Onze anos atrás eu fui embora da minha cidade natal. Não foi algo realmente extraordinário. Não, nem perto. Apenas uma garota de 18 anos com o sonho de estudar fora. E eu fui.

Estudei muito, trabalhei muito, juntei algum dinheiro e aproveitei intensamente cada segundo. Mas agora era hora de voltar para casa. Reencontrar meus pais, avós e, claro, minha irmã mais nova.

Nesse momento, eu atravessava o portão de desembarque do aeroporto da cidade vizinha a quem eu morava, já que Forks não possuía nem isso.

Avistei papai quase instantaneamente, ele segurava uma daquelas placas bobas com o meu nome – Bella Swan – destacado e cheio de enfeites como corações e flores. Rindo, corri até ele, sentindo o cheiro que muito me fez falta.

— Bem vinda de volta, garotinha. – revirei os olhos para o apelido, já era uma mulher feita, formada e pós-graduada, mas meu pai não perdia a mania do apelido. – Sem revirar os olhos, mocinha.

Ri, o abraçando de novo. Era bom estar em casa.

Papai pegou a minha mala, esquecida no chão, e nos dirigimos para fora, entrando no carro e seguindo para casa.

Como sempre, o clima era frio e úmido, mas era a única coisa que permanecia igual, enquanto passávamos pelas ruas, era possível ver as mudanças na cidade. Novos lugares tinham sido feitos, e o comercio estava visivelmente maior.

Não muito tempo depois de entrarmos no carro eu pude ver a faixada clara da minha antiga casa.

Quando chegamos minha mãe já estava nos esperando com, graças a Deus, o jantar quase pronto. Fui abraçada e beijada mais 3 vezes, por ela e meus avós paternos que moravam ali.

— Agora já chega. – minha mãe disse quando agarrei minha avó. – Você já pode ir para o banho.

Eu ri, mas fiz o que ela mandou.

Quando desci de volta para a sala, minha irmã Alice já estava ali. Nós duas gritamos feito loucas e nos abraçamos muito.

— ALICE! – gritei, enquanto pulávamos em volta uma da outra.

Perdemos o folego alguns minutos depois e nos jogamos no sofá, ouvindo a reclamação de alguém que eu não identifiquei.

— Estava com saudades, sua pirralha. – disse a ela, que revirou os olhos e meus cabelos.

— Não me faz te mandar de novo pra bem longe, Bellinha.

— Argh. – reclamei. – Você sabe que eu odeio esse apelido. – ela deu de ombros, nossa saudade já completamente esquecida, dando lugar ao constante desejo que eu tinha de assassiná-la.

Mamãe nos chamou para jantar quase depois, e foi no meio de tanta risada e conversa alta que eu me dei conta do quanto amava e sentia falta da minha família.

...

No outro dia, logo que acordei fui tomar um banho. Era sempre frio em Forks e eu precisava me acostumar com isso outra vez.

Quando cheguei ao andar de cima, já com roupas mais quentes, só Alice estava na mesa tomando café, concentrada em alguma coisa no celular.

— Bom dia. – murmurei ao dar um tapa de leve na mão dela, fazendo o celular saltar e cair em seu colo.

— Eu te odeio, Isabella. – falou enquanto eu ria.

A verdade era que eu preferia mil vezes que me chamassem de Bella, Isabella era muito formal.

— Também te adoro, mana. – peguei leite e cereal e despejei na minha tigela.

Conviver tanto tempo com minhas crianças no consultório me deixava com algumas manias deles.

— Você tem planos para hoje? – Alice me perguntou, tirando uma mexa do cabelo escuro do rosto.

— Ficar em casa de pijama e assistir filmes o dia inteiro parece bom para você? – perguntei séria, sabendo que ela odiaria.

— Você é tão monótona, Bella. – ri. – Tem tanta gente ansiosa para te ver e você ai, entocada.

— Ainda é domingo, as pessoas vão ter o resto da vida para me verem aqui. Alguma notícia que você queira me dar, preciso me atualizar.

Ela sorriu descaradamente e estendeu a tela do celular que eu tinha derrubado.

— Esse não é o cara que você tinha uma queda? O irmão da Rosalie?

A tela mostrava a página do facebook, e uma foto de Rosalie, sempre loira e linda, com seu irmão mais velho, se destacava, na legenda estava escrito: Bem vindo de volta, irmãozão.

— Alice! – sussurrei, olhando para os lados, não querendo que alguém ouvisse. – Para de dizer essas coisas. – minha irmã revirou os olhos iguais aos meus.

— Não seja boba, Isabella, você não é mais uma criança.

— Por isso mesmo, Edward deve ser até casado já, e você falando besteira.

— Bobagem. – fez um gesto no ar com a mão, como se eu fosse completamente insignificante. – Eu pouco me lembrava dele, segue um gato, não é?

Quase fiquei vermelha, mas concordei, porque não tinha como não concordar com aquilo.

Cabelo acobreado, olhos verdes, o sorriso mais gentil do mundo. Edward Cullen continuava lindo, minha memória era patética perto da realidade.

Assim como eu, Edward tinha saído de Forks para cursar alguma coisa inteligente longe dali. Perdemos o contato logo em seguida, eu nunca mais soube dele, ou de sua irmã.

— Vocês nunca mais se falaram? – Alice perguntou, externando meus pensamentos.

— Não, essa é a primeira vez em anos que vejo uma foto dele. – ela revirou os olhos.

— Bella, já está mais do que na hora de criar um perfil no facebook, né? Por favor, se atualiza. – dei um tapa de leve no braço dela, pouco ligando para a minha falta de vida virtual.

Minha irmã voltou seus olhos para o celular, muito interessada na foto de Edward que ainda estava ali.

— Quem sabe agora vocês tenham a chance de viver esse tórrido romance. – dramatizou.

— Ah, cala a boca. – murmurei, tentando evitar ficar vermelha.

— Todo mundo sabe que vocês se pegavam, Bella.

— A gente não “se pegava” – me defendi, sabendo que estava mentindo.

A verdade era que a gente “se pegava” sim.

Edward foi a minha aventura adolescente. Bonito, mais velho, popular, irmão da minha amiga. Todas as garotas queriam tirar proveito, mesmo que um pouco. Mas ele disse que gostava de mim, então, por algumas semanas nós ficamos juntos, antes de toda a loucura da faculdade acontecer, afinal, era só um romance adolescente. Mas é claro que a minha irmã, com 11 anos na época, achava tudo o ápice do romantismo.

Balancei a cabeça, deixando pra lá.

— Não sabia que ele estava voltando. – falei para Alice, que assim como eu ainda analisava a foto.

— Eu soube agora, ele se mudou tem vários anos, que bom que está voltando.

— É, que bom... – sussurrei.