Eu estava me sentindo para baixo, então encontrei um mago legal

Parte 1

Estava chovendo e minha janela estava cheia de folhas marrons e amarelas trazidas pelo vento. Makkachin adorava assistir a chuva e eu adorava quando uma nova folha grudava no vidro e ela o tocava com sua patinha peluda como se quisesse pegar a folha. 

Sorri mais uma vez quando ela repetiu o ato e então livrei meus braços cruzados do peso da minha cabeça. Havíamos voltado para casa há cerca de duas horas, um pouco antes da chuva começar, trazendo com ela um enorme sentimento de melancolia – pelo menos para mim. 

Havia um mês desde que eu e Makka tínhamos visto o homem – o fantasma, o mago – no penhasco na Noruega, e às vezes, quando estava fora e via alguém que me remetesse a ele – sua aparência – de algum jeito, ficava em alerta imediatamente, mas desde o dia na floresta nenhum rosto era de fato o dele. 

Eu estava curioso, estava certo de que ele era alguém mágico, ninguém simplesmente some – duas vezes – de um lugar daquela forma, a menos que saiba como fazê-lo. 

E eu sabia como, mas não tinha como segui-lo sem saber para onde ele estava indo. 

Suspirei, observando Makka brincando com as folhas grudadas do lado de fora da janela. "Você é a coisa mais fofa que o mundo já viu." Falei, esticando a mão para acariciar seus pelinhos encaracolados. "E eu sei que você sabe disso." Ela deixou a atenção da janela para lamber minha mão. 

Mais tarde, depois de ter dado comida para Makkachin, resolvi sair um pouco para caminhar. Ainda estava chovendo, então a deixei em casa. Eu não era o maior fã de chuva, mas tudo bem caminhar sob ela às vezes, sim? Não que eu fosse me molhar, estava usando um guarda-chuva. Queria que aquela melancolia fosse substituída. Acho que estava me sentindo para baixo também pela frustração de não ter visto o fantasma, ou mago, outra vez. Minha curiosidade corria para lá e para cá dentro de mim. 

E eu queria ir para algum outro lugar. Algum lugar em que nunca tivesse ido antes. E eu já havia passado por várias ruas, não havia muito mais do que ver, eu já conhecia muito bem o bairro em que morava. 

Encarei as sementes de girassol que havia tirado da pequena bolsa que sempre carregava comigo, cuja alça cruzava meu torso. Alguns amigos sempre me repreendiam por usá-las para ir à lugares não planejados anteriormente, mas, honestamente, o que eu podia fazer? Gostava de sentir meus pés tocarem o chão para então abrir os olhos e descobrir onde as sementes haviam me levado. Era sempre uma aventura e muitas vezes elas me surpreendiam enormemente! E naquele momento eu lamentava apenas por Makkachin não estar comigo, sempre íamos juntos, mas ali prometi para mim mesmo que a levaria ao destino até então desconhecido se fosse um lugar que ela iria gostar de visitar. 

Sem demorar mais, afastei-me da rua e apertei as sementes em minha mão, sentindo-as quebrarem em minha palma e então, como sempre, tudo se tornou brevemente branco. 

Quando as cores voltaram, eram muitas: verde, verde, verde, rosa, amarelo, vermelho, marrom, branco, lilás... 

Era um jardim... Não, era muito maior do que isso. Todas as cores vinham de árvores, arbustos e flores – muitas flores. Havia uma construção alta e de formato semi-esférico e completamente dominada por ramos de plantas, pude observar. 

Mas não havia notado o banco exatamente atrás dos meus joelhos, percebendo-o ali apenas quando, ao me mover, perdi o equilíbrio na madeira e caí sentado no banco, o guarda-chuva ainda aberto em minha mão. E na minha trapalhada, notei que havia alguém mais no banco: era um homem, o homem da cafeteria, do penhasco, o fantasma, mago, e ele olhava para mim aterrorizado.