—Quem fez isso no seu cabelo? — Mikael perguntou aos gritos com Elisa.  

—Eu mesma! — ela disse levando os braços e encarando o rei.  

—Você não tem capacidade de fazer isso! — ele gritou, logo olhando em volta para as selecionadas.  

Era uma briga feia para o café da manhã. O medo me dominava só de pensar em ser entregue. Lais não era vista desde ontem, Justin agia como se nada tivesse acontecido.  

—Qual de vocês fizeram isso? — o rei perguntou olhando para cada uma de nós. -— Tem que ter sido alguém que estava na festa ontem.  

—Você não liga, isso não muda nada. Vou ficar com o cabelo rosa, goste ou não. A mamãe não disse nada. — A menina colocou as mãos na cintura e parecia bastante decidida.  

—Isso não está certo. Sabe que isso não é postura de princesa.  

—Quero que as regras se fodam, Mikael. — Elisa empurrou a cadeira que estava sentada e se retirou da sala de jantar. Começamos a nós olhar sem entender.  

—Justin, me desculpe. Elisa está ficando impulsiva, não tem castigo que dê jeito. — Mikael falou olhando para o Justin e logo para nós — Mas tenho certeza de que foi uma de suas selecionadas que ajudou Elisa.  

—Tenho certeza de que não foi, Majestade. — Justin disse de forma calma.  

O assunto acabou por aí enquanto Mikael analisava cada um de nós como se apenas com um olhar alguém fosse confessar.  

—Você sabe cadê a Lais? — Ava perguntou e eu neguei com a cabeça. — Ela saiu da festa cedo e não voltou, ninguém sabe dela. Estou preocupada.  

—Acho que Justin sabe. — disse sem desviar minha atenção do meu prato.  

[...] 

Após o café da manhã, procurei Elisa, a encontrando no jardim. Como iriamos embora no dia seguinte não estávamos mais tendo aula, era uma espécie de férias. Me sentei ao seu lado e empurrei meu ombro contra o dela.  

—Você está bem? — questionei a olhando.  

—Sim, já me acostumei com essas coisas do meu pai. Ele sempre briga por tudo que eu faço, está quase reclamando da minha respiração.  

—Não sei o que te dizer, não tive um pai. — Elisa me olhou surpresa. 

—Não perdeu muita coisa. Se quiser pode ficar com o meu. — Ri fraco e balancei a cabeça negando.  

—Obrigada, mas prefiro ficar sem.  

—Eu também. Não vejo a hora de ser maior de idade para me livrar dele.  

—Não falta muito.  

—Dois anos. – Elisa sorriu e suspirou.  

—Até lá você o deixa louco. — disse fazendo ela ri e balançar a cabeça confirmando.  

—O que tem para fazer aqui? — perguntou me fazendo pensar.  

—Tem uma piscina, sala de música, sauna, biblioteca, não to mais lembrando. — falei e ela pareceu pensativa.  

—Alguma quadra? Quero jogar tênis. 

—Tem sim! — Justin falou nos surpreendendo. — A Gabriela vai te mostrar onde fica. — disse apontando para uma criada atrás dele. — Kylie já te encontra lá. — Ele completou parando do meu lado.  

—Tudo bem. — Elisa disse se levantando e me olhando tensa. Fiz um movimento sutil com a cabeça dizendo que ela podia ir.  

—O que aconteceu? — perguntei me virando para o loiro, que deu a volta e se sentou do meu lado.  

—Foi você? — Justin perguntou me olhando, tentei ler sua expressão, mas sem sucesso.  

—O que? Seja especifico, qual a acusação dessa vez? — perguntei encarando ele seria. Lembrando que da última vez eu tinha sido acusada de trapacear, então a foto que Brian me mandou veio na minha mente me deixando apreensiva.  

—De pintar o cabelo da Elisa. — Ele falou calmamente. Agora seu olhar mostrava decepção. — Foi você! — ele se levantou passando a mão em seu cabelo perfeitamente alinhado. - Meu Deus, Kylie. Você não pode estar fazendo essas coisas, existem regras e o rei Mikael quer a cabeça da pessoa que fez isso.  

—Olha que problema você vai se livrar. — disse me levantando. — Imagino que seu pessoal já tenha dito que está na hora de se livrar de mim, não é? Por isso, tudo é culpa minha.  

—Não, isso é porque você faz as coisas erradas. — Arregalei os olhos e empurrei ele para trás.  

—Eu não fiz nada, apenas obedeço às estupidas regras como todas as selecionadas. Você não tem o direito de ficar me acusando de tudo que dar de errado. Essa é a quarta vez essa semana, Justin. Toalhas aparecem coloridas, foi culpa minha. Um quadro não sei a onde foi rasgado, a culpa é minha. O almoço foi sabotado, a culpa é minha. Um guarda passa mal, é culpa minha.  

