Perdido em outro mundo escrita por Lilian T


Capítulo 12
De volta à hospedaria


Notas iniciais do capítulo

Oi jovens!
Espero que estejam gostando da minha história.
Essa é a primeira fanfic que escrevo então... vocês já sabem, seus comentários e criticas são muito importantes para mim.
Não deixem de dar sua opinião!
Dito isso, vamos lá para o texto!



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Multiverso é um termo para descrever um hipotético grupo de universos possíveis. A realidade em que vivemos pode ser apenas mais uma entre um infinito de variações.

Existem um número imensurável de versões de nós mesmos, algumas fazendo exatamente a mesma coisa que fazemos agora. Outras, vivem vidas completamente diferentes.

O que alguém pode encontrar quando atravessa a barreira entre os universos?

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Assim que Matilda Wallace fechou a porta, Harry olhou para seus companheiros.

Ronald e Eveline estavam parados ao lado um do outro, muito próximos, unidos por um ar de desaprovação que se tornava ainda mais evidente enquanto encaravam o garoto.

Diferentemente do Prof. Dumberton, nenhum deles parecia ter acreditado na história de Harry, tanto a parte referente à ter vindo de um outro universo, quanto aquela em que dizia-se um bruxo.

O fato de carregar um livro de magia que fora banido do país debaixo do braço, um cristal de origem duvidosa em um bolso interno do casaco e um graveto que afirmava ser uma varinha mágica em outro, também não ajudava. Eveline e Ronald não duvidavam que a posse de um único objeto daqueles já seria suficiente para levá-los a uma breve visita à prisão.

A expressão dos garotos fazia Harry sentia-se mal.

Ele não queria que pensassem que estava fazendo-os de bobos, mas não conseguia pensar em uma maneira de fazê-los acreditar que fora sincero. Dissera a verdade ano escritório de Dumberton e ainda assim os dois se sentiam enganados de alguma forma.

Todavia, quando Eveline falou sua voz tinha um timbre educado e pratico.

— Escute, se vai voltar com a gente, guarde esse livro na minha mochila. Não quero que me vejam perto de um livro desses. Podem achar que Ronald e eu estamos envolvidos nessa sua loucura.

— Devíamos deixá-lo voltar sozinho, Evy— falou Ronald muito menos disposto a ajudar do que sua amiga. — Se nos pegam com isso...

Eveline, no entanto, abriu a mochila e tentou colocar o livro lá dentro, mas estava tão abarrotada que não sobrou espaço. Ela olhou para Ronald, que também tinha uma mochila e parecia bem mais leve do que a da garota.

— Não — falou o ruivo percebendo o que ela queria. — Não vai colocar isso na minha mochila. Não vou ajudar nessa palhaçada.

— Ah, Ronald, vamos logo! — retrucou a garota olhando feio para ele. — Estamos perdendo tempo aqui, parados na rua com esse livro à vista.

— Aff, está bem — rosnou ele, tirando a mochila das costas. Ele tomou o livro de Harry e meteu-o dentro da bolsa. Depois, entregou a mochila ao garoto. — Aqui está. Posso até guardar para você, mas não vou carregar esse peso todo.

Harry apanhou a bolsa e jogou-a sobre o ombro. estava bastante pesada com aquele grande volume acrescentado aos poucos livros de Ronald.

Os três seguiram pela calçada cheia de neve.

A rua estava deserta, à exceção de uma mulher que caminhava na direção deles, carregando nos braços uma sacola de compras, escorregando vez ou outras na calçamento congelado. Os garotos estavam chegando à esquina, quando ela topou com os três.

Eles fizeram uma fila indiana para dar espaço para que a mulher não tivesse de pisar na neve, mas justamente na hora em que estava passando ao lado de Harry, ela levou um escorregão.

Tudo aconteceu muito rápido.

