Primeiro Disparo escrita por Heringer II


Capítulo 4
Mundo Distorcido


Notas iniciais do capítulo

Opa, demorou, mas saiu. Hehe ^^
Este é o antepenúltimo capítulo da história, então já sabem que o vem por aí será de tirar o fôlego.
Espero que gostem. ^^



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Ao ver aquilo, Oliver se desesperou. Saiu da sala onde estava e foi correndo à procura de sua nave.

"Quero o soldado Oliver Hayes aqui imediatamente", dizia a furiosa voz do general no microfone.

Oliver corria tão rápido que logo começou a sentir uma dor nos flancos, a famosa "dor desviada" que sentimos ao fazer um exercício muito intenso que não estamos acostumados. Oliver nunca havia sentido uma adrenalina daquele tamanho, mesmo fazendo parte da Tropa Heavely. Mas ao mesmo tempo, sentia um pouco de alívio, pois já estava com os manuscritos do projeto Another Way.

— Ele entrou naquela floresta! Vamos pegá-lo! - dizia um dos soldados, perseguindo-o.

Oliver encontra sua nave e a liga.

— Anda, vamos logo! - dizia Oliver, impaciente, ouvindo os passos dos soldados se aproximando.

— Ali está ele! Está entrando naquela... coisa... - dizia um dos soldados, chamando a  atenção dos outros.

Todos cercam Oliver na sua nave, e já preparavam-se para atirar nele. Nesse momento, a nave dá a ignição, começando a levantar vôo. Os soldados reagem à essa ação atirando contra Oliver, porém, as armas não surtiram efeito nenhum na nave em que ele começava a voar.

— Mas o que é isso? - perguntou um dos soldados. - É uma espécie de avião?

— Seja lá o que for, é resistente ao nosso armamento. - respondeu outro deles.

Os propulsores da nave são ativados fazendo Oliver ir em direção ao espaço, deixando os outros soldados espantados com aquilo.

— Mas o que está acontecendo aqui? - questionou um dos soldados, confuso. - O que diremos ao general?

— Acho que o general tem outros problemas agora.

Enquanto isso, Oliver se dirigia em alta velocidade ao espaço. Ao ultrapassar a estratosfera, pôde ver a enorme nuvem de fumaça no centro da cidade de Moscou, provocada pela explosão do míssel que ele havia lançado. "Isso nunca aconteceu", pensou.

Apertou o botão e a nave começou a se movimentar na mesma velocidade que havia viajado no INFINITY-LOOP. Já podia se ver retornando ao ano de 2040 e encerrando de vez essa exaustiva missão. Só precisava esperar mais 25 minutos.

Porém, cerca de 13 minutos após iniciar essa viagem em alta velocidade, a nave começou a emitir uma luz vermelha no painel. O piloto automático foi ativado, levando Oliver para o lugar seguro mais próximo: de volta para a Terra.

14 de março de 1992.

Oliver ficou confuso a respeito daquilo.  Não conseguia entender o motivo da nave o estar levando de volta para o planeta. Olhou em volta, não encontrou a Heavely Miracle, sinal de que ainda não estava em 2040.

A nave pousou em Denver, uma cidade do estado do Colorado. Porém, o que Oliver viu o deixou sem reações. Nem de longe parecia a cidade mais populosa do estado, estava totalmente destruída. Oliver soube que se tratava de Denver por reconhecer alguns dos prédios da cidade como o Capital Building e o Tabor Center Shopping Mall. Porém, estavam todos destruídos. Parecia que alguma bomba tinha caído por ali. De fato, foi isso que aconteceu.

Além disso, o céu estava escuro, mesmo estando de dia. Uma densa nuvem escura feita de fumaça cobria o Sol, a ponto de fazer nevar. O frio estava quase insuportável. Tudo bem, Denver não era uma das cidades mais quentes dos Estados Unidos. Mas a sensação térmica para Oliver deveria ser de uns -35°C. A impressão que tinha era que a neve estava caindo por ali há pelo menos uns 6 meses. Felizmente, o seu uniforme começou a funcionar como uma espécie de cobertor elétrico, esquentando-o.