—Existiam evidencias de que tinha sido você, em todos as ocasiões. — Ri fraco e dei um passo para trás.  

—Está bem na cara que alguém me quer fora daqui, não acha? — cruzei os abraços encarando o loiro. — Quer saber, Alteza, fui eu quem pintou o cabelo da Elisa. — disse exaltando a "alteza" de forma debochada. — Não se preocupe, irei ajeitar minhas coisas para deixa-lo em paz. — falei fazendo uma reverencia e me afastei dele. 

Eu sabia que Brian estava por trás de cada coisa que tinha acontecido, só não sabia como ele tinha feito tudo isso. Passei a semana tentando descobrir quem poderia ser, mas ninguém se entregou.  

—Kylie, espera! — Justin gritou, não parei, estava brava com ele e com tudo isso. — Kylie! — de maneira bruta ele puxou meu braço, gemi de dor e coloquei a mão em meu ombro sentindo ele latejar.  

—Agora vai me mandar para o hospital, Alteza? — questionei puxando meu braço machucado de sua mão. Fechei meus olhos tentando não gemer de dor.  

—Me desculpa. — Murmurou, abri meus olhos fitando ele. — Eu não quis te acusar. Só estou com muita coisa na cabeça e precisava saber quem fez isso. Me desculpa — Justin se aproximou, mas eu o parei com o braço bom.  

—Já chega, Justin. Está sendo dias bem conturbados e que mostraram seu verdadeiro lado. Eu não consigo lidar com tudo isso. Já era demais aguentar seu mundo, só para ter você. Até valia a pena, mas você ficar desconfiando de tudo que eu faço. Não posso mais dar um passo sem você achar que eu estou bombardeando um país vizinho.  

—Eu fui treinado para desconfiar de todos a minha volta e quando as pistas indicam uma pessoa, não tenho o que fazer. — Balancei a cabeça negando.  

—Estou aqui a meses, Justin. Me diz uma coisa que eu fiz de errado? Que foi contra suas estupidas regras? — ele engoliu a seco e desviou o olhar, sorri convencida — Nunca te dei motivo para desconfiar de mim e mesmo assim você desconfia. Mesmo sabendo que meu ex já tentou me sabotar. Não posso mudar o que você pensa de mim e nesse momento não estou querendo.  

Dei uma última olhada em Justin e me afastei dele, andei rápido até meu quarto. Bati a porta com força assustando Kayla e Astra.  

—O que aconteceu? — Kayla perguntou e eu apenas sorri.  

—Me eliminei da competição, por favor, saiam. — Pedi indo na direção do closet. Parei na frente do espelho vendo meu braço roxo pela força usada por Justin.  

Coloquei a mão em meu ombro e fechei meus olhos me concentrando em curar.  

—O que você fez? — Astra perguntou e eu abri meus olhos a vendo parada atrás de mim. Mexi meu braço testando meu ombro.  

—Nada, apenas cheguei ao meu limite.  

—Ele te acusou de novo? — Kayla perguntou parada na porta do closet.  

—Sim, dessa vez eu realmente fiz. Meio contra minha vontade, mas eu fiz. 

—Eu disse que tinha sido ela. — Astra falou olhando para Kayla e logo me olhou — você pintou o cabelo da Elisa. Por que fez isso?  

—Ela estava desesperada e conseguiu tudo para eu fazer. Ela insistiu tanto que eu cedi. Isso não importa, eu vou embora.   

Me virei de costas para elas caçando a mochila que eu trouxe. Eu queria chorar, gritar e socar a parede novamente. Um nó se formou em minha garganta me fazendo abraçar meu corpo querendo chorar.  

—Por favor, nos deixem a sós. — A voz do Justin me fez levantar a cabeça e enxugar as lagrimas que tinham se formado. Puxei a mochila e comecei a guardar minhas coisas.  

As lagrimas voltaram com força lembrando de tudo que tinha acontecido durante esses meses.  

—Kylie, solta isso. — Justin pediu, não parei de colocar as coisas na bolsa até ele puxar a mochila velha da minha mão. 

—Me deixa, Justin! — Gritei tentando pegar a mochila, o loiro a colocou no alto do armario e eu bufei encarando ele.  

—Você não vai embora. — Ele disse calmamente. Revirei os olhos.  

—Tudo bem, fica com tudo. Não me importo. Eu vou embora! — falei firme lhe dando as costas e indo para o quarto.  

—Não vai, eu não te eliminei. — disse vindo atrás de mim.  

—Você falou que não vai manter ninguém aqui contra a vontade. Eu vou embora. Nunca serei a rainha, então não faz diferença. — falei sem olha-lo, aquilo doía, por mais que fosse verdade e eu já tivesse me convencido de que não ganharia.  

