Os passos de Astoria eram rápidos e silenciosos enquanto ela cruzava o corredor a caminho da Torre de Astronomia no meio da noite. Parou quando ouviu vozes animadas e se escondeu atrás de um dos pilares cinzentos do castelo. Encostou as costas nuas, devido a camisola verde-musgo, para se acalmar, o frio da rocha lhe causando calafrios. Respirou fundo, tomando cuidado para não fazer nenhum ruído. Sentia a adrenalina energizar seu corpo, o coração batendo forte em seu peito. Se as risadas de Hermione Granger e Draco Malfoy, os monitores responsáveis pelo turno daquela parte da escola, não estivessem tão presentes, Astoria poderia jurar que era possível ouvir seus batimentos cardíacos fora de controle. Era uma sensação maravilhosa e estimulante quebrar as regras. E ela estava apavorada.

A verdade era que ela nunca fazia nada de errado. Nunca tivera uma falta, uma detenção, um trabalho esquecido. Era uma aluna exemplar. Santa Astoria. Sem beijos nos armários de vassouras, sem saídas escondidas depois do horário de recolher, sem esconderijo para álcool no dormitório e (quase sempre) sem festas clandestinas na Sala Precisa. Nem parecia uma Sonserina.

E esse era o grande motivo que a população maldosa de Hogwarts encontrou para justificar o seu término com o Malfoy, alguns meses atrás. Nunca passara pela cabeça deles que, talvez, eles não se amassem. E, apenas talvez, Draco fosse apaixonado loucamente por certa grifinória de cabelos cacheados. O que, na visão romantizada da jovem Greengrass, estava escrito nos olhos de ambos.

Deste modo, Astoria Greengrass, que já era alvo de alguns comentários nada amigáveis e extremamente tímida, se tornou uma das protagonistas no maior boato daquela semana: "Malfoy dá um pé na bunda de Greengrass por ela ser santinha demais".

Mas ninguém parou para saber a verdade. Ou sequer, perguntou como ela estava se sentindo até aquela aula de poções, há quatro meses atrás.

Professor Slughorn havia permitido que ela, uma aluna do quinto ano, participasse das aulas dos veteranos. Na visão do mestre de poções, Astoria era um talento nato que merecia mais aperfeiçoamento. E na visão da garota triste, ela precisava de um desafio para ocupar sua mente repleta de pensamentos ruins.

Havia chegado cedo, escolhido a segunda mesa, perto da porta. Ocupou um dos dois lugares disponíveis e abriu o livro, se preparando para a aula.

Ninguém sentou com ela, fazendo-a fingir não se importar e se concentrar ainda mais na leitura. Até Ronald Weasley aparecer na porta da sala. Estava ofegante e as madeixas ruivas, há muito fora de corte, caiam levemente sobre seus olhos inexplicavelmente azuis. Astoria, pela primeira vez em toda sua vida, se viu sem fôlego ao ver alguém.

Slughorn pareceu ignora-lo, ocupado demais separando os ingredientes necessários. Hermione, sentada na primeira cadeira com Harry, lhe lançou um olhar assassino e Ron reagiu rindo baixo. Olhou ao redor a procura de um lugar disponível e se aproximou da sonserina.
"Eu posso me sentar com você?", O ruivo havia se inclinado para falar com ela. Astoria sentiu os bochechas enrubescerem e desviou o olhar para o livro, assentindo com a cabeça. Ele se sentou próximo a ela, observando-a. Ela se remexeu na cadeira, incomodada. Astoria não queria mais uma pessoa comentando sobre a vida dela. Principalmente, uma pessoa tão famosa, atraente e tão fisicamente próxima quanto o Weasley em questão.

Na metade da explicação do professor, ela deitou a cabeça na mesa, exausta. Ela estava escutando os burburinhos. Odiava ser o centro das atenções, e naquele momento, estava odiando Draco. Por que, raios, as pessoas tinham que ser tão cruéis? Certo, ela havia sido chutada. Grande merda. Ela não era a primeira e não seria a última.

"Stori, você está bem?", Ron havia deitado a cabeça como ela, e agora olhava em seus olhos. Ele parecia... Preocupado.

"Eu sei fazer a poção", Astoria disparou, despertando de seus desvaneios, recebendo um olhar estranho de Ron, "Não se preocupe com isso, vamos conseguir a nota".

"Não é com isso que estou preocupado, na verdade estou pouco me fodendo para a nota", Astoria o olhou confusa. As bochechas de Ron se tornaram tão vermelhas quanto seus cabelos, entretanto sua voz continuou firme quando disse: "Estou preocupado com você. Stori, você está bem?".

A garota piscou algumas vezes. Muito lentamente. Ela não sabia se o que estava sentido seria considerado "mau". Ninguém havia perguntado e ela não havia parado para pensar. Fechou os olhos por uns instantes e quando os reabriu, reuniu toda a coragem que possuía para falar as palavras a tanto tempo estavam entaladas na garganta.

"Não, nem um pouco".

Foi naquele instante que Astoria soube que Ronald era diferente. E que tudo, a partir daquele instante, mudaria completamente.

E a medida em que se viu correndo novamente pelos corredores, correndo o risco de ser pega por seu ex-namorado babaca e a atual dele em camisola mais indecente, soube que faria tudo de novo. Mesmo dando errado no final.

Porque quando colocou os pés descalços no chão da Torre de Astronomia e Ronald Weasley sorriu. Um sorriso tão genuíno, gentil e alegre. Com a surpresa de descobrir que, sim, ela havia vindo se encontrar com ele para ver as estrelas. Tudo vez sentido. Astoria correu ao seu encontrou e envolveu os braços no pescoço de Ron, um abraço apertado, repleto de saudade. As mãos do grifinório envolveram sua cintura. Seus lábios se encostaram de leve sem querer. Ron tomou um susto e fez menção a se afastar. Ele não sabia se ela gostava dele. Mas ela gostava, gostava muito. Segurou seu rosto, e fez o caminho das sardinhas até o pescoço com a ponta do dedo, permitiu se perder no oceano instável dos olhos do Weasley e selou seus lábios com ansiedade. Os beijos começaram a partir dali. E Astoria teve certeza que fazia aquilo tudo outra vez se terminasse com os beijos de Ronald Weasley. Porque algumas pessoas valem o risco de perder seu histórico perfeito. E Ron era a única delas na vida de Astoria.