Oliver olhou ao redor, observou também que toda a vegetação do local estava morta. Continuou andando pela cidade, até chegar num beco escuro. O que viu lá foi algo traumatizante. Eram dois homens, um estava morto, enquanto o outro estava em cima dele comendo sua carne.

Aquela cena fez Oliver sentir um forte enjôo e uma sensação horrível. Estava presenciando uma cena real de canibalismo.

O canibal que se alimentava do homem morto viu Oliver e logo começou a perseguir o soldado. Oliver percebeu que ele tinha a intenção de devorá-lo, e correu para longe dali. O canibal até tentou alcançá-lo, mas era impossível, pois não conseguia andar em linha reta.

Oliver, já distante dele, olhou para trás e viu o canibal sorrindo perturbadoramente para ele. Sua mente estava dando voltas sem parar. Não conseguia entender o que aconteceu, porque não havia retornado para 2040, nem o que havia ocorrido naquele lugar.

Ao ver que já havia despistado o canibal, parou e descansou. Precisava de um tempo para reorganizar seus pensamentos e tentar achar uma solução para aquele problema. Embora o uniforme esquentasse seu corpo, podia sentir o frio no seu rosto, pois havia deixado o capacete na nave. Não conseguia entender o que estava acontecendo.

Sem que o soldado percebesse, um outro canibal avançou pelas costas e o agarrou. Este estava armado com uma pequena faca e pretendia matar Oliver para se alimentar da carne do soldado, tal qual o primeiro que Oliver viu tinha feito. Oliver tenta se livrar do maníaco, mas por estar muito exausto, acaba sendo imobilizado pelo canibal. Quando este se preparava para dar uma facada no peito do soldado, uma bala o atinge na cabeça.

— Você está bem? - uma mulher armada pergunta para Oliver.

— Estou sim. - responde o soldado. - Foi você quem deu esse tiro?

— Fui eu sim, mas não dá pra conversar agora. Vamos sair daqui.

— Aonde estamos indo?

— Para um lugar seguro.

Oliver e a misteriosa mulher correm até o lugar onde, segundo ela, seria seguro. Entretanto, no meio do caminho, Oliver interrompe a fuga.

— Espere! Preciso ir num lugar antes. - diz o soldado.

— Aonde você vai?

Oliver se dirige até o local onde a nave havia pousado. A mulher o segue, e ao ver a nave, fica perplexa.

— O que é isso? - pergunta a mulher.

— Meu brinquedinho. - responde Oliver, sarcasticamente.

Oliver entra na nave e pede para que a mulher entre também.

— Isso é seguro? - pergunta a estranha.

— Se você tivesse visto o que esse veículo já passou, não teria feito essa pergunta.

— Mas, afinal, que coisa é essa? Uma espécie de carro?

— Vou te dizer que coisa é essa. É algo que pode nos tirar daqui o mais rápido possível. Agora, entre logo.

Embora receosa, a mulher entra na nave e Oliver a liga. Tenta ligar os propulsores para aumentar a velocidade, mas não consegue. A nave se movia agora na mesma velocidade de um carro normal. O soldado, então, olha para o painel e percebe que a energia da nave estava quase se esgotando. A nave possuía dois pequenos geradores, possivelmente um deles havia sido danificado, provavelmente com alguma das balas dos fuzis dos soldados, já que a parte da nave que comporta os geradores não era tão resistente quanto o restante da mesma. Talvez fosse por isso que Oliver não tivesse retornado ao ano de 2040. A nave agora não podia alçar vôos altos nem atingir grandes velocidades. Isso era um problema, dessa forma, Oliver nunca poderia voltar ao ano de onde viajou.

Essa preocupação perturbava a cabeça do soldado, até que seu raciocínio é quebrado pela estranha mulher, que se deita perto do corpo de Oliver.

— Ãhn, com licença? Estou dirigindo! - diz o soldado.

— Ah! Me desculpe. - fala a mulher. - É que a sua roupa está tão quente, apenas achei confortável. Ela é um pouco extravagante, mas muito confortável.

— Ah, sim. Já percebi que o frio aqui está de matar. Por quê?

