Tarzan achava segundas-feiras estranhas.

As terças, quartas, quintas e sextas também. Toda a semana, na verdade. Jane havia explicado para ele o que eram dias e como os humanos davam nomes para cada um deles, mas ele não havia se deixado convencer. Na sua cabeça, bastava o dia ser vivido; não precisava, também, ser chamado. Ainda mais quando era chamado por tantas coisas diferentes, apenas para confundir sua mente.

Tarzan também havia descoberto o que era mente. 

Algo como uma junção de todos os seus pensamentos, sentimentos, emoções. Algo confuso e abstrato, Jane disse. Mesmo que Tarzan não soubesse o que abstrato significa. 

Mas, se fosse usar todo o seu conhecimento aprendido, diria que, na sua mente, só pensava em como humanos pareciam criaturas com muito tempo em suas mãos para sair dando nome ao nascer e o pôr do sol.

Ou, ao menos, costumava pensar assim.

Até descobrir que Jane era um.

"— É, Tarzan, humano. — Disse ela, em alguma terça. Ou quarta. Não tinha aprendido aquela lição muito bem. — Eu sou uma. Assim como você."

Aparentemente, Tarzan também. 

Jane percebeu sua confusão rapidamente, entretanto, e logo tratou de explicar melhor. Disse que não era uma banana, pois não se comia. Não era uma borboleta, porque não tinha asas. Também não era um macaco, porque não tinha pelos. 

— Aves também tem asas. — Tarzan disse (o que achou ser) um comentário brilhante. Jane riu com admiração em seus olhos. 

— É, mas não são tão pequenos quanto uma borboleta, vê? — Apontou para algum pássaro azul qualquer em uma árvore. — Somos humanos porque somos parecidos, Tarzan. A mesma espécie. — E seu sorriso se tornou tão lindo que Tarzan não conseguiu perguntar a ela o que era uma espécie. 

Desde então, aquela segunda-feira que já era estranha por natureza, havia se tornado ainda mais confusa para o pobre homem. 

Estava em um galho alto, em uma árvore também alta, em um relevo ainda mais alto. Queria poder ver toda a floresta para, assim, descobrir se era humano mesmo. 

Jane havia dito que eram parecidos e por isso se chamavam pelo mesmo nome. Mas aquilo não entrava na cabeça de Tarzan.

Jane disse que não era uma banana porque não se comia, mas, assim como uma banana, Jane era disputada por todos os habitantes de sua família. Seu sorriso, seu charme e seu abraço caloroso eram o suficiente para fazer seus amigos roubarem-na dele durante toda uma tarde. Tarzan, pela primeira vez, havia descoberto o que era sentir falta de alguém que estava ao seu lado. Também havia descoberto que, às vezes, se enjoava de bananas, mas nunca conseguia satisfazer o seu querer por Jane. 

Ela também havia dito que não era uma borboleta, porque não tinha asas. Mas, tal como uma borboleta, bastava aparecer em algum lugar para tomar toda a atenção para si. Nem mesmo as mais belas flores ou o céu mais estrelado conseguiam roubar sua graça, sua beleza ou seu encanto fenomenal que fazia Tarzan descobrir palavras como "fenomenal" para descrevê-lo. Tarzan não conseguia tirar seus olhos de Jane toda vez que a via, e certamente deixaria de admirar uma borboleta para admirar seus olhos azuis que tomavam seu coração para si. Jane era dona de seus suspiros assim como borboletas eram donas do ar. 

Também havia se comparado com macacos, mas aquele era o pior exemplo, para Tarzan. Tarzan sempre havia amado macacos. Desde pequeno, toda a sua atenção e objetivos eram voltados para a proteção de sua família. Se tornava mais forte para impressioná-los, se tornava mais justo para guiá-los e se tornava mais macaco para ser como eles. Sua vida era dedicada a eles.

Ou costumava ser.

Na sua cabeça, não havia dúvida alguma: Jane tomava conta de seus pensamentos de maneira como sua família de macacos fazia. Até mais, inclusive. Desde que a moça havia chegado em sua vida, tinha descoberto novos níveis de afeto, novas maneiras de carinho, novos tipos de amores. Amava Jane em tal intensidade quanto amava sua família. Em sua cabeça, as duas não eram coisas diferentes. 

Mas Tarzan e Jane não poderiam ser iguais. 

E era isso que incomodava sua mente naquela segunda-feira. 

Também o incomodava que não podia pensar em palavras como mente ou segunda-feira sem que sua mente trouxesse imagens de Jane à sua cabeça em uma segunda-feira. 

Bufou. 

Como poderia pensar sobre Jane se ela não o deixava em paz? 

Talvez, mesmo sem querer admitir, só estivesse zangado por descobrir que não era parecido com Jane. Todos compartilhavam de qualidades com sua amada, mas apenas ele era um troglodita simplório em comparação. Como poderia dizer que eram humanos, a mesma "espécie", se sua sinceridade grotesca não comparava-se em nada com a magnitude exuberante de Jane? Ficaria feliz por dividir a mesma categoria com a felicidade de seus dias, mas como continuaria a enganar-se dizendo que, de alguma forma, compartilhavam características? 

Decidido, Tarzan levantou de seu galho. Suas sobrancelhas estavam tencionadas. 

Diria à Jane que não era belo mentir e que ela não deveria enganá-lo daquela forma apenas para deixá-lo feliz. Tarzan não era humano. Não se parecia com ela em nada. 

Descobriu logo depois, entretanto, que não precisava sair de seu lugar para encontrá-la. Jane apareceu dentre as folhas da árvore, tentando não cair, lhe dando o sorriso mais radiante quando finalmente encontrou o que parecia estar procurando. 

— Tarzan, aqui está você! — Jogou-se em seus braços e, se ele não fosse já acostumado com seus ataques repentinos, ambos teriam caído. Sem deixá-lo falar nada, cobriu sua boca com seus lábios em um beijo tímido. — Não consigo ir dormir sem te abraçar. — Tarzan arregalou os olhos em uma constatação nova. 

Talvez não fossem tão diferentes quanto ele havia imaginado.