Maktub escrita por franxtina


Capítulo 3
Chapter 3




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 Matt queria tanto comer que nem prestou atenção na conversa, Bobby ainda estava de olho nele e Sam parecia ter terminado. Beth sorriu para Dean em uma expressão que lhe dizia “aproveite o momento e vá até lá seu bobo” e foi o que ele fez. Sam se ofereceu para ajudar Beth com a louça e os dois começaram a conversar.

 Os galpões tinham cores e formas distintas, provavelmente formavam um símbolo de proteção ao redor da casa. O triangular ficava próximo a cerca na parte inferior do vasto terreno. Dean não podia mais ver Lenah, ela já havia entrado no lugar. Que negócio era aquele de “meio de transporte”? Por falar em meio de transporte seria bom dar uma olhada no Impala e dar uma volta pelo tal povoado visinho para procurar umas gatinhas, enquanto Bobby não falava da missão, que parecia secreta.

Quando se aproximou do galpão, que tinha as portas escancaradas, os olhos de Dean ficaram tão abertos que quase saltaram de emoção. Eram três visões supremas. A palavra era miragem. Que delícia. Sim, era essa a palavra, delícia. Nos fundos do galpão em que Dean acabara de entrar estava Lenah, trocando a roupa de corrida por um macacão imundo azulado, seus cabelos ondulados estavam meio presos e meio caídos em seus ombros, que tinham a tatuagem do que parecia uma triskle. Ela estava em uma tentativa desajeitada de colocar pernas e braços naquela roupa que ficaria larga e mal definida em seu corpo, mas aquela cena era habitual para Dean: uma mulher gostosa de lingerie. O que diferenciava àquela situação era a Kombi 67 verde, com desenhos bem familiares e  o Mustang Cobra 1965 vinho que estavam um ao lado do outro, dando espaço suficiente para uma fresta que mostrava a porta em que Lenah se trocava. Era a mulher mais linda que ele já tinha visto, droga!

Lenah ouviu um barulho e fechou a porta rapidamente. Dean resolveu fazer um barulho maior para fingir que tinha chego naquele exato momento. E para iniciar o espanto que já tinha tido mas devia ter de novo, soltou um “Uau”, muito bem feito.

-Toupeira é você?

-Ei garota do The Calling, venha até aqui agora mesmo! – ele mal podia esperar para vê-la com o macacão e olhar em seus olhos. Sentia seu membro endurecer só de pensar naquela morena gostosa com ele naquele carro.

-E então Winchester, gostou dos meus bebês?

-Você tem um péssimo gosto musical que reflete em um belíssimo gosto automotivo.

-Corta essa Dean, The Calling é uma delícia. – Delícia, de novo essa palavra que definia aquela mulher tão bem. Como a sua voz era deliciosa e seus gestos e seus olhos castanhos olhando bem fundo nos dele, naquele momento que abria em ambos um sorriso desconcertado e deixava o rosto dela razoavelmente rubro, mais uma vez. – Mas, que bom que gostou deles Dean.

-Gostar? Eu adorei isso aqui, quer dizer, posso abrir, entrar neles?

-Claro que sim! Fica à vontade, mas cuidado!  - ela riu uma risada gostosa, aquela que ele adorava, desviou o olhar do carro pra ela e depois tornou a olhar o Mustang – não preciso dizer isso pra você, quero dizer, é muito engraçado eu querer defender meus filhos de você porque você também tem um, né!

-Sim, quer dizer é claro que o meu é melhor, mas esse Mustangue é original, caramba! Tem a pintura muito bem feita e diferente. Uau Leninha como foi que você conseguiu essa peça? E, nossa, a cor é muito bonita mesmo – ela estava estática depois do “Leninha”, seu apelido pronunciado assim por Dean Winchester, que há essa hora estava dentro do seu carro de estimação, mexendo no porta-luvas com aquelas mãos grandes, aqueles braços fortes e aqueles olhos verdes. Meu Deus que olhos eram aqueles?!

