Clipe musical: "Espelho" por Davi.

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Davi pensou que estava diante de uma piada. Aquele homem na sua frente devia ter pesquisado em algum lugar sobre a banda, descoberto que os meninos eram adotados e só estava tentando enganá-los pra conseguir dinheiro às custas deles. É muito comum crianças adotadas não saberem sobre o pai biológico, mas Joaquim, Samuca e Téo sempre souberam que foram morar no orfanato porque sua mãe e seu pai estavam mortos. Davi falou essas coisas ao tal do Henrique e ia mandá-lo embora, mas ele disse, em tom desesperado:

— Eu sei que é difícil de acreditar, mas eu não tô mentindo, eu realmente acho que eles são os meus filhos... Eu me lembro que o Samuel era alérgico a camarão!

Davi estranhou. Não se lembrava de Samuca já ter falado sobre sua alergia em público. Henrique começou a falar outras características dos meninos de que se lembrava, como o fato de que Téo era um bebê muito quietinho e que Joaquim saía quebrando tudo pela casa. Mas essas coisas não eram o suficiente pra Davi se convencer de que aquele homem podia ser o pai biológico dos meninos. O que realmente o convenceu a dar uma oportunidade para ele se explicar, foi Davi ter lembrado que nas certidões de nascimento dos meninos estava escrito que o nome do pai deles era mesmo Henrique. E, diferente da questão sobre a alergia de Samuca, Davi tinha certeza de que essa informação nunca havia chegado às mídias. Assim, mesmo ainda desconfiado, resolveu ouvir a história do homem.

Ele disse que, na época em que os gêmeos tinham 1 ano e Téo ainda tinha poucos meses, ele foi fazer uma viagem a trabalho, mas houve um acidente e o avião onde ele estava caiu. Os passageiros foram tidos como mortos, mas Henrique, na verdade, tinha se perdido na floresta amazônica, sido capturado e vivido numa prisão clandestina por todos esses anos, só há alguns meses havia conseguido escapar. Ele tinha procurado por sua mulher, a mãe dos meninos, mas soube que ela tinha morrido e eles tinham sido mandados pra um orfanato, mas, ao procurar o orfanato, descobriu que ele tinha sido fechado. Ele estava sem esperanças, tinha começado a temer o pior, que seus filhos também estivessem mortos... Até que, na televisão de uma lanchonete, viu uma entrevista com a banda. Os meninos tinham os mesmos nomes e pareciam ter aproximadamente a idade que eles teriam hoje, não podia ser coincidência! Depois disso, ele foi pesquisar sobre a banda e descobriu que eles eram adotados e que os mais velhos eram irmãos gêmeos, então foi direto atrás de saber quem era o pai adotivo e como encontrá-los.

Davi não sabia o que pensar dessa história. Na verdade, ele estava pensando várias coisas ao mesmo tempo e tinha muitas perguntas. É claro que continuava em dúvida sobre o homem, ainda pensava que podia ser um impostor, mas por outro lado... e se tudo o que ele disse fosse verdade??? Se fosse esse o caso, aquele homem tinha sofrido demais e pensar algo ruim sobre ele seria muito cruel! Porém, a maior dúvida que Davi tinha era sobre o que ia acontecer com ele e com os meninos se esse homem se aproximasse deles... e não parecia haver nenhuma opção que resultasse num "final feliz". Quer dizer, se o homem fosse um impostor, os meninos iam sofrer, e, se ele fosse mesmo o pai deles... talvez tivessem que se separar de Davi! 

A maior vontade dele no momento era de simplesmente dizer que não acreditou em nada do que ouviu e falar pro tal do Henrique ir embora e nunca mais incomodá-los. Mas não podia fazer isso. Então, após de dizer que sentia muito por tudo que aconteceu, Davi explicou que, como o atual pai dos meninos, ele não podia deixá-lo se aproximar assim deles sem conhecê-lo e sem ter certeza de que era mesmo o pai biológico deles. Ele devia fazer um teste de DNA. Henrique pareceu compreender. Ele tinha noção de que sua história era mesmo difícil de acreditar, então estava disposto a fazer esse teste o mais rápido possível. Deu seu contato a Davi e foi embora, mas não sem antes olhar para os meninos, que estavam espiando pela janela, apesar de não terem conseguido ouvir nada que os homens falavam. Obviamente, foram logo perguntar a Davi, mas ele não conseguiu dizer. E acabou mentindo pra eles, dizendo que ele era um jornalista fazendo perguntas sobre a banda. Não se sentiu bem em dizer isso, mas, de algum jeito, parecia que, pelo menos enquanto os meninos não soubessem de nada, ainda tinha uma possibilidade de nada disso ser real.

