Answer escrita por nathaliacam


Capítulo 5
Parte V


Notas iniciais do capítulo

Meu aviso: apertem os cintos!



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Parte V

Quando o relógio marcou quatro da tarde de sexta, Bella já estava com a bolsa no ombro. Todos os seus pertences estavam organizados na mesa e dentro da gaveta trancada a chave. A última hora se arrastou, parecia que ela havia chegado ao trabalho há quase três dias.

Bom, era isso que acontecia quando você sabia que algo muito importante te aguardava ao fim do expediente. A chatice cotidiana ganhava um plus se algo melhor estava por vir. Bella fez de tudo para fazer o tempo passar mais rápido, e isso não incluiu realmente trabalhar em sua pesquisa para a próxima matéria. Era impossível, ela concluiu depois de algumas tentativas. Sendo assim, organizou todas as gavetas, limpou a mesa, organizou as pastas do computador e até seu e-mail corporativo. Rose, sabendo do motivo daquilo tudo, passou pela mesa de Bella para caçoar dela algumas vezes e aquilo foi bom também, pois três minutos sempre se passavam mais rápido.

Contudo, eram quatro da tarde agora. Pronta para sair, Bella caminhou até o setor de Rosalie - que se intitulava "Body and Beauty" e trabalhava matérias sobre saúde corporal e tudo o que isso envolvia e beleza - para apressá-la.

"Calma aí," a loira disse dando os últimos cliques no computador, "Estou quase no fim."

Bella revirou os olhos e pegou o celular no bolso traseiro da calça jeans azul. Desbloqueou e viu a mensagem mais nova de Edward:

Edward: Vou ao supermercado pra comprar algumas coisas pra gente e depois passo na sua casa pra te pegar. Pode ser?

Ela arfou. Se Edward estava saindo agora, ela teria pouquíssimo tempo para chegar em casa, tomar banho e se arrumar. Deu dois tapinhas no ombro de Rosalie.

"Anda logo, Rose!"

"Ê, chatice!" ela se levantou e pegou a bolsa sobre a mesa. Inclinou-se sobre a cadeira e desligou o computador, "Que ansiedade é essa, minha filha?"

"Ele vai passar lá em casa para me pegar depois que sair do supermercado. Vamos ter que voar para dar tempo de tomar banho e me arrumar."

"Nem precisa se arrumar tanto," Rosalie sugeriu. As duas já caminhavam em direção ao relógio de ponto. "Vocês só vão ficar na casa dele, não é?"

"Sim, eu sei," Bella assentiu. "Mas, eu odeio fazer as coisas com pressa. Sempre me esqueço de fazer alguma coisa."

"Ah, se essa é a desculpa que você está se dando, tudo bem," Rosalie riu e encostou o dedo indicador no leitor biométrico do relógio de ponto. Bella fez o mesmo. "Falando em Edward, não vou mesmo poder ir ao show com vocês no sábado."

Bella arqueou as sobrancelhas. As duas já caminhavam para fora da redação.

"Por que não?"

"A megera," Rosalie revirou os olhos, "Está fazendo o maior drama por causa do casamento. Já está falando que o Emm está distante dela e não sei mais o quê. Pensa bem. Ainda nem nos casamos!" Ela suspirou. As duas alcançaram o carro de Rosalie, e, depois de desacionar o alarme, as duas entraram. A loira posicionou o cinto de segurança e Bella fez o mesmo. "Enfim. Vamos passar o fim de semana lá com ela pra ver se ela para de encher o saco."

Bella sentiu pena da amiga. A relação dela com a sogra nunca tinha sido das boas e não havia perspectiva de melhora, nem mesmo após o casamento.

"Que chato você não poder ir… espero não ficar sozinha lá."

"Não vai," Rose ligou o carro e começou a manobrá-las para fora da vaga do estacionamento, "Alice deve ir também. E se Edward te convidou, ele tem a obrigação moral de ficar junto. Não é possível que ele vai ser idiota a esse ponto."

Bella acreditava que ele não seria. Pelo menos era o que ele vinha demonstrando nos últimos dois dias, quando as conversas entre eles jamais cessaram. Mesmo assim, a presença de Rose representaria uma segurança a mais.

"É, acho que não também."

"Vocês continuam se falando o tempo todo? Dia e noite, noite e dia?"

"Sim," ela respondeu depois de revirar os olhos, "Mas, você está exagerando."

Rosalie riu e assentiu ironicamente.

"Tá," ela lambeu os lábios, "Você vai dormir lá na casa dele?"

Bella franziu o cenho.

"Acho que não," negou com a cabeça. "Você acha?"

Rosalie deu de ombros.

"Vamos ver."

[...]

Edward arrastou o carrinho pelo corredor de bebidas do supermercado. Estava demorando mais do que ele havia planejado para escolher o que comprar, mas fazia muito tempo desde que ele tinha recebido alguém. Quer dizer, Tanya esteve lá no último sábado, mas era diferente. Ele não estava tentando impressioná-la - parou de fazer isso há muito tempo. Era diferente agora. Ele realmente queria que Bella se sentisse a vontade com ele.

Porque era isso que ela fazia por Edward. Ele se sentia extremamente a vontade falando com ela. Não importava se eles falavam de comida, de música, de ciência, de seriados ou o que quer que fosse. Ele poderia falar o que bem entendesse e, mesmo quando os dois discordavam, era bom ver o outro lado da coisa ou simplesmente concordar em discordar.

Era por isso que ele agora estava em dúvida se devia ou não comprar álcool. Quer dizer, a palavra "cerveja" foi mencionada quando eles falaram sobre aquele encontro no apartamento de Edward, mas não dava para saber. Pode ser que ela pensasse que ele estava tentando embebedá-la ou coisa do tipo.

Ou não. Bella confiava nele, ou não pisaria naquele apartamento de modo algum.

Que otário, Cullen.

Ele pegou um engradado de Heinecken. Depois caminhou ao setor de vinhos e pegou duas garrafas de um suave e tinto. Por fim, agarrou um engradado de latas de coca-cola. Haveria opções. Seguindo por outros corredores do Walmart, Edward ainda colocou no carrinho alguns tipos diferentes de chocolate, um saco de fritas congeladas e lasanha também congeladas. No caminho do caixa, ainda pegou dois potes de Ben&Jerry's de sabor Salted Caramel Core. Era o seu preferido e não era possível que alguém não gostasse de sorvete.

Álcool e açúcar. Se isso não for a receita para o sucesso, eu não sei o que é.

Ainda devia ser cedo para ir para a casa dela, ele concluiu depois de deixar tudo no porta-malas do carro. O relógio no canto superior do celular dizia ser 17:22, e isso dava a Bella apenas uma hora e vinte e dois minutos para sair do trabalho, chegar em casa e se arrumar. Ele não queria apressá-la.

Por isso ele ficou no estacionamento do Walmart por mais meia hora, fazendo absolutamente nada. Depois de ler as notícias indicadas no aplicativo da BBC e zapear pelo Instagram, ele se viu observando os carros do estacionamento por puro tédio. Eram poucos, a levar-se em consideração o fato de que era uma sexta-feira em horário de pico. Suspirando, ele encostou a cabeça no banco do motorista, seus dedos batucando no ritmo de uma música do The 1975 no volante. Não dava para demorar demais, ou o sorvete derreteria. Se a embalagem rompesse, o porta-malas do carro viraria uma bagunça. Edward olhou para o relógio no celular novamente. Quase 6. Quase 6 era um bom horário, certo?

Ele estalou a língua e desbloqueou o aparelho. Procurou pela conversa de Bella e digitou rapidamente, esperando por uma resposta antes de sair:

Edward: Passo aí em 15 minutos?

E não demorou até que a resposta chegasse.

Bella Swan: Certo, estou te esperando.

"Ah, finalmente!" ele disse ao dar partida no carro e manobrar para fora do estacionamento. Aumentou o volume da música que ainda tocava. "Finalmente!"

[...]

(A Change of Heart - The 1975)

Edward não desligou o carro ao chegar na portaria do prédio de Bella. Nem desligou os faróis. Edward não precisou estacionar num ponto escuro da rua, não precisou disfarçar sua presença. Edward não precisou manter os vidros escuros fechados, muito pelo contrário. Abriu todas as janelas do carro, aproveitando que a chuva que armava no céu ainda não tinha caído. Edward não precisou avisar que chegou por uma mensagem, porque ele pôde simplesmente buzinar. Bella não morava numa mansão que tinha quase meio quilômetro de jardim. Ela disse que o quarto dela tinha visão para a rua, então um toque na buzina e uma mensagem só para dar certeza era tudo o que ele precisava para deixar Bella saber que ele tinha chegado.

E não demorou para que ela saísse pela portaria com uma bolsa pendurada no ombro, vestindo um casaco cinza fino, calça skinny preta e cabelos soltos pelas costas. Edward destravou o carro e o perfume de banho fresco invadiu o ambiente, porque ela entrava e se sentava no banco do carona com um sorriso no rosto. Um sorriso leve, gentil e sincero. Sorriso de quem realmente queria estar aqui, sem ter nenhuma preocupação, sem nenhum pesar. Ela não tinha brigado com ninguém para vê-lo, não tinha ninguém odiando-o agora. Não havia ninguém para segui-los e vigiá-los.

Era a primeira vez que eles se viam pessoalmente desde o último sábado. Naquela madrugada, à sombra de todo o pesar que agonizava seu peito, Edward achou a morena que cuidava da amiga bêbada muito bonita, é claro, mas estava escuro e as luzes amareladas dos postes da porta da The Truth não ajudavam muito. Nem uma semana havia se passado, mas tanta coisa estava diferente…

O tempo estava nublado, mas claro o suficiente para fazê-lo enxergar o rosto dela com clareza. É claro que ele já tinha visto todas as fotos do perfil dela no Instagram, mas era diferente agora. Ele não conseguia sentir esse cheiro fresco pelas fotos. Aquele sorriso leve era direcionado só para ele. Os cabelos não tinham todo aquele movimento nos boomerangs. Agora, aqui, Bella era deslumbrantemente simples. Deslumbrantemente linda.

"Oi!" ele disse sorrindo, uma das mãos ainda segurando o volante.