A mulher soltou a sacola e agarrou a mochila nas costas do garoto, para não se espatifar no chão, enquanto um barulho de algo se rasgando encheu o ar; Harry sentiu a pesada bolsa escorregar de seu ombro ao mesmo tempo que se virava de pressa para tentar aparar a queda da mulher. No segundo seguinte, havia uma mulher loira sentada no calçada, com uma mochila nas mãos e ao lado de algumas frutas e verduras espalhadas pelo chão.

— Desculpe — pediu ela, quando Harry à ajudava a se levantar com dificuldade.

— Não foi nada — disse Harry, ajudando-a a se levantar. — A senhora se machucou.

— Estou bem, obrigada — respondeu, levando a mão pouco acima das nádegas e esfregando onde batera. Ela olhou para o chão, viu a mochila rasgada e a apanhou. — Sinto muito pela bolsa. — Ela olhou pelo buraco recém aberto e viu os livros ali. — ela não aguentou o peso.

Ela estendeu a Harry que a avaliou. Havia um grande rasgo próximo ao zíper, mas nada que não pudesse ser consertado. O livro que Dumberton dera-lhe ainda estava lá, preenchendo quase todo o espaço.

A mulher logo terminou de recolher seus objetos no chão com a ajuda dos garotos. Por fim, ergueu a cabeça e deu uma boa olhada nos três.

— Obrigada pela ajuda e desculpe novamente pela mochila. Tenham um bom dia.

E se afastou.

— Essa mochila era quase nova — resmungou Ronald, olhando o estrago com desagrado.

Os três avançaram pela rua sem qualquer outro encontro. Eles esperaram o ônibus por quinze minutos muito quietos e, quando ele chegou, eles embarcaram em silêncio.

Desta vez, Ronald e Eveline se sentaram juntos e evitaram olhar para Harry, que sentou-se no banco ao lado do deles e passou a viagem inteira olhando pela janela, pensativo.

Demoraram mais para voltar, pois o caminho havia sido bloqueado por uma escavadeira que quebrara durante o trabalho de demolição de um prédio em ruínas, de modo que já chegaram à livraria dos Graham quase na metade da tarde.

— Obrigada por sua ajuda... — disse Harry, mas Eveline não respondeu. Deu-lhe às costas e entrou na loja sem olhar para ele.

O garoto queria se despedir, mas não podia culpá-la por tratá-lo assim. Se estivesse no lugar dela, também pensaria que ele era um mentiroso. Harry baixou a cabeça e seguiu com Ronald, ainda em silêncio, de volta para a estalagem da família do ruivo.

Foram recebidos por um grito agudo:

— HARRY!

O garoto só teve tempo de olhar para o lado e ver um borrão de cabelos vermelhos, antes de ser envolvido em um abraço muito apertado. Harry ficou parado, sem reação, enquanto Ronald aproveitou o momento para se esgueirar para longe da bronca.

— O que estava pensando? — bradou Lílian, desfazendo o abraço, para encará-lo enquanto o segurava pelos ombros. — Saiu sem avisar e sumiu o dia inteiro!

Ela tinha os olhos marejados. Harry sentiu-se muito envergonhado e não soube o que dizer.

— Eu...

— Faz ideia o quando ficamos preocupados? — continuou a Sra. Parker. — Graças aos céus, você está bem! Pensei que tinha acontecido-lhe alguma coisa.

— Sinto muito... Me desculpe...

Lílian ainda olhava-o feio, mas seu queixo tremeu levemente e ela voltou a abraçá-lo. Harry hesitou um instante, antes de retribuir o aperto.

— Viu só, Lils? — falou o Sr. Parker se aproximando deles, sua bengala fazendo "toc, toc" a cada passo. — Eu disse que ele iria voltar.

Lílian soltou-o do abraço e o garoto se assustou quando se virou para Tiago, pois parado ao lado dele havia um homem que Harry achou que jamais tornaria a ver.

— Sirius?

— Olá — cumprimentou ele, então virou-se para o amigo: — Você não disse que tinha falado de mim para o garoto, Tiago...

