Perdido em outro mundo escrita por Lilian T


Capítulo 24
Eugênio Spriggs


Notas iniciais do capítulo

Olá, jovens leitores.
Espero que estejam gostando da fanfic.
Gostaria de pedir desculpas pela demora em postar os capítulos.
Minha vida pessoal tem andado atribulada e não tenho tido tempo de escrever na velocidade que queria. E estamos prezando mais a qualidade que a quantidade.
Felizmente, agora temos capítulo novo e você que está seguindo pode conferi-lo ali embaixo
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/756692/chapter/24

Harry e Lily estavam sentados no sofá da bela sala de estar, cada um segurando um pires e uma xícara de chá. O garoto tinha de reconhecer: fosse Slughorn ou Spriggs, o professor era um homem de gosto requintado em qualquer dimensão.

Olhando ao redor, Harry avaliou os móveis de madeira talhada e lustrosa, os quadros antigos dispostos na parede, os vasos e pratarias caras espalhados pela sala, o lustres e os castiçais reluzentes e o tapete impecavelmente limpo. tudo ali parecia muito caro, ou no mínimo, exclusivo.

O Prof. Spriggs sentara-se na poltrona ao lado do sofá, perto de Lílian, e também tomava chá.

Ele os recebeu muito bem. Logo que chegaram, acomodou-os na sala, preparou um chá e trouxe-lhes uma porção de biscoitos.

Parecia simplesmente estarrecido em ver Lílian, quase que encantado. Queria saber como estava morando, o que estava fazendo, se voltara a trabalhar, por que não lhe escrevia ou lhe telefonara de vez enquanto para conversarem. Disse-lhe que era uma das suas alunas favoritas na faculdade, pois tinha boas perguntas e tiradas muito engraçadas.

Lílian deu uma desculpa meio capenga, de que andava ocupada desde que se mudara de Londres. Mas vendo que não era um motivo muito bom, disse que desde que perdera Henry, acabara se distanciando das pessoas com quem convivia. Esclareceu que precisava se afastar para tentar seguir com sua vida.

Spriggs pareceu muito sensibilizado. Disse que sentia muito por tudo as coisas ruins que haviam se sucedido com ela, mas que a vida era mesmo assim, cheia de beleza e tragédia. E foi nesse momento que ele perguntou sobre Harry, e por que nunca soubera que ela tivera gêmeos.

Foi Lílian quem explicou toda a história do garoto ao professor.

O encontro na floresta, a identidade falsa, a viagem a Londres, de como Harry e Tiago foram  presos e como Sirius resgatou o menino com ajuda de alguns amigos. Ela revelou também que o governo estava atrás dele não pela falsificação dos documentos, mas por que tinha uma coisa que eles queriam.

Harry, então, retirou o livro envolto em papel pardo de dentro da mochila e mostrou-o para o professor, abrindo-o na parte referente a Pedra Elisiana. Lílian revelou que Harry estava em posse da tal pedra até a pouco tempo, e que por isso fora levado para interrogatório no gabinete do ministro, que realmente acreditava que o garoto viera de um outro mundo semelhante àquele em que viviam, mas sem guerras. Por isso tudo, o Ministério estava atrás deles: para usar Harry para chegar até aquela outra realidade.

— Sei que parece loucura, professor — disse Lílian com veemência. — Mas até verdade. Precisamos que o senhor traduza está parte do livro, para que Harry possa voltar antes que o Ministério o pegue.

— O Prof. Dumberton disse que o senhor poderia ajudar — falou o garoto. — Foi ele quem me deu este livro.

— Alfonso lhe deu este livro?

— Sim, senhor.

— O Prof. Dumberton também acredita em Harry, professor. Arriscou-se ao dar-lhe este livro para que ele possa usá-lo. Por que ele o faria se não acreditasse? — observou Lílian. — Por favor, poderia traduzi-lo? Só o senhor é capaz. Prometo-lhe que logo iremos embora e não lhe traremos mais problemas.

O Prof. Spriggs parecia absolutamente aturdido com toda aquela informação.