"Oi!", ela respondeu, a voz saindo por detrás do sorriso sincero "Espero não ter feito você esperar muito."

"Não, não fez," ele negou com a cabeça. "Só precisamos acelerar um pouco porque tem sorvete no porta-malas. Vai fazer a maior bagunça se derreter."

Bella gargalhou. Puxou o cinto de segurança e, travando-o no lugar, focou os olhos gentis em Edward.

"Tudo bem, podemos sair assim que você me cumprimentar direito."

Edward lambeu os lábios. A fala de Bella, tão direta e surpreendente, poderia ter diversas interpretações. Ele, porém, não queria estragar tudo e passar a impressão errada logo de primeira. Sorriu e abraçou o rosto dela com a palma de uma mão. Se aproximou e depositou um beijo apertado em sua bochecha. E então sentiu os lábios dela fazendo o mesmo, e o cheiro fresco de banho estava muito mais forte com a proximidade da pele dela.

"Oi, Bella Swan."

"Oi, Edward Cullen," ela sorriu, "Agora sim. Podemos ir."

Finalmente, ele repetiu consigo mesmo, finalmente.

[...]

"Pronto,'" Edward disse após abrir a segunda cadeira dobrável na varanda. "Pode ficar a vontade. Vou trazer as coisas pra cá."

Bella ainda ofereceu ajuda, mas Edward recusou. Arrastou a mesinha que ficava ao lado do único sofá preto. O barulho contra o chão de madeira foi meio irritante, mas aquela era a melhor opção. Ela ficou surpresa com quantidade de comida comprada por ele, e sentiu-se até um pouco constrangida por não ter trazido nada. Eles tinham bastante cerveja, vinho e açúcar, o que garantiria uma boa noite.

Não que ela fosse precisar disso tudo. Estar na presença dele era o bastante para mantê-la embriagada.

E, bom, Bella estava mesmo se sentindo esquisita. Quer dizer, era a primeira vez que ela via Edward desde sábado, e eles nem mesmo se falaram no sábado direito. E agora ela estava aqui, na casa dele. Sentada numa cadeira dobrável na varanda, a mesma varanda da foto. Ele parecia realmente interessado e disposto a fazê-la se sentir bem ali.

Podia ser que ele quisesse apenas fazer sexo. Ela estava aqui, talvez a intenção dele fosse convencê-la a transar e depois ela nunca mais ouviria falar nele. Não parecia, porque eles nem mesmo haviam tocado no assunto "sexo", mas era uma possibilidade. Talvez isso fosse até mesmo um indicativo de que ele não estava interessado em nada mais do que a amizade dela. Talvez a ausência de conversas com conteúdos sexuais fosse uma pista de que Bella estava se empolgando por nada. Talvez ela fosse conhecer a friendzone de Edward em breve.

Ela sacudiu a cabeça, não querendo pensar naquele tipo de coisa. Já se preocupara o bastante durante os últimos dias, e de nada adiantou. Ela já estava aqui e descobriria as intenções de Edward em breve.

"Quer ajuda?" ela perguntou ao vê-lo trazendo uma sacola plástica cheia de doces numa mão e o engradado de cervejas geladas na outra.

"Não," ele sorriu e sentou-se ao lado dela depois de deixar tudo na mesinha entre eles. Entregou a Bella uma garrafa de cerveja e pegou outra para si. "Os sorvetes derreteram um pouco, deixei lá no congelador para voltar à consistência normal."

"Obrigada," ela disse, referindo-se à cerveja, "Sorvete mais tarde. Agora temos álcool e doces, é o que importa."

"Exato!" ele sorriu e destampou a própria garrafa. Quando Bella fez o mesmo, ele ergueu o vidro verde na direção dela, "Um brinde."

Ela sorriu e encostou a garrafa na dele. O braço tatuado de Edward levou a garrafa aos lábios dele, e Bella acompanhou o movimento de sua garganta. Ele fechou os olhos e inclinou a cabeça levemente para trás. Só quando ele já retornava do movimento foi que ela se lembrou que ainda não tinha tomado de sua própria cerveja. Riu baixo e o tomou um breve gole.

"Você vai ser madrinha no casamento da Rose?"

Bella lambeu o lábio superior e assentiu.

"Dama de honra," corrigiu, "A única."

"Caramba," ele riu, "Vocês moram juntas, não é? Como foi que eu nunca te vi antes então?"

Bella sentiu o rosto queimar. Deu de ombros e tomou mais um gole da cerveja.

"Eu nunca tinha ido a um show de vocês antes de sábado."

"Por que não?" Edward franziu o cenho e levou a garrafa até próximo dos lábios. "Você não gostava da banda antes?"

"Não, eu ouço a Answer desde que conheci a Rose, no primeiro período da faculdade," esclareceu, "Só… sei lá. Sempre acontecia alguma coisa e eu não podia ir. Antigamente eu trabalhava num outro jornal, que me drenava muito, sabe? E… nunca tinha ânimo pra nada."

Edward assentiu, sentindo a sinceridade na fala dela. Bella nunca falava com empolgação de seu trabalho, mas ficou claro que, em comparação ao que ela fazia no passado, seu emprego atual era muito melhor.

Ele quis saber mais a respeito. Quer dizer, ele conhecia Bella há pouco tempo, apesar de parecer que os dois se conheciam há muito. Havia um mundo sobre ela que ele não conhecia. Ela devia ter muitas histórias para contar, muitos casos. Muitos ex-namorados sobre os quais poderia reclamar. Muitos amigos que ela ainda não tinha mencionado, muitas paixões.

Ela era um universo inteiro a desvendar.

"Bom, isso vai mudar bastante. Demorou, mas você vai em nosso próximo show… com a Prize, mas eu ainda vou estar lá. E depois no casamento da Rosalie. Vamos tocar lá também, sabia?"

É claro que Bella sabia.

"Sim," ela assentiu, "Vai ser uma cerimônia linda."

Edward assentiu.

Os dois ficaram em silêncio por um momento, perdidos em pensamentos. Bella ainda tentava assimilar sua presença no apartamento de Edward; Edward pensava em como fazer fluir a conversa de uma maneira natural. Os dois podiam conversar por horas a fio pelo celular, mas, assim, pessoalmente, havia um milhão de coisas entre os dois, mesmo que a distância não fosse uma delas.

Um milhão de coisas como, por exemplo, atração. Atração forte. Aquele era um encontro que moraria na mente dos dois por muito tempo, que os manteria acordados a noite apenas para relembrar cada detalhe. E isso era um pouquinho assustador. Fazia Edward querer dar cada passo, dizer cada palavra depois de pensar muito. Ele não queria fazer nenhuma besteira, nada que o envergonhasse em pensamentos mais tarde.

"É uma árvore?"

Edward piscou para fora de seus pensamentos com a pergunta de Bella. Ela estava com a cabeça inclinada, o queixo apoiado sobre o braço. Observava atentamente o braço de Edward com o cenho franzido.

"O quê?"

"Sua tatuagem," ela apontou com o dedo indicador, "É uma árvore?"

Ele buscou o que ela indicava e assentiu.

"É," ele esticou o braço para que ela pudesse ver melhor uma das tatuagens que lhe cobriam a pele. "Uma árvore parecida com a que eu tem no quintal da casa dos meus pais. Ela era a única que só tinha folhas na primavera, e no resto do ano ficava assim," ele passou a ponta do dedo indicador pelo desenho, "Parecia seca, mas ela era muito, muito forte. E essa força era por causa das raízes profundas que ela tinha," Edward escorregou a ponta do dedo até a outra extremidade da tatuagem, "Vê?"

Bella assentiu, fascinada pelo desenho. As raízes da árvore eram quase tão grandes quanto seus galhos, e desviam pela dobra do braço de Edward. Ela pensou que aquela região deveria ser difícil ser tatuada, pela fragilidade da pele. Ergueu então seu próprio dedo e encostou com muita leveza sobre a pele dele. Lambeu o lábio inferior quando sentiu o olhar dele pesar em si, mas não desviou seu foco da tatuagem.

"E o que são essas linhas?" passou o dedo por linhas paralelas à árvore, que transpassavam todo o seu desenho.

"Se você prestar bem atenção," ele voltou a passar o próprio dedo pelas linhas que cobriam sua pele, "Vai ver que é uma ampulheta," e, quando ele indicou a as linhas transversais, Bella assentiu, conseguindo ver o que ele dizia, "É uma árvore do tempo."

Ela arfou, entendendo a complexidade do desenho. Olhou então para o rosto de Edward, que sorria.

"É linda! Ficou ainda mais com toda essa explicação." Ela olhou mais uma vez para o desenho, "E doeu pra fazer?"

"Sempre dói um pouco," ele deu de ombros, "Mas, não é nada de outro mundo. Você não tem nenhuma?"

"Não," ela negou com a cabeça e continuou a observar a pele dele, "Qual é a sua favorita?"

Edward pensou. Esticou os braços cobertos por tinta preta e buscou com o olhar alguma que tivesse um significado a mais ou um carinho especial. Sorriu então quando viu uma das maiores, que cobria toda a parte externa da parte superior de seu braço.

"Essa daqui," ele levantou a manga da camisa e virou um pouco o braço para que Bella pudesse ver. "Não é a que mais custou caro, não tem o melhor desenho, nem o melhor acabamento. Mas, eu amo essa daqui."

Bella observou a tatuagem que ele indicava. Era uma enorme coruja, com sua pelugem feita de diferentes desenhos enigmáticos. Enigmático também era o olhar que o animal tinha, e seus pés a prendiam num galho fino.

"É linda," ela assentiu.

"Mais ou menos," ele deu de ombros, "Mas, foi a minha primeira. Eu fiz com o dinheiro do primeiro show que nós fizemos com a Answer, e não dava para muita coisa, acho que tive que pedir emprestado para inteirar, mas… é uma lembrança da banda também."

Bella traçou a tatuagem com o dedo novamente. Sorriu.

"Como fã, posso dizer que essa é a minha preferida também."

Edward devolveu o sorriso e então se moveu, mostrando a parte interior do outro braço. Lambeu os lábios e olhou para Bella em tom de desafio. Apontou para letras finas que formavam um bracelete em seu braço.

"Prova de fã."

E então ela leu o que dizia. Sorriu, reconhecendo o verso.