— E não falei — respondeu o outro, surpreso.

O momento ficou suspenso no ar, estranhamente. Foi Lílian quem resolveu intervir:

— Esse é Sirius Grey — disse, acrescentando com um olhar significativo. — Você se lembra dele, é o padrinho do seu irmão.

— Eu lembro — disse Harry, seguindo a deixa da Sra. Parker para continuar com o  disfarce. — Como vai, Sirius?

— Ótimo — com um olhar perspicaz, o homem estendeu a mão à Harry, que a apertou. — Por que não vamos nos sentar e conversar um pouco?

— Claro.

Os quatro seguiram para a sala de jantar e se sentaram em uma das mesas perto da janela. A Sra. Parker pediu uma fatia de bolo de trigo e uma xícara de chá para cada um deles. O estômago de Harry roncou quando a Sra. Winston apareceu, trazendo a bandeja. Eles se serviram e, quando ela se afastou, Tiago iniciou o assunto:

— Sirius já está sabendo de tudo — disse o Sr. Parker, e emendou em voz baixa: — Você fugiu para ver Dumberton, não foi, Harry?

— Sim, eu fui. Tive de ir — falou o garoto diante do olhar de reprovação de Lílian. — Precisei sair às escondidas porque se eu contasse não me deixaria ir. Era importante.

— Pelo menos deve ter descoberto alguma coisa, não? — perguntou Lílian, em tom seco.

— Descobri, sim. O professor ajudou muito.

Lílian piscou, contraindo os lábios.

— E?

— Bem, ele disse que eu devia procurar o Prof. Spriggs, em Sheffield.

— Eugênio Spriggs? — repetiu Lílian, erguendo as sobrancelhas, espantada.

Tiago deu uma risada e Harry o fitou, sem entender.

— É que conhecemos o Prof. Spriggs. Ele foi nosso professor de história no dois últimos anos da escola — explicou ele, olhando divertidamente para a esposa. — Lílian era sua aluna favorita e espalhava para todo mundo.

— Eu lembro — falou Sirius, sorrindo. — Dizia que Lílian tinha um futuro brilhante. Que era super inteligente, engraçada, criativa... Para mim, ele tinha um xodó por você, Lílian.

— Para com isso, Sirius! — retrucou ela, constrangida, enquanto os outros dois riam.

— Você era mesmo a aluna favorita dele? — indagou Harry.

— Bem, era... acho que era sim.

Harry tomou um golinho de chá. Era óbvio que o Prof. Spriggs devia ser uma versão do professor Slughorn. Se fosse, seria bem mais fácil convencê-lo à ajudá-lo.

— Será que poderia me apresentar à ele?

— Faz muitos anos que não o vejo, mas acho que posso ligar para ele — disse, quase desanimada. — Mas primeiro temos de sair de Londres.

— Então temos de sair o mais rápido possível — concordou Harry. — Agora que falei com Dumberton, não há porque esperar.

— Exatamente.

Lílian sorriu brevemente. Mas Sirius os interrompeu.

— Não acho que seja prudente dirigir na neve à noite por uma distância tão longa — observou Sirius. — Mas se tem de ir, é melhor saírem enquanto há luz do dia.

— As malas estão prontas — disse Lílian. — Só temos de pegar no quarto e colocá-las na caminhonete.

— É melhor eu ir buscar o carro — falou Tiago, levantando-se. — Está em um estacionamento aqui perto.

— E eu vou fechar a conta na recepção.

Os Parker saíram da mesa, deixando Harry sozinho com Sirius. Os dois se encararam por um momento, o garoto sentindo um misto de alegria e aperto no peito.

— Quando Tiago disse que você era igual ao Henry, eu não achei que fosse tanto. É exatamente idêntico, exceto por esta cicatriz em sua testa — ele tomou um golinho de chá. — Como sabia meu nome?

— Pode achar estranho, mas conheci um homem que também era muito parecido com você. O nome  dele era Sirius Black.

— Era?

