Reencarnado escrita por Filippi Araújo


Capítulo 2
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Decidi reescrever essa história depois de perceber que a versão antiga não tinha nada a ver com o que eu sou hoje, e por ser uma história tão querida pra mim, eu não podia simplesmente excluí-la. Após um bom tempo me planejando e decidindo como eu faria esse projeto, aqui está o primeiro capítulo. Espero que gostem.



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Observo meu reflexo na janela do carro enquanto meu pai dirige em rumo ao dojo* da família. A chuva escorre lentamente pelo vidro e as gotas formam pequenos caminhos.
  — Mizuki? — Ouço meu pai perguntar. — Você ouviu o que eu disse?
 — Claro, pai. — Respondo, embora ambos saibamos que eu não prestara atenção.
 — Tá bom, sei. Enfim, você faz dezoito anos em menos de uma semana, precisa se preparar para a cerimônia. Em breve, as atividades da família serão de sua responsabilidade.
 — Eu sei pai. Já estou me preparando. — Respondo, apesar de não estar nem um pouco preparado. A perspectiva de assumir uma responsabilidade tão grande me assusta.
 Minha família descendende de uma longa linhagem de samurais*. Desde muitos séculos atrás, meus ancestrais prestaram um juramento de lutar em um tipo de guerra, mas sempre que pergunto sobre isso para os superiores, eles desviam do assunto. Acho injusto abrir mão da minha vida por uma causa da qual não sei quase nada a respeito, mas meu destino foi selado a partir do momento em que nasci.
 — Os anciãos estarão assistindo seu treinamento hoje, então quero que você seja especialmente dedicado, certo? — Meu pai pede.
 — Certo. — Respondo e volto a bservar a janela do carro.

[...]

 Logo avisto o grande dojo da família: uma construção tradicional japonesa de vários andares, cercada por um muro de concreto simples. Quando adentramos o local, logo sinto o aroma das enormes cerejeiras espalhadas pela entrada. Lembro-me dos passeios que fazia aqui com minha mãe quando era criança, mas logo afasto esse pensamento.
 Ouço o barulho dos meus pés pisando as escadas de madeira, em seguida, abro a porta de correr da sala de treinamento. Dentro dela estão três homens de meia idade, sentados em pequenos bancos próximos a parede. Eu cumprimento-os, mas eles apenas me olham com indiferença.
  Tiro meus sapatos e guardo-os em um canto. Vou até a parede o de estão as armas, colocadas em um suporte vertical, e pego a minha espada de treino: um bastão de bambu confeccionado em forma de espada, de cerca de noventa centímetros. Em seguida me posiciono no centro da sala.
 —Mizuki Yügao, pode começar. — Um dos três anciãos anuncia.
 Me coloco em posição de combate e saco a espada. Fecho meus olhos e foco-me na minha respiração. Em seguida, começo uma demonstração de golpes com a espada. Ouço o barulho do vento sendo cortado à medida em que balanço precisamente a arma. Os vários anos de treinamento pelo qual passei me tornaram extremamente hábil em vários tipos de combate, armado e desarmado. A espada fluia junto com meus movimentos como se fosse uma extensão do meu corpo.
 De repente, sinto uma pontada de dor atravessar meu corpo e desabo de joelhos no chão.
 —Mizuki?! — Ouço a voz de preocupação do meu pai do outro canto da sala, mas ela soa distante.
Sinto minha respiração ficar ofegante e minha visão escurecer, e depois de alguns instantes que pareceram uma eternidade, a dor cessa. Instantâneamente, vejo os olhos de reprovação dos anciãos em cima de mim.
 — Me desculpem, eu— começo a dizer, mas sou interrompido.
 — Já vimos o bastante. — O ancião responde secamente, em seguida, olha para o meu pai. — Talvez seja melhor reconsiderarmos o sucessor.
 Sinto meu rosto avermelhado e saio imediatamente da sala. Ando pisando duro pelos corredores do dojo, em direção à saída.
 “Isso é muito injusto.”, penso, enquanto caminho. “Como se não bastasse eles tomarem minha vida de mim por essa droga, agora decidem que eu não sou bom o bastante.” Me lembro do dia após a morte da minha mãe, dez anos atrás. Com a morte misteriosa da atual líder da família, eu, seu único filho, seria o sucessor. A partir desse momento, passei a viver em prol da minha responsabilidade.
 — Mizuki! — Meu pai chama, e segura meu braço. — O que aconteceu lá dentro? Você está bem? — Seu rosto gentil, semelhante ao meu, carrega uma expressão de preocupação.
 — Estou sim. Só me senti um pouco tonto. — Respondo, mas na verdade, estou preocupado com aquilo também. Quando surgiu pela primeira vez, achei que fosse proveniente apenas do cansaço, mas tem se tornado cada vez mais frequente.
 — Eu vou só terminar de discutir alguns assuntos com os anciãos e te levo pra casa, ok? — Ele pergunta, com aquele sorriso gentil. O único sorriso que eu vejo dentre toda a família.
 — Obrigado, pai, mas eu vou andando. Preciso esfriar um pouco a cabeça. — Respondo.
 — Tá bom. Se você se sentir mal de novo, me ligue. — Ele fala e volta para dentro do dojo, e eu continuo andando.