-Eu comprei de um amigo na faculdade, ele custou muito caro, na verdade não gosto de lembrar da quantia da minha herança que eu gastei no carro. Mas como valeu à pena! – ela não estava sorrindo, resolveu observar seriamente os movimentos daquele homem. Como ele era surpreendentemente gostoso. Nossa. E mais, o perfume forte e agradável, aquele cheiro de homem, não que o Matt não tivesse um cheiro de homem, quer dizer, bem, era diferente. Não, melhor não estragar aquele momento pensando em Matt. Dean era infinitamente mais bonito, mais irritante, mais, não, MUITO MAIS engraçado. Nossa ela adorava rir dele, gostava de provocar para ver a feição brava, o rosto sério que era tão sexy. Mas que droga ela estava pensando em outro cara, se o Matt desconfiasse daquele olhar que ela estava lançando agora com certeza ia matar o Dean, ou ela, porque o Dean era muito mais forte, muito mais esperto, Matt não ia conseguir chegar perto dele. Era melhor voltar à vida e sair do mundo da imaginação porque agora ele tinha saído do carro e estava de pé na frente dela e ela estava começando a ficar com o corpo quente e as mãos geladas, droga, droga, droga!

-Tudo bem com você? – ele se aproximou devagar, tão devagar quanto falou. Tinha percebido o olhar languido da garota percorrendo seu corpo.

-Tu- tudo – merda ela gaguejou!

-Então não vai me mostrar a sua Kombi? – ele estava quase lá, era melhor ela sair do transe pro bem da humanidade e felicidade geral de Round Top.

-Sim – disse tirando os olhos dele e olhando a Kombi, seus movimentos foram bruscos, até assustaram Dean – esse aqui é o... – ele interrompeu chegando perto do ouvido dela, tão rápido quanto ela havia saído de perto dele.

-Fillmore? - ele esperou o sorriso, ela estava impressionada demais com o movimento para sorrir, engoliu a seco – Uma réplica da Kombi do filme da Disney, acertei? – ele tinha quebrado o gelo agora, fez uma cara estranha e ela não evitou o sorriso dessa vez.

-Você é bom em adivinhações toupeira – ele passou a mão no cabelo dela bem devagar e olhou o rosto todo, procurando os lábios com os olhos. Seu corpo todo gritava uma cede sem fim de beijá-la enlouquecidamente e jogar aquele corpo cheio de curvas que combinariam muito bem com aquele Mustangue, bem ali do seu lado. Sua mente também imaginou a loucura que seu corpo faria se abrisse as portas daquela Kombi e encostasse as mãos naquela mulher de-li-ci-o-sa. A boca dele salivava um beijo. Sem perceber a mão já estava na nuca e o corpo estava quase colando.

-Desculpa Dean – ela desviou, se esquivou, abaixou a cabeça, respirou fundo segurando na Kombi com o corpo meio debruçado. Os cabelos se desprenderam completamente e ela estava maravilhosamente descomposta.

-Quer dizer então que a senhorita é antropóloga? – a voz dele começou meio pigarrenta, como se ainda estivesse engolindo a cena, depois ficou firme e grave, tentando mudar de assunto.

-Sim, eu sou.

-Muito interessante. Deve conhecer o homem como ninguém – ele não queria ter dito isso, mas já estava dito. Piada na hora errada?

-Eu conheço os homens e o homem se é isso o que você quer saber – ela brincou também, ufa! – mas não sei muita coisa sobre as toupeiras.

-Ah como você é engraçada Lenah, eu as vezes me surpreendo com tanta graça. E vem cá, de onde você tirou essa de toupeira em sua louca? – ele estava andando em torno do carro, ela fuçava o motor da Kombi.

-Não sei. Eu tinha dito por acaso, mas depois pensei bem e... – ela fechou o capo, entrou na Kombi e funcionou. Ele esperava a resposta. Ela desligou a Kombi e ficou pensativa segurando o volante, ele deu a volta e sentou no banco carona.

-E então?

-Eu comecei a pensar ontem à noite nessa palavra.

-Toupeira? Caralho você é louca Lenah! – ele a achava louca mesmo, mas a aparência de Lenah permanecia pensativa, olhou fixamente nos olhos dele de novo, shit! , ele não ia segurar por muito tempo. Ela estava séria.

-Sabe Dean Winchester, eu sempre quis conhecer você e seu irmão por todas as peripécias da dupla, pela fama entre os caçadores, pelas histórias que ouvi durante o tempo que tenho esse hotel e principalmente pela ligação tão grande do meu tio, que foi como um pai, com essa história toda de símbolos, proteção e significado – ele teve medo do que ia ouvir.

-E qual a conclusão que você chegou com esse apelido bobo? Eu não entendo, explica? – ele estava sem a armadura do “homem forte” nessa hora, era um menino querendo aprender.

-Na verdade parece ser uma coisa boba e talvez seja, mas ontem eu fui me deitar e vi um símbolo que me lembrou você, ou melhor, que me lembrou uma toupeira.

