Pandemônio escrita por Ahelin


Capítulo 1
Transcrito de Cláudio


Notas iniciais do capítulo

Aos 45 do segundo tempo, eu mesma escrevendo fic. Sério, sou mestre nisso.
Boa leitura!



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Boa tarde, jovem cabrita! Boa tarde, jovem cabrito! Aqui quem fala é Prix, sua colunista favorita, prepare-se para mais um texto sobre algo que provavelmente nunca achou que leria na vida. 

Mas acalme-se! Você deve ter reparado que eu sumi por um mês, certo? Bom, se não reparou, sugiro que procure um médico, afinal não perceber minha ausência deve ser sinal de uma doença grave. Talvez agora você esteja se perguntando o porquê. Aquiete bem seu traseiro no assento e preste atenção, porque a história é boa!

Com a chegada das férias, meu chefe decidiu que ninguém teria saco para ler minha coluna todos os dias. Acredite, o paspalho simplesmente chegou e disse:

— Priscila! — Ele fez uma pausa e apoiou as mãos na barriga enorme para se recuperar da cansativa caminhada de dez metros até minha mesa. — Você, garota, vai viajar para uma ilha e escrever um artigo sobre ela. Um artigo, não uma coluna, ouviu?

— Como vou escrever o artigo para amanhã? — Meu primeiro pensamento foi mandá-lo à merda, mas não é saudável dizer isso a seu chefe. Graças a Deus ele nunca lê o que escrevo antes de publicar, ou eu não teria mais dinheiro para nutrir meus dois filhos/gatos.

— Não, não, não. Você vai ficar um mês por lá e escrever o artigo quando voltar. Claro que também só terá um dia, porque eu quero isso publicado no dia 31, mas, francamente, eu não ligo.

Maldito anão careca e gordo! Amaldiçoei-o durante todo o percurso até minha casa, joguei uma praga qualquer em seus filhos enquanto fazia as malas e imaginei piadas sobre sua mãe no trajeto até o aeroporto. Ela é tão burra que escalou uma parede de vidro pra ver o que tinha do outro lado. 

Acalme-se, eu deixei meus gatos com a vizinha. Não sou um monstro.

Ilha Misaki era o destino. Aparentemente, eu passaria lá meus trinta e um dias de tortura. Melhor aceitar, certo?

Errado! Depois de três horas de avião e um maldito torcicolo, descobri que a tal ilha Misaki era como num desenho do Pica-Pau, tão pequena que seu único habitante era um cara do aeroporto. Seu nome é Jailson e ele é um deus grego. Quando tentei pegar seu número, ele me respondeu na maior cara de pau que não havia sinal ali. Trinta e um dias sem celular!

O pesadelo não acabou por aí. As outras cinquenta pessoas ali pareciam saber exatamente o que estavam fazendo; eu era a única perdida. Quando contei a Jailson, ele empurrou três fotos na minha cara e disse que eu teria que escolher entre as três outras ilhas do Arquipélago Nyah.

Como eu já estava com o pé na merda, escolhi a mais bonitinha. Escuridown, um nome tumblr, uma foto do mar iluminado mais tumblr ainda. Já tinha ouvido falar desse fenômeno, mar de estrelas, mas nunca tinha visto pessoalmente. Seria uma viagem fofa e relaxante. 

Pensar isso foi o pior erro da minha vida. 

Ok, acabou a introdução. O restante do artigo é transcrito fielmente dos garranchos que rabisquei num rolo de papel higiênico. Aviso prévio: depois do terceiro dia, eu não estava mais no meu juízo perfeito. 

Dia 1: Maldito chefe, maldito Jailson, maldita guia do barco que está nos levando. Acabei de descobrir que na porra da ilha não tem hotel. Não tem hotel! Como eu vou sobreviver sem hotel? Estão vendendo barracas aqui por mais dinheiro do que minha vida vale. Foi triste abrir minha carteira e ver cinco reais. Não sei o que vou fazer. 

Dia 2: Eu consegui subornar um dos outros viajantes e o fiz dividir sua barraca comigo. O lugar é lindo, mas só tem mato. Passei uma noite agradável e o desconhecido que se vende por um preço muito baixo também. Não consegui ver o mar iluminado, o que me decepcionou um pouco, mas minha maior preocupação são as marcas de garras no tecido da tenda de um outro turista. 

Dia 3: Ao que parece, eu sou a menos preparada dos quinze viajantes aqui. Todos eles conseguiram comida, água e um baixinho carrancudo matou um animal. Não me importo com o que era, o churrasco estava ótimo. Claro, isso se você não contar o fato dos olhos verdes da coisa te encararem mesmo mortos. Tive um pouco de medo, mas melhorou quando meu estômago estava cheio de novo. 

Dia 4: O dono da barraca com marcas de garra desapareceu. Procuramos por ele o dia todo, mas não encontramos nem rastro. Ele era nosso caçador. Adeus, carne. 

Dia 5: As sobras do animal misterioso acabaram. Meu adorável colega de barraca, cujo nome eu prefiro não saber, encontrou algumas frutas numa moita e eu fui a única a não comer. Também fui a única a não ter diarreia. 

