Capuz Vermelho - 2ª Temporada escrita por L R Rodrigues


Capítulo 15
Dia Prometido (Parte 3)


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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O quarteto já postava-se diante da porta do armário pertencente à sala "secreta" de Charlie. Assim que Adam voltara da sala com as notícias informadas por Hector, todos ficaram radiantes de esperança. Confiavam inteiramente na sagacidade do caçador-detetive para driblar as investidas do inimigo. Contudo, Adam não tirara uma questão torturante da cabeça desde que pôs o telefone de volta ao gancho até retornar à sala. "Conhece-la?", pensou ele. "Hector está acompanhado de uma mulher!? Quem seria?". Olhava fixamente para a porta, mas na realidade estava devaneando sobre quem seria a companhia do amigo naquela árdua missão. Mentira sobre isso enquanto repassava as informações.

O restante do grupo ansiava para iniciar a tarefa mais inusitada que cumpririam. Charlie vasculhava em uma caixa à procura do papel com o símbolo que desenhara dias atrás. Alexia o olhava disfarçadamente pelo lado, em um misto de desconfiança e preocupação. "Ir ou não? Eis a questão.", pensava ela, indecisa e ainda intrigada acerca da estranha permissão do amigo para que participasse da missão de resgate. Mexeu em seus lisos e ondulados cabelos ruivos alaranjados, tentando ganhar mais disposição.

Charlie logo veio na direção do grupo segurando o tal papel.

— Bem, pessoal, está na hora. - disse com firmeza. - Este é o selo que os magos do tempo utilizam para viajarem no espaço-tempo. Cruzamos muitas fronteiras graças a este símbolo. - mostrara o papel amarelado e estreito com a figura desenhada.

— Espera aí. - disse Lester, curioso. - Você já viajou no tempo?

Adam teve de repreende-lo.

— Lester, por favor, agora não é hora pra isso.

— Não, tudo bem, respondo com todo o prazer. - disse o jovem físico. - Não. - dissera concisamente. - É certo que, sim, já viajei para mundos alternativos à este, mas jamais cheguei ao nível do qual meu pai estava pouco tempo antes de morrer. Parece que os malditos Coletores, de alguma forma, nos espionavam e relatavam para seu mestre todas as informações recolhidas, sempre à espera de uma ordem. E a ordem para no caso de magos do tempo alcançarem o grau máximo era matar. Viajar no tempo quase nunca nos foi possível. Não foi na minha geração... e talvez jamais será. - contou, com certo pesar.

— Mas os magos do tempo antigos já conseguiram, não foi? - perguntou Êmina.

— Sim, isto é fato. O grau máximo consiste nesta permissão. A Ordem possuía conhecimentos que, perto do que o resto da humanidade havia conseguido até certo ponto, eram séculos de avanços. Se a Ordem hoje ainda estivesse intacta, a ciência atual tornaria-se obsoleta na nossa visão. Especificamente, a física. - disse Charlie, passando os dedos no papel.

— Havia dito que haveria uma chance não tão remota de nos depararmos com os Coletores. - disse Adam, sem esconder sua apreensão. - Há uma forma de reconhece-los?

Charlie pensara um pouco a respeito. Após a pausa, disse:

— Bem, geralmente se apresentam como homens e mulheres elegantes, se sentindo parte da alta sociedade. Costumam optar por roupas caras, ternos e vestidos que só a nobreza tem acesso. Tomem muito cuidado. São manipuladores, e qualquer indício de ingenuidade pode faze-lo cair em suas lábias. Resumindo: Não acreditem em quase nada do que disserem. Isto é, se caso os encontrarem, o que eu espero que não.

 Lester tentou deduzir as chances.

— Talvez uns 20%. - disse ele.

— 20% de quê? - indagou Adam.

— As chances de darmos de cara com essas coisas. - respondeu ele, um tanto sério. - Se quisermos salvar a Rosie, então vamos contar com a sorte, porque o que não vai faltar são obstáculos.

