— Olá? — A voz de menina perguntou novamente e Zarina voou para perto da suposta fadinha. — É impressão minha ou você acabou de... voar?!

— Sim.

— Como?

— Com as minhas asas, ué? Você não é uma fada?

— Eu nem sabia que fadas existiam até um segundo atrás!

As duas estavam intrigadas. A menininha, então, perguntou:

— Onde eu tô?

— Pedra da Caveira, Terra do Nunca. — Zarina achou que a menina podia ter se assustado com o nome do lugar, mas estava muito escuro para saber. Porém, na verdade, ela não estava nem um pouco assustada, só confusa mesmo. — Se você não é uma fada, então o que você é?

— Ahm... Sou uma aventureira.

— Ah, então é por isso que está aqui?

— Na verdade, não... Na verdade, eu nem sei como eu vim parar aqui...

Zarina achou aquela história um pouco familiar...

— Tá sentindo esse cheiro maçã? — A fada perguntou.

— Ah, esse cheiro é meu.

— Interessante... Sabe, aqui é um péssimo lugar pra conversar, é melhor a gente sair.

Zarina pegou um pouco do pozinho no pote em que segurava e jogou sobre ela e a menina. Em um piscar de olhos, as duas estavam na casa da fada alquimista. Zarina, então, pode ver a menina: cabelo loiro-morango e com uma trança, olhos azuis, rosto sardento, boina vermelha... Sim, a menininha era Maçãzinha. Zarina não sabia disso, mas deduziu que ela fosse do mundo de Laranjinha devido ao cheiro de fruta e às imagens da mesma fruta em sua roupa, em suas botas e no enfeite de sua trança.

— Como a gente veio parar aqui?! — Maçãzinha perguntou, impressionada.

— Pirlimpimpim* — respondeu Zarina, mostrando o pote com o novo pozinho mágico para Maçãzinha.

— O quê? — A pequenina olhava intrigada para o pó.

— É o nome que eu acabei de dar pra este pozinho mágico que acabei de criar. Nem sei da onde eu tirei essa palavra...

— Então esse tal de pirlimpimpim teletransportou a gente daquela Pedra da Caveira pra...

— Pra minha casa no Refúgio das Fadas, sim.

— Uau!

— Eu sou a Zarina — a fada estendeu a mão para a menina.

— Maçãzinha — ela disse, apertando a mão da fada.

— Você é do mundo da Laranjinha, não é?

— Sim! Você conhece a Laranjinha? Ah, ela tá aqui?!?!

— Sim, e eu criei o pó de pirlimpimpim exatamente pra levá-la de volta pra casa.

— Isso é incrível!!!! Cadê ela???

— Agora ela está dormindo na casa da minha amiga Tinker Bell — Zarina não sabia da aventura que as duas estavam tendo fora do Refúgio das Fadas, por isso disse que elas estavam dormindo. — Por isso, vou mostrar o pozinho só amanhã de manhã.

— Como você fez esse pó?

— Com fé, confiança, pozinho mágico e... — Zarina deu um sorriso e continuou: — Tutti Brilhos.

**

Aquele havia sido o segundo dia de pesquisas sem sucesso na Cidade Tutti Frutti. Não adiantava apenas fazer teorias, as pessoas tinham que encontrar Laranjinha. Elas não sabiam mais o que fazer, não importava o quanto procurassem por respostas, nunca chegavam a lugar algum. Exceto Maçãzinha.

Falando em Maçãzinha, Moranguinho não cometeria o mesmo erro da noite passada: quando todos voltaram para suas respectivas casas, ela foi procurar a prima no Laboratório Secreto. A pequena tinha saído de lá nas horas do almoço e do jantar, mas, como não tinha aparecido após a última refeição, Moranguinho suspeitou que ela houvesse perdido novamente a noção do tempo e não queria que a menininha virasse a noite mais uma vez.

Chegando lá, Moranguinho a encontrou dormindo no chão e ficou com muita pena dela. "Coitadinha", pensou. "Mas essa menina não tem jeito mesmo..." Então carregou Maçãzinha nos braços, com muito cuidado para não acordá-la, e levou-a para casa. Chegando no quarto em que as duas dormiam, Moranguinho colocou a prima na cama dela e sussurrou:

— Boa noite, Maçãzinha.

Em seguida, foi para sua própria cama e também dormiu.

**

Maçãzinha olhou para o pó com os olhos arregalados e falou:

— Tem Tutti Brilhos aí?! Então eles são poderosos mesmo...

— Com certeza! Você sabia que a Laranjinha foi trazida por uma fada pra cá?

— Eu só sabia que ela tinha voado com uma semente de dente-de-leão, mas as minhas amigas tinham uma teoria sobre fadas.

— Então, a Berry Bitty é uma fada que veio do seu mundo, as outras, como eu, vieram do Continente. E a Berry tem um diferencial: ela consegue fazer Tutti Brilhos; nós nunca os tínhamos visto aqui na Terra do Nunca, mas a Laranjinha reconheceu rapidinho.

Maçãzinha ficou pensativa. Depois de um tempo, respondeu:

— Sabe, hoje mesmo eu li um livro que falava sobre uma teoria de que os Tutti Brilhos podiam ter contato com mundos paralelos...

— Ah, eu acredito muito nessa teoria!

— Pois é, eu também. E tô pensando numa coisa... Alguma vez a Laranjinha já falou pra você sobre uma máquina do tempo que ela construiu?

