Mr. & Mrs. Black escrita por pnsyparkinson


Capítulo 10
Capítulo Nove




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Sirius quase caiu para trás ao olhar para o alto do espigão de oitenta e tantos andares, novinho em folha, que se lançava em direção ao céu cor de anil. Conferiu o endereço que aparecia no bloco de anotações de Marlene. Era ali mesmo. Octogésimo segundo andar.

O prédio ainda estava em construção, mas aparentemente a Triple-Click não tinha tempo a perder. Afinal, tinham um assassinato para planejar: o dele.

Vestindo um macacão preto e carregando uma caixa de ferramentas surrada, ele era apenas mais um operário-padrão a caminho do trabalho; portanto, não teve dificuldade para cruzar os andaimes. Dentro do elevador, apertou o botão que lhe interessava e ficou ali, olhando para os números: 70, 71, 72, 73... O 74 não se acendeu. 75, 76... De repente, o carro parou entre dois andares.

Black esperou por um instante para ver se se tratava de um truque de espionagem premeditado ou apenas um problema rotineiro. Por fim, uma voz masculina disse pelo alto-falante:

— Aqui é da segurança. Aparentemente há um problema com o elevador. Podemos mandar um engenheiro pra dar uma olhada, se o senhor quiser.

— Nah, muito obrigado - respondeu — Prefiro ficar aqui, esperando que o problema se resolva sozinho.

Um momento de silêncio, e então depois o segurança voltou a falar.

— O senhor está brincando, não está?

Sirius não respondeu. Então o guarda se manifestou novamente, impaciente demais para um reles segurança.

— Então, está brincando ou não está?

Na verdade, aquele jeito de falar lembrava demais o tom de impaciência de sua mulher quando se metia numa discussão. Sorriu calmamente para a câmera de segurança fixada na parede.

Nunca se sabe quem está nos observando nesse tipo de situação. E então, mandou um beijinho para ela.

[...]

Era isto, pensou, ele havia descoberto o endereço a partir da anotação que ela havia feito no bloco da mesinha de cabeceira. E agora estava lá. E McKinnon sabia muito bem para quê, e o que planejava fazer.

Ela olhava para as imagens de Sirius, preso no elevador entre dois andares. Seu marido sempre ficava irresistível em roupas pretas. "Ele não é meu marido", teve de se lembrar.

Havia falado com ele como se fosse um guarda de segurança, sua voz distorcida por um modulador de modo a ficar mais grave. Quando ele não respondeu, foi obrigada a repetir.

— Está brincando ou não está?

No monitor, ele levantou o queixo e olhou diretamente nos olhos de Marlene. Ela tinha certeza de que, com ou sem modulador, ele sabia exatamente com quem estava falando.

Sobretudo quando mandou um beijo.

Deixou de lado a voz falsa e revirou os olhos.

— Esse é o primeiro e último aviso que eu te dou, Sirius.

Ele sorriu para a câmera, e Marlene ouviu uma de suas assistentes mais jovens suspirar. Aquele sorriso sempre fora uma de suas armas mais poderosas.

— Você sabe que não vou a lugar nenhum - ele retrucou sem se alterar.

Naquele elevador não estava o homem que, entre uma dose de uísque e uma partida de golfe, atravessara como um sonâmbulo o simulacro suburbano de uma vida em comum.  Ninguém precisa de uma atitude como aquelas para cortar a grama ou levar o lixo reciclado para fora.

— E não vai mesmo - Marlene devolveu — Nesse exato momento você está trancado num caixote de aço hermeticamente fechado e pendurado a uma altura de 76 andares.

Sirius esmurrou as portas do elevador, mas elas não se mexeram. Tentou alcançar a escotilha de emergência, mas ela  era alta demais.

— O que você tem aí em cima? - perguntou.

— Você não gostaria de...

— Cargas ocas no cabo de contrapeso? - ele arriscou — E também nos sistemas primário e secundário de frenagem?

— Ele as encontrou! - disse Lily, surpresa. Marlene sorriu, ela também ficou impressionada.

— Mas não todas - relevou para a amiga, antes de voltar ao microfone.

— Six, por acaso também viu a carga-base no cabo principal?

