Ode aos desafortunados escrita por Angelina Dourado


Capítulo 37
As Moedas e o Banho


Notas iniciais do capítulo

Postei e saí correndo.



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Não se hospedaram em nenhum lugar da Cité, pois por ser um dos pontos centrais da cidade, os preços de suas hospedarias eram salgados demais para eles que economizavam o dinheiro guardado em caso de tempos difíceis. Conseguiram uma vaga em um lugar de La Rive Gauche, próximo das universidades. Era um local ocupado por comerciantes e artesões que assim como eles estavam de passagem pela região, não causando um choque de classes que muitas vezes podia se tornar um problema. Tratava-se de algo inerente a eles desde o nascimento, sabiam muito bem onde eram aceitos ou não.

Puderam deixar Peregrino no estábulo e conseguiram jantar mesmo passado do horário, aproveitando a chance de carne fresca no lugar do mingau de aveia de todo dia. Mas no final, tudo o que queriam naquele instante era se livrarem das roupas imundas de viagem e descansarem de verdade finalmente.

— Temos que trocar essas porcarias de moedas. – Loki resmungou enquanto contava cada uma das moedas diferentes que possuíam, separando-as em pequenas pilhas. – Precisamos de mais denários parisienses para conseguirmos nos manter na cidade, mas quando sairmos elas se tornarão inúteis se não trocarmos por outras! Puta merda...

— Podemos ver com algum dos comerciantes depois, algum deles ainda deve estar no salão. – Friedrich sugeriu, já retirando seu cinto e em seguida a primeira túnica, estando agoniado com os comichões de sua pele. Quanto tempo já fazia desde que haviam tomado banho? Um de verdade, não apenas lavando-se com um pano úmido como faziam diariamente. Provavelmente desde havia começado a cair neve.

— Acho melhor eu já resolver isso agora, se quisermos ver mais da cidade amanhã cedo temos que ter um dinheiro que sirva de alguma coisa. – Loki disse colocando as moedas de volta no bolso, dando uma olhada nada sutil para o parceiro. – Adoraria ficar vendo-o tirar todos os trapos, mas vou deixa-lo aproveitar a água quente primeiro.

— Não demore muito, você é quem mais está precisando de água. Está repugnante. – Friedrich disse desviando o olhar para não mostrar o rosto rubro, decidindo retirar a camisa de linho depois que Loki fosse apenas por teimosia.

— Se fosse de tal forma, não dormiria ao meu lado.

— E é exatamente por isso que sei do seu estado com precisão. – Friedrich declarou fazendo o parceiro rir com gosto.

— Certo, mas deixo-o fazer as honras, pois também te afirmo que não me surpreenderei se suas roupas começarem a ganhar vida em meio à sujeira. – Loki disse risonho sabendo que incomodaria o parceiro asseado, tendo que fechar logo a porta para não ser acertado pela bota do companheiro jogada em sua direção.

Enquanto o druida se punha a negociar, Friedrich livrou-se prontamente das camadas de roupa que o protegeram nos dias mais frios daquele ano, mas que agora eram uma porção repugnante para ser deixada de molho por um longo tempo até desprender toda a sujeira. Por um instante Friedrich olhou surpreso para o próprio corpo, visto que haviam porções de sua pele que não via mais há mostra já fazia tempos, evidenciado pela cor quase tão pálida quanto gesso. Mas não se demorou muito para submergir na água quente, devido ao frio que mesmo não tão rigoroso ainda beliscava a pele. Logo o cabelo mudou de um amarelo queimado para claro feito palha, tirando as crostas da pele e sentindo-se ficar muito mais leve do que antes.

Como não pretendia sair tão cedo do quarto, colocou apenas o calção e a camisa de linho, separando a roupa para lavar quando tivesse tempo, e deixando arejar a extra da bagagem. Verificou o forro do colchão para não acabar se surpreendendo com roedores embaixo dele durante a noite, e, apesar da palha estar um tanto velha para seu gosto, pelo menos não haviam intrusos. Logo se entocou nos cobertores, apreciando por um instante a própria solitude e paz de espírito que sentia no momento. Permanecendo tão sereno que logo os olhos começaram a lhe pesar durante as breves orações que fazia mentalmente, provavelmente teria até adormecido se certo druida não tivesse aparecido, despertando-o por completo.

— Troca feita! Que Paris vá se foder com suas malditas moedas. – Loki fechou o trinco da porta, jogou o saco de moedas para Friedrich e retirou o manto de pele, tudo isso antes de terminar de falar. – Essa cidade já fede por si só, não preciso contribuir.