— Sim! Ela disse que não funcionou direito, que ao invés de fazer ela viajar no tempo, trouxe uma coisa de outra época, algo assim... E que depois parou de funcionar de vez.

— Mas e se não tiver parado de funcionar de vez?

Zarina olhou para a menina, intrigada. Maçãzinha continuou:

— Eu passei muito tempo analisando aquela máquina e descobri que a Laranjinha tentou viajar no tempo duas vezes e que a máquina do tempo tinha Tutti Brilhos em excesso. Na primeira vez, a Laranjinha tentou ir pros anos 80, que foi quando aconteceu aquilo de aparecer um objeto da década no presente. Eu acho que, depois dessa tentativa, a Laranjinha deve ter enchido a máquina de Tutti Brilhos, e aí tentou viajar no tempo de novo... Você disse que todas as fadas vêm do tal "Continente", não é?

— Sim... Onde você quer chegar, Maçãzinha?

— Em que ano nós estamos?

— Ahm... A gente não tem muita noção do tempo aqui na Terra do Nunca... Ainda mais eu, que sou uma fada alquimista e nunca vou pro Continente...

— Mas você sabe se lá no Continente já está no século XXI?

— Na última preparação pra primavera, eu me lembro de ter ouvido alguma fada dizer que o século XX tinha começado há pouco tempo lá...

— Então tá explicado! A última tentativa de viagem da Laranjinha foi exatamente pro início do século XX, então a máquina do tempo devia trazer alguma coisa dessa época, mas pode ser que, por causa do excesso de Tutti Brilhos, ela tenha trazido sim uma coisa da década de 1900, mas de outro mundo, do Continente! A Gotinha de Limão examinou o dente-de-leão que tinha a semente que levou a Laranjinha, ele era muito diferente dos outros do nosso mundo...

— Então ele era do Continente! Então a Berry Bitty devia ter vindo do Continente, como todo mundo, mas a máquina do tempo e os Tutti Brilhos levaram ela pro futuro de outro mundo! Bom, ela precisava nascer, então, certamente, o riso do bebê deve ter viajado também... Ah, você sabe que as fadas nascem do primeiro riso de um bebê, não é?

— Acho que eu já ouvi falar.

— Eu acho que essa viagem deve ter feito a magia da Berry Bitty se misturar com a do mundo de vocês, por isso ela consegue fazer Tutti Brilhos!

— Não é incrível? A Laranjinha fez o tempo e o espaço entre dois mundos serem praticamente inexistentes!

— É incrível mesmo! Espera, isso significa que ela e a Berry Bitty viajaram no tempo...

— Sim, era o que a gente tava dizendo...

— Mas isso é um problema porque o pó de pirlimpimpim não viaja no tempo, ele só leva as pessoas pro lugar em que elas pensam.

— Então se a Laranjinha pensar na Cidade Tutti Frutti, ela vai parar lá, mas provavelmente na década de 1900?

— Exatamente.

— Você tem certeza disso? E se o pó de pirlimpimpim também puder viajar no tempo e você não souber? A gente devia fazer um teste...

— Tem razão, vem comigo!

Zarina andou com Maçãzinha até a Baga Brilhante mais próxima.

— Se a gente tentar viajar para um dia antes do nascimento da Berry Bitty, esta Baga Brilhante não vai estar aqui, já que nenhuma outra fada poderia plantá-la.

— Entendi.

Zarina usou o pó de pirlimpimpim, como nas outras vezes. Não aconteceu nada. A Baga Brilhante ainda estava lá, ou seja, o pirlimpimpim não viajava mesmo no tempo.

— E agora? — As duas perguntaram ao mesmo tempo.

— Se houvesse algum jeito dela viajar pro Tutti Mundo e depois viajar no tempo... — disse Maçãzinha.

— Talvez tenha... — Zarina teve uma ideia: — E se você usasse a máquina do tempo?

**

Maçãzinha acordou em seu quarto, olhou em volta, meio desorientada, e perguntou:

— Como eu vim parar aqui?

— Bom dia, Maçãzinha — respondeu a prima, que arrumava sua cama. — Eu trouxe você pra cá.

— Como?

— Haha eu também não sei, apesar de pequena, você é bem pesada, sabia? Mas eu não podia te deixar lá no chão daquele laboratório...

— Laboratório? Não, eu não tava lá, eu tava na Terra do Nunca com uma fada...

— Ah, você deve ter sonhado isso por causa da teoria das meninas sobre a Fruta do Nunca, né? — Moranguinho já tinha terminado de fazer sua cama e foi para perto da prima.

— Não, Moranguinho, não era Fruta do Nunca, era Terra do Nunca e a Laranjinha tá lá — Moranguinho não estava entendendo nada, mas achou que Maçãzinha ainda estava com muito sono, por isso falava coisas tão sem sentido. — Ela viajou no tempo com a semente de dente-de-leão que virou uma fada e... Ah! A máquina do tempo! Eu tenho que voltar pro Laboratório Secreto agora mesmo!

— Nada disso, você tem que tomar o café da manhã!

— Moranguinho, é urgente! A Laranjinha pode voltar a qualquer momento! Depois eu volto pra tomar o café da manhã. Deixa eu ir logo, por favor!

— Mas você promete que volta pra tomar o café da manhã?

— Prometo, eu volto rapidinho!

— Okay — Moranguinho suspirou. — Então você pode ir.

— Muito obrigada, prima! E, acredite, depois que a Laranjinha estiver aqui, você vai entender tudo!

E Maçãzinha foi correndo para o Laboratório Secreto.