O palácio de Encantia é divino nesta época do ano. Todos estão ocupados em decorar as paredes e as mesas com guirlandas e pinheiros natalinos. Esse ano o Natal será mais especial do que nunca.

Minhas botas afundam na neve enquanto passeio pelo jardim. Clover se diverte com Mia e Robin em volta do chafariz, felizes por estarem livres novamente.

— Aproveitando o inverno? - fala alguém ao meu lado, que logo reconheço como James.

O garoto de cabelos loiros e olhos castanhos empunha um arco e flecha, pronto para acertar qualquer animal selvagem que aparecer em sua frente.

— Só estou cuidando para que Clover não faça uma confusão no jantar da mamãe. E você? Aproveitando o dia livre?

— Á tempos não caço e Âmbar saiu do meu pé. É uma boa hora para fugir, certo? - brinca o que me faz sorrir.

Um esquilo enorme atravessa nosso caminho e com uma só flechada, James acerta o animal.

Tampo a boca para evitar um grito de pavor ao ver a mancha de sangue no branco da neve.

— Boa mira - elogia a si próprio com um sorriso perverso no rosto.

— Como consegue achar graça nesse tipo de coisa? - pergunto incrédula, não conseguindo olhar para o esquilo morto.

— Era só um animal, Sofia.

Meus dedos se fecham em volta do amuleto lilás em meu pescoço, o poder que me permite ouvir os animais.

— Ah, o amuleto idiota que o papai te deu. - outra vez ele posiciona o arco, pronto para atirar em outra vitima.

— Não diga isso.

— Perdão. Eu só acho que isso é totalmente desnecessário para alguém da realeza.

— Isso é ciúmes?

— Seria á 11 anos atrás, Sofia. Hoje em dia tenho coisas mais importantes para me preocupar.

Sem saber o que dizer, apenas o observo acertar mais um outro animal.

James será rei e logo será obrigado a se casar com alguém que ele não ama. Isso o preocupa e a mim tambem, já que eu tambem me casarei com um homem que não amo.

— Sofia! - Ambar chama, andando em nossa direção. - onde se meteu? Eu estava te procurando.

— Desculpe, eu só vim dar um passeio.

— Sua mãe quer vê-la. Parece que é algo sobre seu mais novo pretendente.

Meu olhar se encontra com o do James, e sinto uma sensação estranha no estomago.

— Venha, vamos.

Me puxa pelo braço. De volta ao castelo, Ambar me faz a seguir pelos longos corredores até encontrarmos minha mãe no salão de chá do segundo andar.

— Ah, aí está você, Sofia. - com elegância, mamãe deixa a xícara em cima da mesa de centro.

— Estava me procurando?

— Sim. Obrigada Ambar.

A enteada sorri e antes de ir, me lança um olhar amedrontador. Quer que eu me saia bem e conquiste o tal homem.

— Eu estive falando com Roland sobre o casamento de nossos filhos. - ela me olha, calma e paciente. - Ambar é uma garota bonita e fácil de conquistar, achará sozinha alguém com quem possa se casar.

Cerro o cenho, não entendendo aonde quer chegar. Mesmo assim, deixo-a falar sem interrompe-la.

— James será rei e terá que se casar para que isso aconteça. Logo encontraremos uma boa escolha para seu irmão.

Pensar nessa possibilidade me deixa triste. James não quer se casar e tampouco quer se tornar rei. Entendo-o mais do que qualquer pessoa.

— Já você, minha filha, não tem sangue real. Seria cruel de nossa parte, fazê-la casar sem motivo algum. - ela percebe a confusão em minha cabeça. - estou dizendo que não precisa se casar, querida. Se for de sua vontade, casa-se por amor e não por obrigação.

— Você casou por amor, não foi?

— Sim. É por esse motivo que não quero te afastar disso.

Por um lado me sinto feliz.

— Mas e James e Ambar?

— Eles tem que manter a linhagem real. Sangue nobre com sangue nobre.

Ouvindo-a falar assim, quase esqueço que a 11 anos atrás, mamãe não era a Rainha de Encantia. Éramos simples, de sangue nada-nobre.

— O que o papai acha disso?

— Ele concorda comigo, Sofia. Você nunca precisou de toda essa vida que temos agora.

Não consigo lembrar de uma só vez que eu não gostei de viver essa vida que hoje tenho. Viver em um palacio, fazer novos amigos, participar de novas brincadeiras, ficar perto de James. Querendo ou não, tenho de admitir que me sinto feliz por ser amiga e meia-irmã dele.

— E-eu posso ao menos conhecer  os rapazes que estavam prometidos a mim?

— Tem certeza disso?

— Sim - respiro fundo. - toda.

Ela me permite ir, e quando a porta se fecha atrás de mim, me encosto na parede.

— O que houve lá dentro? - é James, aparecendo de repente.

— Eu tenho escolha, Jay. - sussurro, querendo que apenas ele escute.

Meu meio irmão se aproxima, jogando uma maçã vermelha para o alto.

— Parabens.

Sei que ele não está sendo totalmente sincero em me parabenizar.

— Mas eu não aceitei.

— Por que?

— É injusto deixá-los sozinhos nesta linhagem de monarquia idiota. - é a primeira vez que xingo em voz alta e descubro que é libertador.

Encosta na parede ao meu lado e dá uma mordida na maçã.

Me sinto pequena perto dele, invisível ao lado do rapaz de 19 anos incrivelmente belo.

Seus lábios rosados parecem mais convidativos enquanto ele mastiga, e seus olhos estão concentrados na parede do outro lado do corredor.

— Não vai dizer nada? - James faz não com a cabeça. - nem dizer o quanto eu estou errada em querer ser igual a você?

— Você não é igual a nós. E nem precisa ser.

— Você será rei de Encantia, James. Ambar será rainha em algum lugar. E eu.. - suspiro. - bem, eu provavelmente voltarei para a vila.

— Por que?

— Se eu não aceitasse, com toda a certeza mamãe me faria voltar a ser a plebeia que eu sempre deveria ser.

— Eu te deixaria ficar aqui.

Me olha.

— O reino será meu, o castelo também. As pessoas que ficarão aqui são de minha total escolha.

— Me deixaria ficar?

— Sim. Você é minha irmã, Sofia. Não é igual a nós, mas faz parte da família.

Sorrio e aperto seus dedos, feliz por tê-lo por perto.

James é especial para mim, tão especial que seria dificil me afastar dele.