— Ele morreu.

— Tiago disse que seus pais também se chamavam Lílian e Tiago — observou ele —, mas também se foram, não é?

— Sim.

— Isso parece ser coincidência demais — Sirius lançou um olhar sorrateiro. — Sabe, não acho que você tenha esquecido como veio para aqui. Penso que se lembra muito bem, mas não quer contar.

— E porque acha isso?

— Se tivesse esquecido mesmo, por que a insistência em ver Dumberton e Spriggs? Não, acho que não quer contar porque tem coisa aí, mas não sei o que é. Mas você é parecido demais com Henry para Tiago e Lílian sequer se importem com isso.

Harry ficou olhando para Sirius. Não sabia se ele queria ajudá-lo ou se estava tentando livrar o casal do garoto.

— Eu também não me importo — disse o homem de repente, sorrindo. — Eles querem te ajudar e então farei o mesmo, Harry Potter.

Ele estendeu a mão e Harry apertou-a, sorrindo.

— Obrigado — agradeceu. Hesitou um instante e acrescentou: — Sabe, Sirius Black, era meu padrinho.

Sirius Grey piscou.

— Eu já imaginava que era.

Terminaram de tomar o comer o bolo e tomar o chá. Lílian ainda estava fechando a conta e Tiago não voltara. Harry decidiu guardar o livro na mala e devolver a mochila de Ronald. Ele pediu licença a Sirius e saiu da mesa.

Chegando no quarto, ele tirou o pesado livro da bolsa e colocou-o junto com a Pedra Elisiana e o Mapa do Maroto dentro de sua mala, conservando consigo apenas a varinha. Saiu do quarto pouco depois, carregando a mochila de Ronald, sabendo bem que o ruivo devia estar em seu quarto ainda zangado com ele.

Chegara à escada que levava ao andar de baixo quando encontrou Gina Winston subindo.

— Olá.

— Oi. Soube que estão indo embora.

— É, só vou entregar a mochila que Ronald me emprestou — ele indicou a bolsa estragada.

— Ele matou aula e voltou para casa chateado — disse ela, mirando-o bem. — Vocês estavam juntos, não?

— Estávamos. Ele e Eveline me acompanharam à um lugar, mas as coisas não saíram como eles esperavam.

— Eveline foi também? — perguntou Gina, meio corada.

— Foi. Ela também está chateada comigo. Acho que os dois irão continuar agora que vou embora.

— É uma pena. Ronald estava andando emburrado porque achava que Eveline estava gostando de você — contou Gina. — Também achei. Eu não a culparia, sabe?

Harry ergueu as sobrancelhas.

— Vou sentir sua falta. Mas você tem nosso endereço — continuou ela. — Você poderia me escrever ou telefonar.

— Isso seria ótimo — disse Harry, sabendo bem que se tudo desse certo para ele, jamais voltaria a ver aquela versão de Gina. Aquilo deixou triste, principalmente quando viu a animação da garota. — Você poderia entregar isso ao Ronald para mim e dizer-lhe que sinto que sinto muito pelo rasgado e pelo resto?

— Claro.

— Obrigado, Gina. Foi bom te conhecer — ele entregou-lhe a bolsa.

A ruiva hesitou um instante, então, deu-lhe um abraço e um beijo na bochecha, antes de lhe lançar um sorriso e sair correndo para o andar debaixo. Harry ficou ali parado, sentindo o lugar onde ela encostara os lábios. Porque as coisas não podiam ser assim em seu mundo?

Ele voltou para o quarto, sentindo-se confuso.

Naquele mundo havia uma Gina solteira e que gostava dele, Sirius estava vivo e Harry tinha pais. Se deixasse de lado aquela história de bruxaria e se esforçasse, talvez fizesse as pazes com Ronald e Eveline. Naquele mundo, Harry não era O Eleito e nem tinha o dever de destruir um bruxo das treva assassino.

Enquanto pegava as malas, pela primeira vez, pensou se realmente queria voltar para seu mundo.