O sorriso de um milhão de dólares murchou pela metade. Estava claro que não tinha visto.

— De agora em diante só vou pegar o expresso.

— Acha que sou burra o bastante pra deixar um mapa da mina ao lado da cama? Puxa, Six, achei que você fosse mais que um rostinho bonito.

Foi o que bastou para acabar de vez com o sorriso dele. Quanto a Marlene, teve de reprimir a vontade de tripudiar. Sirius retesou os músculos da face, os olhos faiscando na direção dos dela. Depois balançou a cabeça.

— Você não vai detonar.

— Ah, não?

— Não.

Estavam jogando uma sinistra partida de pôquer; muito divertida para ela, mas nem tanto para ele, pendurado no alto de um fosso de elevador.

— Acha mesmo que não vou?

— Acho.

Ele respondia sem hesitar, seguro, petulante. De repente a cabeça da morena se deixou levar pela dor e pela raiva de quem havia sido traída. O coração duro como pedra, virou-se para Dorcas e deu o sinal que ela esperava.

Meadowes apertou os botões na mesma hora. As luzes verdes do monitor ficaram vermelhas. Tradução: armado.

Começou então a contagem regressiva.

— Cinco, quatro...

— Contar pra que, Marls? - Sirius disse, desafiador — Se vai mesmo detonar, detona logo. Vamos lá: três, dois, um... fogo!

Ele estava lhe provocando, e Marlene detestava ser provocada.

— São essas as suas últimas palavras?

Um sorriso maldoso brotou em seus lábios.

— Não - disse sorrateiro, dando de ombros — São essas: eu detestei as cortinas novas!

— Argh, filho da puta! - Marlene rosnou — Adeus, Sirius.

Se estivesse esperando por um coração mole ou por uma comutação de pena, tinha esperado à toa. Marlene colocou os dedos sobre o botão que mandaria aquele rostinho arrogante para o inferno.

Foi então que algo aconteceu. Algo que nunca havia acontecido antes, nem mesmo nos primeiros anos de carreira da mulher. Ela travou, sua mão literalmente congelou sobre o botão. Não conseguiu ir em frente.

Deixou a mão cair no colo, horrorizada consigo mesma.

"Eu sabia!", era o que dizia o sorriso presunçoso nos lábios de Sirius. Mas antes que ela pudesse pensar no que viria a seguir, ouviu um estrondo terrível. O homem ficou igualmente surpreso quando juntos perceberam que as cargas tinham explodido e o carro de elevador de duas toneladas despencou como um saco de tijolos.

Viu, estupefata, quando Sirius foi bruscamente jogado contra o teto do carro, movido pela força da queda.

Mas ela não tinha apertado botão nenhum. O que poderia ter acontecido? De repente sua atenção se voltou para uma palavra que não parava de piscar no laptop de Dorcas: ATIVAR.

Virou-se para ela, os olhos fumegando como duas explosões nucleares simultâneas.

— O que foi? - falou Dorcas — Você disse "adeus", não disse?

Saltou da cadeira e grudou os olhos no monitor sem poder fazer absolutamente nada. Chocada com o que estava acontecendo. Tomada de terror.

"Rápido! Talvez eu possa..."

O monitor ciciou como se dissesse: "Sua tonta!"

O rosto de Sirius sumiu da tela, substituído por um vazio estático, mudo.

[...]

Com a velocidade de um trem de carga, o carro despencava rumo ao fundo do fosso. A força da queda o empurrava contra o teto. Mesmo assim, conseguiu dar um sorrisinho de adeus para Marlene quando atravessou a escotilha e subiu no topo do elevador em queda.

A vibração fez com que ele soltasse a caixa de ferramentas. Alicates, martelos e chaves voaram para todos os lados. Voltou a cabeça para dentro do elevador, onde agora se ouvia uma versão pasteurizada de Garota de Ipanema.

Pulou para dentro do carro para pegar uma chave de grifa que chacoalhava no chão e voltou ao topo o mais rápido que conseguiu. Ali, afundou a chave no que parecia ser um mecanismo de frenagem secundário. De início, a coisa não saiu do lugar, mas acabou cedendo. E então algo aconteceu. A velocidade da queda começou a diminuir. Cada vez mais.