— Dessa vez, eu concordo com você. - disse Êmina, mais flexível com o parceiro de caçada. - Se tentarmos fugir, talvez pensem que iremos continuar por outro caminho e nos façam perder mais tempo. Se caso insistirmos, podem tentar nos matar.

— Então não vamos ter outra escolha se não nos rendermos. - disse Adam, preocupando-se.

— Até determinado momento, se caso os acharem, não se desesperem. - alertou Charlie, erguendo de leve o indicador. - Normalmente, preferem uma boa conversa com seus alvos. Isto, é claro, exceptuando magos do tempo, cujo tratamento é bem mais violento.

Alexia finalmente abrira a boca para dizer algo. Estranhamente, estivera calada por um bom tempo.

— Charlie, você tem alguma ideia de qual mundo Rosie pode estar?

— Tudo bem. - disse o rapaz, caminhando à porta. - Não tenho exatamente uma ideia. Está mais para uma dedução incerta mesmo. - colocara o papel acima da porta, grudando-o. - Eu havia dito que Rosie, provavelmente, possa estar em um universo distante e praticamente invisível.

— Olha, não é por nada não, mas... - disse Lester, inquieto. - você emendar "tudo bem" com a última frase não me soa nada encorajador.

Charlie virara-se para ele, a expressão calma.

— A coragem se encontra dentro de seus corações. - afirmou ele, os olhos azuis brilhando. - Meus recursos são apenas uma "catapulta" para lança-los em direção ao ponto certo. Mas voltando ao assunto: Rosie pode estar mais longe do que pensávamos. Portanto, as palavras que direi me permitirá leva-los até o mais próximo possível.

— E se tivermos chance de voltar, como o faremos? - perguntou Êmina, segurando mais forte o seu giz para transmutações.

Adam voltou-se para ela com um olhar reprovativo.

— "E se tivermos chance de voltar"?! Nós vamos voltar! - disse ele, severo, arqueando as sobrancelhas. - Não importa o quão longe esteja, iremos até onde for preciso para salva-la.

— É exatamente isto que desejo. Mas como dizem: "Querer nem sempre é poder". Devemos estar abertos a todas as sugestões e possibilidades. - ponderou Charlie, esfregando levemente suas mãos. - Mas respondendo sua pergunta, Êmina, aconselho que usem o símbolo. - entregou à ela o papel.

— Quer que façamos seu ritual para escaparmos? - pergunto ela, recebendo-o, meio relutante.

— Escaparem com Rosie viva, aliás. - disse ele, assentindo devagar. - Não quero que saiam de mãos vazias. No caso de encontra-la e a situação exigir uma retirada estratégica, colem o selo em alguma porta e digam estas palavras em voz baixa... - enfiou uma mão no bolso esquerdo de sua calça marrom para retirar um pequeno papel.

Entregara-o para Êmina, gentilmente.

— Aqui está. - disse, logo em seguida voltando-se para a porta.

O mago do tempo movera a boca de um modo plenamente discreto. Nenhum som parecera sair diante dos atentos olhares do quarteto. Logo ao término do rápido processo, Charlie colocara a palma esquerda sobre o símbolo. O desenho instantaneamente começou a brilhar uma luz amarela.

O grupo fitou a luminosidade, mantendo a atenção e, sobretudo, a ansiedade. A luz rapidamente cessou... e a porta fora aberta sem que Charlie a tocasse, quase que automaticamente. O lugar do outro lado revelou-se como uma surpresa.

Uma floresta enevoada, aparentemente pacata, com folhagens alaranjadas espalhadas pelo solo, denotando, assim, um clima de um gostoso outono. Foram se aproximando vagarosamente, os olhares indo de estupefação à fascínio.

— Isso é incrível. - disse Êmina, maravilhada pela façanha.

— E eu, como caçador da Legião, me gabando achando que já tinha visto de tudo... - dissera Lester, sorrindo para Charlie.

— Acho que devemos ir logo. - disse Alexia, apressando-se, quase ignorando a revelação do outro lado da porta.