"As honest as the night I left behind; As uncertain as the steps of someone who doesn't know when they're coming back." ela cantou as palavras que leu.

Ele riu e assentiu.

"Passou no teste," dobrou novamente o braço e o apoiou sobre o joelho depois de tomar outro gole de cerveja. "É uma das minhas letras favoritas da banda."

"Piece of my heart é uma das minhas favoritas também. A letra é sua, não é?" Edward assentiu. "Como é escrever uma música?"

Ele franziu o cenho e sorriu de lado.

"Como assim?"

"Como é," ela deu de ombros, "Quer dizer, você senta e deixa fluir? Coloca suas experiências? Coisas que você já fez? Você tem que pensar em alguém? Como funciona esse processo?"

Edward virou o restante da cerveja e colocou a garrafa vazia sobre a mesinha. Coçou a testa rapidamente e começou a falar:

"Depende," ele deu de ombros, "Sempre depende. Não sei se todo o mundo que compõe pensa desse jeito, mas… diversas coisas me inspiram. Uma música que eu ouço, uma fala na rua, uma cena aleatória… um filme. Qualquer coisa. A ideia vem e você simplesmente tem que colocar no papel."

Bella piscou, sentindo-se assemelhar à situação. Era assim que ela escrevia suas crônicas, sempre movidas pela emoção. Mas, era diferente, porque ela não o fazia profissionalmente.

"E aí você senta e deixa fluir?" ela perguntou, pensando em sua própria experiência como cronista amadora.

"Sim e não. Uma parte vai sair naturalmente, a outra você vai tentar encaixar com outras coisas. Por exemplo, às vezes você vai compor uma música foda, que você gosta da letra, mas que ela não vai encaixar na melodia, entende? São vários ajustes."

Ela assentiu.

"E você coloca muito de você nas suas composições?"

Edward pensou novamente. Poucas músicas eram feitas como uma carta de um destino só. Blonde Field era provavelmente a única de suas composições que falavam apenas de uma situação, de uma pessoa.

"Às vezes," ele deu de ombros, "Mesmo que você tenha começado a fazer algo que não tenha nada a ver com suas experiências pessoais, vai chegar um momento que você vai colocar uma coisa ou outra. Uma palavra que tenha um significado maior, uma nota que te agrada mais. Uma fala que você queria dizer para alguém acaba virando verso… coisas do tipo."

Bella franziu o cenho, tentando se lembrar das letras de Edward. E então se lembrou de uma situação em especial. Ela sabia que era arriscado fazer aquela pergunta, mas decidiu que deveria ser inofensiva.

"Você fez Blonde Field para aquela sua amiga, não foi?"

Edward congelou. Seus olhos se arregalaram e ele olhou para Bella assustado. Ela imediatamente congelou também, arrependendo-se de ter tocado naquele assunto que não parecia agradá-lo.

"Como você sabe?"

Ainda assustada, Bella falou:

"Jake disse."

Edward então libertou o suspiro preso em seu peito. Por um segundo, ele pensou que Tanya pudesse ter feito alguma loucura e falado algo para algum site, blog, ou sei lá. Mas, é claro que ela não faria isso, ela jamais ia querer sua imagem associada à dele publicamente.

Negando com a cabeça, ele encostou-se na cadeira.

"É a minha única música feita especialmente para uma pessoa. Na verdade, para uma situação. A letra fala da situação, não fala dela especificamente."

Ela percorreu a letra de Blonde Field na cabeça.

"I'll sing this song, but you should know your name is written on my arm." Ela arqueou as sobrancelhas. "Onde está o nome dela nas suas tatuagens?"

Edward gargalhou e negou com a cabeça.

"Você não vai encontrar, linda," deu de ombros, "Era uma piada interna. Quando eu comecei a tatuar, ela ficava escrevendo o nome dela no meu braço de caneta permanente. Acho que ela realmente quis que eu tatuasse, mas nunca aconteceu. Graças a Deus."

Bella riu do desgosto na voz dele.

"Qual é o nome dela?"

"Tanya," ele respondeu enquanto pegava outra cerveja na caixa de isopor ao lado deles. Entregou uma nova a Bella, que ainda tinha a dela pela metade, e abriu a sua própria.

Bella mordeu o lábio inferior, pegando a garrafa gelada nas mãos. A outra tinha a cerveja quente, e ela precisava se ocupar. Estava prestes a fazer uma pergunta que ela não sabia se queria saber a resposta, mas sua curiosidade era maior. Para disfarçar, então, perguntou indiretamente:

"Naquele dia eu pensei que ela fosse a sua namorada," começou, examinando-o cuidadosamente com o olhar, "Mas, Jake disse que ela era uma amiga sua. Alice também disse."

Edward fitou Bella por alguns instantes. Ela temia que ele se ofendesse com aquele comentário, mas também se sentia no direito de fazê-lo. A menos que ela realmente estivesse entendendo as intenções de Edward errado, ela precisava saber se ele estava envolvido com outra pessoa ou não.

"Eles disseram certo," ele tomou outro gole de cerveja, "Mas, acho que ela não é mais minha amiga também. Não sei."

Bella ergueu as sobrancelhas.

"Aconteceu alguma coisa?"

Edward não queria que eles tivessem tocado naquele assunto, mas não porque não queria contar a respeito de Tanya a Bella. Ele só não queria que Tanya tivesse qualquer influência que fosse no atual curso de sua vida. Entretanto, entendia. Bella viu Tanya com ele há uma semana, e era natural que ela se questionasse. Ele faria o mesmo. Por isso, suspirou novamente e deixou a garrafa de cerveja sobre a mesinha e fitou Bella atentamente.

"A Tanya foi uma pessoa muito importante na minha vida, Bella. Nós dois… tivemos uma relação complicada pelos últimos dez anos."

"Dez anos?!" ela disse surpresa.

"Pois é," Edward riu sem humor, "Parece muito tempo, mas nunca saiu do lugar. Ela… ela é de uma família rica e conservadora. Nós nunca namoramos, mas também nunca nos afastamos. Fomos… amigos. Amigos com benefícios nesse tempo todo."

Bella ficou boquiaberta. Tudo bem, amizade com benefícios não era uma coisa de outro mundo e ela já tinha vivido aquilo também, mas ela não conseguia imaginar como alguém ficaria numa situação dessas por dez anos. Devia haver algo para segurá-los ali.

Será que Edward era esse tipo de cara? Seria realmente ótimo aproveitar os benefícios da coisa, mas Bella não era amiga dele em primeiro lugar. Nunca quis ser amiga dele. Ela não conseguiria se manter num relacionamento daquela natureza na altura em que estava na vida. Não era esse o seu foco.

"Dez anos é… muito tempo."

"Muito," ele assentiu, "Então eu cheguei à mesma conclusão e terminei com ela."

Bella arqueou as sobrancelhas.

"Mas, vocês estavam juntos no sábado."

"Sim, nós terminamos no domingo."

Aquilo fez o coração de Bella afundar um pouquinho. Era ótimo que ele tivesse terminado com ela, mas era muito recente. Um envolvimento de dez anos deixava marcas muito profundas, e era muito possível que ele não conseguiria se esquecer dela tão rapidamente assim, e muito menos quereria se envolver com outra pessoa na mesma semana. De certo que as intenções dele não coincidiam com as dela.

"Entendi."

Edward notou a mudança no tom de voz de Bella.

Droga, a Tanya atrapalha até quando não está junto.

Ele então resolveu continuar a contar:

"Ela nunca valorizou o meu trabalho. Dizia que me apoiava, mas a família dele tinha um peso muito grande em todas as escolhas que ela fez. Eu costumava enxergá-la separada da família, mas nos últimos meses eu vi o que todo o mundo me falava… ela é a família dela. Os valores da família dela são os valores dela também. Era divertido, eu fui uma aventura para ela no sentido de que era proibido e era uma realidade diferente de tudo o que ela já viveu, e ela foi uma aventura e um desafio para mim porque era proibido e eu adorava desafiar os pais dela que me odiavam. Mas, o meu tempo de aventuras terminou. Eu sou um adulto agora, ela também. Não quero me sentir preso a algo assim nunca mais."

Bella apenas assentiu. Depois de alguns segundos, limpou a garganta antes de fazer outra pergunta.

"E não existe a possibilidade de vocês voltarem?"

Edward franziu o cenho e pegou novamente a cerveja da mesinha.

"Não tem a menor chance."

O coração de Bella se permitiu bater esperançoso novamente.

"Isso é bom."

Edward sorriu e assentiu.

"Isso é ótimo."

Só que não significa nada, Bella pensou. Pelo término ser muito recente, ela tinha praticamente certeza que ele não se envolveria com mais ninguém tão cedo. Como ele mesmo disse, ele se sentia preso a Tanya, e num relacionamento que, aparentemente, não era exclusivo. O que então ele pensaria de um namoro? Bella sentiu o rosto queimar. Tomou um longo gole da cerveja e lambeu os lábios.

Ela quase desejou não ter vindo ao apartamento de Edward nesta noite. Pensou que, caso não estivesse aqui, não saberia de toda aquela história e poderia deixar-se aproveitar os flertes esperançosos por mais tempo. Quem sabe à distância Edward teria mais tempo de gostar dela e se apegar? Ela suspirou fundo e sentiu a realidade dos fatos baixando todos os seus ânimos.

Não vai ser dessa vez.

"Mas, ela não importa mais," Edward disse depois de alguns segundos. "Acabou. E você? O que tem para me contar sobre a sua vida amorosa?"

Bella piscou, surpresa pela pergunta. Em seguida deu de ombros.

"Não muito. Eu terminei o meu último relacionamento há quase quatro anos, estou solteira desde então."

Edward assentiu e tomou um gole da cerveja.

"E você namorou quanto tempo?"

"Quase dois anos," ela respondeu automaticamente.

"E por que terminou?" Edward perguntou realmente curioso.

"Ah… não foi por um motivo específico. Eu não era apaixonada por ele, eu acho. As coisas foram esfriando até que terminaram."

"E por que você nunca namorou de novo?"

"Nunca apareceu ninguém que valesse a pena."

