Um Caminho Para O Coração escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 52
Capítulo 51 — Epílogo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/757879/chapter/52

O pai ansioso aguardava por Olívia na frente do estúdio de ballet, no início da tarde de sábado. Ocasionalmente, lançava o olhar ao interior da caminhonete estacionada cujas janelas se encontravam semiabertas. Dominic, em seus onze meses de vida, dormia na cadeirinha.

A expressão no rosto de Emmett se alegrou ao ver Olívia, passando pela porta, em suas roupas de ballet: collant cor-de-rosa, meia-calça branca, sapatilhas de sola inteira, saia branca dando o toque de leveza e casaco cor-de-rosa transpassado. Um coque perfeito, que ele mesmo havia feito mais cedo, no alto da cabeça.

Olívia veio apressada ao seu encontro. Parou, sorrindo ao olhar para cima, estendendo os braços, abraçou a cintura do pai. Ele a pegou no colo e beijou seu rosto alegre. Acenou para a moça na porta do estúdio, antes de virar outra vez para o veículo.

Há alguns meses, Olívia iniciou nas aulas de ballet e vinha demostrando gostar bastante. Acreditou ser uma excelente decisão proporcionar a filha algo que Sarah teria feito.

Abriu a porta traseira, deixando Olívia dentro do carro. A menina beijou as bochechas rosadas do irmão previamente. Acomodou-se no assento elevatório ao lado dele e fechou o cinto de segurança.

No trajeto de volta para casa, Emmett olhou no espelho retrovisor interno; Olívia estava cochilando, de mãos dadas com Dominic. Como acontecia algumas vezes, recordou o dia em que Olívia conheceu o irmão.

[…]

Norman foi abrir a porta ao som da campainha.

— Abobrinha — o tom de voz amoroso à chegada de Olívia com a avó, Esme.

Olívia o abraçou pela cintura.

— Oi, vovô.

Esme entrou na casa, logo depois da menina.

No alto da escada, Emmett abriu um sorriso para a filha.

— Olívia — disse ele.

A menina se afastou de Norman. Apressou-se a caminho de a escada e começou subir os degraus. Ela tinha ficado com Esme durante o tempo em que ele esteve no hospital com Rosalie, para o nascimento de Dominic.

Emmett desceu uns poucos degraus para pegá-la no colo. Beijou-lhe o rosto e sentiu o cheiro de morango na pele.

— Você está cheirando a morangos — disse, com ar brincalhão.

Sorrindo, Olívia esclareceu:

— A vovó me deu um doce de morango, quando estávamos saindo. Eu me sujei e a vovó limpou com o lenço.

Emmett abraçou a filha e voltou beijar seu rosto. Acariciou uma mecha de seus cabelos ruivos, presos por marias-chiquinhas. 

— Papai sentiu saudade — afirmou.

Olívia passou os braços miúdos ao redor do pescoço dele.

— Eu também senti saudade. — Beijou a camada de barba no rosto do pai. — Onde está a mamãe?

Emmett inclinou a cabeça, olhando no alto da escada, de onde veio.

— Lá em cima, no nosso quarto. Ela está esperando por você.

— O bebê também está lá?

— Sim. — Ele beijou novamente o rosto dela. — Dominic está ansioso para conhecer a irmã linda que ele tem. — Virou na direção do patamar, recomeçando subir os degraus que havia descido. Seguiu pelo corredor. Parou diante a porta, com Olívia olhando em seu rosto, ansiosa. Passou a mão no rosto da filha, por fim, abriu a porta. Deixou que Olívia saísse dos braços.

Ela olhou o interior do quarto com cautela, unindo as mãos uma à outra, avistou Rosalie na cama, vestida em um robe branco, os cabelos presos por um coque irregular. Olhou para o alto ao sentir a mão de Emmett tocar seu ombro.

— Vá até lá — ele sussurrou.

Rosalie olhou para eles. O sorriso surgiu ao ver a menina de volta.