— Como assim por quê? O clima tem sido assim desde que a bomba caiu.

— Bomba?

— É, a bomba que atingiu a cidade de Chicago há 15 anos atrás, pondo fim à Terceira Guerra Mundial.

— Terceira Guerra Mundial? Do que está falando?

— Como assim do que estou falando?

— Pelo que eu saiba só tivemos duas grandes guerras. Que terceira foi essa?

— Ora, a guerra entre os Estados Unidos e a União Soviética!

— Está se referindo à Guerra Fria?

— De fato, foi a Guerra Fria até 1962, quando o míssel nuclear americano atingiu a cidade de Moscou. A URSS revidou lançando alguns mísseis que havia implantando em Cuba nos Estados Unidos. A partir daí, uma guerra nuclear acabou acontecendo e o mundo inteiro foi afetado por ela.

Agora Oliver tinha se tocado! Ele havia mudado a história! Quando acidentalmente acionou o míssel americano, deu origem à uma Terceira Guerra Mundial que na verdade não deveria ter acontecido. Oliver criou uma linha do tempo alternativa, onde um dos momentos mais tensos da história teve um resultado totalmente diferente do que originalmente deveria ter!

— Moço? Tudo bem com você? - perguntou a mulher, preocupado.

— Estou sim. - respondeu Oliver. - Claro, a Terceira Guerra. Mas, que bomba de Chicago foi essa?

— Foi a arma secreta da URSS, uma bomba nuclear superior à todas as outras lançadas. Foi o que fez a União Soviética ganhar a guerra.

— Espera! Os Estados Unidos perderam a guerra?

— Sim. Para alguém com cara de inteligente você parece não saber muito de história. De história recente, aliás. O problema foi que a fumaça da explosão dessa bomba, juntamente com a fumaça das explosões das bombas anteriores cobriram o Sol. Desde então, a Terra esfriou consideravelmente. Muita gente morreu, principalmente habitantes de países tropicais, por estarem acostumados ao clima mais quente. Boa parte da vegetação morreu também. Isso sem contar o que as próprias bombas mataram. Acredita-se que a população mundial atual é de apenas cerca de 1,5 milhão de habitantes. Os alimentos também estão muito escassos, muita gente acabou morrendo de fome. Para evitar isso, várias pessoas, como você já viu, decidiram praticar o canibalismo.

Oliver sentia medo e um grande sentimento de culpa também. Sabia que sem a sua influência nos fatos nada daquilo teria ocorrido.

— Em que ano estamos?.- perguntou o soldado.

— Como assim em que ano estamos?.- respondeu a mulher. - Estamos em 1992! Você é estranho. Qual é a sua?

— Responderei todas as suas perguntas depois. Mas agora, diga-me, onde é o tal local seguro?

— Sabe onde fica o antigo teatro municipal?

— Sei sim.

— Vá até lá.

— Tudo bem. A propósito, meu nome é Oliver Hayes, e o seu?

— Jannet Foster.

— Jannet Foster? - questionou Oliver.  - Tem alguma relação com Jasmine Foster?

— Sim. Ela é a minha filha de 5 meses. Como você sabe?

Agora que Oliver tinha se lembrado: Jasmine havia nascido em novembro de 1991, logo, no momento do tempo em que estava ela era ainda uma neném de cinco meses de idade. Oliver se sentiu ainda pior ao perceber que tinha obrigado Jasmine a viver sua infância em meio à toda aquela destruição.

— Me responda! - disse a mulher. - Como sabe sobre minha filha?

— Já disse, vou responder todas as suas perguntas depois.

Os dois chegam ao teatro municipal, totalmente destruído pelas bombas.

— Esse é o tal local seguro? - debochou Oliver.

— Engraçado você. Venha comigo.

Jannet o leva até um alçapão que havia ali perto. O que Oliver encontra por lá é simplesmente alucinante. Parecia um pequeno cortiço, construído sob o prédio destruído. As construções eram bem rústicas, de fato, mas pareciam ser muito resistentes. Haviam ali outras pessoas, vivendo em sociedade.

