Hanna observou por um longo tempo sua melhor amiga entrar e sair do closet de novo e de novo, mudando de ideia mil vezes sobre a roupa que deveria usar para aquela noite. E conhecendo-a a tanto tempo, era uma cena estranha e engraçada de olhar.

— Não to acreditando que vivi o bastante pra ver Emily Rose Fields, o grande terror das novinhas, nervosa pra um encontro. — Comentou com um sorrisinho de canto.

— Eu brigaria com você por toda essa petulância, mas tenho que confessar que até eu estou surpresa comigo por estar assim. — Emily largou a calça jeans que estava segurando e sentou na cama para conversar melhor. — É que com todas as outras garotas eu sentia que era ser só mais uma. E com a Spencer... Eu realmente sinto que é A Garota, sabe?

— Não sei por que ainda não achei essa peça que vai completar o meu quebra-cabeça, mas imagino que deve ser maravilhoso. E fico muito feliz por você. — Marin constatou com sinceridade, mesmo que no fundo de seu âmago ainda houvesse uma pitada de ciúmes, já não incomodava mais.

— Certeza? — Questionou Fields, sorrindo de uma maneira sugestiva. — Como estão indo as coisas com a Aria?

— Ah... Eu não sei. Bem? E-eu acho. — Foi automático o olhar azul desviar do castanho ao tocar naquele assunto. — Talvez... Talvez eu esteja meio que... Tipo assim... Começando a... Sei lá. Gostar dela?

— Começando? — Questionou erguendo uma sobrancelha.

— A-a senhorita não devia estar se arrumando pro seu encontro? — Marin mudou de assunto, sentindo o calor da vermelhidão que subia por seu pescoço, orelhas e bochechas.

— Tenho. — O nervosismo voltou com força total, fazendo o sorriso escorregar dos lábios de Emily até sumir. — Aaaaaaaaah! Eu não faço a menor ideia do que usar, desfiz a mala toda pra procurar a roupa certa, vou me atrasar todinha...

— Calma, respira. — Hanna inspirou fundo e sinalizou que deveria ser imitada. — Eu te ajudo, ok? Aquela terceira roupa que você experimentou ficou ótima, mas vai combinar bem melhor com o sétimo par de sapatos. Pode ir tomar banho e fazer sua maquiagem enquanto eu guardo tudo e organizo a mala de novo. Depois decidimos juntas como deixar seu cabelo.

— Obrigada. Você é o máximo, sabia? — Murmurou aliviada.

— Awn. É pra isso que servem as amigas, né? E namoradas falsas. — Sorriu, piscando para ela. — Agora vai logo. A viagem é longa.

(...)

Spencer esteve andando de um lado para o outro do quarto e olhando pela janela em intervalos de tempo cada vez menores desde as seis e meia da tarde, até que seu coração transbordou de alegria no mesmo instante em que milhares borboletas se agitaram em seu estômago ao ver Emily chegando dez minutos antes do previsto.

E, por Deus, como ela estava linda vestindo um short jeans azul escuro, uma batinha branca com detalhes ainda indistinguíveis pela distancia e calçando um par de botas pretas de cano médio. Foi impossível conter um suspiro apaixonado.

Emily parou em frente à porta do quarto e hesitou um instante, respirando bem fundo. O frio que sentia na barriga era de fato uma sensação nova. Pela primeira vez na vida podia ver alguém ao seu lado no futuro e, na mesma proporção que era assustador, era muito gostoso de sentir.

Por fim ergueu a mão e bateu.

Nem cinco segundos foram necessários para Spencer abrir a porta com um sorriso de orelha a orelha enfeitando o rosto. — Boa noite. Você tá linda, meu amor.

Por um instante Emily perdeu o ar e a voz quando seu olhar foi banhado pela imagem extremamente sensual do corpo de Spencer em um vestido preto e justo que chegava apenas até a metade das coxas definidas pelo hóquei, e tinha um decote profundo em V, destacando os seios. — Você tá sensacional. Por um instante eu quase esqueci como falar. E respirar.