Edward assentiu mais para si mesmo do que para ela. O que será que ela considerava como valer a pena? Antes que pudesse perguntar, porém, Bella falou primeiro:

"A única música que você fez pra Tanya foi Blonde Field? Ou tem mais dela em outras canções?"

Edward entortou a cabeça para a direita.

"Bem, depende. Eu compus uma canção nesta semana e comecei outra. As duas meio que falam dessa situação que eu vivi, então não dá para falar que são para ela. Falam de mim, em primeiro lugar."

Bella sorriu.

"Posso ouvir?"

Edward mordeu o lábio inferior antes de assentir e se levantar. Caminhou rapidamente até a sala, onde pegou o violão e voltou para seu lugar de origem na varanda. Apoiou o violão nos joelhos e olhou para Bella.

"Pode ser que tenha algumas modificações, mas… essa daqui se chama Freedom."

Bella sentiu o estômago esfriar pelo nome da música. Edward fechou os olhos e acertou a posição das mãos sobre as cordas:

If you think

I'm fighting for this

Don't be deluded by the way

I carry on with life

You don't know me that well

I get in to win when everything is lost
I've never ran away from danger
Because there's no in between, anymore
I'm in or I'm out

And then I'm fuckin' out.
There's no shame in recognizing it didn't work
But I was brave enough to try
Living and learning, that's my deal
I can't tell my future
But I'll do everything to make it happen

I get in to win when everything is lost
I've never ran away from danger
Because there's no in between, anymore
I'm in or I'm out

And then Im fuckin' out
The glass is broken
It's everywhere

A letra não era o que Bella esperava, e aquilo a deixou mais leve. Quer dizer, aquela letra falava de alguém que estava decidido a deixar o passado para trás, sem mais meio termo. Ele estava dentro ou fora. E depois estava fora. O vidro estava quebrado, espalhado por todos os cantos, e aquilo queria dizer que não tinha mais volta. Foi um alívio, afinal, ela esperava escutar uma música em tom de lamentação, que contasse o quanto ele estava chateado e magoado pelo fim de algo tão longo e tão significativo.

Ela sorriu ao fim da canção.

"Você tem muito talento," foi o que ela disse, "Mal posso esperar para ouvir essa música gravada em estúdio. É fantástica, Edward."

Ele mordeu o lábio inferior e estendeu a mão. Bella não entendeu, até que ele buscou a mão dela sobre a perna dela e a levou até seus lábios. Ele então fechou os olhos e beijou a pele dela por alguns segundos.

"Obrigado, linda," ele disse pela segunda vez na noite, "Acabei de pensar na continuação para a música que eu disse que comecei a compor. Se chama Colors" Ele procurou os olhos dela. "Se importa de ouvir?"

"Nunca!"

Ele sorriu e soltou a mão dela para posicionar melhor o violão e cantar:

Don't ask me to stop anymore

I can't come back

You don't make me feel good anymore

I've always wanted to be with someone

Who could make me see

The other side of life

Actually I'm feeling quite in piece

Alone in my boat

I'm not drawning

It's okay, babe, forget it

It's not that I don't desserve it

I just don't want you anymore

Come here, make it go away

I want you in colors

Live and here

Wait for me by the window

I'll wave at you

You know I'll take you away with me

Clean your soul

Lovers come and go

This is me, honestly

I'm taking care of my heart

Sometimes I'm cold, but the sun I deserve

I carry in my hands

Edward terminou a música com um enorme sorriso no rosto, apesar de ter precisado parar algumas vezes para refazer uma nota ou duas. Ela estava acompanhando o processo de composição de uma canção e aquilo era fantástico. O conteúdo da letra, porém, a deixou confusa: ao mesmo tempo em que ele dizia estar livre e não querer mais alguém, ele chamava alguém para fazer amor, esperá-lo na janela para que ele pudesse acenar e levá-la com ele.

"E aí, o que você achou?"

Bella sorriu.

"É fantástica. Mas, meio contraditória."

Edward uniu as sobrancelhas.

"Em que sentido?"

"Bem, você está livre de alguém, e eu entendi que você se refere a Tanya. Mas, depois pede para que ela te espere na janela, para que vocês possam fazer amor. Vê-la ao vivo…"

Ele sorriu e tirou o violão do colo, colocando-o no chão. Levantou-se da cadeira e agachou-se em frente a Bella. Ela acompanhou tudo com um olhar espantado e confuso, ainda segurando a garrafa de cerveja.

"Lembra que eu disse que diversas coisas compõem uma só música?" ela assentiu. "Essa daqui tem algo de mim em relação à Tanya."

"A parte de fazer amor também, eu imagino."

Edward negou com a cabeça, sorrindo, e lambeu o lábio inferior.

"Não. Eu não estou falando dela nesse trecho."

(Caçarola - Dias de Truta)

E então ele estava próximo. Próximo, muito, muito próximo. E chegando mais perto. Bella fechou os olhos quando sentiu a ponta do nariz dele encostar no nela, pronta para sentir os lábios macios nos seus. Ela não tinha processado muito bem tudo o que ele tinha acabado de dizer, mas aquilo podia soar como se Bella tivesse sido inspiração para um trecho da música.

Certo?

Poderia ser, mas como é que ela pensaria nisso quando ele estava tão, tão perto? A respiração dele era quente, pesada. Ele viu os olhos dela se fecharem e sentiu o ar sair de uma só vez dos lábios entreabertos dela. E ele se inclinou e encurtou o único centímetro entre eles.

E depois estava ventando muito. E o vento trazia gotas frias. Ele pensou em ignorar, principalmente porque ela inclinou o rosto para ele, entregando os lábios, mexendo-os sobre os dele. Mas, então os pingos começaram a ficar mais fortes.

Praguejando em pensamento, Edward se afastou e nesse segundo o vento começou a ficar mais e mais forte, e derrubou a garrafa vazia sobre a mesinha, espalhando estilhaços de vidro verde pelo chão da varanda. Bella arfou de susto e Edward se levantou do chão, puxando-a pela mão. Ele ainda estava bravo por ter o momento interrompido, mas Bella ria. Bella gargalhava.

Deixando-se contagiar Edward riu enquanto, com ajuda dela, levava tudo para dentro do apartamento. Os estilhaços teriam que ser limpos depois, mas o restante das cervejas, dos doces e as cadeiras dobráveis estavam a salvo da chuva.

Ele então fechou a porta de vidro que dava passagem para a varanda e puxou a cortina branca. Trovões ainda podiam ser ouvidos, mas ela ainda ria, e o que molhava seu rosto poderiam ser gotas da chuva ou lágrimas de riso. Ela passou a mão pelos longos cabelos, jogando-os completamente de lado. Eles estavam úmidos, assim como a roupa que ela usava. A própria camisa preta de Edward tinha grossos pingos de chuva, seu próprio cabelo desordenado meio molhado.

"Desculpa, Bella," ele passou as mãos pelos próprios cabelos. "Nem vi que estava começando a chover."

"Não se preocupa, eu também não vi," ela riu. "Ufa! Essa foi boa!"

Edward se deixou encantar mais pro Bella naquele momento. Ela tinha verdadeiramente se divertido com aquela situação. Com todo o sufoco, com o barulho, com a chuva e o vento molhando e bagunçando seu cabelo bonito. Ela não se importou em se molhar. Não se importou se alguém veria suas roupas molhadas, não pensou na satisfação que teria que dar, em que justificativas daria para quem perguntasse. Ela não se importava com nada além daquele momento.

"Você é linda," ele disse sem nem mesmo perceber.

Bella arqueou as sobrancelhas, surpresa. Ela estava uma bagunça! Suada, molhada da chuva. Seu batom já tinha ficado nas bordas das garrafas de cerveja, ela não estava tentando parecer atraente.

"Bem, obrigada," ela deu de ombros, aceitando o elogio, "Você também."

Edward deixou o violão que ainda segurava sobre o sofá e se aproximou dela. Ele não deixaria que a chuva atrapalhasse o que ele queria fazer há muito tempo. Quando encostou seu corpo no dela, ele envolveu sua cintura com um braço. Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha de Bella assistindo sua boca num sorriso hesitante. Ele mordeu o lábio inferior.

"Vou te beijar," ele avisou, porque agora era a hora dela sair correndo. Era a hora dela negar.

Ela não o fez. O sorriso dela só aumentou mais, e ele não esperou por palavras para efetivar o que ele disse.

E foi um beijo forte. Eles continuaram exatamente do ponto em que tinham parado na varanda. Bella envolveu os ombros de Edward com o braço e foi tombada para trás com a intensidade do beijo que recebeu. A língua dele apareceu logo em seguida, e o beijo se aprofundou com vontade e naturalidade. Edward a segurava pela cintura com uma mão, enquanto a outra foi para a nuca de Bella. O beijo era doce, mas era amargo pela cerveja. Era sutil, mas com uma vontade tão deliciosa… não tinha pressa, mas quem se importava?!

"Hm…." ele murmurou delirante, ainda beijando-a. Afastou-se rapidamente, "Eu estava morrendo para fazer isso logo," e beijou-a novamente.

Após longos minutos, Bella respondeu quando eles precisavam tomar ar:

"Estava?"

Podia ser uma conversa estranha, mas os dois mantinham em mente a resposta para quando eles pudessem responder. Beijarem-se era prioridade.

"Estava. Eu estou louco por você, Bella."

Ela não conseguiu conter o gemido que escapou de sua garganta contra a boca dele. E Edward engoliu o som de bom grado, puxando o quadril dela contra o seu com mais força.

Ele começou a movê-los na direção do sofá e, quando se deitaram, houve outro estrondo. Mas, eles não se importaram de parar, porque era só o violão caindo no chão, eles tinham consciência.

Quem se importava com um violão afinal de contas? Pra quê, se a camisa de Edward já estava no chão, e a de Bella seguia o mesmo caminho? Como, se os seios dela já recebiam a atenção da boca dele, e os cabelos dele viravam uma bagunça ainda maior pelas mãos dela? Por que é que um violão chamaria a atenção quando Bella poderia se ocupar passando as mãos pelas costas fortes de Edward, descobrindo novas tatuagens, um universo de pintas na pele macia?

