Eu sou uma escritora e...eu moro sozinha numa casa que quando eu comprei, disseram que era supostamente assombrada.  Mas, eu não me importei com isso, nunca acreditei nessa coisa de fantasma. Para mim, isso sempre foi coisa de filmes de terror e suspense.

Então numa madrugada eu estava trabalhando num manuscrito em minha máquina de escrever antiga no porão — Eu sou bem antiga mesmo, porque...quem usa máquina de escrever esses dias?— Enfim, eu estava escrevendo quando eu ouvi uma voz falando comigo enquanto eu escrevia.  Achei que devia estar sonhando ou que eu estava imaginando coisas devido ao fato de eu estar tão imersa na trama que eu estava escrevendo.

A voz disse algo assim:

—Ei, o que você está fazendo?

Eu ignorei completamente aquela voz. Tentei me focar no meu texto. As palavras pareciam me faltar.  Então eu retirei a folha com o texto na metade e dei uma olhada.

"Não, ainda não está bom." disse e logo comecei a amassar o papel, depois o joguei no chão, carreguei a máquina com uma nova folha em branco e comecei a escrever tudo de novo.

A voz voltou a falar comigo.

―Ei, o que você está escrevendo?

De novo, ignorei.

Logo, senti uma presença e levantei da minha cadeira para tirar satisfação com quem quer que estivesse me chamando.

—Escuta aqui, quem quer que você seja, eu estou trabalhando! Me deixe em paz!

Então eu ouvi a voz dizer algo em um tom bem baixo:

—Desculpa...

Após isso ouvi um choro. Revirei meus olhos e continuei a escrever o meu texto.

O choro parecia continuar a se propagar pelo ambiente, dificultando um pouco o meu momento de inspiração.

Então eu resolvi parar e olhar para trás. Logo fui começando a ver uma imagem do que havia interrompido o meu trabalho.

Eu vi, uma garota, eu acho, ela tinha cabelos loiros, vestia um vestidinho rosa, e uns sapatinhos de boneca da mesma cor do vestido.  Ela estava encolhida no chão com os braços envolvendo as pernas próximas ao corpo e continuava a chorar. Resolvi falar com ela.

— Ei, qual é o seu nome?

—Kaoru — replicou a "menina".

— Kaoru? — eu disse olhando para mesma que estava me olhando com os olhos cheios de lágrimas — Você parece um garoto...

—Eu sou uma garota! E eu gosto de me vestir assim! — ela se queixou.

—Tudo bem, me desculpa, menina. Olha, eu sou uma escritora e estou tentando trabalhar aqui, então...se não se importa, e sem querer ser grossa contigo, eu gostaria de voltar ao meu trabalho, então para com esse choro. Por favor.

Kaoru se levantou e me encarou.

—Qual é o seu nome? E sobre o que está escrevendo?

—Eu sou Stormy McKnight.  E estou tentando escrever um romance aqui.

—Muito prazer, Stormy. E sobre o que fala esse romance? — Kaoru ficou curiosa.

— Bem, não sei...eu estou rascunhando — repliquei.

—Quer ajuda para terminá-lo? Eu acho que posso ajudar.

—Ahn...obrigada. Eu acho...— fiquei refletindo sobre o caso.

—Bem, você quer ou não a minha ajuda?

Inspirei e expirei aos poucos o ar em meu peito.

—...Tudo bem, eu vou aceitar a sua ajuda.

Meio estranho eu conversar com um fantasma. Se alguém me visse naquele momento, iria dizer que eu sou alguma louca de pedra.

Então eu voltei para a minha cadeira e Kaoru veio até mim e ficou por perto.

Ela começou a ditar as palavras e eu fui escrevendo o texto na folha em branco.

[...]

Algum tempo depois eu adormeci. As horas foram passando e quando eu acordei,  eu acho que devia ser umas 6 da manhã.

Olhei para a página com o texto escrito e resolvi tirá-la da máquina para dar uma olhada no que estava escrito.

Puxei a folha com cuidado para não rasgar. E então comecei a ler com os meus olhos, linha por linha.