Até que finalmente o carro parou. No quarto andar. O número estava grafado no dorso da porta. Ficou pensando numa maneira de abri-la. E então um barulho muito alto pareceu despertá-lo. O que quer que estivesse segurando, não segurava mais. E o elevador voltou a cair fosso abaixo, duas toneladas de metal, para depois se esborrachar no chão com um impacto ensurdecedor.

[...]

"Acabou. Santo Deus, como eu pude...", o cérebro de Marlene estava repetindo aquilo, como um mantra.

Olhando para o outro lado da rua, a mulher viu uma nuvem de poeira e estilhaços vazar pelas portas do arranha-céu ainda em construção. Acidente de trabalho, é o que diriam depois. Ninguém jamais saberia o que de fato tinha acontecido.

Ela sequer estava no prédio quando tudo aconteceu. Sua equipe e ela estavam perfeitamente seguras a poucos metros dali, dentro da van preta — um centro de comando móvel de onde ela havia orquestrado a coisa toda. Na verdade, Sirius passou bem ao lado delas quando estava a caminho do prédio, e em nenhum momento da pequena conversa que tiveram, percebeu que não estavam no octogésimo segundo andar. Apenas ele estava.

Em termos estritamente técnicos, McKinnon não tinha feito nada. Dorcas havia detonado os explosivos.

Mas ela tinha planejado tudo. Tinha armado as cargas com as próprias mãos. Tinha premeditadamente deixado a impressão daquele endereço no bloquinho de anotações. A isca foi das mais rudimentares, coisa de criança, mas Sirius mordeu-a com a inocência de um cordeirinho. Tudo não passou de uma armadilha. Na qual ele havia caído como um pato. Portanto, que diferença fazia não ter sido Marlene quem apertou o fatídico botão?

Sua intenção havia sido o tempo todo apertá-lo. Afinal era esse o plano. Suas mãos estavam sujas de sangue — do sangue de Sirius.

O que sentir depois? Horror? Remorso? Pesar? Ela não sabia dizer. Um atordoamento, talvez, como o de um sonâmbulo que acaba de acordar no meio de um lugar desconhecido.

Como é que ela foi parar ali?

Por fim, ouviu o alvoroço das sirenes dos carros de polícia e das ambulâncias que cercavam o local do acidente. Mas sabia que as ambulâncias seriam desnecessárias.

Era muito boa no que fazia. Tinha certeza de que nenhuma pista havia ficado para trás. Nenhum corpo.

Sirius tinha... ido embora.

As luzes dos carros de polícia rodopiavam no ar como as luzes de uma discoteca surreal. Sentada ao seu lado, Lily analisava a expressão nos olhos de sua chefe. Marlene, porém,  virou o rosto antes que ela pudesse descobrir o que estava sentindo.

Ela era uma profissional. Como uma cirurgiã, não podia permitir nenhuma espécie de sentimento se quisesse realizar bem o seu trabalho.

Seus olhos se voltaram para o tumulto do outro lado da rua. Sim, havia tido coragem.

Fez exatamente o que Sirius Black teria feito se ela não tivesse feito antes.

[...]

— Ela foi capaz - Black disse, ofegando — Ela foi mesmo capaz...

Levou alguns segundos para se convencer de que não estava no céu, nem no inferno. De que ainda estava vivo, pendurado pela ponta dos dedos a uma aba, quatro andares acima do elevador em escombros.

Escombros que deveriam ter incluído pedacinhos do seu crânio, do seu esqueleto inteiro. 

Chegou a achar que jamais tivesse coragem. Mas teve. Talvez tivesse pensado: "É ele ou eu." 

E você, Sirius? Teria a mesma coragem que ela?, pensava.

Se tivesse a oportunidade, teria estourado os miolos da vaca antes que ela pudesse despachá-lo para as profundezas do inferno?

Teria, Sirius?

Pois ela teve. Não pensou duas vezes.

De volta à realidade: ele precisava usar parte da adrenalina que desperdiçava desejando a morte de Marlene na tentativa de sair dali de alguma forma  e acertar suas contas tão logo possível.

[...]