Sua cabeça zumbia tanto que parecia uma sirene.

Mas, espere um instante... Não parecia uma sirene. Era uma sirene!

De repente, chegou ao seu ouvido o barulho de gritos e pessoas correndo. Ouviu passos apressados no corredor e Lílian entrou disparada no quarto.

— Deixe tudo aí e corra!

— Mas...

Harry olhou para a mala em que acabara de guardar a Pedra Elisiana e o livro que Dumberton lhe dera.

— Agora!

Lílian agarrou-lhe o braço e o arrastou para fora do quarto. Ele viu pessoas saindo pelo corredor, tropeçando enquanto tentavam chegar ao piso térreo. Uma criança chorava e algumas pessoas gritavam, meio em pânico.

— O que está acontecendo?!

— Bombardeio — exclamou por cima dos gritos. — Devemos tpouco mais de dez minutos para ir para o abrigo!

— Mas minhas coisas...

— Não importa! Não pode levá-las para lá, não tem espaço!

— E se forem destruídas?! Saqueadas!

— Não importa! Se ficar aqui, vai ser seu fim. Vamos!

Eles se galgaram pelas escadas, descendo às pressas. Os hospedes da estalagem corriam para a saída espremendo-se de dois em dois pela porta. Tiago e Sirius estavam ali, esperando por eles.

— Onde é o abrigo? — indagou Tiago.

— Tem um há uma quadra daqui. Vamos!

Eles correram para fora.

Sirius apoiava Tiago, fazendo quase com que saltasse numa perna só, pois a prótese não o deixava correr muito rápido. Lílian e Harry permaneciam ao lado deles, seguindo mais lentos do que a maioria dos outros bretões que deixavam suas casas e avançavam na mesma direção. Idosos e crianças tinham dificuldade de acompanhá-los e acabavam ficando para trás.

No meio daquela confusão, Harry reconheceu a voz da Sra. Weasley:

— Onde está? Onde está?

Ouviu o grito de Rony em resposta:

— Não sei! Estava bem atrás de mim!

Harry olhou para o lado e viu os dois parados, definitivamente apavorados, enquanto todos passavam por eles.

— Você perdeu ela?! — a senhora ruiva chorava.

Harry percebeu havia algo errado, deixou Sirius e os Parker  e correu até a dupla.

— O que aconteceu?

— Gina não está aqui! Ela estava bem atrás de nós, mas sumiu!

— Deve ter voltado para casa — exclamou Ronald, pálido. — Eu vou buscá-la!

— NÃO! — gritou a Sra. Winston agarrando o braço do rapaz, em pânico. — Não pode voltar! Não há tempo.

Ronald tentou se desvencilhar do aperto da mãe, mas o medo de perder dois filhos deixava-a com uma força sobre humana. Harry não pensou duas vezes e saiu correndo na direção contraria à multidão. Ouviu a Sra. Winston chamando-o:

— Harry, espere!

— HARRY! — o grito de Lílian chegou aos seus ouvidos.

— LÍLIAN, NÃO! — a voz de Sirius cortou o ar, e mesmo sem olhar para trás, Harry soube que ele devia tê-la agarrado para impedi-la de ir atrás do garoto.

Harry correu de volta para a estalagem, desviando as pessoas que avançavam pela rua. Pulou os degraus e atravessou a porta da hospedaria que estava deserta.

— Gina! GINA!

Ele avançou pelo andar térreo chamando-a, seguindo em direção à ala destinada às acomodações dos Winston. Encontrou Gina deixando o quarto dela.

— Gina!

— Harry? — exclamou ela, arregalando os olhos de espanto.

— O que está fazendo aqui?

— Tive de voltar... Deixei uma coisa importante para trás...

— Mais importante que sua vida, não deve ser. Vamos sair daqui!

Ele agarrou-lhe a mão e puxou-a para que o seguisse. Os dois atravessaram a sala de jantar, dispararam pelo hall e se lançaram-se porta a fora, pulando os degraus da entrada da estalagem como se nem estivessem ali.