— Espero que não tenha pulgas de novo. – Friedrich comentou travesso, fazendo os olhos de gato virarem atônitos para sua direção.

— Nem chegue perto! Já sofri bastante em tuas mãos uma vez por conta disso. – Loki reclamou já totalmente despido, o que fez Friedrich olhar para o lado constrangido. Não é como se não fizessem tal tipo de coisa na frente um do outro – no inverno anterior Friedrich ficou surpreso por vários dias ao constatar que era possível ser inteiramente ruivo –, mas através de trocas parciais de roupas, geralmente a uma distância considerável um do outro enquanto estavam na floresta, tendo apenas vislumbres do corpo de cada um. Mas na intimidade de um quarto e em tal proximidade, Friedrich apenas sentia o rosto enrubescer-se enquanto uma voz lasciva dentro de si pedia para que observasse as formas do companheiro.

Soltou o ar que segurava inconscientemente assim que Loki adentrou a tina de madeira, escondendo assim sua nudez parcialmente. Mas não conseguia deixar de se impressionar com a visão do druida se banhando, molhando os cabelos cor de fogo e mostrando os braços robustos e seu torso. O peito acelerava-se e ao pressentir as reações de seu corpo acabava por desviar os olhos novamente, mas não resistindo por muito tempo e voltando a observá-lo em silêncio, ficando assim em um ciclo de embaraço e fixação.

Loki se retirou, revelando-se por completo enquanto secava-se e pegava pelo calção. Dilatando os olhos de Friedrich com a visão de seu corpo que para ele era uma verdadeira beleza robusta e selvagem, observando sua pele bronzeada de rosa nos ombros e braços a contrastarem com a cor leitosa do restante do corpo, as pernas musculosas e firmes como rocha de andarilho, as sardas a cobrirem seus ombros largos e tomando suas costas como uma capa, o torso forte que contrastava um pouco com o abdome sutilmente saliente, tomado por pelos ruivos em todo peito e marcado com algumas cicatrizes, a forma vigorosa de suas ancas e de...

Oh Deus. Oh Deus. Oh Deus. Oh Deus. Oh Deus. Oh Deus. Oh Deus.

— Nenhuma pulga dessa vez. – Loki disse com o sorriso de vigarista e os olhos de cobra a brilharem em sua direção, fazendo com que sentisse dezenas de borboletas no estômago e o peito se acelerando ainda mais. Friedrich não queria deixar evidente seu arrebatamento, mas sabia que seu rosto provavelmente deixava claro o que sentia.

Loki vestiu somente os calções, mal arrumando os cordões que o prendiam a cintura, deixando as roupas arejarem assim como Friedrich, secou os cabelos com certo vigor que fez os fios se espantarem para todos os lados. Em seguida andou em direção à cama, erguendo os cobertores onde Friedrich encolhia-se cada vez mais, enfiando-se no meio e se aconchegando no companheiro mais quente para se aquecer. O contato da pele fria e ainda úmida do ruivo arrepiou todos os fios do companheiro.

— Sabe que tem duas camas aqui. – Apontou constrangido, receoso em olhar para os olhos de Loki e se derreter por completo.

— Sim, mas é bem mais eficiente aquecer-se em companhia. – declarou, encostando seu queixo no ombro do companheiro, com a barba um tanto úmida lhe fazendo cócegas. – Mas se preferir eu me retiro daqui.

— Não...! – Friedrich exclamou mais rápido do que seu decoro gostaria, sentindo o rosto esquentar-se ainda mais do que acreditava ser possível. – Pode ficar...

Loki lhe envolveu a cintura, o fazendo sentir um novo arrepio prazeroso subir pelo corpo ao ter quiçá pela primeira vez o contato direto de pele contra pele, com os pelos dos braços e das pernas dele lhe comichando e a umidade do corpo recém-banhado atiçando seus sentidos. Apesar dos modos contidos, não demorou para se apaziguar com aquela presença familiar e desejada, onde até mesmo tentou pentear os fios rebeldes do ruivo com os dedos.  

— Notei que me contemplava antes, por isso está assim tão acanhado? – Loki indagou propositalmente, sabendo que enticaria o companheiro puritano que se remexeu desconfortável e engolindo em seco. Friedrich pigarreou sem jeito por um instante, onde mesmo na luz fraca das velas do ambiente ele podia notar o tom vermelho de seu rosto, não conseguindo conter um sorriso afável ao achar adorável seu jeito envergonhado.