Dia 6: Comi a unha do meu polegar. Até as frutas-caganeira acabaram. Imagino se eu seria capaz de matar meu colega de barraca. 

Dia 7: Um dos turistas tentou pegar meu rolo de papel higiênico durante a noite. Arranhei os olhos dele. Não me arrependo. 

Dia 8: Pensei ter ouvido um barulho na moita aqui ao lado, mas não era nada. Estranho. 

Dia 9: Temos carne. Não me orgulho do que fizemos. O que acontece na ilha Escuridown permanece na ilha Escuridown.

Dia 10: Mais barulhos. Acho que estou ficando louca. A carne dura mais uma semana. Espero não tirar o menor palitinho desta vez. 

Dia 11: Saí no meio da noite para verificar a moita. Surpreendi um vulto se escondendo nas sombras, mas ele foi embora quando me viu. O que está acontecendo?

Dia 12: Vendi metade do meu rolo de papel higiênico para um dos turistas por metade do pão que ele achou no chão. Me sinto um monstro. 

Dia 13: Roubei de volta a metade do rolo de papel. Não posso mais devolver o pão, eu já comi. Me sinto estranhamente apegada a ele. Ao papel, digo, não ao pão. Acho que vou apelidá-lo de Cláudio. 

Dia 14: Cláudio é um nome de merda. Descobri isso durante a noite. Tentei batizá-lo de Otávio, mas ele não quis. Permanece Cláudio. 

Dia 15: Joguei uma pedra no Vulto da Moita. Ele gritou de forma estranhamente feminina e correu. 

Dia 16: Não temos água. Meu nariz dói, acho que bati com ele em alguma coisa ou alguém. Não me lembro.

Dia 17: Hoje foi o último dia de carne. Amanhã teremos a segunda seletiva. 

Dia 18: Tomei banho no rio. Algo mordeu meu tornozelo, mas eu mal senti. A seletiva foi um sucesso. Meu coração quase parou quando vi o tamanho do meu palito, mas por sorte havia um menor. 

Dia 19: Sinto falta do meu colega desconhecido. Gostaria de ter perguntado seu nome. Ninguém perguntou. 

Dia 20: Acabo de ver um dos meus gatos andando para a floresta. É uma armadilha, eu sei. O Vulto quer que eu o siga. Não caio nessa, Vulto. Venha me pegar se quiser. 

Dia 21: Minha barraca era a cortada dessa vez. Gritei para a floresta que estava brincando, não queria que ele me pegasse. Não lembro se disse aquilo em voz alta. 

Dia 22: Acordei no meio da noite. Um par de olhos castanhos estava me observando da fenda no tecido da barraca. Rezei para que fosse o diabo e adormeci novamente. 

Dia 23: Pandemônio. Um homem do grupo roubou nossa carne e fugiu. Estamos desesperados. 

Dia 24: Montei uma armadilha para o Vulto. Estou esperando. 

Dia 25: Peguei! Não é um Vulto! É só um homem barbado com um cabelo enorme. Ele ficou preso aqui há dez anos, quando descobriu a ilha na companhia de uma mulher. Ela o abandonou para ficar com a descoberta sozinha. 

Dia 26: O Vulto tem uma casa. Ele se apresentou como Sérgio (ou algo assim, eu estava dormindo quando ele disse seu nome). Ele tem comida também. A moita é seu banheiro particular. Eu também ficaria irritada se alguém invadisse meu banheiro. 

Dia 27: O Vulto nos ofereceu comida, mas não tinha roupas para nós. Minha mala era a única restante. Os homens do grupo ficaram mais bonitos usando meus vestidos do que eu. Dei-os de presente. 

Dia 28: Apresentei Cláudio ao Vulto. Ele pareceu gostar. O pesadelo está quase no fim. Só mais três dias. 

Dia 29: Até que aqui é agradável. Talvez eu estenda minhas férias por mais um mês. Isso se o Vulto me deixar ficar, claro.

Dia 30: O Vulto não tem interesses românticos em mim e pretende deixar a ilha conosco. Foi um choque descobrir isso. Morri, mas passo bem. 

Dia 31: Estamos nos despedindo de Escuridown. Foi uma experiência maravilhosa. Sim, o melhor mês da minha vida! Criaturas exóticas, um maravilhoso estranho e um grande cachê para não escrever sobre o que vi ali. Infelizmente o que foi escrito em Cláudio não pode ser apagado. Aceitei o cachê, afinal realmente não escreverei nada (porque já está escrito).

Estas são minhas conclusões sobre a ilha:

Hospedagem - 3%

Seria mais agradável se nos oferecessem ao menos terra sem formigas para dormir. 

Serviços - 80%

Não posso reclamar. Comi carne durante quase toda a viagem. 

Paisagem - 100%

Principalmente se você estiver olhando na direção do tal Sérgio. 

Mistérios - 97%

Dou um 9 para a aparição misteriosa de um homem. Felizmente, essa atração turística não vai morrer... Por mais que tenhamos trazido Sérgio, o ladrão de carne continuará em Escuridown até o fim de seus dias ou até outra excursão encontrá-lo. 

*Conclusão e dica da Prix*

Se realmente quiser visitar essa ilha, vá preparado para tudo. De preferência, vista uma lingerie. 


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