[...]

 A lua brilha no céu enquanto eu ando pelas ruas de Tóquio. Sempre me senti mais confortável à noite, na presença da lua, mas nessa noite em especial, sinto uma sensação estranha, como se algo ruim estivesse prestes a acontecer. Ando mais algumas esquinas, até que sinto meu corpo ser brutalmente jogado para frente com uma explosão. Caio no chão, ouvindo um chiado no meu ouvido e com as palmas das mãos machucados pelo impacto contra o asfalto. Quando recupero os sentidos, olho para trás e vejo uma figura caminhando para fora das chamas causadas pela explosão.
 A medida que a figura, que agora identifico como um homem, se aproxima, sinto algo inexplicável, como se o próprio mal estivesse vindo em minha direção. Mal consigo me levantar, e sinto minhas pernas tremendo diante daquela presença. “Concentre-se!” — sinto meus sentidos me alarmando. Antes mesmo de perceber, sinto meu corpo assumindo uma postura ofensiva.
 O homem está agora a apenas alguns metros de distância, trajando um terno preto, com olhos vermelhos como sangue e brilhantes como fogo focados em mim. Ele levanta sua mão, e vejo algo se formando nela: uma esfera vermelha, do tamanho de uma bola de futebol, e ele atira-a em minha direção, como uma bala de canhão.
 Mal tenho tempo de me jogar para o lado e desviar, e a esfera atinge o chão onde eu estava e faz uma enorme explosão. A possibilidade do estrago que aquilo faria caso me atingisse me faz estremecer.
   Ele começa a carregar um segundo ataque, mas antes que pudesse atirar contra mim, um turbilhão de chamas surge a sua frente. Quando as chamas de extinguem, vejo uma garota de cabelos vermelhos parada entre mim e o homem.  Ele parece intimidado com a presença dela, e começa a se afastar lentamente em direção às sombras, até que simplesmente desaparece.
 — Você precisa vir comigo agora. — Ela ordena, olhando para mim.
— Quem é você? O que diabos está acontecendo aqui? — Pergunto, incrédulo com o que aconteceu nos últimos minutos.
 Antes que ela pudesse me responder, sinto novamente aquela dor atravessando meu corpo, enquanto meus sentidos se esvaem lentamente.

[...]

 Acordo em uma cama num lugar estranho. Quando me levanto, minhas últimas memórias passam pela minha cabeça como uma flecha, e fico assustado novamente.
 —Raiden, ele acordou. — Ouço a garota ruiva dizer do outro lado do quarto onde estava. Em seguida, um rapaz de mais ou menos vinte anos entra no quarto.
 —Mizuki, é bom te ver. — Ele fala, se aproximando de mim.
 — Quem são vocês? O que está acontecendo? Como sabem meu nome? — Pergunto.
 — Meu nome é Raiden. — Ele se apresenta. — Essa é Akane. — Ele diz, apontando para a garota. — Eu sei que as coisas estão meio confusas agora, mas em breve, tudo vai fazer sentido.
 Olho para um espelho no outro lado do quarto, e me surpreendo com o que vejo: onde estavam meus cabelos castanhos, herdados do meu pai, agora estavam cabelos brancos e brilhantes, acompanhados de um par de olhos lilás. Antes mesmo de eu perguntar, o rapaz se adiantou:
 — Você deve estar se perguntando o que aconteceu com você, porque está desse jeito. Bom, a resposta é simples, Mizuki: seu corpo habita a alma de um deus, adormecido. Mas agora, ele despertou.


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Notas finais do capítulo

Glossário:
Dojo: é o local onde se treinam artes marciais japonesas.
Samurai: guerreiro japonês especializado no uso de espadas.

Comentem o que acharam sobre o capítulo! O próximo sai dia 20/02, aguardo vocês lá.



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