— Ora... Tu és intensamente belo. – Falou mal raciocinando ao declarar o cortejo, dito imerso na própria paixão. Loki sentiu o coração palpitar, ficando com um sorriso a lhe preencher todo o rosto, pegando a ponta do queixo de Friedrich e o trazendo para si, tocando suas frontes e faiscando os olhos místicos.

— Ah, sabe que nunca nego elogios. – Respondeu selando levemente seus lábios. – Mas sou grato por teu afeto, por tua companhia, por absolutamente tudo.

Beijaram-se com intensidade, bailando em suas bocas e aproximando ainda mais seus corpos sedentos por calor, envolvendo os braços ora ao redor do pescoço, ora na cintura, percorrendo as mãos para descobrir mais a forma do peito e das costas, vorazes em conhecer melhor cada porção de sua companhia.

— Amo-te, amo-te tanto Loki... – Declarou sem fôlego, o coração pulsando com força, tocando nas madeixas ruivas com afeto e cupidez, olhando encantado para aqueles olhos belíssimos e que tanto o afetava. Sentia o espírito alegre e o coração repleto de paixão naquele instante, onde por mais acanhado que se sentisse naqueles instantes de intimidade, acabava aceitando a própria timidez e deixando-se levar por aquelas sensações novas e instigantes.

— Também o amo. Cada porção, cada faceta tua, eu amo-te. – Loki respondeu contornando o rosto do amante com ternura, beijando-o com paixão intensa nos lábios e pelo pescoço por saber como ele suspirava de prazer de tal forma. – Diga-me para parar se for muito...

— Mas eu o quero... – Friedrich disse terno, deixando as palavras saírem quase sozinhas de sua boca, mas apesar do calor percorrendo seu rosto e diferentes partes do corpo, não queria voltar atrás – Quero-o muito.

— Tem certeza? – Loki indagou cuidadoso, olhando com sensibilidade para o parceiro e acariciando seu rosto. – Eu não faria nada que o amedronte...

— Sei que não, meu amado. E sim, estou certo. – Declarou convicto, por mais nervoso que estivesse, sabia que era mais pela inexperiência e novidade do que por qualquer outra coisa. Loki sorriu solenemente, trazendo seu rosto novamente e iniciando um beijo casto que lentamente se aprofundava entre eles.

 Friedrich soltou um arquejo de surpresa ao ser deitado na cama pelo parceiro, rindo-se um para o outro, compartilhando mais uma porção de ósculos cheios de desejo. Sentiu a camisa de linho sendo erguida pelas mãos robustas de Loki e ficando com o torso desnudo como o dele. O druida então afastou-se, observando com cobiça estampada nos olhos de cobra o corpo de Friedrich, desenhando com seus dedos o torso, provocando arrepios na pele dele que não sabia se escondia-se de vergonha ou se entregava por completo aos toques do parceiro.

Friedrich era magro, onde conforme Loki passava as mãos pelo seu corpo podia sentir algumas costelas conforme ele respirava, mas não mais tão sobressalentes como nos momentos de maior miséria, sendo a pele de um tom tão claro que era possível notar algumas veias percorrendo seus braços, com poucos pelos mais escuros que o cabelo pelo peito e que trilhavam o ventre, com a cicatriz que marcou o encontro de ambos sendo aparente um pouco abaixo do estômago. Loki passou o dedo sobre a marca, atento a qualquer sinal de dor, mas recebendo como resposta apenas um olhar tranquilo dele.

— Deuses... Você é lindo... – Loki disse com o peito subindo e descendo descompassado, as pupilas tão cheias que quase podiam esconder o verde, fazendo o companheiro com o rosto já corado sentir as bochechas queimarem de novo. Loki o beijou com ardor, passando uma das mãos em seus cabelos enquanto a outra lhe apertava as coxas e as ancas com gana como gostava, espalhando mais óculos por todo seu corpo, inclusive beijando a cicatriz com cuidado, se deleitando ao ouvir os suspiros tímidos de prazer vindos do alquimista. Porém, logo percebeu a pele contra sua boca e em suas mãos estremecendo, com as mãos de Friedrich tocando seus cabelos vibrando nervosamente, fazendo Loki se reerguer e observar melhor seus gestos acanhados. – Está tremendo meu amor...

— Desculpe... E-estou um tanto nervoso. – Friedrich disse em um gaguejo, ficando com os ombros tensos. Loki saiu de cima de si e deitou-se ao seu lado, enlaçando sua cintura e acariciando seu rosto com desvelo.

— Não se desculpe, é normal sentir-se assim. Mas se ficar desconfortável é só me dizer. – deu um beijo em sua fronte, ficando por um instante apenas fitando um ao outro, com Loki acariciando a lateral de seu torso. – Não há por que ter pressa.