-Caramba, explica isso melhor que eu to quase buscando uma camisa de força pra você Lenah – ela riu, ele adorou. O semblante dela mudava conforme pensava nas palavras certas.

-O elemento Terra do zodíaco tem um símbolo e esse símbolo lembra uma toupeira, que é um animal da terra. O que acontece é que o elemento tem muito a ver com você, ou, ao menos, com o que eu sei de você – ela falava em um tom emocionado agora, ele queria abraçá-la. O mundo não existia. Apenas ele e ela ali, sentados conversando sobre significados.  Sim, como ele não pode pensar nisso antes? É claro que todos os significados estão ocultos nessa mulher. E ali estava aquele apelido bobo tendo um significado muito maior do que ele poderia idealizar. Isso o deixou emocionado, principalmente pelo amor nas palavras dela. Como era estranho tudo aquilo para Dean e como era gostosa aquela fragrância de orquídeas que exalava da pele dela, mesmo naquele macacão todo manchado.

-Quer dizer que eu sou a terra? – ela sentiu vontade de beijá-lo, sua emoção era muito forte. Como ela podia sentir aquilo com um cara que conheceu, meu Deus, ontem!

-Vou tentar explicar Dean. Eu adoro ser sua professora de simbologia – ele deu um sorriso de canto, seus olhos brilhavam, adorava aquele jeito desengonçado dela - Os regidos do elemento terra tendem a confiar mais no raciocínio prático do que nas inspirações, eu não sei qual o elemento do seu signo no zodíaco, mas o elemento terra em especial age como você. Além disso, os regidos de terra se preocupam mais em observar o mundo invisível, o mundo que não possui a forma concreta da Terra... – ela falava pausadamente, não era com o tom da noite anterior, querendo impressioná-lo, hoje ela queria alcançá-lo com a voz, com a alma. Queria fazê-lo sentir a essência daquele momento e ele correspondia, para sua total surpresa e insegurança.

-Assim como eu e o Sam.

-Sim.

Com toda aquela entrega, agora ele a compreendia. Era um turbilhão de emoções que viam de todas as partes penetrando o coração e a pele, fazendo daquele um momento único. Como explicar? Aquela mulher tão estranha e cheia de segredos que lhe irritava e era tão maravilhosa ao mesmo tempo. Alguma coisa estava errada com ele.

-Dean eu posso te fazer um pedido? – ela segurou as mãos dele, as dela estavam frias como um cubo de gelo.

-Nossa Lenah suas mãos estão muito geladas, você está bem? – ele se preocupou mesmo. Ela estava com aquele sorriso, esperando ele olhar para seu rosto mais uma vez. Como era bom sorrir para ele! Acariciou o rosto de Dean e ele beijou sua mão. Os movimentos eram pausados, calculados, como em um dos filmes épicos que Lenah tanto gostava. Seus olhos brilhavam.

-Estou bem, só preciso de uma promessa sua – a entrega ao momento era total, ele não conseguia fugir, queria saber de onde vinha a fragrância que a cada minuto era mais forte, mais deliciosa, hipnotizando-o.

-Se eu puder cumprir – olhou fixamente para os olhos castanhos e ouviu a voz doce e harmônica.

-Me prometa que mesmo quando você não estiver aqui, quando for caçar em outro lugar, no Kansas, não sei. Em qualquer parte do mundo. Prometa que você vai continuar sendo o meu toupeira, a minha terra. O elemento em que firmo meus pés e obtenho a força da vida, que possibilita o nascimento das plantas e a permanência do homem nesse mundo. Prometa que vai ser sempre divertido assim com todos e não vai deixar esses seres que não são humanos acabarem com a verdadeira magia que é ser homem, que é ser mulher. Que é ser humano. Eu não sei se você acredita em Deus e também não sei se Ele existe. Mas se toda essa loucura for mesmo verdade, nós somos o que há de mais especial Dean e eu preciso que você prometa que não vai me deixar sozinha nessa luta, nesse amor pela vida.

Ela estava tremendo e falando com toda a paixão que existia dentro de si. Ele estava muito confuso com aquela promessa, mas as palavras “minha” e “meu” fizeram toda a diferença. Sim, ele seria dela quando ela chamasse e precisasse, com ou sem Matt, com ou sem demônios, e anjos, e apocalipse, e fim do mundo e Deus. Não importava. Por mais loucas que fossem aquelas palavras que ela dizia, nada poderia estragar aquele momento de entrega. Não era o corpo que estava entregue, era a alma. Enfim a alma de Dean retornava a seu corpo e ele tinha o poder de entregá-la com o carinho mais intenso que possuía a alguém que, Oh Meu Deus, tinha conquistado sua confiança em um dia de convívio! Era loucura, não fazia sentido algum, mas o amor, se era amor, não tem explicação nenhuma. E ele não precisava de nenhum livro ou professor para descobrir o significado daquele símbolo cravado em seu coração. Não a tatuagem da pele, mas a tatuagem do músculo, que a essa altura era o nome daquela mulher.