— Ei, meu amor — disse para Olívia. — Venha dar um abraço na mamãe.

Olívia ouviu o leve resmungar do bebê no moisés ao lado da cama. Encolheu os ombros, sem saber o que esperar.

— Mamãe está com saudade — contou Rosalie.

Olívia se aproximou da cama muito lentamente, olhando de canto de olho o moisés. Estendeu os braços, abraçando Rosalie, que a moveu com cuidado para cima da cama.

Emmett chegou mais perto.

Rosalie beijou Olívia no rosto enquanto a abraçava.

— Gostou de ficar com a vovó Esme? — perguntou. — Como foi na escola? Você se divertiu?

— Foi legal ficar com a vovó Esme. Na escola, foi um pouco chato.

— Ah, é? Por que foi chato na escola?

— Porque eu queria voltar para casa.

Rosalie tornou beijar o rosto de Olívia.

— Já está em casa, amor. Todos nós estamos em casa agora, juntinhos.

Olívia olhou de rabo de olho o moisés.

— Sabe quem está ali? — pediu Rosalie.

— Meu irmãozinho?

— Sim, meu amor. É o seu irmãozinho. Ele quer muito te conhecer pessoalmente. Porque ele já sabia quem era você desde a minha barriga.

Emmett aproveitou para tirar Dominic do bercinho, cheio de cuidados. O bebê resmungou, mexendo ambas as mãos pequeninas.

Olívia ficou de joelhos na cama, se esticando para ver melhor o bebê nos braços do pai.

— Sente-se pertinho da mamãe, que vou dar ele para você segurar — Emmett pediu.

A menina fez como pediu. Ele se inclinou, colocando o bebê nos braços da irmã mais velha. Dominic olhou no rosto dela sem piscar, como estivesse realmente esperando para vê-la.

Rosalie usou a almofada de amamentação para dar suporte aos braços de Olívia enquanto segurava o bebê. Assim, Olívia conseguiu levantar a mão para acariciar o rostinho de Dominic. Ela olhou com encanto a cabeça sem qualquer fio de cabelo, o nariz pequenino, os olhinhos de cor âmbar, a boca rosada.

— Oi, Dom — cumprimentou.

Dominic mexeu as mãozinhas, e moveu os lábios como sorrisse para a irmã.

— Ele gosta de você — afirmou Rosalie, com um sorriso.

Olívia sorriu. Em seguida, abaixou a cabeça, encostando os lábios na bochecha do irmão com um beijinho carinhoso. Achou o cheirinho de neném, tão fofo quanto ele.

— Eu te amo, Dom — sussurrou. E aos pais disse: — Ele tem a cor de seus olhos, mamãe. Mas se parece com o papai.

Os adultos compartilharam sorrisos.

Rosalie acariciou o rosto da menina e também do bebê.

— Vocês são minha vida — confidenciou.

Não foi fácil para Emmett retornar à sala de parto, para assistir ao segundo filho nascer. Convivia com lembranças dolorosas demais. Algumas das quais era como um pesadelo. Ele passou mal, no primeiro momento. Precisou se ausentar um instante para se recompor, antes de finalmente Dominic nascer.

Ele olhou a mulher que amava; ela tinha lágrimas nos olhos e um sorriso radiante no momento que lhe mostraram Dominic, ao som do primeiro chorinho dele. Quando finalmente puseram o bebê nos braços da mãe, Emmett chorou tomado pelo alívio de vê-los bem. Beijou Rosalie nos lábios, enquanto os dedos do bebê agarravam firme seu dedo indicador. Rosalie afagou seu rosto e disse que o amava. Repetiu mais de uma vez, que estava bem.

Ele se casou com Rosalie em uma cerimônia simples e íntima, na igreja, meses atrás, antes de Dominic nascer. Alguns amigos de Rosalie vieram de Atlanta. Geoffrey entrou de braços dados com a filha. Olívia carregou as alianças. Norman e alguns amigos de Emmett estiveram presentes. Dorothy e Irina não apareceram, embora tenham sido convidadas. Depois do casamento, Rosalie adotou Olívia oficialmente.