— Sabe onde fica o abrigo?

— Sei — disse Gina, a voz mais alta que a sirene que continuava a tocar. — Está a duas quadras daqui. Vem comigo!

Gina tocou a frente e Harry a seguiu, correndo um passo atrás. Não havia mais ninguém se movendo na rua e eles avançaram pelas calçadas congeladas, deslizando vez ou outras no gelo no chão. Logo, conseguiam ver a entrada do abrigo que levava ao subsolo no final da rua.

— Vamos conseguir! — exclamou Gina, acelerando o passo.

Mas mal havia dito aquilo, Harry ouviu acima do barulho da sirene um ronco de motor. Ele olhou para cima e viu, num vislumbre a silhueta escura de um avião. No segundo seguinte, o som de um assobio tão alto que o deixou em pânico.

— PARA O CHÃO!

A voz de Harry foi abafada pelo barulho Gina entendeu o que ele disse. Ela se atirou no chão e o garoto se jogou sobre ela ao mesmo tempo que a bomba caia em um dos prédios do outro lado da rua, atrás deles.

Houve uma explosão estrondosa. O chão abaixo deles estremeceu e uma nuvem de fumaça e escombros soterrou-os quando o edifício veio abaixo, um amontoado de tijolos, ferro e pó que tornava impossível tragar o ar e respirar. Uma dor horrível no crânio, a sensação de esmagamento e, por fim, escuridão.

* * *

Vozes distantes.

Harry tentou se mexer, mas não pode. Sua cabeça latejava e sentia algo viscoso escorrer sobre seu rosto.

Sua boca estava seca e ele não conseguia respirar.

Sentiu algo se movimentar minimamente abaixo dele. Gina? Queria chamá-la, só que seus lábios não se mexiam. Tentou abrir os olhos e não conseguiu.

Vozes mais próximas, incompreensíveis.

Fez força para ouvir o que diziam, contudo, a dor em sua cabeça aumentou de forma insuportável. Então, o silêncio reinou subitamente.

* * *

Quando Harry abriu os olhos as coisas estavam fora de foco e ele não conseguiu identificar onde estava. Sua cabeça doía como se tivesse sido acertada por um balaço particularmente preciso e violento. Ele tentou ergue-la, mas sentiu uma pontada particularmente dolorosa e desistiu.

— Ele acordou.

Era a voz de Sirius.

Harry viu as silhuetas de Tiago e Lílian se erguerem ao lado da cama, seus rostos apenas um borrão indecifrável. Todavia, eram eles, com certeza. Ao pé da cama, viu o vulto de Sirius, que entregou algo a Tiago, que por sua vez estendeu à Harry.

O garoto apanhou e notou que eram seus óculos. Colocou-os no rosto e tudo entrou em foca.

— Eles tinham perdido uma perna, mas conseguimos consertar — disse Sirius. — A lente teve um arranhão, mas não dá para usar por enquanto.

Havia uma marca mais ao canto da lente, mas se Harry se concentrasse em outra coisa no ambiente, poderia até esquecer que estava ali.

— Foi uma sorte não ter se quebrado.

— Uma sorte mesmo foi ele ter sobrevivido — disse Lílian.

Harry voltou-se para o rosto dela, cujos olhos estavam marejados. Havia alegria neles, mas sua expressão era severa. Parecia estar oscilando entre o alívio de vê-lo vivo e a preocupação por ter fugido dela antes de um ataque aéreo.

Tiago por sua vez, estava mais pálido do que o normal e parecia assustado com toda aquela situação. Harry se lembrou que Henry Parker também fugira-lhe no inicio de um bombardeio e voltara a casa de acabara de deixa apenas para perder a vida. E Harry fizera a mesma coisa, sem que Tiago conseguisse detê-lo. Ele devia ter revivido o momento da morte do filho enquanto o garoto o permanecia desacordado.