Eles não transaram naquela noite. Bom, não transaram no real sentido da palavra. Mas, se tocaram e se deram prazer do jeito que bem entenderam. Edward sabia fazer magia com os dedos e com a língua, e ele se surpreendeu em constatar que uma mulher não precisava levá-lo ao fundo da garganta para lhe dar prazer. No entanto, o ápice do prazer de ambos foi alcançado pelas mãos de ambos, porque eles descobriram não conseguir ficar longe da boca um do outro por muito tempo.

Uma infinidade de músicas poderia ser composta pensando nesta situação, Edward concluiu, quando os dois comiam chocolates sentados no sofá, escutando um álbum do Pink Floyd, conversando sobre política. Uma infinidade de crônicas poderia ser escrita com essas cenas, Bella pensou quando ambos limpavam os cacos de vidro da garrafa quebrada na varanda, quando a chuva já havia passado.

Antes de ir embora, porém, eles voltaram à varanda. Bella lamentou que a câmera de seu celular não fosse fiel à beleza das luzes da cidade acesas, às estrelas e à lua ao fundo do céu escuro.

Os dois se despediram por longos dez minutos de beijos, abraços e agradecimentos. O motorista do Uber já estava impaciente quando viu uma Bella sorridente sair do prédio. No caminho de volta para casa, ela postou a foto. Dois minutos mais tarde, recebia uma mensagem de Edward, bem como um comentário com o nome de usuário dele na foto.

swanbella: I'll miss you tonight, I've been walking around high places…

Edward Cullen: Obrigado pela inspiração para finalizar a música. Pela sua presença, pelos seus beijos… sonha comigo.

ecullen_answer: If you're silent, I'll make you smile.

E Bella tinha ganhado mais uma canção favorita. Smile.

[...]

Edward acordou sentindo que se esquecia de algo muito significativo. Confuso, ele olhou ao redor do quarto, a posição de bruços deixava tudo com um ângulo meio esquisito. Ele suspirou e se mexeu, virando-se na cama e coçando o olho.

Algo vibrava próximo a ele. Gemendo de insatisfação, ele esticou o braço e pegou o celular perdido no colchão. Sem nem olhar de quem se tratava, ele atendeu:

"Oi," ele disse ao atender.

"Foi mal se a Bella está aí, cara, mas a gente precisa chegar cedo na The Truth pra ver as coisas do show. Tem a maior burocracia se somos só nós dois, você sabe."

Ah! Bella! Edward arfou e olhou para o lado, procurando pela morena, e apenas um segundo depois lembrou-se que ela, na verdade, tinha ido embora na noite anterior. Suspirou antes de responder.

"Beleza, Jazz, não vou atrasar. Em três horas estou lá."

"Pode crer, te vejo lá então."

"Ei!" Edward chamou depois de alguns segundos processando a primeira fala de Jasper, "Como você sabia que a Bella poderia estar aqui?!"

E tudo o que ele ouviu foi uma gargalhada do outro lado da linha, antes que ela fosse desligada.

[...]

"Achei que você não fosse sair mais da cama!"

Bella revirou os olhos e sentou-se à mesa da cozinha para tomar café da manhã. Emmett estava cortando bacon e Rose mexia alguma coisa na panela. Bella coçou o rosto e pegou a xícara de café que a amiga entregou a ela.

"Nem vi você chegando ontem, Bella!"

"É, cheguei tarde," ela bocejou na palma da mão, "E queria estar dormindo ainda."

"Mas, não aqui, aposto," Emmett provocou novamente.

E Bella o ignorou novamente.

"Fomos nós que te acordamos?" Rose perguntou do fogão.

"Não," Bella disse e tomou um gole de seu café. Gemeu de satisfação e se deixou saborear um pouco mais do líquido quente. "Alice me mandou umas mensagens para combinar sobre o show de mais tarde. Não consegui mais dormir."

"Ah, o show é hoje!" Rose se animou. Desligou o fogo e se sentou em frente à amiga. "Vou te ajudar a escolher a roupa! Como foi com o Edward ontem?"

Bella sorriu e deixou a xícara sobre a mesa.

"Foi ótimo… Edward é um amor."

Rose soltou um gritinho de animação.

"Ótimo como?! Me conta! Me conta tudo! Vocês transaram? Se beijaram, com certeza. Ele cantou pra você? Eu não sei, deve ser meio infantil, mas eu sempre acho que se você está saindo com um músico, ele vai ficar cantando pra você o tempo todo."

Bella riu baixo e mordeu o lábio inferior, pensando. Não, eles não transaram, mas se beijaram muito, por vários lugares do corpo. E ele cantou para ela. Duas músicas inéditas, inclusive.

"Não transamos, mas, sim, nos beijamos. Pode ser meio infantil essa sua ideia, mas eu pedi pra ele me mostrar as músicas novas que ele compôs nesta semana. A varanda dele é linda."

Os olhos de Rose brilhavam pela descrição dos acontecimentos. Com toda certeza a fantasia dela era muito mais romântica e ela já pensava em Bella e Edward se casando e tendo dezenas de filhos. O mundo era lindo na cabeça de Rosalie, e Bella não compartilhava de seu ponto de vista.

"Varanda?!" Emmett disse incrédulo, "Como assim varanda?"

Bella suspirou.

"É uma longa história."

"O primeiro beijo de vocês foi lá?!" Rose se animou novamente, "Por favor, me diz que foi! Por favor! Foi o lugar que motivou a primeira conversa de vocês!"

Não foi bem daquele jeito. Eles realmente colaram os lábios pela primeira vez na varanda, mas veio o vento e a chuva e eles tiveram que sair correndo. Foi muito mais desastrado, muito mais louco, muito mais barulhento e teve até vidro quebrado. Ainda assim, foi o primeiro contato de lábios.

"Sim," Bella sorriu, "Nosso primeiro beijo foi lá."

[...]

Edward Cullen: Me avisa quando você chegar.

Bella leu a mensagem assim que desceu do Uber na frente da The Truth. Arrumou a saia preta de Rosalie no corpo e ajustou a bata branca sobre os ombros. Seus cabelos estavam soltos e o rosto com maquiagem leve, e, nos pés, um salto médio e mais grosso para deixá-la elegante e confortável por toda a noite. Ela se sentia bem e bonita.

Bella: Cheguei! Onde você me encontra?

Edward Cullen: Na porta, já estou indo para aí!

Bella entrou no bar. Ainda não estava tão cheio, mas havia uma quantidade considerável de pessoas por ali. Procurou pela recepção, mas antes que ela pudesse apresentar o documento de identidade e o dinheiro para a entrada, sentiu um braço cercando seus ombros.

"Ela está na lista, Dani," comunicou à mulher que atendia Bella, "Pode conferir aí"

E depois ela era arrastada para dentro do bar, atraindo alguns olhares. Olhou para Edward em questionamento:

"Como assim? Que lista?"

"Lista de convidados, linda," ele sorriu, "E, falando nisso, você está linda. Obrigado por vir."

"Bem, obrigada. Pelas duas coisas," ela sorriu quando ele pressionou um beijo em sua têmpora. O coração de Bella se acelerou com o perfume que vinha da pele dele. Edward estava fantástico usando jaqueta de couro, camisa preta do Black Sabbath e calças jeans escuras rasgadas nos joelhos. "Não estou te atrapalhando nos ensaios?"

"Não," ele negou com a cabeça, "Já fizemos a passagem de som. Agora é só esperar o horário do show." Os dois alcançaram o espaço do backstage e, com uma piscadela de Edward na direção do segurança, ele deixou que os dois passassem. Ele ainda a abraçava pelos ombros.

"Ah!" ela sorriu, "Nossa, é grande aqui!"

"Não é?" Edward abriu a porta do camarim e Bella entrou. "Sempre falamos que a The Truth desafia as leis da física, porque, vista e fora, não parece ter um terço do tamanho que tem."

"Exato," ela riu, "Mas isso é muito bacana, porque deixa o lugar aconch-"

"Bella! Finalmente você chegou!"

Ela então desviou o olhar de Edward e viu que Alice caminhava em sua direção, sorrindo empolgada. As duas se abraçaram brevemente, e Jasper surgiu da mesma direção que Alice tinha vindo.

"Demorei, mas cheguei," ela brincou, "O trânsito estava ruim de lá pra cá."

"São os efeitos do sábado," Jasper disse, alcançando Bella e dando um beijo em seu rosto, "Como vai, Bella?"

"Muito bem. E animada pra ver vocês!"

"Rose não veio?" perguntou Alice.

"Não, ela não pode. Mas, mandou agradecer o convite. Ela disse que 'oportunidades não faltarão'."

Edward riu baixo e voltou a abraçá-la pelos ombros. O toque da pele de Bella, porém, o incomodou. Ela provavelmente estava com frio, e não tinha trazido casaco. O ar-condicionado do backstage e da parte da frente do palco, onde ela ficaria junto a Alice, sempre era mais forte.

"Com frio?" ele perguntou quando Alice e Jasper foram pegar bebidas para os dois.

"O ar-condicionado é forte," ela justificou, "Mas, já já passa. Vou me acostumando."

Edward negou com a cabeça sorriu de canto. Bella não entendeu sua reação a princípio, mas tudo fez sentido quando ele começou a retirar a própria jaqueta. Os olhos dela se arregalaram e ela tomou ar para negar o oferecimento.

"Nem pense nisso," ele disse, "Toma. Veste isso."

"Edward, não precisa!" ela tocou a mão que ele segurava a jaqueta de couro, "Sério, não precisa."

"Anda, Bella," ele riu baixo. Sacudiu a jaqueta na direção dela. "Pega logo."

"Mas, e você?"

"Eu vou esquentar rapidinho. Quando começar o show, eu não consigo ficar parado e vou começar a suar logo. Meu celular está aí dentro, é bom que você guarda ele pra mim."

Ela mordeu o lábio inferior.

"Tem certeza?"

"Tenho," ele assegurou. "Vira, vou te ajudar a colocar."

E três segundos depois ela tinha a jaqueta de couro com o cheiro dele, com o toque dele, com o peso dele sobre os ombros. Sentindo alívio por estar aquecida, ela respirou fundo e aspirou o cheiro gostoso que vinha do tecido.

"Obrigada," disse ao se virar para ele novamente. "Você é um verdadeiro gentleman."