— Ora, pois... Veja bem, Lílian, isso é muita coisa para se digerir... — engrolou o professor, tirando um lenço do bolso e enxugando a testa. — Está me dizendo que este rapazinho veio de outro mundo? Precisa admitir que é essa história soa um tanto fantasiosa...

— Mas o Prof. Dumberton...

— Alfonso Dumberton é um idoso centenário. É óbvio que a caduquice finalmente o alcançou. Passou a acreditar que lendas são fatos. O que descreveu são apenas contos, um produto da imaginação humana como o Mjolnir, o martelo de Thor na mitologia nórdica, o Velo de Ouro da mitologia grega ou mesmo a tal Pedra Filosofal de Alexandre Flamel...

— Mas a Pedra Filosofal existe — disse Harry, atraindo o olhar de Lílian e Spriggs. — Pelo menos no meu mundo ela existe.

— Mas é claro, meu jovem — disse o professor em tom provocativo. — Em seu mundo existe uma pedra capaz de produzir ouro e o Elixir da Longa Vida. Sim, sim, e você vai me dizer que já a viu, é claro...

— Eu já estive com ela nas minhas mãos.

Spriggs piscou devagar. Parecia estar tentando assimilar o que ouvira e reunir um pouco de paciência.

— E agora vai querer que acredite que você a produziu com alquimia.

— Não. Eu não a produzi. Foi um homem chamado Nicolau Flamel há mais de seiscentos anos. Eu apenas impedi que um ladrão a roubasse, quando a tirei de um espelho, logo depois de passar por um cão de três cabeças e um tabuleiro de xadrez gigante.

Silêncio.

De repente, Spriggs começou a rir com vontade, como se nunca tivesse ouvido uma piada tão hilária. Demorou um momento para se recompor, limpando uma pequena lágrima que quase escapou de seu olho direito.

— Ai, Meu Deus, haha... — disse ele, ainda rindo. — E o que disse que faz mesmo em seu mundo?

— Eu sou um bruxo.

Spriggs deu um a gargalhada tão alta, que até pareciam estar no fim da noite em um bar. Harry e Lílian deixaram-no rir e, quando ele percebeu que estavam sérios, ele lentamente recobrou o senso. Virou-se para Lílian, com uma pequena rugazinha na testa.

— Isso não é uma piada? Eu cheguei a achar que era um tipo de pegadinha — o professor parecia agora desconcertado. — Tudo o que me disse então sobre Tiago e o Ministério é verdade? Estão mesmo fugindo da polícia? E você realmente acredita que este garoto veio de um mundo paralelo e é um bruxo?

Lílian fez que sim com a cabeça.

O professor percebeu que não estavam brincando e saltou da poltrona, andando muito rápido pela sala, agora bastante preocupado.

— Fugitivos, vocês disseram, e do próprio Primeiro-Ministro... Agora estão aqui, na minha sala... Ah, isso não é bom, nada bom... Se os pegam aqui eu posso ser acusado de cumplicidade... Sabe o que farão comigo, por acobertar fugitivos?... Ah, sou velho demais para esse tipo de aventura, com certeza sou...

— Professor, tudo o que precisa fazer é traduzir o livro e iremos embora, eu prometo.

— Ah, mas nem pensar, garoto... Acho que seria bom se saíssem agora. Não quero ir contra a lei, não quero problemas...

— Se o senhor nos mandar embora agora, professor, estará nos condenando — falou Lílian. — Não temos como voltar a Londres agora e seremos alvos fáceis na rua. O senhor quer mesmo que sejamos pegos?

— Claro que não, eu...

— Tudo o que tem de fazer é ler o livro e nos dizer o que está escrito, para que eu possa ajudar esse menino.

— Mas isso seria...

— O governo está atrás dessa criança. Ele estará sozinho se não ajudarmos. Eu e Tiago sabíamos no que estávamos nos metendo quando forjamos documentos para que ele tivesse uma chance de ser livre. Dumberton não hesitou em lhe fornecer conhecimento mesmo que isso o prejudicasse. Sirius não pensou duas vezes em enfrentar a polícia para poupar o garoto de apodrecer numa prisão. Tem várias pessoas se arriscando para ajudar e o senhor está com medo de ler algumas páginas de um livro?

