Ao ver que Yaoyorozu estava demorando para completar a frase, Todoroki mudou a pergunta.

"Não é vergonha? Então... Será que está ficando doente e não quer dizer?"

"N-não é bem isso... Hã?"

A morena foi surpreendida por um ato do garoto. Agora as costas da mão dele estavam em sua testa.

"Não parece estar doente", ele falou afastando a mão e saindo de cima dela. "Talvez não seja nada de mais... Bem, voltando ao assunto do papel, não posso deixar que fique com ele."

"Ah, claro", Momo concordou assim que se recompôs. E logo após isso, ela se levantou e falou: "Não foi a minha intenção ser invasiva. Sinto que tive um ataque de... curiosidade... Acho que posso chamar assim. Enfim, me desculpe por não ter me controlado. Aqui está o seu papel...".

No momento em que terminou de falar, a menina estendeu a mão que segurava a folha dobrada para seu colega a pegar, e ele, por sua vez, a pegou, mas não como gostaria. A forma como Shouto segurou o papel fez com que a parte de cima dele subisse. Algumas palavras acabaram aparecendo, e a vice-representante conseguiu ler uma delas. Não seria um problema se a tal palavra não fosse justamente o nome dela.

"Todoroki-san, por que escreveu o meu nome?", perguntou surpresa.

A garota que estava prestes a soltar o pedaço papel, agora o segurava com certa força.

"Não é o seu nome", respondeu enquanto escondia as palavras com o polegar. "Você leu errado... Agora já pode soltar."

Os dois ficaram por mais alguns segundos segurando e puxando a pequena folha, que por algum milagre não rasgou. 

"Yaoyorozu, vai acabar rasgando se continuarmos com isso", disse ele com a intenção de fazê-la soltar.

"Eu sei. Mas não se preocupe, tive uma ideia."

Rapidamente, Momo fez algo sair de seu ombro utilizando sua peculiaridade, e logo em seguida o pegou com a mão que estava livre.

"O que é isto?", Shouto perguntou. "Uma pena? O que você... Espera... Você..."

"Me desculpe, Todoroki-san. É mais forte do que eu."

Sem esperar nem mais um milésimo, ela começou passar a pena na mão de Shouto, o qual conseguiu segurar a risada, mas não o papel.

"Eu perdi", o menino lamentou caindo de joelhos. "Eu fui fraco."

"Usar a pena foi um tiro que eu dei no escuro", ela falou para si mesma enquanto corria para um canto da sala. "Eu não esperava que alguém como ele pudesse sentir cócegas. As aparências realmente enganam."

Ao desdobrar o papel, a morena se deparou com um pequeno texto que fez vários de seus sentimentos aflorarem ao mesmo tempo. Felicidade, ansiedade, vergonha, medo... Amor?

"Eu não queria que você ficasse sabendo disso dessa forma", ele falou se aproximando. "Não sei se você percebeu, mas eu não sou muito bom quando o assunto é ser delicado. Sabendo disso, resolvi anotar o que eu gostaria de te dizer com as palavras mais adequadas possíveis. Após terminar, eu li e reli o que escrevi pra não esquecer de nada na hora."

"Na hora?", ela perguntou sem conseguir se virar de frente para ele. "Quando você pretendia me dizer isso?"

"Não cheguei a escolher uma data. Eu só tinha uma exigência, que era estar a sós com você no momento."

"E-estamos sozinhos agora..."

"Mas você já sabe... Não vai fazer diferença."

"É claro que vai. Eu quero ouvir você falando essas palavras."

Percebendo o interesse dela, o garoto deu uma leve respirada e falou: "Certo... Yaoyorozu, eu te admiro muito e acredito que você saiba disso graças a conversa que tivemos durante o exame prático que fizemos juntos. No entanto, eu não quero ficar apenas nisso. Desde o primeiro momento em que percebi o quanto você é inteligente e habilidosa, eu tive algo como um ataque de curiosidade. Eu quero te conhecer melhor, e por isso quero que saia comigo."

"N-não errou nenhuma palavra e ainda incluiu o 'ataque de curiosidade' no texto..." a jovem resmungou sem jeito. "D-deve ter sido difícil memorizar tudo isso..."

"O que disse?", ele perguntou.

"E-eu só estava pensado em voz alta...", respondeu ainda mais envergonhada. "Agora... vamos voltar para os nossos quartos", completou já seguindo na frente.

"Espera", falou indo atrás dela. "Não vai me dar uma resposta?"

A menina permaneceu em silêncio.

"Yaoyorozu, eu disse algo que não devia? Por que nem ao menos olhou pra mim?"

Todoroki estava confuso. Não entendia o porquê daquela reação.

"Escuta, se continuar me ignorando, eu vou..."

Além de ignorá-lo ainda mais, ela apertou o passo.

"Droga...", ele murmurou enquanto acelerava o passo também.

Mesmo que a resposta não fosse positiva, Shouto queria ouvi-la. 

"Tenho que fazer alguma coisa", o garoto pensou. "Por mais que eu não quisesse, acabei matando a curiosidade dela. Seria injusto se ela não fizesse o mesmo por mim."

Vendo que Momo estava quase chegando na porta, ele resolveu avançar e se pôr na frente dela. Isso a fez parar, porém, não foi ela quem ficou surpresa.

"Essa expressão... Yaoyorozu..."

"Eu não queria que você me visse assim..."