[…]

As risadinhas no banco traseiro, enquanto estacionava na entrada de veículos no jardim, entregou que o cochilo das crianças tinha ficado para trás.

Emmett saiu do carro. Abriu a porta traseira para retirar Dominic da cadeirinha. O menino ficou inquieto, procurando por Olívia. Emmett passou a mão nos cabelos castanho-claros, que cresciam tão lisos quanto os da mãe, afastando da testa dele.

— Papai — disse Olívia, chegando ao lado deles após passar pela frente da caminhonete.

Dominic sorriu, esticando os braços para a irmã, dando um gritinho. Olívia se esticou ao segurar nas mãos gordinhas do irmão. Emmett esboçou um sorriso diante à cena.

— Oi, amorzinho.

— Posso andar de bicicleta?

— Antes, vamos avisar a mamãe que chegamos do ballet.

Eles se encaminharam à varanda. Emmett abriu a porta da casa, permitindo Olívia passar primeiro para o lado de dentro.

— A mamãe está dormindo no sofá do escritório. — Voltou se aproximar após encontrar Rosalie dormindo.

— Tudo bem — disse Emmett. — Vamos a deixar descansar. — Ele colocou Dominic no chão. O menino engatinhou para perto dos brinquedos, no tapete. Emmett pegou o bloco de notas no aparador e a caneta. — Vou deixar um recado, avisando que estivemos aqui e saímos outra vez para andar de bicicleta. — Destacou o bilhete e deixou onde pudesse ser encontrado. — Está com fome? — perguntou a Olívia. Chegou perto de Dominic e o pegou no colo outra vez. O menino deixou cair o brinquedo de borracha no tapete.

— Não estou com fome, papai.

— Então vamos.

Os três entraram na garagem pela porta no interior da casa. Sempre que entrava lá, Emmett fingia não ver as caixas em cima do armário com presentes enviados à Olívia no nome do avô, Carlisle. Escondia os presentes a fim de poupar a filha das lembranças ruins que o avô materno causou. Talvez um dia, Olívia estivesse pronta para abrir todos eles, sem medo. E Emmett, quem sabe, perdoá-lo.

Olívia saltitou para junto da bicicleta, agora sem as rodinhas laterais. Durante o verão, Emmett a ensinou andar sem o auxílio das rodinhas. Ele colocou Dominic do jipe infantil, com empurrador, e o levou para fora da garagem.

O menino gritou ao perceber Olívia se distanciando.

— Olívia — Emmett chamou. — Fique por perto. Papai precisa ver onde você está.

— Tá bom, papai. — Olívia parou, aguardando por eles.

Dominic voltou ficar sorridente com a irmã por perto. Sempre que ela começava se afastar novamente, ele gritava.

Rosalie encontrou o bilhete deixado por eles ao acordar do cochilo. Lavou o rosto no lavabo, arrumou os cabelos e saiu para a varanda. Sentou na cadeira de vime para esperar eles voltarem.

Encerrou uma chamada com Geoffrey segundos antes de Emmett retornar com as crianças. O barulho das rodas do jipe de Dominic e as risadinhas de ambas as crianças, entregou estarem de volta.

Ficou de pé. Desceu os degraus na varanda, indo ao encontro deles. Ergueu ambas as mãos para tocar o rosto de Emmett, a barba bem-cuidada. Ele a beijou com paixão. Afagou a barriga dela, de dezesseis semanas de gravidez. Mais um menino estava a caminho. Já tinham até mesmo escolhido seu nome; Theodor. Theo, como Olívia gostava de falar.

Rosalie se afastou para dar atenção às crianças.

— Como no foi ballet hoje, meu amor?

Olívia desceu da bicicleta.

— Foi bem legal.

Rosalie beijou no alto da cabeça da menina, quando ela abraçou sua cintura.

— Precisa tirar a roupinha do ballet — avisou.