Friedrich sorriu solene, começando a sentir-se mais calmo. Abraçou o companheiro com ternura, refugiando o rosto em seu pescoço e se deliciando com o odor de sua pele limpa e da barba a lhe fazer cócegas.

— Está tudo bem, não creio que eu seja feito de vidro. – riu um tanto sem jeito, fazendo Loki sorrir divertido com o comentário. – Confio em você.

Beijaram-se novamente com ternura, saboreando-se com calma, tornando-se mais vorazes gradualmente. Esquecendo-se do mundo ao redor e se concentrando somente na existência daquela intimidade e descoberta, se separando das preocupações formadas pelo amor intenso que possuíam.

— Oh, espere... – Friedrich interrompeu por um instante.

— Algum problema? – Loki indagou preocupado, recebendo uma negativa do outro que retirava o cordão que usava com a cruz no pescoço e deixando-o de lado.

— Apenas precisava fazer isso. – Declarou retornando com o beijo, sentindo os lábios de Loki rindo.

Friedrich começava a se soltar de uma forma cautelosa, deixando pela primeira vez que o desejo lhe guiasse. Puxava para si os cabeços de Loki e tocava seu peito numa euforia a lhe tirar o ar dos pulmões. Queria descobrir cada porção do corpo do druida, e permitir que ele explorasse o seu da maneira que bem entendia. Sentia a excitação a atiçar sua pele, com os calções frouxos de Loki a lhe tentarem cada vez mais, abaixando as mãos até o nível de sua cintura com hesitação, levantando em alguns momentos de covardia, acabando por só tocá-lo por cima do tecido, mas ainda assim se arrepiando até o último fio de cabelo ao senti-lo rijo em sua palma.

— Freddie...! – Loki gemeu surpreso, arregalando os olhos e estremecendo-se por inteiro com a sensação, mas logo tomando o sorriso matreiro de sempre, olhando para o companheiro como uma serpente o faria com sua presa. – Sentindo-se ousado frade...

Friedrich o calou com um beijo, pois não deixaria que aquela coragem frágil se dissipasse tão rapidamente, arfando contra os lábios de Loki ao sentir a mão dele explorando por dentro de seus calções e se retesando ao ser tocado daquela forma tão intima e mais experiente que seus gestos tímidos que resolviam por fim descobrir como ele era de forma pecaminosa, sentindo o coração bater cada vez mais forte ao se impressionar o que ele próprio estava fazendo naquele instante.

— Desculpe se... Se eu não estiver fazendo certo. Eu não... Q-quer dizer, eu sei o que tem que fazer mas... Sempre me abstive ou terminava logo por conta da culpa e-então... – Tentou explicar em meio ao constrangimento e as palavras gaguejadas. Mas afinal, como poderia simplesmente revelar o quão avesso á luxúria havia sido por toda vida? A castidade que tentou manter até então ia muito além do contato com outros, mas de todo e qualquer desejo dentro de si, algo comum no meio em que antes vivia, mas que agora o fazia sentir-se esquisito naquela realidade menos avessa á tudo aquilo que já considerou como um grave pecado.

 – Ei, ei... – Loki o interrompeu antes que continuasse, encostando suas frontes mais uma vez e lhe olhando de forma afável. – Já disse que está tudo bem, eu não me importo. Se fizer como já fez ao pensar em mim estará ótimo.

Friedrich sequer sabia como era possível ficar ainda mais rubro, mas foi como se sentiu ao ter aquele olhar esverdeado repleto de malícia lhe insinuando aquele tipo de coisa.

— Seu parvo. – Friedrich disse fingindo indignação.

— E tu, do que lhe chamo? Donzelo? – Loki retrucou, com ambos rindo um para o outro antes de se entregarem aos beijos e carícias novamente. Tornando o alquimista menos inseguro e ainda mais tentado em ter o druida a estremecer daquela forma com seus estímulos, sentindo-se revirar os olhos por um motivo muito diferente do desdém como comumente fazia.

Logo Loki retirou sua última peça com facilidade, abaixando a de Friedrich em um único movimento, não tendo mais qualquer barreira a separá-los, com o alquimista deixando que o feiticeiro de olhos de gato lhe deflorasse, com a lascívia e a paixão dominando os seus gestos, conhecendo-se e amando-se no ápice da intimidade, onde por mais que ligavam seus corpos pela primeira vez, sabiam em seu interior que há muito suas almas já estavam unidas.


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Notas finais do capítulo

( ͡° ͜ʖ ͡°)
Comentem o que acharam e nos vemos no próximo capítulo!



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