A chuva era uma coisa bem escassa na Ilha Sunshine, parecia que a pequenas nuvens carregadas se acumulavam para, ao invés de garoas curtas e frequentes, chover uma verdadeira tempestade tropical. Raios e mais raios, água e mais água.

Praticamente ilhado em seu quarto de pensão, Raziel suspirou enquanto caçava o controle da pequena televisão de tubo que tinha no quarto. Para escolher o canal, ele pensou em um número aleatório e, com esse método, nunca pensou que pudesse realmente ficar cativado pelo que caísse com... Mas cá estava ele, com os olhos vidrados na TV.

Passo após passo, perna, prótese ou rodas trabalhavam juntas fazendo com que Raziel ficasse mais que orgulhoso de alguém que nem conhecia. O canal transmitia uma maratona de deficientes físicos, uma corrida que não daria praticamente nada de audiência para aquela emissora, aquela conquista tão mal apreciada de quem nunca desistiu.

Em uma palavra? Superação.

Mas, na verdade, Raziel usaria aquela palavra para tudo que envolvia ser humano. Tirar uma nota boa, defender um amigo, contar uma piada ou, simplesmente, levantar da cama pela manhã poderiam ser superações, poderiam ser batalhas vencidas (e nenhuma vitória é maior ou menor que outra, porque ninguém sabe o tamanho das guerras e batalhas que cada um luta na própria cabeça).

Raziel olhou para a televisão mais uma vez apenas para confirmar o que sempre soube... Os seres humanos cortaram as próprias asas mas, se algum dia eles enfiassem na cabeça que podiam voar, eles voariam mesmo assim.