— Mas o que é isso? - perguntou Oliver, maravilhado.

— Legal, não é? Depois que a URSS ganhou a guerra, os soviéticos tomaram o poder do país, estabelecendo uma ditadura. Nós decidimos então montar uma resistência. É aqui onde nos escondemos dos soldados soviéticos, além de nos protegermos dos canibais.

— E como sabe que nenhuma dessas pessoas é um canibal?

— É fácil reconhecer um canibal, pessoas que praticam o canibalismo tendem a possuir a Febre de Kuru, uma doença infecciosa causada por uma proteína presente naturalmente na carne humana chamada príon. A Febre de Kuru faz com que o canibal perca sua capacidade de locomoção, não conseguindo andar em linha reta, e também provoca alterações no humor, fazendo-os rir maniacamente.

— Ah, entendo.

— Venha, deixa eu te levar para o nosso líder.

— Líder?

— Sim. Foi ele quem idealizou e criou todo esse lugar.

Jannet leva Oliver até um pequeno local ali perto, onde estava o líder. A identidade da pessoa que liderava aquela sociedade secreta fez Oliver se arrepiar. Era Dave Relf!

O gênio sai de um pequeno quarto, estava bem mais gordo do que a última vez que Oliver o havia visto; estava mais velho, lógico, afinal, haviam se passado 30 anos desde então. Mas o que chamou a atenção do soldado foi a cadeira de rodas que o Dr. Relf andava, pois ele havia sido atingido na perna pela bala do militar que tentou deter Oliver.

Na linha do tempo original, Dave Relf havia morrido na mesma noite do dia em que havia mostrado o projeto Another Way. Alguns acreditavam que ele havia se matado por ter tido seu projeto recusado. Porém, a perícia confirmou que ele havia sido morto por disparos de uma arma de fogo, mas não havia nenhuma em seu apartamento. O misterioso assassino também não havia deixado nenhuma pista. O assassinato de Dave Relf foi considerado por muitos um dos maiores mistérios da humanidade, juntamente com o caso de Taman Shud e o caso Roswell.

Mas ali estava ele, vivo! Paraplégico, mas vivo. "Nem todas as mudanças na linha do tempo foram negativas", pensou Oliver, ao ver Dave.

O Dr. Relf, porém, ao ver Oliver, sentiu um profundo sentimento de ódio que podia ser visto no seu olhar. Com a personificação da raiva na sua face, se aproximou do soldado.

— Você! - disse Dave. - Foi você! Você é a desgraça deste mundo!

Oliver se assustou ao ver Dave se aproximando dele com tanta raiva e dizendo tais palavras.

— Você é o culpado! O mundo inteiro foi destruído por sua culpa! Maldito!

— Líder! - disse Jannet. - O que está dizendo? Conhece esse rapaz?

— Jannet, lembra que eu te disse que existia um homem misterioso que lançou o primeiro míssil da guerra? Era ele! Este homem que está aqui. Ele deu início à guerra que destruiu o mundo.

— Oliver, isso é verdade? Do que ele está falando?

— Escuta. - disse Oliver. - Eu posso explicar.

— Você não tem nada para explicar! - diz Dave, dando um soco no rosto de Oliver, fazendo-o cair no chão. Ao ser derrubado, Oliver deixa cair um smartphone que trazia no bolso.

— Líder, para! - dizia Jannet.

— Você, miserável, destruiu todo este mundo! E além disso, me fez perder o movimento das pernas! - Ao perceber que Oliver trazia consigo a sua pasta, Dave a tira bruscamente de suas mãos. - E ainda por cima, roubou os meus manuscritos. Eu não sei quem é você, nem de onde vem, mas se não sair da minha frente eu vou te matar e te dar de comida para os canibais!

— Líder! Eu nunca vi o senhor assim! Tente se controlar!

— Dr. Relf, por favor me entenda. - explicava Oliver. - Eu precisava dos manuscritos do projeto Another Way. Eu não tinha opção.

— Se refere a isso? - disse Dave, abrindo a mala e tirando os manuscritos do projeto Another Way.

— O que vai fazer com eles, Dave? - perguntou Oliver.