— Sim. - disse Charlie. - Vão. E, por favor, tomem cuidado. - orientou ele, sério.

Adam assentiu, indo na frente, sem estranhar a surrealidade da situação.

Foram adentrando na silenciosa floresta, aos poucos, passeando os olhos por todos os cantos. Em menos de dois minutos, já se viam totalmente rodeados pela névoa do calmo lugar.

Êmina olhara para trás e estremecera, os olhos arregalados.

— Uau! - arqueou as sobrancelhas. - A porta simplesmente sumiu... - o tom de sua voz ficara fraco de repente.

— Que coisa estranha, não é? - comentou Lester com ela observando o ponto de onde a porta estava. - Dá uma sensação de que ficaremos presos aqui pra sempre.

— Vira essa boca pra lá, Lester! - reclamou Adam, andando devagar pela floresta.

— Desculpa chefe, da próxima vez vou usar uma fita métrica para medir minhas palavras. - disse ele, sarcástico.

— Isso não foi uma piada, né? - indagou Êmina, com um sorriso zombeteiro.

— Andei treinando. - respondeu ele.

— Então precisa negociar umas aulinhas com os palhaços de um circo alemão. - brincou ela, batendo de leve no ombro dele, e seguindo na direção onde Adam estava indo.

Lester a olhou com o rosto franzido de incômodo.

— Quem sabe você também se junte à mim. - retrucou.

— Pessoal. - disse Alexia, um pouco afastada, tentando se aquecer esfregando as mãos nos braços. - Esse frio não parece nem um pouco normal. Não sei... sinto que não é aqui onde deveríamos estar.

— Como assim, Alexia? - perguntou Adam, intrigado. - Está mesmo frio aqui... mas não tanto. - esfregou as grossas mãos gerando um ligeiro atrito.

De repente, uma lufada de ar gélido assolou com um vento forte, arrastando as inúmeras folhas secas. Adam se afastou do grupo devido à forte corrente de ar, tentando se proteger da ventania com os braços. Todavia, em uma fração de segundos, se viu sentindo o chão abrir sob seus pés. Mas não era exatamente o que pensava que era. Havia caído... mas em outro lugar.

Ainda com os braços cobrindo o rosto, o caçador logo se deu conta de onde estava ao ouvir uma música leve. Pareciam sons de piano reproduzindo uma deliciosa canção. Luzes fluorescentes e incandescentes pendiam nos tetos fincadas em lustres de diamante. Conversas paralelas e distantes eram escutadas. "Mas que lugar é este?", pensou.

— Vamos logo, não seja tímido, comporte-se como alguém de sua espécie e não como um cachorro assustado. - disse uma voz à sua frente. Uma voz masculina.

Adam aquietou os braços, não sentindo mais frio algum. Vira o homem sentado na mesma mesa que ele. Estavam em uma boate construída para receber exclusivamente pessoas da alta sociedade. Mulheres bonitas e elegantes rindo e calmamente bebendo enquanto conversavam. Os homens, por outro lado, jogavam pôquer, outros curtiam um bom e velho baralho, também bebendo em suas taças de champanhe e uísque.

Adam voltou-se para a figura diante dele, o olhando estranho. Era um homem esguio, moreno, de cabelo curto e preto, e com uma barba por fazer, além de um queixo quadrado gritante. Seus olhos negros fitavam o robusto caçador friamente.

O homem sorrira para ele, segurando um copo com uma dose de uísque.

— Olá, Adam. Esperava que sua recepção fosse-me menos patética. Mas estou satisfeito, sinto-me até honrado por estar diante de um exímio aventureiro.

— Quem é você? - perguntou Adam, igualmente frio. - E como sabe meu nome? - já desconfiava de quem o sujeito se tratava.

— Ora, deixemos as apresentações de lado...

Adam levantara-se em um impulso de raiva, quase que querendo agarra-lo pelo terno preto ou pela gravata listrada.

