos os monstros como se não fossem nada. Yuuki, porém, dispersou as chamas que se aproximavam de si com as suas próprias, gerando uma explosão de cores contrastantes. O ruivo estava sério, o moreno confuso e a rosada parecia brilhar de felicidade.

— Kamui-san! – exclamou ela.

— Ene-dono, você parece um pouco mal. – comentou Kamui

— Que nada, já levei surras piores! – exclamou ela como que mostrando os bíceps, mas logo se encolheu de dor.

O homem, por volta de seus trinta e cinco anos, vestia-se com roupas tradicionais de onmyouji: Calças folgadas e uma veste com mangas largas que cobria quase todo o corpo. Suas cores, oscilando entre um azul-escuro e púrpura. A espada com cabeça de raposa em sua cintura brilhava com uma calma ameaçadora.

— Ikari-chan, você está bem? – exclamou uma voz feminina que acompanhava o homem.

— Lin-nee? – se surpreendeu Ikari, recebendo um golpe com a faca da mão da cabeça.

— A-ne-go! – corrigiu-o brava, como se isso fosse o que mais importava no momento.

— Certo, anego... O que você tá fazendo aq... – ele ia perguntar, mas fora interrompido por um abraço.

— Não faça mais isso comigo, você vai matar a sua irmã do coração... – ela pediu com uma voz chorosa.

— Ei, cara de raposa! – exclamou Yuuki. – Como entrou aqui?

— Hm? Não foi nada demais, você usa os mesmos princípios de um portal das sombras, e eles deixam rastros... – comentou Kamui em um tom sarcástico, mudando para um sério logo depois – Apesar de eu nunca ter ouvido falar de um mundo além de Taiyin e Taiyang, certamente você poderia se explicar sobre isso...

Lin deixou o lado de Ikari e aproximou-se de Kamui. Com uma fúria calma ela tomou uma postura de luta ao lado do homem que começara a sacar a katana. As chamas fantasmagóricas que emanavam de sua espada eram sinistras, mas a simples pressão da presença de Lin não parecia perder em nível de ameaça.

— Se quer saber, você não dá medo... -  O ruivo apontou a ponta de sua katana para Lin. – E você, talvez um pouco. – concluiu passando para Kamui.

No instante seguinte ninguém ousou se mexer. Ikari e Ene estavam até mesmo com dificuldade para respirar.

Yuuki se virou.

— Parece que hoje não tenho mais nada a ganhar... – comentou enquanto moldava um portal de fogo à sua frente. Ele virou-se parcialmente para Ikari mais uma vez antes de partir – Hoje foi divertido, Shidou-chan. – E desapareceu com as chamas se fechando atrás de si.

Kamui observou os dois jovens, acabados, e resistiu seu impulso de seguir Yuuki.

“Se eu for com tudo e ele revidar, pode ser um pouco perigoso...”, ele pensou.

Lin pôs as mãos na cintura e respirou profundamente, olhando para cima. Kamui simplesmente suspirou.

— Consegue segui-lo? – perguntou Lin a Kamui.

Ele foi até onde estava Yuuki, observou o local do portal e acenou negativamente com a cabeça.

— Isso aqui já é novo pra mim, e não parece ter deixado rastros...

Não falaram mais disso.

— Vocês estão bem? – ele perguntou aos mais novos.

Ikari e Ene assentiram. Ele olhou ao redor e os encarou mais uma vez com leveza.

— Vamos sair daqui primeiro, sim? – sorriu o mais velho.

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Foi estranho. Em um instante Kamui pareceu ter moldado uma passagem invisível e no outro estavam de volta à colina. Abaixo o festival acontecia com a maior tranquilidade do mundo.

Ikari andava cambaleando, com Ene apoiada em si. Kamui estava à frente e Lin vinha logo atrás ajudando a ambos.

Ene olhou para Ikari e percebeu sua fadiga. Ela lançou-lhe um sorriso matreiro e jogou seu peso para trás, derrubando o garoto consigo. Ambos caíram na grama macia, Ikari surpreso e Ene rindo.

Ele a observou e corou quando bateu a realidade do quão próxima ela estava, mas contagiado por sua atitude começou a rir também. Lin os observava com uma expressão preocupada, mas não conseguiu deixar de soltar um risinho.

Kamui os observou pacientemente até que parassem de rir para que pudesse falar:

— Ikari-dono. – O moreno virou-se para ele, surpreso – Tenho certeza de que aconteceu coisa demais hoje e imagino que você tenha muito mais perguntas que respostas.

Ikari olhou para o homem que agia como se o conhecesse há muito, mas diferente de Ene ele tinha certeza de que nunca haviam se encontrado.

— Resposta alguma, pra ser sincero... – disse o rapaz. – E tantas perguntas que nem sei por onde começar...

— Que tal com um pouco de tempo para por os pensamentos em ordem, sim? – sugeriu o homem. – Lin-dono, posso deixar ambos em seu cuidado até lá?

— Hã? E-espere, Kamui-san, para onde o senhor vai?

— Eu tenho algumas formalidades pendentes para resolver – disse ele rindo – Eu tinha acabado de sair de uma reunião quando vim para cá! A casa da Ene é meio longe, então espero que não seja problema ela passar um tempo com vocês até se recuperar, não é?

— S-sim... Tudo bem...

— Bem, nesse caso eu vou indo. Uma boa noite para vocês... – se despediu com um aceno de cabeça, retribuído por Ikari e Ene.

No instante seguinte ele sumiu como uma sombra, bem diante dos olhos de Ikari. O garoto suspirou.

“Nesse ponto eu já nem me surpreendo mais...”

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Chegando em seu quarto, Ikari já não conseguia pensar em mais nada. Pensou que o excesso de informação nem o deixaria dormir, mas foi rapidamente vencido pelo cansaço.

Esta noite Ikari dormiu sem pesadelos. 

 

 


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Notas finais do capítulo

== Ato introdutório - Encontro sob cerejeiras ardentes: Concluído ==

Foi proveitoso? Espero que sim!

Para finalizar, recebi uma arte do Ikari por uma amiga! Deixarei o link ao fim das notas.
De qualquer forma, você poderá conferir mais na página da própria desenhista! https://www.facebook.com/annletart/

Como sempre, agradeço a todas as opiniões que deixarem e estou sempre disposto a melhorar!



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