Quando penso na imagem de Andromeda Black, uma parte de mim é levada automaticamente de volta para o passado. Não para o lugar horrível onde ambos crescemos, mas para os momentos em que podíamos nos divertir sem nos preocupar.

Me lembro bem dos jantares ocasionais na casa da avó Irma em que nossos pais nos obrigavam a ir, e sempre que você queria fugir para os jardins dizia que eu deveria ir junto, já que... como é que você dizia? Ah, sim, “que não era certo uma dama estar sozinha”. Hilário! Cissy sempre arregalava os olhos, como se você estivesse sugerindo algo absurdo; enquanto a Bella apenas estreitava os olhos para nós como se soubesse exatamente o que você estava fazendo.

Confesso que ambas reações me pareciam justas, já que o meu histórico de mal comportamento já procediam nessa época.

O que não fazia sentido era comprarem o seu discurso, honestamente. Era meio ridículo, na verdade, já que você tinha seus catorze anos e eu, oito. O que exatamente eu como rapaz poderia fazer em sua defesa na época era um mistério, e ainda assim não era como se você sozinha não desse conta de qualquer coisa. Você sempre foi impetuosa, e ninguém conseguiria tirar isso de você. Mas não iria reclamar de ter uma desculpa para sair de perto daqueles abutres, obviamente, e hoje eu sei que esse era o motivo de você querer me levar junto, porque assim como você eu não suportava ficar ouvindo as besteiras que falavam sem querer retrucar.

De qualquer forma, eu ainda agradeço pelos momentos que tínhamos juntos longe dos outros. Você foi a primeira amiga que tive dentro daquele ninho de cobras, assim como foi a única a não me condenar por eu não ter seguido exatamente os passos que esperavam de mim quando fiquei mais velho.

No fim das contas, seis anos de diferença não foram exatamente um problema para nós, não? Quantas vezes não montamos armadilhas para os tios que não gostávamos ficarem presos, ou incapazes de passar por certos lugares sem ficar sujos. Ou quando planejávamos nos livrar de certos parentes de um jeito furtivo, o que obviamente nunca aconteceu; ou ao menos não precisou na nossa mão. E é claro, de todas as conversas em que contávamos um ao outro sobre os absurdos que ouvíamos em nossas casas.

Não sei dizer se você contava com o meu gênio ruim para nunca contar a ninguém das traquinagens que fazíamos escondidos, mas foi um acordo de ambas as partes durou mais anos do que poderíamos imaginar.

Ter você para poder contar enquanto crescia naquela família foi o que certamente me manteve são por tantos anos. A confiança que criamos um no outro me proporcionou uma segurança que jamais tive dentro das paredes de casa, e mesmo quando você surpreendeu a todos (menos a mim) ao se casar com o Tonks, eu me senti com as forças renovadas.

Você me ensinou tanto Andy, não só sobre Hogwarts, já que você se solidarizou deste pobre rapaz na época, mas sobre coisas na que nunca poderei mensurar o tamanho da importância para mim. Como as noites que viramos acordados escondidos nos telhados por aí; dos passeios que costumávamos dar e você dizia que eu era seu irmão mais novo para não espantar os rapazes; dos segredos que compartilhamos sem nenhum julgamento, e tantas outras coisas que são até doloridas de lembrar.

Mas a minha maior lembrança sua é de quando você veio até mim como Andromeda Tonks, dois anos antes de eu sair da casa dos meus pais. Nessa época eu já estava a par dos seus planos, embora não pudesse ter ajudado como gostaria. Você me procurou em Hogsmeade, e eu nunca me senti tão orgulhoso de você naquele momento, não só por ter seguido seu caminho sem olhar para trás, como também por trazer a notícia de que além do casamento bem sucedido, você estava grávida.

Acho que nunca expressei devidamente minha gratidão por me ver como uma pessoa, e não só um adolescente irritado que causava problemas. Você me inspirava a ser uma pessoa melhor e acreditava em mim. Nunca tive a chance de verbalizar isso, mas se não fosse a sua força Andy, eu jamais teria encontrado a minha própria de sair daquele inferno de casa. Você me ensinou isso também, que sempre há uma forma de recomeçar, sem precisar olhar para trás.

Infelizmente nossos caminhos não nos mantiveram fisicamente próximos quando o pior aconteceu. Você e Ted tinham uma filha com a qual se preocupar enquanto a guerra estourava, e eu sabia que da sua forma iria lutar, como sempre lutou.

Não tivemos a remota chance de nos despedir, mas eu espero que você não tenha acreditado nem por um segundo que eu não cometi o crime pelo qual fui acusado. Por mais de uma vez Lily, James e eu estivemos em sua presença, e você também mais de uma vez nos estendeu a mão para ajudar, sempre com um sorriso e agradecendo ao Prongs por tudo o que ele havia feito por mim.

Os Potter se tornaram pra mim a extensão da família que você unicamente foi, e eu jamais vou esquecer do que você significa pra mim, prima. Das nossas piadas internas, das vezes em que te enchi o saco por derreter seu coraçãozinho de gelo por conta do Tonks, de quando te levava para andar de moto e podermos enfim beber e fumar agora que eu tinha idade. 

Espero ao menos que seu coração justo e secretamente bondoso possa me perdoar pela dor que isso tudo causou, e que se algum dia for possível… Nós possamos nos reencontrar.

Fique segura, minha estrela. Continue a brilhar.