Harry sentiu-se culpado e desviou o olhar. Foi quando reparou que encontrava-se deitado em uma cama do que parecia ser uma ala hospitalar.

— Onde estou?

— Depois do bombardeio, nós o encontramos — explicou Sirius. — Estava meio soterrado por um monte de escombros de um prédio que caiu. Foi mesmo uma sorte que os estilhaços do prédio não o tenham atingido em cheio. Ainda assim, você levou uma pancada forte na cabeça, talvez feita por um fragmento de tijolo... Você não se mexia e o trouxemos para o hospital. Os médicos disseram que você teve uma contusão.

— E Gina? — perguntou o garoto, alarmado.

— Ela está bem — contou Lílian. — Também estava desmaiada quando a achamos, mas foi mais pelo sufocamento causado pela fumaça e o pó. Não está ferida, já que você a protegeu da maior parte do impacto.

— Você é praticamente um herói — disse Sirius, sorrindo com gosto. — Já imaginou que faria algo assim alguma vez?

O garoto tentou sorrir, mas sua cabeça deu outra pontada e ao invés disso fez uma careta.

"Ah, se você soubesse", pensou Harry cuja vida de resgates e atos heroicos, incluíam impedir um roubo, escapar de aranhas gigantes, matar um basilisco e enfrentar um dragão, além de já ter salvado não apenas Gina uma vez, mas também o próprio Sirius. Pena que não conseguiu repetir o feito com o padrinho no último verão.

— E onde ela está?

— Veio para o hospital — informou Lílian —, ficou um pouco em observação e depois recebeu alta. Voltou com Marta e Ronald para dormirem no abrigo.

— A casa deles foi destruída?

— As bombas caíram no mesmo quarteirão, mas sabemos que nenhum atingiu o prédio deles — falou Sirius, coçando o queixo. — Ainda assim precisam ter certeza de que a estrutura não foi abalada. Amanhã mesmo o Ministério mandará alguém. Por enquanto, ficaram o abrigo e nós no hospital.

— E é seguro? Quer dizer, os aviões não voltarão?

— Não está noite.

— Noite?

— É, você ficou desacordado por mais de seis horas. Já passa da meia noite.

— Ficará no hospital em observação até amanhã por causa do ferimento no crânio — falou Lílian. — Ficará até que tenhamos certeza que está tudo bem.

— Mas não podemos esperar. Temos de ir a Sheffield...

— Iremos assim que o médico liberar. Você sofreu uma pancada forte e sangrou muito.

— Estou bem — Harry tentou se erguer na cama, mas sentiu uma pontada aguda no lado esquerdo do crânio e ficou tonto. Levou a mão a cabeça e notou que estava enfaixado.

Deixou-se cair pesadamente sobre o travesseiro. Lílian puxou o cobertor mais próximo à seu queixo.

— Descanse.

O garoto não tinha outra opção. Se estivesse em Hogwarts, Madame Pomfrey já teria dado um jeito nele e Harry já estaria de pé. Mas não havia nenhum feitiço ou poção que acelerasse sua recuperação e ele teria de se contentar com um atendimento de médicos trouxas, que pareciam estar bem atarefados. Mesmo sendo noite, Harry escutava o som de passos e pessoas falando em murmúrios rápidos e alarmados. Um menino com uma pancada na cabeça parecia ser o menor dos problemas naquela noite.

Ele olhou para o teto branco e com rachaduras. Imaginou se teriam sido causadas pelas explosões das bombas ou se estava ali apenas por falta de manutenção mesmo. No momento seguinte, antes que qualquer outro pensamento invadisse a mente, adormeceu novamente


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Notas finais do capítulo

Oh, um desastre!
Bem, a partir daqui espero deixar as coisas um pouquinho mais agitadas.
Para saber o que irá acontecer com Harry acompanhe o próximo capítulo.
Deixe aí mos comentários o que vocês acharam disso.
Até outra hora. Bye!



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