Lílian estava muito aborrecida.

— Eu vim porque achei que o senhor tinha alguma coragem. Nunca imaginei que negaria ajuda a um garoto.

— Você não entende, Lílian. Sabe o que podem fazer se descobrirem?

— Eu sei muito bem, senhor. É o que farão comigo se nos apanharem. É o que devem estar fazendo com Tiago agora. E mesmo assim estou aqui.

Lílian cruzou os braços e fitou o Prof. Spriggs bem no fundo dos olhos.

— Eu sempre pensei que o senhor era uma boa pessoa, mas acho que devo ter me enganado.

A frase atingiu Spriggs de uma forma misteriosa. Não se podia saber se era o olhar de condenação que Lílian lhe lançou, ou o tom decepcionado que ela usou, ou se foram de fato as palavras que empregou. Contudo, o professor pareceu profundamente envergonhado diante dela.

Largo e rechonchudo como era, de súbito ficou de alguma maneira menor, e Sencolhendo-se e olhando para os próprios pés como uma criança pequena que acabou de levar bronca da professora.

Harry observou aquilo, admirado.

— Certo, certo... Vou ajudá-los — disse o professor, estendendo as mãos para Harry, que lhe entregou o livro. — Traduzirei o que me pediram, e apenas isso, está bem?

— É só o que queremos, professor.

— Me chame Eugênio, Lílian. Há muito tempo não sou mais seu professor — disse Spriggs e acrescentou com um suspiro. — Mas você ainda consegue me convencer de qualquer coisa. Venham ao meu escritório.

Harry e Lílian deixaram suas xícaras sobre a mesinha de centro e seguiram Spriggs para fora da sala, avançando pelo corredor até um grande gabinete trabalhado em madeira. Assim como na casa de Dumberton, o escritório de Eugênio Spriggs também era rodeado por prateleiras abarrotadas de grossos livros, alguns visivelmente antigos.

O professor depositou o abriu o livro sobre a mesa de carvalho do escritório antes de se dirigir até uma das estantes. Ele passou o dedo indicador por alguns exemplares, com a testa franzida. Não encontrando o que procurava, subiu as escadas para o andar de cima do gabinete e repetiu o processo até achar o calhamaço que queria. Voltou então para a mesa, onde se sentou e levou mão até a primeira gaveta, abrindo-a para apanhar um pequeno caderno e uma caneta.

Folheou então o livro de magia até ver a página que Harry lhe mostrara antes.

— Estas é um tipo de escrita já morta há muitos séculos. Talvez eu demore um pouco para traduzi-las. Vocês podem se sentar e aguardar.

— Obrigada por fazer isso, Eugênio.

— Não me agradeça ainda. Espere até que consiga ler, Lílian.

O Prof. Spriggs debruçou-se sobre o pesado volume à sua frente e se tornou alheio aos outros dois presentes. Harry e Lílian se entreolharam e, pacientemente, sentaram-se em um confortável sofá, disposto à um canto.

O silêncio então tomou conta da sala e seguiu-se por um longo tempo.

A tradução de algumas poucas páginas do livro de magia se mostrou quase um trabalho de criptografia.

Levou um bom tempo para que o Prof. Eugênio Spriggs tivesse certeza do que estava traduzindo, umas vez que aquele tipo de símbolo não pertencia ao sistema de runas habituais.

Harry Potter tinha imaginado que era apenas uma forma de caligrafia e que o texto era feito de palavras que formavam frases. Todavia, logo soube que, na verdade, o que ele acreditava ser uma única palavra era na verdade uma frase inteira como os mais diversos significados e que o texto inteiro deveria ser analisado em conjunto.

No início, ele e Lílian Parker apenas aguardaram sentados à um canto no escritório, mas vendo que o trabalho demoraria, a mulher simplesmente se ergueu, perguntou ao professor onde era a cozinha e foi providência um pequeno almoço.