Ele riu e percorreu os braços dela, agora cobertos pela jaqueta dele, com as mãos. Entrelaçou seus dedos e se inclinou na direção do rosto dela.

"Mereço um beijo de agradecimento?" perguntou baixinho.

"Merece dois."

E o beijo em questão foi novamente incrível para os dois. Bella, que já estava começando a achar que as coisas na noite anterior não tinham sido assim, tão perfeitas, porque podia ser tudo um truque de sua memória e do romantismo de Rosalie a contagiando, sentiu tudo novamente. Seu coração acelerou, seu rosto esquentou, seu corpo amoleceu junto ao ele. E Edward, que ainda lutava para entender o fascínio que tudo o que aconteceu em seu apartamento tinha para ele, viu perfeitamente o sentido de tudo. Tudo era diferente com ela. As coisas faziam sentido daqui.

"Venham beber, vocês podem se beijar depois!"

Porém, nem o grito de Alice adiantou. Eles estavam por demais ocupados em relembrar as maravilhas da noite anterior nos lábios um do outro.

[...]

(Música do Sapo - Dias de Truta)

A música era alta daqui. E fazia frio também. Bella não se lembrava dessa parte na semana passada, mas isso provavelmente se devia ao fato de que ela estava bêbada. Além disso, ela teve que derramar cerveja nas pessoas e sair empurrando todo o mundo para conseguir ficar na primeira fileira com Rosalie, que gritava que era a namorada do Edward.

Que ironia, ela pensou, hoje essa afirmação nem é tão absurda assim.

Porém, era. Porque Rosalie não estava beijando Edward no camarim agora, quem fez isso foi Bella. Mas, ela também não era namorada dele.

Apertando a jaqueta contra o corpo, ela deu de ombros para si mesma. Não importava agora.

Eram só duas pessoas naquele palco nesta noite, e eles não começavam com covers. Muito pelo contrário: Edward começava cantando Not Your Business. Era uma música da Answer, embora em composição mais simples porque os únicos instrumentos da Prize of The Underground eram a guitarra de Edward e a bateria de Jasper. Mesmo assim, a energia que ele tinha ao cantar era simplesmente sensacional. Contagiante. A plateia atrás de Bella vibrava, e ela própria e Alice pulavam ao som da música animada. Às vezes ela via Edward dar uma olhada na direção das duas e pensava ver um sorrisinho se formando em seus lábios, mas ele voltava rapidamente sua atenção para a plateia ou para a guitarra em suas mãos.

Bella foi realmente ao delírio quando os primeiros acordes de It'll be better começaram a tocar. Gritando na direção do palco, ela quase se esqueceu de que quem estava lá em cima era o cara com o qual ela estava ficando e que seria ótimo se ela não passasse vergonha na frente dele. Dar uma de fangirl não era muito inteligente.

Foda-se, ela pensou no refrão. Não tinha como ser diferente. Ela sempre foi fã, e ela estava num show deles. Por tantas vezes ela ouviu aquela música sozinha e agora ela estava aqui, ao vivo. E Edward cantava com tanta entrega… era irracional pensar que, no início da semana, ela escutava aquela música só porque tinha a voz dele, sozinha em seu quarto.

Era estranho pensar que aquele Edward lá em cima do palco era o mesmo que a beijava no camarim há poucos minutos. O mesmo que a recebeu em seu apartamento ontem, que a beijou no sofá, que a enlouqueceu de prazer. O mesmo dono da jaqueta que ela usava. A vida era mesmo uma loucura.

Ao fim da canção, porém, outra não se iniciou. Edward tomou um gole da água que o esperava numa banqueta ao seu lado e acenou para a plateia.

"Boa noite, galera," disse ao microfone, "Casa cheia, é sempre foda tocar aqui na The Truth. Nós somos Edward Cullen e Jasper Whitlock, somos parte da Answer, mas hoje estamos aqui com nossa banda paralela, a Prize of The Underground. Esse projeto é um presente para nós dois, um som diferente que gostamos de fazer. Vamos tocar algumas músicas da Answer, como essas duas que acabamos de fazer, algumas que são exclusivas da Prize e alguns covers. Agradecemos a presença de cada um de vocês aqui… e bora curtir!"

A próxima música foi For Her, e aquela era uma música da própria Prize. Bella também sabia cantá-la por inteiro, e, quando Alice viu aquilo, as duas se abraçaram e começaram a pular e cantar juntas. Mais de uma vez Edward olhou naquela direção e acenou enquanto cantava. Devia ser outra música que Jasper compôs pensando em Alice julgando a empolgação que ela cantava. A letra falava que, independente do que acontecesse, tudo havia sido por amor. Por amor por ela.

De uma maneira genial, o solo de For Her virou o primeiro acorde de um dos maiores sucessos da Answer: Flower. Bella riu, lembrando-se que aquela foi a primeira música da banda que ela ouviu. A letra era ambígua, e podia ser interpretada como uma declaração de amor alguém, mas também sobre a lamentação pelo vício em alguma droga. Afinal, era algo "difícil de explicar", mas a canção foi feita para lembrar de todos os momentos vividos juntos. No refrão, Edward agradecia o "tempo bom" proporcionado pela inspiração da canção. Era "foda" querê-la demais, mas as "confusões mostradas na TV" amedrontavam pela possibilidade de eles virarem escravos daquilo.

Era definitivamente uma canção sobre drogas. Bella fez nota mental de perguntar sobre aquilo mais tarde.

Antes da próxima música, houve uma nova pausa, e Edward, depois de tomar sua água, acenou para a plateia:

"A The Truth é um dos nossos lugares preferidos para tocar por causa da plateia incrível que a gente sempre tem aqui. Obrigado, galera! Há uma animação a mais aqui hoje…"

Nas últimas palavras, entretanto, Edward virou o rosto para a direita, olhando diretamente para onde Alice e Bella estava. Uma piscadela foi lançada naquela direção e, em seguida, um beijinho lançado. Bella perdeu a fala, mas Alice a sacudiu e gritou em seu ouvido. Edward gargalhou da reação e voltou a falar ao microfone:

"Vamos de cover então…"

E o referido cover foi de Californiacation, do Red Hot Chilli Peppers, e em seguida, de Reptilia, do The Strokes. Era fascinante ver Edward no palco, Bella concluiu. E era divertido notar a diferença sutil que vinha quando ele estava com a Answer e com a Prize. Com a Answer, a estrela do show era claramente Jake, provavelmente por conta do carisma que ele exercia ao dançar, das insinuações para a plateia, e pelo fato de ele cantar quase todas as músicas. Com a Prize, porém, não havia estrelas no show. Jasper e Edward exerciam igual carisma, e se comunicavam com a plateia em interações constantes. Os dois cantavam, os dois tocavam. Os dois se divertiam juntos. Durante os solos, Edward ia para próximo da bateria de Jasper enquanto tocava, ou para perto da plateia. Até para perto de onde Bella e Alice estavam, sempre lançando uma piscadela na direção dela.

Se Bella achava que o show da Answer fora o melhor de sua vida, se enganara: nada podia competir com este.

[...]

Ao fim do show, Jasper e Edward desceram do palco e Alice e Bella os perderam de vista por alguns instantes. Alice, por ser mais experiente, disse que eles provavelmente estavam resolvendo algo com o dono da The Truth, Aro.

Entretanto, Jasper veio ao encontro delas sozinho. Bella deu um abraço nele depois de Alice:

"Parabéns, foi incrível," ela disse.

"Valeu, Bella! Que bom que você veio!" ele sorriu.

"Obrigada por me convidarem novamente," mesmo que o convite tenha sido de Edward, "Onde está o Edward?"

"Ali atrás," ele apontou para o espaço atrás do palco, "Pode ir lá."

Agradecendo baixinho e acenando para Alice, Bella seguiu o conselho de Jasper e seguiu na direção apontada por ele. Era meio escuro, havia uma série de estruturas de metal meio baixas, e Bella, mesmo não tendo a maior das estaturas, teve que se abaixar para passar por algumas delas.

Não demorou para que ela visse Edward. Ele estava de costas e coçava a parte de trás da cabeça. Parecia estar conversando com alguém, mas a pessoa era mais baixa do que ele, e isso o fazia esconder todo o seu corpo. Ela pensou em esperar até que a conversa tivesse fim, mas tantos funcionários do bar começaram a andar de um lado para o outro carregando os instrumentos e coisas do show, que ela não podia ficar no meio do caminho. Resolveu então caminhar até mais perto.

A pessoa conversando com Edward era uma mulher, Bella constatou. Tinha os cabelos um pouco mais claros do que os de Bella, mas não chegavam a ser loiros. Seus olhos estavam direcionados para cima, focados no rosto de Edward, e sua expressão não podia ser descrita de outra forma que não "encantada". Ela ficou intrigada por alguns instantes, incerta se devia chegar ou não mais perto.

Não foi preciso fazer muita coisa, porque a garota notou a presença de Bella antes que ela pudesse falar algo ou dar um passo a frente. A expressão dela mudou na mesma hora, e Edward provavelmente percebeu, porque olhou para trás.

Foi surpreendente o que aconteceu a seguir. Bella não tinha certeza de como esperava ser a reação de Edward, mas aquele sorriso definitivamente não estava entre suas expectativas. Muito menos o jeito que ele estendeu a mão na direção dela. Ainda meio incerta, ela andou até que pegasse a mão dele.

"Terry, essa daqui é a Bella," ele disse, abraçando os ombros de Bella, "A garota que eu disse ser a minha companhia."

A mulher - Terry - ficou desconcertada. Depois de alguns segundos, estendeu a mão na direção de Bella e disse:

"Prazer," com a voz fina.

"Prazer," Bella disse sorrindo, tentando manter a simpatia na voz, "Bella Swan."

"Bom, temos que ir," Edward disse, seu braço ainda cercando os ombros de Bella, "Obrigado pela presença, Terry! Fico feliz que você tenha gostado do show."

Contudo, a garota ainda pediu mais um abraço, e passeou as mãos pelas costas de Edward com muita, mas muita lentidão e atenção. Bella inclusive notou que Terry fechou os olhos e afundou o nariz no pescoço de Edward, e teve uma expressão de chateação quando ele finalmente se afastou. Mas, acenou quando Edward procurou sua mão, e disse um simpático "tchau" para a garota, que a observava séria.