Corada e sem resposta, a Hastings apenas sorriu ainda mais e se afastou para o lado, liberando a passagem. No segundo seguinte, a boca da Fields abriu por pouco não formando um “O” perfeito por conta da decoração magnifica.

De alguma forma, Spencer e Toby conseguiram deixara a iluminação do quarto azul, e havia vários outros detalhes lembravam com maestria o fundo de uma piscina.

— Uau. — Murmurou sem fôlego enquanto arrastava a mala para dentro e passeava ao redor com os olhos. — Isso... Isso tá lindo! Como você... Uau.

— A vantagem de namorar a melhor amiga é que ela vai saber muito sobre você. Eu sei que o seu lugar favorito no mundo é debaixo d’agua, então fiz um esforço pra te fazer sentir da mesma forma. Aqui comigo. — Explicou fechando a porta e caminhando até a mesa ali posta para puxar a cadeira para sua namorada. — Senhorita.

— Obrigada. — Emily se sentou e mirou Spencer com todo o encantamento que sentia não só pela beleza do quarto, mas também do gesto.

A comida caseira havia sido especialmente preparada por Carole para aquela ocasião e estava deliciosa como sempre. O jantar foi cheio de conversas, risadas e olhares apaixonados. Era como se o tempo estivesse parado só para elas.

Assim que acabaram de comer, a Hastings limpou a boca com um guardanapo e disse. — Eu tenho uma coisa pra você.

Então se levantou e caminhou até a cômoda que ficava ao lado da cama, pegou uma caixinha elegante de veludo azul claro e, com um ar evidente de nervosismo, a entregou para sua namorada.

Fields sorriu e com todo o cuidado a abriu, revelando um lindo cordão de ouro com um pingente pequeno e delicado em formato de avião. Ao tirá-lo da caixa para analisa-lo melhor, notou que havia uma palavra, quase imperceptível, escrita na parte de trás em uma caligrafia fina e bonita: Coragem.

— Eu amei. — Constatou em tom de encanto. — É perfeito.

— Ele é simbólico. — Spencer respondeu com um sorriso enorme por ter conseguido acertar no presente. — O aeroporto foi o lugar em que deixei todas as minhas inseguranças de lado e enfim criei coragem de revelar meus sentimentos por você. E hoje estamos aqui, no que eu espero que seja só começo do para sempre.

A emoção era tanta que Emily não sabia o que dizer. Uma lágrima de alegria escorreu por sua bochecha e um suspiro escapou de seus lábios, então ela se levantou para beijar sua namorada de um jeito intenso o bastante para expressar o que palavras não podiam.

— Põe pra mim, por favor? — Pediu ao fim do beijo, erguendo a mão onde o cordão ainda estava.

— Claro. — Spencer virou Emily de costas e afastou os cabelos escuros, colocando-os por cima do ombro esquerdo, pegou a bela joia e prendeu o fecho na parte de trás do pescoço, beijando suavemente a pele macia logo em seguida, fazendo-a se arrepiar antes de sussurrar o pedido. — Dança comigo?

Ao vê-la assentir, esticou a mão para pegar o controle do aparelho de som do quarto em cima da mesa e apertou um botão, fazendo o quarto se encher com uma melodia suave de piano, seguida segundos depois por uma voz masculina cantando em espanhol.

Emily segurou com carinho a cintura de Spencer e começou os movimentos lentos e ritmados. Seus corpos estavam tão próximos que ambas sentiam-se envoltas e inebriadas pelo cheiro uma da outra.

Seus lábios se atraíram como imãs em um beijo lento e sensual, sempre ameaçando acelerar por conta do desejo.

Envolvidas pela música e a paixão, as garotas foram parar na cama, onde tornaram em definitivo aquela noite a mais linda, quente, romântica e memorável de suas vidas.