Olívia moveu a cabeça, mostrando concordar.

— Mamã — Dominic chamou.

Emmett retirou o filho do jipe e entregou à Rosalie. Dominic não quis ficar muito tempo no colo, ele queria mesmo era ficar livre para explorar.

Rosalie o colocou com os pés no chão, permanecendo segurando firme ambas as mãos pequenas. Sorridente, Dominic deu alguns passos.

Olívia parou mais adiante e o chamou:

— Dom.

Dominic ficou todo elétrico. Deu mais uns poucos passos, com Rosalie segurando suas mãos. A mãe o soltou e ele foi, em passos cambaleantes, ao encontro da irmã. Caiu de bumbum no chão. Olívia o levantou e ele tentou caminhar novamente.

[…]

Dominic estava tirando um cochilo no andar de cima, depois do almoço. Rosalie e Olívia assistiam desenho animado juntas, no sofá da sala. A menina aconchegada a ela, recebendo carinho nos cabelos ruivos. Elas se sentiam muito à vontade juntas. Como mãe e filha, o que de fato eram.

Emmett percebeu quando Rosalie olhou na babá eletrônica; Dominic havia acordado do cochilo, estava de pé no berço.

— Eu pego ele — avisou. Do alto da escada, observou as duas. Olívia afagou a barriga de Rosalie, conversando com Theodor. Não tinha dúvidas que, assim como Dominic, Theodor seria também apegado à irmã quando nascesse.

No quarto, Dominic esbanjou um sorriso ao ver o pai abrir a porta.

Emmett falou com ele:

— Cadê o bebê do papai?

Dominic ergueu os braços, ansioso por deixar o berço. Emmett o pegou no colo. Pegou também a raposinha de pelúcia e entregou ao filho. Levou Dominic ao trocador para trocar sua fralda suja. Só depois disso, o levou para encontrar a mãe e a irmã.

Rosalie aguardou, olhando Emmett descer a escada com o filho deles no colo.

— Coisa linda da mamãe — ela falou com Dominic, assim que Emmett o entregou. O menino esfregou a raposinha de pelúcia no rosto dela.

— Dom — Olívia chamou. Ele sorriu; os poucos dentinhos era uma graça. Ele deu um beijo babado na irmã, que ficou sorrindo.

O som da campainha chamou atenção para alguém à porta.

 — É a vovó Esme — disparou Olívia. — Ela mandou uma mensagem no celular da mamãe avisando que estava vindo.

Ao ouvir o nome de Esme, Dominic ficou olhando na direção da porta. Era ela quem ficava com ele durante a semana para Rosalie trabalhar na biblioteca da escola primária. Dominic a adorava, tanto quanto Olívia adorava a avó.

Olívia correu para abrir a porta. Esme abraçou e beijou a neta, antes de passar para o lado de dentro da casa. Dominic ficou afoito. Rosalie o manteve de pé em suas pernas, aguardando Esme se aproximar para pegá-lo. Ela pegou o bebê, e beijou seu rosto da mesma forma que havia feito com Olívia.

Esme foi uma surpresa maravilhosa na vida de todos eles. Todo medo e desconfiança que Emmett sentiu em relação a ela, se perderam nas demonstrações de cuidado e afeto para com os filhos dele e Rosalie.

Cheryl se esforçava, porém, a distância tinha seu preço e limitações. Quanto a Dorothy, essa nunca quis se aproximar. Quando Dominic estava com seis meses, eles foram à Atlanta e Rosalie tentou um encontro da mãe com os netos. Dorothy simplesmente ignorou. Rosalie jurou não procurá-la mais. Não voltaria submeter às crianças a situação de desamor. O mesmo se repetiu com Irina, que não queria se aproximar deles.

Geoffrey falava com Rosalie por chamada de vídeo com frequência. Sempre que podia, vinha visitá-los. Recentemente, ele e Dorothy deram entrada nos papéis do divórcio. A relação deles já não era a mesma há muito tempo.