"Você conhece?" ela perguntou quando os dois estavam em distância suficiente para não serem ouvidos pela garota, que ficou no mesmo lugar.

"Não. Ela disse ser fã. Sei lá como ela conseguiu entrar aqui."

Bella olhou para trás novamente. Por um segundo, sentiu pena de Terry, porque ela conseguia se ver naquela situação. Bem, não naquela porque ela não teria coragem de arrumar um jeito de entrar no backstage ou coisa do tipo se não tivesse Rose em sua vida. Mas, ela também já babou muito em Edward.

O que ela sentiu no segundo seguinte, porém, foi sorte. Ela era mesmo sortuda. Parou, então, e puxou o queixo de Edward. Ele sorriu antes de beijá-la nos lábios.

"Foi o melhor show da minha vida," ela disse ainda de olhos fechados.

"Minha meta é fazer você dizer isso a cada show meu que você for."

[...]

Podia ser um déjà vu, mas Bella estava novamente sentada no sofá da The Truth, na área reservada. Ao seu lado, porém, estava Edward. Com um braço ainda ao redor de seus ombros, ele gargalhava de algo que Alice e Jasper diziam e tinha uma lata de coca na mão. Bella bebia uma cerveja que já estava meio quente, e dava risadas esporádicas.

Ah, tudo hoje era muito mais divertido. Era uma pena que Rose não tinha podido vir, mas ela tinha esperança que um dia poderia reviver aquela situação com a presença de sua melhor amiga.

"Ei," Edward chamou, e ela desviou os olhos de Alice. "Gostou mesmo do show?"

"Eu amei," ela sorriu, "É sério, você devia colocar mais da sua voz nas músicas da Answer… e interagir mais nos shows da banda. Você tem muito talento, Edward…"

Ele sorriu e tomou mais um gole de coca antes de deixar a lata na mesa próxima a eles. Bella fez o mesmo com a cerveja que segurava e voltou a se encostar no sofá, seu corpo completamente virado na direção de Edward. Ele colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha dela e lambeu os lábios.

"O Jake fica meio ofendido," ele disse baixinho.

Bella franziu o cenho.

"Como assim 'ofendido'?"

Edward deu de ombros, ainda brincando com o cabelo dela.

"Ele diz que cada um tem uma função na banda, e que eu já canto It'll be better. Como ele não toca nenhum instrumento, o vocal é só dele."

"Qual é o problema de você cantar uma música ou outra? Vocês dois podem dividir algumas, inclusive."

"Não sei, linda," ele sorriu de leve, "Talvez ele se sinta menosprezado, não sei. Mas, já brigamos muito por conta disso, então eu achei melhor deixar pra lá. Alice vivia dizendo isso que você sugeriu também."

"É o mais lógico," ela deu de ombros, "E Alice é a produtora de vocês, ela sabe o que está dizendo."

"É… mas, foi ideia dela fazer a Prize também. Se não podemos fazer isso na banda, fazemos fora dela. Melhor dos dois mundos."

Bella riu, porque Edward disse "melhor dos dois mundos" no ritmo da música de abertura do antigo seriado Hannah Montanna. Ele riu também, gostando do fato dela ter pegado a referência. Em seguida, segurou o queixo de Bella e o puxou para mais perto.

Ela ficou meio envergonhada, porque o beijo não foi o simples selar de lábios que ela achou que seria. Edward se empolgou e passeou a língua por seus lábios. E então ela dava passagem e os dois se beijavam com vontade. Era meio esquisito, porque Alice e Jasper estavam bem ali, e havia uma festa acontecendo no restante do bar. Mesmo assim, ela se deixou levar pelo beijo, agarrando os cabelos de Edward, acariciando-os, deixando sua mão correr pelo pescoço e ombros dele. Edward segurava sua cintura firmemente, puxando-a para mais perto.

E então uma vibração estranha entre eles aconteceu. Sem conseguir ignorar, ela se afastou. Os lábios dos dois fizeram um clique úmido com a perda de contato, e ela buscava em suas vestes a origem da vibração. Edward riu e abriu um pouco a jaqueta dele que ela ainda vestia, e apontou para um bolso interno. Ela arfou em entendimento e procurou pelo celular dele que ainda estava guardado ali.

O sorriso no rosto de Edward sumiu quando ele fitou o celular. Bella franziu o cenho.

"Que foi?" ela perguntou quando ele estalou a língua.

Ele não respondeu. Ela não queria ficar espionando, porque definitivamente não era da conta dela, mas foi impossível. Havia uma sequência de 12 mensagens não lidas de uma Tanya no WhatsApp.

Bella ergueu as sobrancelhas, lembrando-se do nome imediatamente. Ela sabia quem era Tanya, e Edward sabia que ela sabia.

"Edward?" chamou novamente.

Ele suspirou fundo e bloqueou o celular, jogando-o sobre a mesa à frente deles. Depois se voltou para Bella com um sorriso tenso.

"Desculpa, linda," abraçou-a novamente.

"Aconteceu alguma coisa?" ela perguntou preocupada.

"Nada que importe." Ele se aproximou novamente, mas Bella se afastou antes que ele pudesse beijá-la novamente.

"Tem certeza?" perguntou.

"Tenho, linda," ele sorriu, relaxando novamente. "A Tanya mandou umas mensagens e ligou, mas que se foda, eu não tenho nada para falar com ela. Nem li as mensagens, só desliguei a chamada." Bella continuou incerta, com as sobrancelhas arqueadas. "É sério, Bella. Confia em mim."

Bom, ela não tinha motivos para desconfiar. Nem razão, afinal, os dois não tinham vínculos maiores. Suspirando, ela deu de ombros e cedeu ao beijo que ele depositava em seus lábios.

"Hmm…" ele murmurou nos lábios dela e se afastou para que pudesse tomar ar antes de mudar o ângulo do beijo, "Seu beijo é delicioso, Bella…"

Ela sorriu nos lábios dele e selou-os.

"Não posso reclamar do seu também."

Os dois se beijaram por mais alguns segundos . Bella já não se importava com a presença de quem quer que fosse, o que ela vivia no momento era bom demais para raciocinar. Ela mordeu o lábio inferior dele, e escutou o gemido rouco e baixo que saiu da garganta dele.

"Vamos lá pra casa hoje?" ele propôs ofegante.

"Só nós dois?" ela sorriu, cedendo ao novo beijo que se iniciava.

"Só nós dois," eles se beijaram por mais alguns segundos. "Vamos?"

Aquilo não estava nos planos dela, mas ela não podia negar. Assentiu com cabeça e recebeu um beijo empolgado como resposta e agradecimento.

"Edward, está tocando!"

Ele gemeu insatisfeito quando alguém o cutucou nas costas. Desviou seus lábios dos de Bella e pegou o celular sem nem olhar. Eles ainda se beijavam quando ele deslizou o dedo para a direita e levou ao ouvido.

"Até que enfim você atendeu!"

Ele abriu os olhos e afastou-se de Bella, congelando ao ouvir aquela voz. Bella ergueu as sobrancelhas em questionamento, e Edward praguejou-se em pensamento por não ter olhado quem ligava antes de atender à ligação.

"Edward? Responde!"

"O que foi?" ele disse ríspido do outro lado da linha. Pegou, porém, a mão de Bella para levá-la aos lábios e beijá-la, pedindo desculpas com o olhar.

"Estou aqui na The Truth! Assisti todo o seu show mas não consegui entrar, porque outra fã já tinha ido falar com você. Você tirou meu nome da lista?"

Ele passou as mãos pelo rosto, irritado.

"Sim, porque não queria te receber aqui."

Bella entendeu de quem se tratava com aquela fala. Engoliu seco e aproximou-se mais para tentar ouvir o que se passava do outro lado da linha.

"Eu não quero brigar, Ed… fala para eles me deixarem entrar na área reservada, por favor!"

"Cara, dá um tempo. Sério. Vai embora. Eu não sei nem o que você está fazendo aqui!"

"Eu vim te ver! Se você não tem consideração pelo que passamos juntos, eu tenho! Sério, eu quero conversar com você, meu lindo."

"Para com isso!" ele disse, mais uma vez irritado. Apertou a mão de Bella na sua e mordeu o lábio inferior. "Não vou autorizar porra nenhuma. Boa noite pra você."

E ele desligou o celular. Bella assistiu à cena, tendo certeza se tratar de Tanya sem que ele nem dissesse nada.

"Desculpa, Bella," ele negou com a cabeça, "Desculpa te fazer escutar isso. É que essa louca está aqui."

"A Tanya?!" Bella disse, surpresa.

"Sim," ele suspirou cansado, "Mas, já mandei ela ir embora. Esquece isso. Me perdoa."

Ela sorriu, porque ele não tinha que ser perdoado por nada. Muito pelo contrário - ela se orgulhava da firmeza com a qual ele tratou Tanya ao telefone.

"Não tem problema," ela se aproximou e beijou-o nos lábios rapidamente. "Tudo resolvido?"

"Tudo resolvido," ele sorriu, devolvendo o beijo dela.

Ela não sabia muito bem quanto tempo havia passado, perdida nos beijos e carinhos que recebia de Edward. Mas, os lábios dele já migravam pelo pescoço e orelha dela, e ela sentia calafrios de excitação, quando uma bagunça começou. Uma garrafa se quebrou, e dois seguranças correram para o pequeno portão de vidro que separava a área reservada do restante do bar. Alice e Jasper olhavam alarmados na mesma direção, e uma voz feminina gritava.

"O que é isso?" ela perguntou.

Edward se levantou e entrelaçou os dedos nos de Bella, olhando na direção da confusão. Jasper e Alice já se aproximavam dos seguranças para ver do que se tratava, e em seguida Alice gritava irritada:

"Vai embora, sua louca! Olha a confusão que você está fazendo aqui!"

"Não é possível," Edward disse baixinho e virou-se para Bella, "Fica aqui. Eu já volto."

Ela assentiu e assistiu Edward entrar no meio da confusão. Alice ainda gritava e a voz feminina devolvia xingamentos no mesmo tom:

"Cala a boca, Alice, eu não falei com você!"

"Sua mimada! Para de passar essa vergonha toda e vai embora! Anda!"

