Como Domar o seu Eu Interior escrita por Tyr


Capítulo 4
Tomo I - Spitelout




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A noite sobre todos recaía e pintava de escuridão a face daqueles que se expunham ao ar noturno.

A bela e pacata Berk de outrora não mais era apenas uma vila sem muito movimento, que após o cair do sol, se tornava deserta se não fosse pelos guardas que patrulhavam suas ruas, garantindo a segurança de todos. A ilha pós-Drago ia, aos poucos, se modernizando, agora nas horas noturnas era possível observar algum movimento de pessoas aqui e acolá. Entrecortada pelas grandes piras que acabavam de ser iluminadas pela equipe de iluminação, que, dentre eles, se notava um com extrema dificuldade de acender a mais alta da praça central. Talvez dificuldade, talvez falta de vontade, um observador comum não seria capaz de dizer.

Os habitantes continuavam com seus afazeres, noite adentro. Mesmo notando que o Conselho havia ordenado que se trancassem as portas para o Grande Salão, algo raro, pouco ou nenhuma atenção deram à isso. A vida seguia normalmente.

As horas passavam, o movimento continuava por algumas horas depois do escurecer, até que finalmente, a vila se acalmava. O único movimento ouvido eram das chamas que trepidavam dentro das imponentes piras que eram encontradas por toda a ilha, até a presença dos vigias noturnos se fazia silenciosa, era como se fossem estátuas vivas, observando o nada, guardando a noite.

O silêncio reinava novamente, os moradores se encontravam em suas casas recuperando suas energias para o dia seguinte, cheio de trabalhos e movimento. Ninguém se levantaria no meio da noite para andar por aí, com ou sem rumo, a noite era destinada ao descanso.

Seria isso o que qualquer observador comum diria.

Mas o reino do silêncio era cortado por uma figura coberta pela noite, tornada incógnita pela sua escuridão, que descia rapidamente pelos degraus do Grande Salão. Os quatro ou cinco guardas que vigiavam a praça central, em um dia ordinário, entrariam em alerta pela presença de tal figura suspeita perturbando a noite estática e tranquila diante deles.

Mas esse não era um dia comum. Ou melhor, não fora um dia comum.

O vulto desce rapidamente as escadas, atravessa a praça, sob o olhar despreocupado dos soldados que continuam imóveis perante a figura coberta por um capuz. O incógnito continua a caminhar, em direção ao chefe da guarda. Seus passos as vezes vacilantes, deixavam perceber que o indivíduo estava no mínimo, receoso, embora tentasse demonstrar firmeza, tal qual a figura que agora se encontrava diante dele.

Os dois seguem à uma viela entre as casas que se encontravam ao redor do centro da vila. O porte imponente do oficial, que, agora, ao lado do penhasco que dava vista ao mar e ao porto de Berk, deixava o vulto um pouco inseguro. Mas ele tinha certeza do que estava fazendo. Apenas não podia confiar totalmente nessas pessoas com tanto poder assim.

"E então?", quebrando o silêncio, perguntou o guarda. "Trouxe o que foi combinado?".

"Sim, claro", respondeu o vulto, sem tirar o capuz, enquanto remexia em suas vestes a procura de um pequeno trapo de couro que, amarrado no seu topo, mantinha seguro qualquer que fosse o conteúdo que havia dentro. Retirando o conteúdo de suas vestes, o barulho demonstrava que dentro dele, se encontravam moedas. Muitas moedas.

Entregou o embrulho ao soldado, sem fazer muita cerimônia. Ia virando para continuar em seu caminho quando parou e se virou para o ser que continuava em sua frente, com o embrulho em mãos.

"Ouça, com essa quantidade de ouro dá para colocar muita gente do seu lado", disse o encapuzado, não tão baixo quanto um sussurro mas nem tão alto quanto o volume de uma conversa normal. "Eu quero a maior quantidade possível de soldados do nosso lado, aqui em Berk, e que se recrute mais por todo o Arquipélago".

"Certamente", respondeu, simplesmente, o outro, num tom mais alto do que seria agradável.

"Não quero perguntas sobre o que tem que ser feito, não importa o que o Conselho diga, você responde diretamente à mim, entendeu?"

"Naturalmente", o guarda não era uma pessoa muito amável, ou de muitas palavras. Observou mentalmente o vulto.

Se virou, e continuou em seu caminho, em direção aos campos, longe do aglomerado de casas do centro de Berk. Onde se encontravam as grandes fazendas que mantinham a população.

x

A caminhada havia sido dura, parecia que por mais que andasse mais ainda tinha que caminhar. A idade estava começando a afetar o conselheiro na casa dos cinquenta anos. A sua vultosa barba negra que antes exibia orgulhosamente, começava a ter alguns pontos brancos, que entregavam a sua idade já avançada para um Viking comum.

Havia passado por diversas fazendas, já até perdia a conta de quantas casinhas afastadas havia visto, a paisagem à sua frente agora, se resumia a um caminho de terra iluminado pela luz tímida da tocha que carregava em sua mão direita. Havia cercas de madeira dos dois lados, que delimitavam as propriedades dos moradores das fazendas.

Nem todas propriedades eram arrumadas. Nem todas esbanjavam riquezas.

Na verdade a grande maioria era bem pobre, a maioria das cercas pelas quais ele passava com certeza não sobreviveriam ao próximo vendaval que viesse. Por mais pequena que fosse a ilha, não costumava andar muito por aquelas regiões, mas ocorria à ele o quão horrível estava aquele lugar. Não havia nem chovido e mal conseguia andar pela estrada de terra irregular e cheia de buracos.

Após um longo tempo, muito mais demorado do que gostaria, chegava ele à entrada de uma das fazendas do lugar. Era de longe, a melhor casa que havia visto por ali. Ao menos era limpa, e cuidada.

Limpando as suas botas da lama que havia se incrustado, bateu levemente na porta de madeira da propriedade. Olhando para o céu, estimou que o dia estaria perto de raiar. Não saberia precisar por quanto tempo caminhou.

Depois de um pequeno tempo que ele passou em silêncio observando distraidamente os seus arredores, com um rangido, a porta se abriu.

"Spitelout!", disse o anfitrião com um ar hospitaleiro, curiosamente demonstrava não estar cansado a essa hora.

"Hoark", respondeu meramente o outro conselheiro, bem menos entusiasmado. O cansaço o havia esgotado completamente.

"Como foi com os guardas?", perguntou o dono da casa, gesticulando para que o outro entrasse.

Spitelout deu de ombros, passou pela porta, retirando seu capuz e pendurando sobre uma cadeira que havia perto da entrada. "Nada demais, eles estão do nosso lado, mas a frieza deles é contagiante".

O anfitrião se resumiu a apenas levemente consentir com a cabeça, fechando a porta, depois de alguns segundos continuou. "Os mensageiros estão aqui há tempos".

"Eles trouxeram o que foi combinado?".

Hoark apenas retirou a moeda de ouro de dentro de seu casaco pesado de lã, com um sorriso, a lançou para Spitelout, que igualmente com um sorriso triunfante observou em silêncio o brasão da moeda estrangeira que se encontrava na palma de sua mão, reluzindo sob a luz das tochas.


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Notas finais do capítulo

Eu realmente espero que esse capítulo nao tenha ficado massante, espero que gostem!



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