[…]

Rosalie terminou de picar os legumes, vendo o avô diante o fogão, cheio de disposição, preparando o jantar. Esse sábado, o jantar era na casa dele.

Esme arrumou a mesa na sala de jantar.

Rosalie deixou tudo na ilha, antes de sair da cozinha. Foi até a varanda. Emmett estava lá fora, brincando com Olívia e Dominic, no jardim.

Sempre que Olívia falava “papai” ao se dirigir a Emmett, Dominic repetia “papá”. Os três riam com facilidade e demonstrava afeto o tempo todo. E pensar que, não faz tanto tempo, isso praticamente não existia.

Emmett correu, levando Olívia nas costas e Dominic nos braços. As crianças rindo. Emmett percebeu sua presença na varanda, e lhe piscou um olho. Rosalie acenou para ele, com um leve sorriso no rosto; a mão na barriga. Eles eram uma família agora. Ela era Rosalie McCarty.

Esme chegou à varanda e se colocou ao lado de Rosalie, que descansou a cabeça em seu ombro. A mulher que chegou inesperadamente a sua vida havia se tornado mais que uma amiga, quase uma segunda mãe.

Instantes depois, Norman veio avisar que o jantar estava quase pronto.

Olívia subiu os degraus na varanda correndo. Dominic resmungou no colo do pai, querendo seguir os passos da irmã mais velha.

[…]

No quarto do casal, Rosalie finalizou os cabelos de Olívia. A menina já estava de pijama, pronta para ir para a cama, ao retornarem da casa de Norman.

— Cabelos desembraçados — disse.

Olívia se olhou no espelho. O sorriso estava em seu rosto ao se virar para abraçar Rosalie, que ainda usava roupão de banho.

— Obrigada, mamãe.

Emmett parou no limiar da porta, com Dominic nos braços.

— Amorzinho, vai querer que o papai leia com você agora? — pediu.

— Sim, papai. — Ela chegou perto deles.

Dominic cutucou o alto da cabeça da irmã, se pendurando no colo do pai.

Rosalie viu no reflexo do espelho, Emmett sair com os filhos. Permitindo a ela um tempo para cuidar de si mesma.

Ele pôs Dominic na cama de Olívia. A menina se acomodou ao lado do irmão. Emmett pegou o livro cujo iniciariam a leitura essa noite, e foi sentar na cama. Olívia se aconchegou ao peito do pai. Dominic só quis saber de ficar de um lado para outro, às vezes, passando sobre eles.

Emmett tentou, por duas vezes, manter Dominic sentado, sem sucesso.

— Papai está lendo agora, Dom — Emmett avisou.

Dominic moveu as mãos pequenas em frente ao rosto, como fossem garras, fazendo sua melhor imitação.

— Montô — ameaçou aos dois. — Montô.

Olívia caiu na gargalhada. Emmett fez o mesmo, seguidamente.

— O monstro mais fofo — Emmett brincou. — Um ursinho feroz, não um monstro.

Dominic insistiu:

— Montô, montô, montô.

Emmett o pegou pela cintura, apertando os lábios nas bochechas rosadas. O menino agarrou o livro, chegando amassar algumas páginas.

— Assim, não, papai — Emmett advertiu. — Não pode fazer isso com o livro de sua irmã.

Dominic cutucou no braço da irmã ao falar:

— Li.

— Sim, o livro pertence à Olívia. — Emmett beijou na testa da filha. — Desculpe-me, amorzinho. É difícil manter a concentração com seu irmão fazendo gracinhas.

— Está tudo bem, papai. Ele é engraçado.

— Dominic — Emmett chamou atenção novamente.

O menino cruzou os braços, mantendo uma expressão emburrada no rosto.

— Dom — testou Emmett. E Dominic abriu um sorriso sapeca. Olívia e o pai riram juntos.

Na suíte do casal, Rosalie os ouviu. Estava em uma chamada de vídeo com Geoffrey.