— Olha aqui, eu sei exatamente quem você é. Agora eu quero saber o que houve com meus amigos. Onde eles estão?

— Para um primeiro encontro você está com dúvidas demais. - deu um gole na sua bebida.

— Primeiro é? - semi-cerrou os olhos. - O primeiro e o último, se quer saber.

— Adam, os membros de minha corte costumam não admitir certos comportamentos impetuosos, então eu sugeriria que se sentasse... e percebesse com quem está lidando. - a voz do homem tinha um tom genuinamente ameaçador.

Encarando o indivíduo com um fulminante olhar, Adam sentara-se.

— Hum, sabia que o faria. - disse o homem pegando uma garrafa de uísque. - Ninguém resiste às minhas ameaças subentendidas.

— Então está disposto a me matar se eu não fizer o quer e da maneira como quer. - disse Adam, deduzindo.

— Basicamente. - respondeu ele, pondo o líquido em um outro copo. - Se não for pedir muito, gostaria de lhe oferecer esta bebida, como prova de minha generosidade em mante-lo são e salvo. - empurrou de leve o copo para Adam.

— Não quero beber nada. - respondeu ele, secamente. - Como soube que estivemos em uma missão importante?

O homem suspirara, deixando seu copo na mesa. Olhou para Adam com austeridade.

— Embora eu não tenha obrigação alguma de lhe explicar certos detalhes, eu abrirei uma exceção para você, amigo. Eu e meus irmãos estivemos no encalço daquele conhecido por vocês como Charlie. - fizera uma pausa, fitando o copo que dera à Adam. - Não vai mesmo aceitar?

— Não. - disse ele, a expressão dura e séria. - Minha saliva pelo menos está livre de pós letais.

O homem dera um risada zombeteira.

— Adam, eu não tenho a menor intenção de envenena-lo. Não recorro aos métodos humanos para matar. Presumo que já saiba o suficiente sobre nós.

— Sim, é claro. - assentiu Adam. - Agora me fale: Porque eu? - sua paciência já estava se esgotando.

— Por que você, como vimos, obviamente é o líder. O seu amigo Charlie merecia estar morto agora, mas não o fizemos por uma questão de benefícios e negócios.

— Negócios? - o caçador franzira o cenho. - Com quem?

— "O inimigo do meu inimigo é meu amigo". - disse o homem, sorrindo de modo canalha. - Abamanu, ora mais! - disse, entregando logo a resposta. - A política mais simples de se concretizar: Um ajuda o outro. Uma mão lava a outra. Não é assim que vocês dizem?

Adam sentira os pelos do corpo arrepiarem-se. Segurou-se para não se exasperar.

— Então se Charlie é a recompensa por ajudarem Abamanu... então qual é o plano dele?

— Fantasias de um rei semi-decadente: Expansão de império, formação eficaz de soldados e dominação completa de territórios considerados inacessíveis. - inclinou-se para Adam. - Compreende o que quero dizer, Adam? Charlie é um mago do tempo. O que eles fazem mesmo? - sorrira.

Não demorou muito para que o caçador pudesse ligar os fios desta perigosa teia. Ficou pensativo, mas logo manifestou-se, atônito.

— Então... Abamanu pretende usar Charlie como ponte para reerguer seu império e depois entrega-lo à vocês!?

O homem sorrira mais abertamente desta vez.

— Na mosca.

"Não pode ser! Os outros precisam saber disso!", pensou Adam, desesperado.

— Não precisam não. - disse o homem, cruzando as mãos.

Adam o olhara espantado. - Consegue ler mentes?

— Consigo tudo o que quero e mais um pouco. - respondeu ele, cínico. - Adam, serei franco com você: Preciso que mantenha o que foi dito por mim em total e pleno sigilo.

— O quê!? Acha que vou guardar pra mim mesmo o fato de vocês nos vigiarem o tempo todo e Charlie ser o alvo principal de Abamanu? Só uma ameaça muito convincente para me silenciar. O que acha de tentar? - o encarou com mais fúria desta vez.