—Como você é difícil. — Justin gritou, fechei meus olhos e abracei meu corpo, meu queixo tremia de tanto que eu segurava o choro. — Já disse que você não vai sair e tem um protocolo a ser seguido. Para de dificultar. — Me virei para ele e o mesmo respirou fundo, sua expressão suavizou e ele se aproximou. — Eu não queria gritar, mas você não embora.  

—Você não pode me segurar. — falei baixinho olhando para o chão.  

—Posso e irei. Não vou deixa-la escapar. Muito menos perdê-la para o imbecil do seu ex. — senti suas mãos seguraram meus braços, seu corpo estava perto do meu. Levantei meu rosto para olha-lo, encontrando suas orbitas carameladas.  

—Eu não aguento mais, Justin. Eu não tenho mais sanidade para viver aqui. Brian queria a coroa, o plano era te matar para ele ficar com a coroa. Não sei o que está acontecendo, não sei quem está fazendo isso. Eu estou cansada! — despejei relaxado meu corpo, fazendo ele segurar mais forte meus braços. Eu realmente estava cansada, a cada minuto tentava descobrir o que se passava na mente de Brian.  

—Vamos descobrir juntos. — Ele disse confiante. — Por favor, por mim. — Justin pediu me fazendo olha-lo. De forma inesperada abracei seu tórax deixando as lagrimas saírem, o loiro me abraçou de volta transmitindo a sensação de que eu estava segura ali. — Tudo bem? — ele perguntou me soltando. Assenti e procurei a cama, me sentando.  

—Tudo. Eu vou ficar bem. — falei de maneira convincente. Justin se sentou do meu lado e seu indicador levantou meu queixo fazendo eu olho-o.  

—Você não precisa passar por isso sozinha. Eu estou aqui.  

—Eu sei, Justin. É só que, esse é meu jeito.  

—Vamos mudar isso. — Sorri torto e suspirei.  

—O que vai fazer? Você já achou quem pintou o cabelo da Elisa.  

—Vou resolve, Lais já está fora da competição, vou negociar com o rei. Afinal, ele transou uma das minha selecionadas. — Justin desviou seu olhar para o chão e ao final da frase seu olhar mudou para um enciumado, que me fez olha-lo atentamente.  

—Tudo bem. — falei respirando fundo. Ele virou a cabeça me olhando.  

—Não estou com ciúmes. — ele disse, ri balançando a cabeça.  

—Eu não falei nada.  

—Mas pensou. É só que não achei ela capaz de fazer algo assim. — Justin sorriu torto.  

—Eu seria? — perguntei arqueando a sobrancelha.  

—Não! — Justin se endireitou e se aproximou da minha orelha — Você é só minha. — Ele murmurou me causando arrepios.  

[...] 

Estávamos embarcando para o palácio principal. Todas as selecionadas, incluindo Lais. A realeza da Dinamarca tinha viajado a duas horas de volta ao país. Dessa vez iriamos todos no mesmo avião. Tinha cerca de 50 pessoas no mesmo lugar. Eu estava ao lado de Kayla.  

—Por favor, coloquem a poltrona na vertical e afivelem os cintos. Iremos decolar em 5 minutos. — Uma aeromoça falou e eu olhei para Kayla que fazia o indicado.  

Fiz o mesmo e fiquei olhando o avião dar ré. Não demorou para começar a pegar velocidade e logo sair do chão.  

Depois de estarmos no ar, o símbolo de usar cinto foi desligado e eu me levantei para ir ao banheiro. A porta estava fechada, me fazendo encostar na parede ao lado.  

—Quanto tempo, Kylie — Ava falou e eu sorri de lado para ela.  

—Oi, Ava. — disse me ajeitando.  

—Você se saiu bem depois de tantos ataques. — Arqueei a sobrancelha confusa, ninguém além de Justin sabia.  

—O que quer dizer? — perguntei cruzando os braços a olhando.  

—Eu conheço o Brian, recentemente descobri o motivo de você está aqui e sua relação com ele. Brian é meu assim como a coroa vai ser minha. — Ela disse se aproximando.  

—Foi você? — questionei perplexa. — Você que fez tudo isso, Ava?  

—Claro, você precisa sair se não for por bem, será por mal. Justin e Brian são meus, Kylie.  

[...] 

Tudo parecia bem, as aeromoças começaram a passar com o lanche.  

—Aceita algum suco? Barrinha de cereal? — ela perguntou a mim e Kayla. 

—Um suco e uma barrinha, por favor. — Pedi e ela me entregou sorrindo gentilmente. — Obrigada. — disse pegando e colocando na minha bandeja.  

Olhei rapidamente pela janela e dei um gole no meu suco, então notei que estávamos passando por uma nuvem. O avião começou a balançar freneticamente. Arregalei os olhos e olhei para Kayla, que estava em pânico. Segurei sua mão e as luzes começaram a piscar.  

—Por favor, mantenham a calma é apenas uma turbulência causada por uma nuvem densa.