— Você sabe como sua irmã é — dizia Geoffrey. — Ela é tão diferente de você, querida. Pobre Jonah, fica mais tempo na companhia da babá que da própria mãe.

— Me entristece pensar que Jonah passa mais tempo com a babá.

— Quem sabe, Irina ainda mude… Estou com ele sempre que posso.

Após um tempo, as risadinhas silenciaram no quarto de Olívia. Rosalie tinha encerrado a conversa com o pai. Levantou da poltrona onde estava, e saiu para o corredor. A porta no quarto de Olívia estava aberta e a luz acesa. A cena que encontrou ao alcançar ao limiar da porta, havia se tornado uma de suas favoritas desde que Dominic nasceu. Emmett dormia com os filhos; Dominic sobre o peito do pai. O braço dele passando nas costas do bebê, mantendo o livro ainda na mão. Olívia junto às costelas do pai.

Ela entrou no quarto. Com cuidado retirou o livro da mão de Emmett. Ele despertou no exato momento; os olhos encontraram os seus com carinho e cumplicidade. Deixou o livro na mesinha de cabeceira. Acariciou o rosto de Emmett, e começou pegar Dominic cuidadosamente.

Emmett foi cuidadoso ao se afastar de Olívia e repousar a cabeça dela ao travesseiro. Ele a encobriu até a altura dos ombros e beijou sua testa. Olívia já não carregava o cobertorzinho para todos os lados, porém, ainda o mantinha na hora de dormir. Os pesadelos haviam desaparecido há algum tempo.

Rosalie esperava ao lado da porta, com Dominic nos braços. O menino se poiava à barriga, que voltou crescer com Theodor se desenvolvendo a cada dia.

Olhando ela ali, com o filho deles nos braços, outro na barriga, pensou no que Rosalie sempre dizia sobre ser um pai maravilhoso. Não sabia como dizia isso, depois de tudo que fez Olívia passar.

Parou diante Rosalie. Ela sustentou seu olhar com olhos de amor. Segurou o filho em um só braço, levando a mão segurar na nuca dele. Suas testas se tocaram quando Emmett inclinou o pescoço. Ele passou um braço em volta da cintura dela. Usou a mão livre para afagar a cabeça de Dominic, então, o bebê na barriga.

— Eu te amo — murmurou Rosalie.

Emmett roçou os lábios aos dela antes de iniciar o beijo. Dominic se mexeu. Emmett se afastou, com a mão nas costas do filho. Apagou a luz e fechou a porta.

Já no quarto de Dominic, Rosalie o deitou no berço. Logo ao lado, os preparativos para a chegada de Theodor tinham sido iniciados. Os irmãos iriam dividir o mesmo quarto. Rosalie encobriu o filho, beijou sua bochecha gordinha e rosada. Emmett segurou a mão do menino para beijar seus dedinhos.

Ambos saíram para o corredor deixando a luz noturna acesa.

Rosalie passou os braços em volta de Emmett, descansando a cabeça no peito largo. Ele beijou no alto da cabeça dela. Ergueu-a do chão ao sentir os dedos dela acariciando os músculos em suas costas. E a levou para a suíte deles.

[…]

Emmett saiu para a varanda, com uma caneca de café soltando fumaça. Era quase fim de tarde. A brisa do outono soprava preguiçosamente as folhas no jardim e também seu rosto. Dentro de casa, o aroma da torta noz-pecã que Rosalie levou ao forno, exalava no ar.

De tempos em tempos, ela olhava na babá eletrônica, Dominic dormindo no berço, no andar de cima. Olívia estava com Esme na casa dela.

Emmett sentou em uma das cadeiras na varanda. No silêncio, bebericou do café. Algumas vezes, quando estava sozinho como agora, ficava pensando quão falho foi nos primeiros anos de vida de Olívia. Com a chegada de Dominic, a evolução dele; cada novo aprendizado, revelou o quanto havia deixado de aproveitar na chegada de Olívia. Na busca pelo tempo perdido, tentava fazer seu melhor. Logo Theodor se juntaria a eles, com muito trabalho, porém, com muito amor também.