— Não preciso tentar. Eu já sei: A morte dos seus amigos lhe é convincente o bastante?

— E onde eles estão? - vociferou, exigente.

— Um pouco distantes daqui. Como pássaros em uma gaiola. Façamos o seguinte: Suspendo a espionagem por tempo indeterminado e liberto seus amigos se caso concordar em ficar de boca fechada.

Adam se vira sem alternativas. Suspirou pesadamente, rendido.

— Está bem. - seus olhos marejaram um pouco. - Não direi absolutamente nada.

Os pensamentos do caçador estavam inteiramente focados no jovem físico e mago do tempo. Uma ousada quebra de sigilo seria o prenúncio perfeito para uma sentença de morte de quatro pessoas... ou até mais se for preciso. O braço forte da Legião dos Caçadores lembrara das palavras de Charlie: "Não acreditem em quase nada do que disserem". Elas ecoaram em sua mente após analisar o problema. Entretanto, sentira na fala perseverante do homem uma ponta de seriedade. Arriscar assumir que era tudo mentira parecia um tiro no escuro. Resolveu tomar aquilo como verdade e uma ameaça absoluta. Era a vida de seus amigos em risco, afinal.

— Ainda resta uma dúvida: Se caso eu abrir o jogo, eu também sou incluído na lista negra? - questionou Adam, relutante.

O homem rira baixinho, mantendo o tom maquiavélico.

— Não lhe é óbvio? - indagou, emanando um ar irônico. - Todos aqueles que se colocam no caminho de um mago do tempo estão praticamente sentenciados à morte. A menos que, em uma situação específica, como esta, o escolhido saiba se pôr no seu lugar. Aí todos estarão inteiros, mas não significa que poderão estar livres. Talvez, quem sabe, todos saiam ganhando no final.

— Eu duvido muito. - afirmou Adam, o olhar cortante como uma lâmina. - Já disse o que eu precisava saber, agora me diga como eu encontro o caminho para encontra-la?

— Fala da sua amiguinha... como é mesmo o nome dela? - perguntou, fingindo não saber. - Rosie, não é? - riu baixinho novamente. - Ah sim... é claro, a infortunada Rosie Campbell. Fadada a um destino que jamais desejou ter. Dividida entre o bem e o mal em um campo de guerra onde todos ao seu redor podem morrer.

— Diga logo como eu a encontro! - pediu Adam, ríspido.

— Tudo bem, tudo bem, compreendo sua raiva, Adam, mas sugiro que abaixe o tom... Gostamos de gentileza pois é a partir dela que conseguimos o que queremos. - disse, erguendo as palmas das mãos em um aparente gesto de pacificidade. - Sua amiga, de acordo com o que me disseram, não está nada segura. Acontece que, como parte do acordo, nós também fomos autorizados a observar as ações dos subordinados de Abamanu. E um deles, neste exato momento, está tentando encurrala-la.

— Ótimo. - disse Adam, levantando-se repentinamente. - Ao menos ela está viva. Só preciso que liberte meus amigos e nos mostre a passagem. Agora!

— Calma, calma - disse o homem, gesticulando com as mãos para que Adam se aliviasse. - Eu até pediria que se sentasse, mas, ao que parece, nós dois não temos muito tempo em sobra. - disse, olhando para seu relógio de pulso. - Estimo um tempo de 10 minutos.

— 10 minutos para salvar uma vida? - indagou Adam, incrédulo. As palavras de Charlie novamente lhe vieram à mente. "Não acredite em quase nada do que disserem".

— Exato. São rápidos mentalmente. Quero ver como são rápidos quando correm. - seu sorriso diabólico formou-se novamente em seu rosto. - Mas antes... Adam, eu gostaria que você me fizesse uma coisa. - mexera em uma maleta preta apoiada na perna da cadeira onde estava sentado. Tirara dela uma folha de papel branco e uma caneta.

— Assine aqui. - apontou a caneta para a linha no final da folha.