Dave rasga todo o manuscrito, transformando as 18 folhas em um monte de papeiszinhos rasgados.

— Por que fez isso? - disse Oliver. - Eu vim de muito longe só para conseguir esse projeto.

— Isso não é da minha conta.

— O senhor não entende. Esse projeto ajudaria a humanidade a dar um salto nunca antes pensado.

— Humanidade? Mais de 70% da humanidade está extinta! A humanidade não existe mais! A guerra acabou com tudo e todos! E além disso, o projeto é meu! Eu o criei! Eu tenho o direito de escolher quem fica com ele ou não.

— Exatamente. A guerra acabou com tudo e todos. Mas qual foi o seu primeiro objetivo ao criar o Another Way? Não era para ajudar a guerra? Você queria dar ainda mais poder destrutivo a algo que por si só já acabaria com toda a humanidade. Porém, acha que eu não mereço ficar com o seu projeto, mesmo eu lhe dizendo que ele poderia fazer algo de bom. Tudo que eu queria era pegar algo que condenaria a humanidade e transformá-lo em algo que a evoluiria. Você pode se pagar de pacifista aqui para essas pessoas, Dr. Relf, mas não engana a mim.

Dave e Oliver ficaram trocando olhares de ódio por um tempo, até que um barulho de sirene quebrou esse momento.

— Que sirene é essa? - perguntou Oliver.

— Essa não! - disse Jannet. - Ela só significa uma coisa! Um dos canibais entrou aqui!

Um choro de bebê começa a ecoar.

— Eu reconheço esse choro. - disse Jannet. - Essa não! É a Jasmine!

Agoniada, Jannet corre para ajudar sua filha, e espantado, Oliver vai atrás dela, deixando Dave sozinho.

O Dr. Relf olha para o chão e avista o smartphone que Oliver havia esquecido. Ficou surpreendido com aquela tecnologia, já que ela não havia sido ainda inventada em 1992. O primeiro smartphone, intitulado "Simon", só foi inventado em 1994 pela IBM. Isso na linha do tempo original, naquela nova história que Oliver havia criado, seria difícil saber se as empresas teriam tempo de pensar em um smartphone enquanto o mundo estava em caos. Os smartphones de 2040 tinham a largura de uma folha de papel, e podiam ser dobrados como tal.  O primeiro smartphone "dobrável" foi lançado em 2015, tratava-se do iPhone 6. Alguns anos depois, a Samsung apostou na mesma tecnologia com o Galaxy X. Os aparelhos do tempo de Oliver poderiam ser dobráveis ao meio, como você faz com um papel ao guardá-lo no bolso.

Dave, por ser curioso, decide bisbilhotar o smartphone de Oliver. Foi fácil, já que Oliver não havia colocado senha no aparelho. Dave abre a galeria e fica impressionado com as fotos da Heavely Miracle, da Tropa Heavely e da Terra de 2040, sem fumaça cobrindo o Sol e todos felizes. Lá na última pasta da galeria havia um vídeo. Era uma mensagem de Carl Sagan, gravada no início dos anos 2000 para a remasterização do seu famoso programa "Cosmos". Oliver era um grande fã de Carl Sagan, e a mensagem daquele vídeo, intitulada "Quem Pode Salvar a Terra", era uma de suas preferidas do cosmólogo. Dave abriu o vídeo, e prestou atenção na mensagem.

O vídeo começava com o logotipo do programa "Cosmos", logo abaixo a palavra "Uptade". Carl Sagan aparecia, e começava a falar:

"A maior emoção para mim em reviver esta aventura não foi só termos completado o reconhecimento preliminar com espaçonaves de todo o Sistema Solar, e não apenas termos descoberto estruturas assombrosas no reino das galáxias, mas principalmente, porque alguns dos sonhos mais corajosos de 'Cosmos' sobre este mundo estão se aproximando da realidade. Desde a primeira viagem desta série, aconteceu o impossível: muros poderosos que mantinham diferenças ideológicas insuperáveis foram derrubados..."

Nesse momento do vídeo, são mostradas imagens da queda do Muro de Berlim em 1989. Dave se surpreendeu com aquilo, pois na linha do tempo onde vivia tal evento nunca aconteceu.