Com os pensamentos distantes, não percebeu Olívia chegando ao jardim na companhia da avó. A doce voz lhe chamou atenção:

— Papai.

Emmett virou o rosto na direção da voz da filha. Encontrou a menina de mãos dadas com Esme. Olívia estava mais alta, mais confiante. E incrivelmente parecida com Sarah, a quem ele tanto amou. Nos últimos tempos, vinha agradecendo com frequência o presente que lhe deixou.

Colocou-se de pé. A caneca ficou na cadeira, esfriando o restante do café. Olívia correu para ele, passando os braços em volta da cintura. Ao olhar para cima, no rosto do pai, ele lhe sorria. Emmett se abaixou para beijar na testa da filha.

— O que está fazendo aqui fora sozinho?

Ele balançou a cabeça de um jeito brincalhão ao responder:

— Meu coração disse assim: Vá esperar por sua garotinha, ela está chegando.

Olívia deu uma risadinha.

— É sério?

Emmett prendeu, entre os dedos indicador e médio, no nariz salpicado de sardas de Olívia.

— Não acredita no papai?

Outra risadinha, e os braços da menina apertaram a cintura do pai com mais força.

— Acredito, sim, papai. É claro que acredito.

Ele voltou se curvar para beijar na cabeça ruiva da menina. Ao voltar sua postura normal, encontrou Esme chegando à varanda. Ela os olhava com carinho.

— Onde está a mamãe? — Olívia pediu, afastando os braços da cintura do pai.

— Está lá dentro com o Dom.

Esme passou por eles.

— Eu vou lá, falar com Rose — disse.

Emmett e Olívia ficaram observando abrir a porta e passar para o lado de dentro.

— Posso ir ao jardim dos fundos ver a vila de fadas?

— Papai vai com você. — Ele segurou na mão de Olívia, e, juntos, desceram os degraus na varanda, deram a volta na lateral da casa, indo ao jardim dos fundos. Olívia soltou a mão dele ao chegar lá.

Ela se ajoelhou diante a vila de fadas.

— Alguém derrubou isso — comentou sobre a luminária pequenina, tombada.

— Uma fada atrapalhada andou por aqui — brincou Emmett.

Olívia olhou para ele.

— Ela estava com muita pressa.

— Uma fadinha com muitos compromissos — lembrou Emmett. Ambos riram.

Olívia levantou e foi para onde ficava o balanço, que o pai colocou naquela parte do jardim não fazia muito tempo. Frequentemente, encontrava Rosalie e Olívia se balançando, rindo.

Olívia sentou no balanço, segurando as correntes laterais em ambas as mãos.

— Bem alto, por favor, papai. Quero sentir o vento no rosto.

Emmett empurrou o balanço uma vez.

— Mais alto, papai. Mais alto.

Ele sorriu, vendo a filha jogar a cabeça para trás, sentindo o vento no rosto; os cabelos a voar, os pés se erguendo no alto.

Da janela da cozinha, Rosalie os viu. Ouviu suas risadas e conversas.

— Segure firme — Emmett avisou.

— Estou voando, papai.

— É mesmo uma fada? — brincou.

— Uma fada que toca violoncelo. Uma fada violoncelista.

Olívia aprendeu a palavra violoncelista recentemente, desde então, repetia sempre que tinha oportunidade. Emmett se sentia orgulhoso dela, da dedicação com a música instrumental.

O balanço começou perder força. Olívia saltou no chão logo que parou.

Esme entrou na cozinha após pegar Dominic no berço. Rosalie estava indo pegar o filho, quando chegou e se ofereceu para fazê-lo.

A torta de noz-pecã, em cima da ilha, exalava o aroma em toda a casa.

Esme se aproximou com o bebê no colo.

— Papá — Dominic chamou, assim que os viu pela janela. — Li — continuou chamando. Ele moveu a mão como dizendo estarem lá, do outro lado da janela, no jardim dos fundos.