Harry tentou se distrair com um dos livros na estante, mas era todos sobre traduções e línguas antigas e a maioria estava em idiomas que ele não entendia, então, logo desistiu. Decidiu que era melhor ajudar Lílian na cozinha, separando os ingredientes do almoço.

O garoto não ficou surpreso quando viu que a despensa de Spriggs tinha muito mais pães, grãos e legumes do que em qualquer outra casa que visitara. Eles também encontraram vários tipos de carnes, de salgada à defumada, num estoque feito para durar.

Lílian apanhou uma pequena porção desses suprimentos e fez um risoto, com batatas assadas e carne cozida. Ela e o garoto almoçaram na sala e foi a melhor refeição que Harry teve em muitos dias.

Spriggs preferiu comer ao lado da pilha de papel em seu gabinete. Era um homem dedicado — ou talvez apenas temeroso que ficassem na casa por muito tempo —, e fez apenas duas pausas do seu serviço disso: uma para ir ao banheiro e outra para se espreguiçar, na hora em que Lílian lhe serviu o chá da tarde.

E mesmo que o dia tivesse se arrastado em uma onda de ansiedade, a noite surgiu mais rápido do que esperavam. Lílian e Harry tinham acabado de jantar quando Spriggs surgiu na sala, carregando o livro e seu caderno de anotações.

— Demorei menos do que pensava!

— Menos? —  perguntou Harry, surpreso. Achava que ele tinha levado tempo demais, e Spriggs percebeu isso.

— É, menos! — rebateu ele, meio irritado. — Normalmente pode-se levar dias traduzindo uma página inteira, veja bem.

— Dias?

— Exato, mas eu consegui em pouco mais de doze horas. Talvez seja um novo recorde.

— Hum... E isso está certo?

— Ora, por quem me toma? É claro que está certo! — retrucou Spriggs, definitivamente irritado. — Eu não faço trabalhos mal feitos. Minhas traduções são precisas.

— Desculpe-me. Não queria ofender o senhor.

— Certo, certo, esqueça isso. Quer saber o que diz aqui, ou não?

— Mas é claro que sim. Por isso estamos aqui.

— Deixe-me comer alguma coisa antes — falou Spriggs, cortando o clímax que ele mesmo instalou. — Estou morto de fome, e acho que mal posso continuar de pé.

— Sente-se aqui, Eugênio. O jantar ainda está quente — disse Lílian, correndo para servi-lo.

Harry ficou olhando para o professor, aborrecido com aquele mudança de assunto repentina. Ele era a pessoa mais gorda que o garoto vira naquele mundo e a fartura em sua dispensa o tornava o cidadão menos propenso a morrer de fome ali. Se não se aguentava em pé, devia ser pelo peso da barriga.

Eles tiveram de esperar o professor terminar de comer e assisti-lo limpar os lábios com o guardanapo e soltar um pequeno arroto cheio de satisfação, antes de retomar a conversa.

— Então, professor, o que o senhor descobriu?

— Bem, devo dizer que não havia qualquer informação sobre como a esfera foi criada nem por quem. Isto ainda permanece um mistério — explicou Spriggs. — O que se tem ali é realmente detalhes de sua aparência, suas capacidades e como operá-las.

— Ótimo! Era isso mesmo que queríamos saber! — exclamou Harry, com um misto de alívio e alegria.

— Devo dizer que é impossível traduzir o texto inteiro ao pé da letra. Eu só consegui isto em uma determinada parte que foi descrita de forma cabalmente clara. Mas pelo que pode assimilar  o orbe é usado como um canalizador para magia.

— O Prof. Dumberton já tinha mencionado isso — falou Harry, atento.

— Mas é claro que Dumberton estaria a par dessa parte do mito. De acordo com a lenda, o Cristal de Avalon é um artefato místico capaz de criar um portal que transcende o espaço, fazendo seu portador visitar dimensões místicas. Como Dumberton acredita piamente na existências de um multiverso, ele deve supor que essas dimensões místicas na verdade são mundos alternativos à nossa realidade.