Quando eu terminei de ler o texto, eu me surpreendi. Eu havia escrito aquele texto?

—Meu Deus! Eu escrevi isso?!

Fiquei refletindo sobre aquela página. E apesar de eu não acreditar que eu havia escrito aquilo, ainda que com a ajuda de Kaoru, o texto parecia ótimo.

"Talvez eu devesse pedir a Kaoru para me ajudar a escrever mais páginas, para montar o meu livro e depois publicá-lo.", pensei.

Então eu saí do porão e fui para a cozinha. Lá, eu peguei o telefone sem fio na parede, e liguei para a minha chefe e também minha namorada — Acho que eu não mencionei isso antes, não é? Mas também acho que ninguém precisa saber desse detalhe pessoal — . Esperei a ligação ser atendida.

Logo ouvi o som de alguém atender a ligação.

—Editora Bowen, aqui é Michelle Kauffman, com quem eu falo?

—Michelle, oi, sou eu, Stormy. Tudo bem?

—Ah, oi Stormy. Tudo ótimo e você?

— Eu estou bem, obrigada. Então eu precisava falar com você sobre uma coisa.

—O que seria?

—Então eu estava de madrugada escrevendo em um novo manuscrito. E...de repente eu tive uma ideia brilhante e comecei a rascunhar, e então quando eu terminei, eu acabei com um texto fantástico e acho que posso levar ai para você ver, quando você pode avaliar?

—Incrível! Acho que na sexta, está tudo bem para você? Se não, podemos marcar outro dia.

—Por mim, sexta está bom.

—Ótimo. Nós nos vemos até lá.

Michelle desligou e eu pus o telefone de volta na base.

Sexta - feira

O dia chegou e eu fui visitar Michelle na editora. Chegando lá, eu fui até a sala da mesma e bati na porta.

—Entre! A porta está aberta!

Girei a maçaneta e entrei na sala.

Depois de entrar, eu encostei e fechei a porta em seguida.

Eu encontrei Michelle sentada na mesa dela, e fumando um cigarro recém aceso.

— Oi, Stormy! Como você está, querida? — Michelle me recebeu.

—Eu estou bem.

Michelle colocou o cigarro na boca e se levantou da mesa dela. Então a mesma veio até mim me cumprimentar devidamente.

Ela estendeu a mão para mim apertar e eu a apertei.

— Então, você trouxe o texto para dar uma olhada?

— Sim, está aqui comigo — disse tirando o envelope de papel pardo em que estava a folha de papel escrita e entreguei para ela.

Michelle a pegou de minha mão para dar uma olhada.

—Bem, vamos dar uma olhada nisso...

Assim que Michelle retirou a folha de papel de dentro do envelope em que estava, ela começou a dar uma olhada.

Ela ficou lendo linha por linha até terminar.

[...]

Então, depois de ler e reler várias vezes o meu texto, ela deu um parecer.

—Bem...o texto parece perfeito. Eu não sei se vai vender, você provavelmente teria que escrever mais para eu ter certeza, mas...eu acho que posso ver com a minha superiora o que ela acha disso.

— Tudo bem, amor.

—Certo. Obrigada por me trazer o texto. Deixa eu só apagar o cigarro, e eu já volto para você.

Então, Michelle voltou para a mesa e apagou o cigarro no cinzeiro.

Depois disso, ela veio até mim e...nós ficamos de frente uma para a outra.

Michelle se aproximou de mim, abraçou a minha cintura, e então foi aproximando o rosto dela do meu, e nos beijamos.

E então nos afastamos.

—Eu te amo, Stormy — Michelle declarou focando o olhar nos meus olhos.

— Eu também te amo, Michelle — devolvi — Quando eu ficar famosa, nós poderemos nos casar, viajar, enfim...poderemos fazer o que nós quisermos.

—Sim, claro — Michelle concluiu.

Agora, eu deixo essa história aberta para você interpretá-la a sua maneira. Você pode imaginar outros nomes para os personagens dessa história. O meu trabalho está feito.  Eu apenas te contei uma história. Afinal, "Quem conta um conto, acrescenta um ponto", e eu vou deixar você pensar nisso.