Rosalie chegou mais perto para beijar no rosto do filho.

— É o papai e a Ollie. Muito bem, meu amor.

— Li. Papá — repetiu.

Olívia foi ver de perto, o esquilo em cima da cerca.

Emmett sentou no banco sob o caramanchão, observando a menina.

— Não mexe nele, Olívia — pediu. — Ele pode pular em você.

— Ele é muito bonitinho — disse, e se virou, procurando pelo pai. Correu de volta para junto dele. Emmett passou o braço em volta dos ombros dela, quando se sentou ao seu lado. Olhou-a no rosto de perto. Um sorrisinho fez os lábios de ela curvar.

— O que foi? — ele perguntou. — Em que está pensando?

— Está tudo como eu sonhei — confidenciou.

Emmett tocou na ponta do nariz dela.

— Eu te amo tanto.

Olívia inclinou a cabeça ao falar para ele:

— Eu te amo mais.

— Impossível — ele contestou.

— É possível, sim.

Emmett fez cócegas na menina, que se contorceu dando risadinhas.

Esme e Rosalie permaneciam olhando pela janela aos dois. Esme testemunhou o olhar de amor de Rosalie direcionado a pai e filha. Não importava que Dorothy não aceitasse suas escolhas, estava feliz vivendo ao lado deles. Eles a amavam com a mesma intensidade que ela a eles. Aquela era sua casa. Ali estava sua família. Nada poderia ser mais forte e mais verdadeiro que isso.

Pegou Dominic dos braços de Esme.

— Pode ir lá — incentivou Esme. — Eu termino aqui para você. Vá — insistiu. — Eles são sua família agora.

— Você é parte dela — lembrou Rosalie.

— Eu sei. — Esme sorriu gentilmente. — Tenho certeza que Sarah está em paz. Toda dor e tristeza que eles viviam antes ficaram para trás.

Rosalie segurou na mão de Esme com carinho.

— Obrigada por todo apoio.

Esme anuiu, oferecendo um sorriso afável.

Dominic gritou com impaciência. Ambas riram. Rosalie descansou a mão na cabeça do menino ao beijar sua bochecha. Ele gritou novamente.

— Nós já vamos ver o papai e a Ollie, calma. — Ele abriu um sorriso sapeca.

Rosalie se encaminhou à porta dos fundos.

Emmett beijou a testa de Olívia após as cócegas e risadinhas se encerrarem. Ela apoiou a cabeça em seu peito. Ouviu-a falar de fadas. Viu quando Rosalie saiu pela porta da cozinha, com Dominic nos braços e Theodor na barriga. Ela caminhou em sua direção. Tão linda. O olhar dela encontrou o seu.

— Papá — Dominic chamou.

Olívia prestou atenção a eles.

— Vem, Dom. Vem com o papai. — Emmett estendeu um dos braços, mantendo o outro ao redor de Olívia.

Assim que Rosalie chegou perto do banco, Dominic se lançou, sem medo, nos braços do pai.

Emmett o pôs no colo. Dominic abraçou Olívia, que retribuiu o gesto de carinho com igual verdade.

— Li — disse Dominic.

Rosalie os olhava com carinho. Emmett se pegou pensando quão importante ela havia se tornado para eles.

Cometer erros era fácil. Magoar a quem se ama, mais fácil ainda. Curar feridas, uma luta árdua. Porém, o processo de cura proporcionou a experiência mais rica que viveu. Emmett descobriu que é possível se reerguer mesmo quando parece impossível. Que sua maior força estava em Olívia, no amor por ela. No amor por Sarah. No amor por Rosalie, Dominic e Theodor.

O que dava sentido a sua vida era o amor.

A família

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não se esqueça de deixar seu comentário.

O link abaixo é de minha nova fic, caso alguém sinta vontade em estar acompanhando.


https://fanfiction.com.br/historia/809446/Lacos_Inquebraveis/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um Caminho Para O Coração" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.