"Eu só vou sair daqui depois de falar com o Edward!"

Tanya, Bella entendeu. Era Tanya quem fazia aquele escândalo. Ela caminhou alguns passos a frente, mas, no meio do caminho, deu de cara com Alice, que era empurrada para longe da confusão por Edward e Jasper.

"Não sabe nem levar um fora! Vai embora, babaca, que ele não sente a sua falta!"

"O que aconteceu, Alice?"

A baixinha tinha as bochechas rosadas de raiva. Respirou fundo e tirou o cabelo suado o rosto.

"A idiota da Tanya está aprontando a maior confusão, porque tentou passar para a área reservada a força. Está passando a maior vergonha ali fora. Edward te falou dela, não falou?"

Bella assentiu e tentou enxergar a confusão melhor, mas havia um amontoado de seguranças e curiosos.

Alguns segundos depois, Edward voltou. Sua expressão era nervosa, ele estava suado. Respirou fundo e parou na frente de Bella:

"Me perdoa, linda. Vou ter que levar essa louca lá pra fora, ela não vai de outro jeito. Só vou levá-la e volto, ok?"

"Pede pra um segurança fazer isso, Edward!" Alice interveio, "Não fica dando trela pra essa louca, não!"

"O Aro pediu, Alice," ele pegou a mão de Bella, entrelaçando mais uma vez seus dedos nos dela, "Ela disse que vai inventar que foi assediada pelos seguranças e vai processar o bar se eu não for lá. Ele me implorou pra desfazer essa situação o mais rápido possível, e eu devo isso a ele." Suspirou cansado. "Eu já volto. Prometo."

Bella assentiu, meio transtornada. Quer dizer, ela não queria que Edward se aproximasse de Tanya, mas também não podia exigir o contrário. Ele visivelmente não estava satisfeito com aquilo, mandou ela ir embora por telefone várias vezes, e agora aquilo. Ele não estava satisfeito.

"Tudo bem," ela disse, "Tudo bem, vai lá. Fico te esperando aqui."

"Me perdoa," ele repetiu, "Me espera aqui, eu já volto. Aí a gente vai pra casa, ok?"

"Tá," ela sorriu levemente, "Não precisa se desculpar, eu entendo."

Ele ainda a fitou nos olhos por três segundos e sorriu. Beijou-a rapidamente e então foi na direção da saída da área reservada, onde um amontoado de seguranças ainda estava.

"Eu odeio essa mulher," Alice disse, sentando-se no sofá. Tomou um gole do drink que já estava esquentando e respirou fundo, "Odeio."

"Eu vi," Bella riu baixo e sentou-se ao lado de Alice. "Acho que é recíproco."

"Ah, se é." Ela encostou-se ao sofá e passou a mão na testa. "Já brigamos mil vezes, mas ainda não consegui sentar a mão na cara dela do jeito que ela merece. Podia ser hoje, mas o Jazz não deixou."

Bella gargalhou.

"Ela é muito corajosa… olha que cena."

"Não cansa de ser otária," ela negou com a cabeça, tomando mais do líquido, "Olha, fez até calor," se abanou, "Lá fora tá um frio danado, mas essa confusão toda me fez sentir um calorão."

Frio. Frio lá fora. Edward indo lá fora. Bella olhou para si mesma, ainda se vendo com o casaco de couro de Edward. Gemeu frustrada.

"Ai, saco! Edward está sem casaco! Ele vai congelar lá fora."

Alice demorou dois segundos para entender, depois assentiu.

"Vai ser rápido, ele já volta."

"Vai que eles brigam lá fora e ele precisa ficar mais?! Vou lá levar isso pra ele."

"Está louca?" Alice deixou o copo na mesa, "Não vai não. Se ela te vir interagindo com o Edward, vai dar o maior piti. Fica de fora, Bella, é melhor."

Porém, ela não podia.

"Eu vou lá," ela se levantou, "Ela nem precisa me ver. Peço um segurança para entregar para ele, sei lá. Mas, não vou deixar ele congelando lá fora por minha culpa."

Alice avaliou a situação por alguns segundos. Depois se levantou.

"Então eu vou com você. E Jasper também."

Alguns segundos depois, os três desciam as escadas que separavam a parte reservada do restante do bar. A área comum, porém, estava muito mais cheia do que eles haviam previsto. Era quase como o primeiro dia novamente, e, de mãos dadas com Alice, que tinha mãos dadas com Jasper, Bella abria caminho entre as pessoas com copos nas mãos para chegar à saída do bar.

Ela já conseguia enxergar a placa branca com as letras em vermelho que diziam "SAÍDA" quando levou um tranco e foi empurrada para frente. Alguém tinha tropeçado e trombado na corrente que os braços deles formavam, desprendendo-os. E o corredor brevemente formado foi tomado por pessoas no outro segundo, e Alice já estava perdida no meio da multidão. Bella ainda tentou gritar, mas a música estava alta demais para que pudesse ouvir sua própria voz.

Gemendo de frustração, ela respirou fundo e retomou seu caminho rumo à saída. Ela encontraria Alice e Jasper na saída, eles não estavam longe.

Quando chegou, ainda esperou pelo casal de amigos por algum tempo. Olhava ansiosa para a multidão, mas eles não chegavam.

"Precisa de alguma coisa, moça?" o segurança perguntou.

"Ah, estou esperando alguns amigos," depois, pensou em seu propósito inicial. "Na verdade, será que você podia entregar esse casaco ao Edward? Ele é da banda que tocou aqui hoje, acabou de sair por aqui."

Ela tirou o casaco e estendeu para o segurança.

"Na verdade, o meu colega foi ao banheiro, eu não posso sair e deixar a portaria sozinha. Mas, ele está ali fora ainda, o Edward. Pode ir lá se quiser, eu autorizo a sua entrada depois."

Isso não era parte do plano. Alice estava certa, ela não queria que Tanya a visse interagindo com Edward, mas Alice e Jasper haviam desaparecido. E Edward devia mesmo estar congelando lá fora.

"Tudo bem," ela concluiu, "Eu já volto."

(You and Me - Niall Horan)

Ah, que frio! foi o que ela pensou quando sentiu o vento gelado bater em seu corpo. O vento era meio úmido a chuva devia cair logo, logo. Caminhando rapidamente, Bella tentou localizar Edward e viu sua figura a alguns metros de distância. Ele gesticulava nervoso. O cabelo de Tanya sacudia com o vento, e coração de Bella se apertou ao ver os braços de Edward descobertos. Bem, os seus próprios estavam descobertos, mas ela já estava voltando lá pra dentro.

Quando estava a dez metros de distância, porém, Edward levou as duas mãos à cabeça e caminhou mais para frente, na direção de seu próprio carro. Bella franziu o cenho, estranhando, porque Tanya seguiu na direção da porta do carona. Aproximando-se mais, Bella ainda teve tempo de ouvir:

"Entra nessa merda logo então!" antes de Edward entrar no carro.

Ele bateu a porta do motorista. Tanya bateu a porta do carona. O carro foi ligado. O carro arrancou e saiu.

Bella não teve vontade de chorar. Ela teve raiva. Uma raiva que borbulhava seu peito. Ele disse que já voltava, ele disse que não queria mais conversar com ela. Ele disse que tinha acabado com Tanya. Ele disse que levaria Bella pra casa.

Mas, não foi com Bella que ele entrou no carro. Foi com Tanya.

"Caralho, que frio!" ela ouviu a voz de Alice ao lado dela, "Que confusão lá dentro, Bella, foi mal, nos perdemos. Ué, cadê o Edward?"

Bella nem mesmo desviou os olhos da direção que o carro de Edward seguia e sumia de vista. Engolindo a raiva, ela respirou fundo, esquecendo-se do frio. Que frio?! O que ela sentia era calor, calor de raiva, calor de ódio.

"Será que ele voltou lá pra dentro? Tem a entrada dos fundos também," Alice continuava a falar, "Deve ser, vamos dar a volta por dentro, porque vamos conge-"

"Estou indo embora," Bella disse, ainda olhando para a rua. Estendeu o casaco na direção da voz de Alice. "Entrega pro Edward, por favor."

"Indo embora?" Alice franziu o cenho. "Mas, ele vai te levar pra casa, vocês iam se encontrar lá em cima!"

Bella negou com a cabeça.

"Provavelmente ele se enganou, porque acabou de entrar no carro com a Tanya." E então ela desviou os olhos da rua para fitar Alice, que estava boquiaberta. "Entrega isso pra ele por mim?"

"Bella…" Alice engasgou. "Eu não… não é possível! Você tem certeza?"

"Certeza absoluta," ela assentiu. "Eu não preciso passar por essa humilhação, Alice. Eu vou embora."

Alice respirou e fitou Bella por alguns segundos. Ela não conseguia acreditar que Edward tinha feito aquilo. A raiva borbulhava dentro dela também e, solidarizando-se com Bella, fechou os olhos antes de responder.

"Você está certa." Assentiu e abriu os olhos, "Você está certa, Bella. Vamos te levar em casa, vem."

Jasper dirigia, mas não havia música no carro. Alice estava calada. Bella olhava lá pra fora em silêncio. Lágrimas teimavam em encher seus olhos, mas não lágrimas de tristeza. Lágrimas de raiva e humilhação.

Bom, que se foda. Estava tudo fácil demais.

A vida nunca era fácil assim.

As músicas originais da Answer correspondem às seguintes músicas do Dias de Truta:

Crying Soul: Na porta de um Bar

Butterflies: Babalu

Young Heart: Amor a Mil

Rascality: Patifaria

Blonde Field: Nos Campos Morena

Better Than You: Mereço um Alguém

It'll be better: O Último Presente

Light: Acorde o Sol

Presumptuous Guy: Sangue

Freedom: Sossegado

Piece of My Heart: Sincero Abraço

Smile: Caçarola

Colors: Rafaela

Not Your Business: Música do Sapo

For Her: Puro Amor por Ela

Flower: Flor Amarela

Prize of The Underground é também uma inspiração no projeto paralelo do guitarrista e do baterista do Dias de Truta, chamado Chapéu e Cabelo.

 


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Notas finais do capítulo

Ufa! Já podem respirar agora! E aí?! Estou louca pra saber o que vocês acharam! Beijos e até breve!