— Esta parte está implícita, mas como o orbe funciona? — perguntou Lílian.

— Como dizia, o cristal é capaz de canalizar a magia com um objetivo específico de transporte pelas infinitas dimensões. Não é descrita nenhuma outra função senão a criação de portais. De acordo com o livro, o usuário só necessita da própria esfera e das palavras certas. Também é descrito um movimento ou símbolo de triquetra para abrir o portal.

— Triquetra? O que é que é isso?

O prof. Spriggs apanhou o livro e virou a página onde havia um ali um símbolo estranho feito de três arcos estrelados interligados e inseridos em um círculo.

— É um símbolo originário das tradições celtas e tinha um grande valor de proteção — explicou Lílian. — Ele remete também a criação do universo, ao infinito em três dimensões ou a eternidade. Hoje em dia, no entanto, quase não é visto, pois esta associado a bruxaria e ocultismo, assuntos que foram banidos à quase um século.

— Ainda lembra das aulas de história, hein? — comentou Spriggs, satisfeito. Lílian apenas encolheu os ombros.

— E o que se faz com ele?

— Bem, o livro menciona símbolo deve estar inserido no encantamento. Há algo sobre movimento, mas não há como ter certeza do significado.

— Movimento, o senhor disse? — Harry começou a pensar se não era um movimento que deveria fazer com sua varinha. Mas parecia demasiado complexo. Parou por um instante, tentando fazer o desenho do símbolo no ar, com a mão direita.

Lílian e Spriggs olharam para o gesto dele com leve curiosidade, mas logo Harry retomou o assunto:

— Mais alguma coisa?

— Há também algumas palavras que deve dizer. Esta parte é muito importante, pois se refere àquela que está absolutamente compreensível sem a menor dúvida do significado.

Spriggs apanhou o caderno onde havia anotações de símbolos e suas traduções. Ali, Harry viu algumas linhas do que parecia um poema.

— É uma espécie de verso. Talvez devesse ser dito na língua original, mas o som das palavras morreu junto com a escrita, então terá de repeti-las em nosso idioma.

Harry apanhou o caderno e leu em voz alta:

"Círculo eterno, círculo de poder

Pelo tempo e espaço

Ouça o meu dizer.

Guia-me pelo infinito

Leve-me ao meu destino

Ao seu mestre deve obedecer."

O garoto olhou para Spriggs. Aquilo não parecia um feitiço.

Lembrava muito mais Rony tentando deixar Perebas amarelo ou Simas querendo transformar água em rum. Ele olhou meio cético para o professor, que apenas fez uma careta de quem diz "É isso aí mesmo".

— Aqui diz também que depois desse processo, o portal se abrirá e o usuário será transportado para onde desejar.

— Então, só tenho de pensar aonde quero ir?

— Creio que, em teoria, sim.

Harry sorriu. Aquilo não parecia ser tão difícil.

— Então, agora, só preciso da Pedra Elisiana?

— E de um lugar propício.

Harry e Lílian franziram a testa.

— O que quer dizer, Eugênio?

— Há um trecho que dá a entender que o cristal funcionará melhor em áreas propícias à utilização de seus poderes.

— Áreas propícias, o senhor diz? — Harry boquiabriu-se. — Onde seria um lugar desses?

— Acho que são áreas onde a magia funciona melhor — disse Lílian pensativa. Fez uma pausa, com a mão no queixo, antes de perguntar: — Qual o lugar mais mágico que você conhece?

— Isso seria Hogwarts — respondeu Harry, prontamente.

— Uma escola de bruxaria com certeza é um lugar onde há uma quantidade de magia acumulada — ela pensou um pouco e continuou: — Você estava lá quando foi transportado, então, suponho que deva voltar até o mesmo lugar para que tudo funcione.

— Acho que isso faz algum sentido...

— Garoto, nada disso faz o menor sentido — comentou Spriggs, que escutava a conversa com uma cara de quem sentia estar no meio de dois malucos.