-Eu prometo.

-Como você é perfeito. – ela esboçou um sorriso muito diferente dos outros, repleto de carinho, mas que tinha uma ponta de preocupação. Pensava em Matt, que há essa hora estava sendo torturado por Beth, que devia ter sacado o clima com Dean e fez a parte prática de deixar o primo ocupado, com ajuda de Sam é claro. A vida lá fora quebraria esse encanto entre eles?

-Você está pensando no seu namorado, não é?

-Eu e Matt... faz muito tempo Dean, nós somos quase...

-Não são Lenah. Ainda não são.

-Mas é uma questão de...

-Lenah eu te fiz uma promessa. Agora é sua vez. – ela engoliu a seco aquelas palavras, o que ele pensava em pedir? Ele não deixou que ela pensasse besteira alguma e engatilhou o pedido, antes que aquele súbito de confiança e de encantamento fosse quebrado pela rotina diária – Olha, eu nunca fui um cara muito sentimental, nem ligado a esses símbolos e significados, sabe? Eu sou prático, gosto de resolver as coisas e não tenho tempo pra ladainhas, quem gosta disso é o Sam. Mas, embora eu não aparente, tenho tanto sentimento quanto qualquer homem. Eu amo meu pai, meu irmão, a lembrança de minha mãe. Eu quero dar o melhor de mim. Eu rompi o primeiro selo. Eu sou alguém especial e não apenas um monte de ossos e carne. E você sabe disso, porque é antropóloga – ele ensaiou um sorriso, mas continuou – Lenah, eu não sei muito sobre o significado das coisas, não como você, mas eu posso dizer o que eu vejo, então, assim como eu serei a sua terra, quero que você prometa que será o meu ar. Pois a terra é seca e fria, mas o vento pode ser quente e úmido, logo, ambos se completam. A rapidez do vento se assemelha a seu jeito enérgico Leninha, o vento também gera energia aos moinhos e você me deixa assim, inexplicavelmente motivado. O vento conecta os seres humanos, pois é ele quem nos faz respirar. E é isso que eu quero. Quero respirar esse seu sorriso lindo e esse seu jeitinho todo maluco, cheio de momentos magníficos. E, meu Deus, você está chorando princesa.

Ele a abraçou. Foi um abraço forte e quente, o melhor de toda a sua vida. Uma lágrima rolou de seu rosto, mas ele era a terra, a força e devia conter esse desmoronamento, pois a fragilidade dela já era o bastante para eternizarem aquela cena.

-Obrigada Dean.

-Obrigado Lenah.

Era muito cedo para um “eu te amo”? Talvez fosse cedo para entregar a vida daquele jeito também, mas ele estava acostumado, tanto quanto ela, a se entregar por inteiro. Era melhor viver do que esperar o tempo passar e destruir aquela pureza infinita.

Lá fora o vento balançava as folhas do velho carvalho e a música que Beth havia colocado para tocar já estava ressoando por todo o hotel. Eles estavam abraçados na Kombi, ouvindo ao longe a estrondosa voz de Etta James, que embora não fosse a favorita de nenhum dos dois, era sem dúvidas a trilha perfeita para aquele momento.

At last my love has come along

 Finalmente meu amor chegou

My lonely days are over

Meus dias sozinha estão acabando

And life is like a song

 E a vida é como uma música

At last the skies above are blue

 Finalmente o céu está azul

And my heart was wrapped in clover

 E meu coração foi empacotado em trevo

Mmm The night I looked at you Mmm

 à noite eu olhei pra você

 I found a dream that I could speak to

Eu encontrei um sonho que eu poderia falar

A dream that I could call my own

Um sonho que eu poderia chamar de meu

I found a thrill to press my cheek to

Eu encontrei um tremor para apertar minha face

 A thrill that I have never never known

Um tremor que eu possuo e nunca nunca sei

Ohh You smiled and then the spell was cast Ohh

 Você sorriu e então o feitiço foi lançado

And here we are in heaven

E aqui nós estamos no céu

For you are mine at last

Por você ser meu finalmente

You are mine at last

Você é meu finalmente

You are mine...at last

Você é meu... finalmente


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