Mais uma viagem de táxi pelas ruas da cidade, luzes cintilando como diamantes no ar fresco da noite. McKinnon tinha tomado um banho rápido e trocado de roupa: a máquina mortífera acabara de cumprir uma missão e agora podia trocar computadores e armas por novos adereços: batom, rímel, um vestido novo, sapatos de salto alto.

O táxi parou junto ao meio-fio, e um porteiro a ajudou a sair. Diante de um dos restaurantes mais sofisticados de Nova York, conferiu sua aparência no reflexo sobre a janela de vidro laminado. O vestido lhe favorecia: preto, sexy. Ela estava de volta ao papel de Marlene Black — mulher e esposa.

"Não", seu coração lembrou. "Esposa, não. Viúva."

Santo Deus, ela precisava beber alguma coisa. Então entrou, mal reparando nos olhares de admiração que a seguiam enquanto o maître conduzia até a mesa. Mesa para dois.

— Champanhe, por favor - ela disse enquanto sentava.

— Pois não, Sra. Black.

As pessoas a conheciam ali. Sirius e ela eram assíduos frequentadores. Aquele era, ou melhor, tinha sido um dos seus restaurantes prediletos.

A mulher piscou as pálpebras para afugentar as lágrimas que ameaçavam brotar em seus olhos e examinou o ambiente — em parte por instinto e hábito, em parte por curiosidade. A sala parecia fervilhar de pessoas felizes. Amigos, familiares, casais apaixonados... Pelo menos todo mundo estava com alguém.

A solidão não era nenhuma novidade para Marlene. Boa parte de sua vida ela tinha passado sozinha, mesmo quando criança.

Mas naquela noite... ela nunca havia se sentido tão sozinha.

Fechou os olhos e deu um longo gole no champanhe, desejando que aquela efervescência contaminasse seu espírito. Afinal, não lhe faltavam motivos para comemorar, certo?

Havia sobrevivido ao desmantelamento de uma situação que já não se mostrava mais operante. A frase era boa. Precisava anotá-la.

Mas, pensando bem... Os casais se separavam a toda hora, e em razão dos conflitos mais banais. Caramba, ela não tinha tido um conflito com o seu marido. Tinha tido uma verdadeira guerra — com armas, explosivos... Não podiam simplesmente dizer um ao outro: "Então tá, valeu, a gente se vê por aí". Aquele relacionamento era de outra natureza. Do tipo matar ou morrer.

Até que a morte os separe.

Naquela ânsia de dizer o tão esperado sim, ninguém realmente para para pensar nessas palavras. 

Então era isto, os joguinhos de amor e ódio tinham chegado a seu fatídico fim. Ela tinha vencido. E por sorte ainda estava viva.

No entanto, ao depor a taça de cristal sobre a toalha impecavelmente branca, teve a impressão de que, à sua frente, o prato e os talheres intocados e a cadeira vazia zombavam de si.

Seu coração não se deixava convencer de que estava ali para comemorar.

De repente, risadas misturaram-se aos seus pensamentos. Tentou desesperadamente descobrir de onde elas vinham. Não deveria ter olhado. Vinham de dois pombinhos apaixonados, sentados num canto distante, totalmente imersos na adoração um do outro e alheios a tudo o mais que se passava ao redor, inclusive a vexaminosa expressão de inveja que decerto cobria seu rosto.

Lembrando a si mesma de jamais desejar o impossível outra vez, levantou a taça vazia entre os dedos.

E, como se tivesse lido seus pensamentos, um garçom surgiu ao seu lado para servir mais um pouco do champanhe.

— Obrigada - murmurou, piscando os olhos para limpar a umidade.

— Madame.

"Meu Deus, ele falou igualzinho ao Sirius." Marlene piscou diversas vezes antes de levantar o rosto e olhar para o homem ainda parado, quase deixando um grito de surpresa e espanto escapar por entre seus lábios carmesim. 

Para sua surpresa, era Sirius quem estava ali. Vivo e com todos os ossos no lugar... Mas como?

Bolhas parecidas com as do champanhe começaram a dançar na periferia do seu campo de visão, como se pedissem que ela desviasse o olhar. Mas o segurou firme e devolveu o olhar fixo de seu, ainda vivo, marido.