Adam fez uma cara irritada, suspeitando que aquilo fosse uma artimanha para faze-lo perder tempo.

— E isso agora!? - reclamou. - Isso nem chega a ser um acordo justo!

— Ah, sim, ele é justo. - assentiu. - Mas não se preocupe, não somos burocratas insistentes. Apenas assine e sairá daqui vitorioso em sua busca.

O caçador lhe tomara a caneta de modo mal-educado e escreveu rapidamente sua assinatura. Não se deu ao trabalho de ler o texto acima, escrito em uma língua indecifrável, ligeiramente, em um vislumbre, reconhecendo ser o dialeto dos deuses.

— Pronto. Aqui está. - entregara o papel ao homem.

— Muito bem, Adam. - ele sorrira. - Temos uma aliança sigilosa. Porém, caso tente alguma coisa que vá contra as regras do contrato, nós voltaremos a observar cada passo, cada respiração, cada movimento que vocês fizerem... até decidirmos como vamos mata-los. Mas, é claro, isto não vai acontecer, já que você pareceu inteiramente engajado.

— Por conta da sua chantagem. - redarguiu Adam, raivoso. - Vocês, Coletores, devem ser as piores pragas que até os deuses sentem vontade de vomitar.

— Os magos do tempo nos chamam assim... mas não chega nem perto de nosso real nome. - respondeu o homem. - Além disso, almejamos chegar a um patamar no qual os deuses se tornarão inúteis em seus postos. Grave minhas palavras.

Adam saíra, tentando encontrar a porta de saída daquela boate, olhando para os lados.

— Espere, Adam! - chamou o Coletor. - Como você espera reencontrar seus amigos e salvar sua amiga em apenas 10 minutos saindo sozinho? - estava visivelmente reprimindo uma risada.

Adam virou-se e encarou-o. Riu rápido sem acreditar no que estava ouvindo.

— Na verdade, eu não esperava que você fosse facilitar as coisas. Além disso, uma certa pessoa me avisou para não acreditar em tudo que diz.

— Eu sei disso. - confirmou. - Nós também costumamos brincar de estalar os dedos para realizar algum desejo. Quer participar desta brincadeira novamente? - o olhou incisivamente.

— Faça o que quiser. Apenas me mande de volta para meus amigos.

— Está fechado, então. Mas lembre-se: Quando Abamanu vir a seu mundo, tome como definitivo o declínio de sua espécie. Não faz ideia do que aquele deus com cabeça de lobo solitário planeja.

Em movimento rápido e despreocupado, o Coletor estalara os dedos, sorrindo.

Adam se viu caindo novamente ao fechar os olhos. Quando os abriu, já estava em local completamente diferente, parecendo ser algum tipo de castelo. E duas gratas surpresas estavam diante de seus olhos.

— Adam!? - exclamara Êmina. - Mas... o que...

O caçador vislumbrou rapidamente os três, mas seus olhos passaram a enfocar a porta completamente aberta à sua frente.

— Cara, onde você esteve? - perguntou Lester, sem entender nada. - Onde nós estivemos? Não, aliás... Onde nós estamos? - olhou ao redor, pondo as mãos na cabeça, perdido.

— Não lembro de nada do que aconteceu. - disse Alexia, também confusa. - Só me recordo de estarmos na floresta depois que Charlie nos abriu passagem.

— Eu também. - comentou Êmina. - É como se eu tivesse acordado de um sono de mil décadas. - estava um pouco zonza e desorientada. - E esta porta...

Adam já se via perto da entrada... Sentiu um cronômetro invisível acelerar quando lembrou dos 10 minutos e suas pernas quase que ganharam vida ao iniciar uma corrida.

— Ei, Adam! - gritou Lester, também começando a correr, tendo Êmina e Alexia vindo logo atrás.

— Nós temos pouco tempo! Ela está do outro lado daquela porta! É lá que Rosie está!

A missão finalmente ganhara o tom frenético esperado.

O quarteto corria ansiosamente por um corredor com paredes de pedra e iluminado por tochas.


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