"... Inimigos mortais abraçaram-se e começaram a trabalhar juntos; o imperativo de tratar bem a Terra e proteger o meio ambiente global que sustenta todos nós tornou-se largamente aceito; e começamos, finalmente, o processo de redução do número obsceno de armas de destruição em massa..."

Essa outra afirmação também surpreendeu Dave, já que em sua linha do tempo, o número de armas nucleares só aumentou, mesmo depois da guerra.

"... Talvez tenhamos, afinal, decidido escolher a vida. Mas ainda temos que percorrer anos-luz para assegurar essa escolha. Mesmo depois das reuniões, e das cerimônias e dos tratados, ainda há cerca de 50 mil armas nucleares no mundo, e basta a detonação de apenas uma minúscula fração delas para produzir um inverno nuclear, a catástrofe climática global predita que resultaria da fumaça e da poeira levantadas na atmosfera por cidades e instalações petrolíferas em chamas..."

Tudo aquilo que Sagan falava como hipótese, havia realmente ocorrido naquela linha do tempo, e o Dr. Relf havia vivido tudo aquilo, o que fez com que as palavras de Carl o tocassem ainda mais.

"... A comunidade científica atual começou a soar o alarme sobre os graves perigos causados pelo esgotamento da camada protetora de ozônio e pelo efeito estufa; e de novo estamos dando passos atenuantes, mas de novo, esses passos são pequenos demais e lentos demais. A descoberta de que algo como um inverno nuclear era realmente possível evoluiu do estudo das tempestades de poeira marcianas. A superfície de Marte, fritada pela luz ultravioleta também é um lembrete do porquê é importante manter a nossa camada de ozônio intacta. O efeito estufa desembestado de Vênus é um lembrete valioso de que temos que levar o crescente efeito estufa na Terra a sério. Lições importantes sobre o nosso meio ambiente vem das missões espaciais aos planetas; explorando outros mundos, nós salvaguardamos este..."

Missões espaciais? Aquilo parecia muita fantasia para Dave. O seu mundo tinha acabado de presenciar uma guerra nuclear em escala mundial. Explorar outros planetas não estava na lista de preocupações das grandes iniciativas. Na sua linha do tempo, por exemplo, o homem ainda não havia pisado na Lua. Devido à guerra, a missão Apollo 11, de 1969, nunca aconteceu, pois o governo americano estava muito empenhado em vencer a URSS.

"...Eu acho que só isso já justifica o dinheiro que a nossa espécie gastou para enviar naves para outros mundos. É nosso destino viver durante um dos capítulos mais perigosos e ao mesmo tempo um dos mais esperançosos da história humana..."

Dave já pensava em parar o vídeo, quando as próximas palavras de Carl Sagan chamaram sua atenção.

"... A nossa ciência e a nossa tecnologia propuseram-nos uma questão profunda: nós vamos aprender a usar essas ferramentas com sabedoria e perspicácia antes que seja tarde? Nós vamos ver a nossa espécie atravessar essa passagem difícil com segurança para que nossos filhos e netos aprofundem ainda mais a grande jornada de descoberta aos mistérios do cosmo? Essas mesmas tecnologias de foguetes nucleares e de computadores que enviam nossas naves além do planeta mais distante conhecido, também podem ser usadas para destruir a nossa civilização global. Exatamente a mesma tecnologia serve para o bem e para o mal..."

Dave parou, e sua mente refletiu por um tempo, enquanto ouvia o restante da mensagem.

"De fato, é como se houvesse um deus que nos dissesse: 'eu botei dois caminhos diante de vocês, vocês podem usar a sua tecnologia para se destruir ou para levá-los aos planetas e às estrelas, depende de vocês.'"

Carl Sagan desaparece em um efeito "Fade Out" e o vídeo acaba, voltando à galeria.

A mente de Dave girava, ficou um bom tempo olhando para a tela do smartphone, sem mexer em nada, tentando processar em sua cabeça o vídeo que acabara de ver.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha agradado! ^^
Até a próxima! O/ ♡



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