— O Prof. Dumberton diz que existem mais Pedras Elisianas e que elas podem estar interligadas — contou Harry, sem se importar se soava como um louco. — O senhor leu algo que pode comprovar?

— Não havia nada do tipo no livro, mas de fato, é relatado no mito que existiam cinco desses cristais perdidos por aí.

— O Primeiro-Ministro me confessou que o Ministério já tinha em sua posse outra Pedra Elisiana.

— Isso muito me espanta — falou ele, aparentando estar verdadeiramente surpreso. —  Eu o conheci Thomas Ryder há muitos anos e ele sempre me pareceu uma pessoa de bom senso. Nunca imaginei que se pudesse levar os contos de fada à sério.

— E eu jamais imaginei que ele fosse interrogar pessoalmente um garoto de dezesseis anos, mas ele o fez —  disse Lílian. —  Não duvido que esteja mesmo se metendo com coisas surreais, como magia. Não duvido de mais nada relacionado àquele homem.

— O senhor o conheceu? — indagou Harry.

— Sim, mas isso foi a muito tempo...

— Não me diga que foi através do senhor que ele ficou sabendo sobre a Pedra Elisiana?

— Não apenas sobre ela. Eu lhe contei uma série histórias sobre outros artefatos místicos também — falou o professor, num tom de voz amargurado, esquecendo-se que não acreditava naquela história. —  Ele sempre foi muito diligente em diversas áreas de estudo. Quando nós nos conhecemos, ele ficou muito interessado em meu trabalho em linguística. Mais tarde, soube que ele também se embrenhava pela genética, química e física. Durante nossas conversas sobre a história da humanidade, acabei revelando à ele todo o tipo de lenda, apenas à título de curiosidade. Jamais pensei que ele fosse tomá-las como verdadeiras. Eu mesmo nunca acreditei nelas...

— Isso me parece algo típico dele — ponderou Harry. — Fingir interesse em alguém para poder obter informações.

— Mas não que fosse um segredo, entenda — continuou Spriggs, acanhado. — Eu só disse o que eu sabia. Eram apenas informações do meu trabalho, mitos antigos sem comprovação alguma...

— Não se preocupe senhor. O que foi feito, está feito —  falou Harry. — O que não entendo é que eu mesmo não fiz nada do que o senhor descreveu para estar aqui. Mas o Prof. Dumberton acredita que alguém neste mundo fez. Alguém do Ministério estava fazendo algo relacionada à este encantamento e acabou me trazendo para cá. Foi por isso que o professor disse que as pedras podem estar ligadas.

Harry ficou estarrecido. Mesmo que não houvesse magia naquele mundo, os agentes do Ministério foi capaz de usar uma Pedra Elisiana e trazê-lo para aquela realidade, mas não conseguiram transportar a si mesmos. Aquilo significava que eles já deviam saber fazer o ritual do feitiço.

Agora, porém, não tinham apenas uma esfera mágica, mas duas e a posse de uma varinha. Será que isso seria o suficiente para conseguirem, ou ainda precisariam de Harry? Será que sabiam que precisavam de um lugar que atraísse magia como Hogwarts? Harry não os vira no alto da montanha quando se materializara naquele mundo.

Um lugar especial, a Pedra Elisiana, o movimento correto de sua varinha e as palavras certas eram o que ele precisava para voltar para casa.

Sabia o que tinha de fazer, e no entanto, continuava muito longe de seu objetivo.

— Pois bem, se já acabamos, acho que vou aceitar a sobremesa agora, Lílian — falou Eugênio Spriggs empurrando o livro para o lado, e voltando a se sentar à mesa, tentando ignorar aquele assunto que já não lhe dizia mais respeito.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E chegamos ao fim.
Espero que tenham gostado do capítulo.
Tenho andado meio ocupada então está difícil de postar a história com frequência. Mas não desanimem, pois não pretendo abandoná-la tão cedo. Obrigada pela paciência e boa semana!
Bye!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Perdido em outro mundo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.