E além de vivo, ele estava absolutamente lindo naquele terno escuro. Muito calmo para alguém que acabara de ludibriar a morte.

Provavelmente a maioria das mulheres que acabaram de assassinar o próprio marido teria demonstrado um pouco de espanto. Mas os anos de prática e treinamento vieram ao seu auxílio, carregando-a numa espécie de onda até que ela pudesse recuperar o controle. Sua mão tremeu ligeiramente quando levou a taça à boca, mas deu um longo gole como se estivesse esperando por Sirius a noite toda.

Deixou que ele falasse primeiro.

— Pensei em várias coisas pra te dizer neste momento - falou por fim — "Querida, por sua causa estou no fundo do poço..." ou "Foi você quem me deixou assim, tão caído.."

Casualmente McKinnon engoliu o champanhe e perguntou — E então, vai dizer o quê?

Os olhos dele quase perfuravam os dela.

— Quero o divórcio.

— Gosto da ideia. Foi aqui que você me pediu em casamento, a simetria chega a ser bonita. 

O homem puxou a cadeira vazia.

— Posso me sentar?

— Por favor.

Tão logo ele se sentou e acomodou o guardanapo no colo, um garçom de verdade se aproximou da mesa.

— Champanhe, senhor?

Em nenhum momento Sirius despregou os olhos de Marlene.

— O champanhe é para as comemorações.

Ele permaneceu em silêncio o suficiente para que ela se lembrasse: ele havia dito a mesmíssima coisa naquela noite do passado. Mas desta vez acrescentou, áspero:

— Vou querer um martini.

A interpretação de Black era seca, controlada. "Isso deveria ser um filme", pensou Marlene. Sem quebrar o olhar recíproco, aproveitou a deixa dele e disse ao garçom:

— Vou acompanhá-lo no martini.

O garçom recolheu sua taça de champanhe e desapareceu. Sirius estudava seu rosto através do lume das velas, e ela se esforçava ao máximo para parecer bonita e indiferente.

— Você não pediu que levassem o meu prato e os meus talheres - ele disse depois de um tempo — Não estava esperando por mim, estava? 

A mulher apenas deu de ombros.

— Digamos que eu seja uma mulher sentimental - provocou, dando um pequeno sorriso.

— Está surpresa?

— Por você ter tido tempo de fazer a barba? 

— Por não ter atirado ainda - Sirius soou casual, passando os longos dedos pelos cabelos escuros.

Marlene não pôde conter o riso. Para duas pessoas determinadas a matar uma à outra, eles eram extremamente parecidos. Ela deveria ter imaginado que, sob o guardanapo de linho, ele escondia mais do que as joias da família.

Afinal, na qualidade de profissional calejada, ela tinha feito exatamente a mesma coisa. Obedecendo a um reflexo, havia tirado de um coldre que fazia as vezes de liga de meia, uma pistola minúscula que depois escondeu sob o guardanapo. Naquele exato momento a arma estava apontada diretamente para o meio das pernas de Black.

— Não, isso também não me deixa surpresa - respondeu por fim.

E assim deixaram claro um para o outro que sabiam muito bem qual era a situação ali. Sorriram como dois inimigos que, de tão semelhantes, acabam por desenvolver uma estranha amizade.

— Sabe do que mais gosto nos restaurantes? - ele brincou.

— Estão sempre cheios de testemunhas - e com um sorriso, Marlene propôs uma trégua — Mãos sobre a mesa?

"Será que posso confiar nele?" pensou, balançando o pé por baixo da mesa.

Claro que não.

Acontece que estavam no meio de um restaurante sofisticado, um lugar onde eram conhecidos. Nada adequado para um assassinato. Além do mais, quem dos dois saísse vivo daquela situação jamais conseguiria uma mesa ali novamente.

Lentamente a mulher levantou as mãos do colo e as colocou sobre a mesa. Sirius fez o mesmo.

Achou melhor resolver os assuntos de trabalho durante os aperitivos, antes que pedissem a comida. O chefe daquele lugar era um génio da culinária, e subitamente McKinnon se sentiu faminta.


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