Já era tarde da noite na Cidade Tutti Frutti quando Laranjinha organizava os produtos de seu mercado. Nem os tutti fruttis nem a Marmelada haviam bagunçado nada ali, mas às vezes Laranjinha gostava de organizar as coisas só porque tinha vontade mesmo. Enquanto isso, a cachorrinha da menina perambulava pelo chão do mercado, mas sem atrapalhar, sabia que sua dona não gostava de bagunça enquanto arrumava.

Marmelada viu que a porta da despensa estava entreaberta e resolveu dar uma olhadinha lá dentro. Um objeto chamou sua atenção: uma bola que estava no cantinho, toda empoeirada. A cachorrinha nunca havia visto aquela bola na vida, então deu um jeito de levá-la para fora da despensa para mostrá-la para Laranjinha.

— O que você tem aí, menina? — perguntou a dona, quando Marmelada se aproximou com a bola. — Carambolas! É a bola do dentebol! — Laranjinha percebeu que Marmelada estava confusa. — É um jogo que inventei, se chama assim porque esta bola foi feita com sementes de dente-de-leão. — A cachorrinha olhou intrigada para a bola e Laranjinha começou a rir. — As sementes estão dentro da bola, bobinha! Você não pode vê-las. Tive uma ideia! Quer ver como se faz uma bola de dentebol? Vem comigo, vamos procurar sementes de dente-de-leão!

As duas saíram na noite para procurar as sementes.

— Sabe, eu não fiz a bola sozinha — Laranjinha tagarelava enquanto caminhavam. — A Framboesa costurou. E, claro, os tutti fruttis me ajudaram a pegar as sementes. Na verdade, foram eles que me deram inspiração para inventar o jogo hahaha. Era um jogo bem legal, pena que atrapalhou um pouco as nossas atividades diárias... Mas jogar só uma vezinha ou outra não teria problema, não é? Acredita que nem a Cerejinha morava aqui na época? Pois é, faz muito tempo...

As duas pararam diante de um dente-de-leão um pouco maior do que os que estavam acostumadas a ver.

— Carambolas! Acho que as sementes desse aí devem ser grandes demais para uma bola de dentebol. Talvez eu só precise de uma... Marmelada, eu vou tentar subir, preciso ver mais de perto uma dessas sementes. Isso é tão interessante!

Laranjinha subiu em umas pedras que estavam ao lado do dente-de-leão e, em seguida, se pendurou nele e escalou até as sementes. Arrancou uma delas e percebeu que era realmente grande.

— Ai! Ela é pesada! Mal consigo segurar com uma mão.

Marmelada deu um latido para ter certeza de que estava tudo bem com sua dona, mas, antes que a segunda pudesse responder, começou a gritar.

Laranjinha não sabia, mas, bem perto da Cidade Tutti Frutti, um bebê sorria pela primeira vez. O riso se dividiu em pedaços e, antes que a garota pudesse descer, um vento muito forte soprou no dente-de-leão em que ela se encontrava. Todas as sementes começaram a voar, inclusive a que Laranjinha estava segurando e dizia que era muito pesada. Foi por isso que a menina gritou: ela saiu voando pendurada na semente de dente-de-leão. Quem a visse de longe, poderia pensar que era a Mary Poppins voando com seu guarda-chuva.

Marmelada entrou em pânico e começou a latir sem parar.

— SOCOOORROOOO!!!! — Gritava Laranjinha lá do alto. Seu pior erro foi ter ficado com medo de soltar a semente de dente-de-leão, não queria cair no chão. A menina costumava ser muito corajosa, porém aquela situação inusitada a deixara em pânico. Agora já era tarde demais, ela voava cada vez mais alto, até sumir no céu escuro da noite.

Marmelada parou de latir e passou a chorar. Após chorar, acabou adormecendo na grama. Enquanto isso, Laranjinha voava seguindo a segunda estrela à direita.

Ao chegar na Terra do Nunca, a semente de dente-de-leão a levou direto para o Refúgio das Fadas.

— Terra à vista! — Sussurrou Laranjinha para si mesma, depois de tantos gritos e choro no céu.

Quando já estava no Refúgio, criou coragem para soltar seu guarda-chuva de Mary Poppins. Ela precisava fazer isso, afinal, já estava com os braços cansados. Laranjinha, então, caiu no chão e,  em seguida, se levantou. Olhou para cima e viu uma coisa curiosa, que só não percebeu antes porque estava nervosa: o vento parecia levar sua semente a um destino específico, como um meio de transporte.

Laranjinha não fazia ideia de onde estava e temia que o lugar fosse perigoso, mas, no momento, sua curiosidade era maior que seu medo, então ela seguiu a semente de dente-de-leão e começou a ver coisas muito estranhas. Primeiro, parecia que as flores estavam se acendendo, como lâmpadas; depois, foi ainda mais bizarro: fadas saíram de dentro das flores iluminadas e, voando, começaram a seguir a semente de  dente-de-leão.

— Fadas!? — Laranjinha estava atônita.

Uma fada de rabo de cavalo e roupa roxa, que parecia fazer vento, guiou a semente em direção a uma enorme árvore com uma fonte de um pó amarelo e brilhante. A fada era a Vidia, a árvore era a Árvore do Pozinho Mágico. Laranjinha continuou seguindo todo mundo, apesar de demorar um pouco, já que eles voavam e ela corria no chão.

A menina não conseguiu chegar até a árvore a tempo, as fadinhas voavam rápido demais! E, mesmo que tivesse chegado, não conseguiria ver o que aconteceu porque elas estavam em uma parte muito alta da árvore, a garota nunca poderia subir até lá, aquele local era privilégio de quem tinha asas.

Enquanto isso, lá em cima, Terence despejava pozinho mágico sobre a semente de dente-de-leão, que virava uma linda fadinha.

A rainha Clarion, então, apareceu e lhe disse:

— Seja bem-vinda ao Refúgio das Fadas, Berry Bitty.