Antes de fazer qualquer coisa, resolveu falar com Clarinha. Ela ficou muito chocada com a história e entendeu perfeitamente o medo dele. Mas disse que era melhor ele contar a verdade logo aos meninos, porque, quanto mais demorasse pra eles descobrirem, seria pior. Eles não iam gostar de saber que o pai estava escondendo uma coisa tão importante deles...

— Eu sei, mas... — Davi respondeu. — E se os testes derem negativo? Tudo isso vai passar e eles não precisam saber...

— Bom, talvez... mas os testes também dizem respeito a eles, eu acho que eles merecem saber... Já sei. Como isso é muito difícil pra você, o que você acha de eu falar com eles no seu lugar? Afinal, logo eles também vão ser meus filhos, né?

— Isso se eu puder continuar com eles...

— Davi, você não precisa se preocupar com isso! Você pode até não ser o pai biológico dos meninos, mas eles são seus filhos desde que foram adotados legalmente, ninguém pode tirar eles de você assim. Então? O que você acha? Quer que eu fale com eles?

Davi pensou um pouco e respondeu:

— Eu acho que... é melhor nós dois falarmos. Mas só se os testes derem positivo.

Mesmo não concordando, Clarinha respeitou a vontade dele e prometeu não dizer nada aos meninos antes dos resultados dos testes saírem.

***

Já haviam passado alguns dias e as Chiquititas ainda pensavam na última viagem ao Vilarejo dos Sonhos. Janete, assim como da outra vez, ficou encantada, gostava de tudo que tinha lá. Chegou a dizer que preferia morar lá do que na cidade grande. Eleanora também gostava do lugar, mas achava que não era pra tanto. Ir lá de vez em quando era legal, mas se morasse lá, podia acabar ficando entediada. Além disso, toda a vida delas estava na cidade: escola, gravadora, seus amigos... Janete sabia disso e sabia que não podia morar no Vilarejo (pelo menos não agora, um dia, quem sabe?...), mas gostava de imaginar como seria. E ela gostava muito de trabalhar como cantora na Dó Ré Music, mas ficava pensando se uma vida mais tranquila não seria melhor pra elas... principalmente por conta de como Sandy estava desde que voltaram.

A mais velha também pensava na última viagem, mas não na diversão e na paz que as irmãs pensavam. Acontece que, quando estavam lá, elas conheceram uma garota chamada Sabrina, que, apesar de Mateus ter avisado que era muito chata, foi super legal com Joaquim, Samuca, Téo, Janete e Eleanora. Na verdade, ela foi tão legal com eles, que acabou até sendo um pouco irritante, mas esse foi o jeito dela de mostrar o quanto era fã das bandas. Porém, com Sandy, ela fez muito juz à descrição que eles ouviram de Mateus. Na verdade, ela tratava a garota tão mal, que até ele e os outros amigos do Vilarejo ficaram surpresos com as atitudes dela.

Mas depois eles entenderam tudo: Sabrina acompanhava uma página na Internet que se chamava "Fã Clube Anti-Sandy", feita por fãs dos Cuecas e das Chiquititas que odiavam a Sandy. Sabrina não tinha nada contra ela até encontrar essa página e ler inúmeras atrocidades (praticamente todas inventadas ou fora de contexto) sobre a estrela. Tudo começou quando muitas fãs de Joaquim ficaram indignadas quando eles começaram a namorar, disseram que ela estava "roubando" ele delas. Sandy não ligou muito quando leu essa parte, até achou engraçado, mas o que veio depois começou a mexer com ela.

O clube de haters dizia que ela tratava mal as irmãs e queria ofuscá-las, por isso tinha mais solos, ficava sempre no meio nas apresentações, usava as roupas mais bonitas etc. Sendo que Janete e Eleanora eram muito mais legais e talentosas do que elas, já que tocavam instrumentos e ela não. E depois havia vários relatos sobre vezes em que ela teria tratado mal o Joaquim, os outros Cuecas, os funcionários da Dó Ré Music, fãs, pessoas aleatórias que ela nunca tinha visto... Ah, e também tinha uma menção (infelizmente verdadeira) àquela história da gravação do clipe da música "Sabe Assim", provavelmente enviada por alguém que estudava na escola e leu o jornalzinho.

Depois disso, Sandy parou de ler e ficou tentando se segurar pra não chorar lá na frente de todo mundo. Felizmente, suas irmãs e os Cuecas explicaram tudo pra Sabrina e a menina acabou entendendo que não devia confiar em tudo que lia na Internet, pediu desculpa a Sandy e passou a tratá-la da mesma maneira como vinha tratando os outros. Sandy ficou bem e continuou aproveitando a viagem. Mas depois que voltou à cidade, voltou a se preocupar com os haters e estava o tempo todo procurando páginas como aquela nas redes sociais para denunciar e explicar às pessoas que ela não era como pensavam. As irmãs diziam pra ela ignorar essas pessoas que ela nem conhecia, mas Sandy não conseguia. A matéria do jornalzinho da escola ela conseguiu superar facilmente, mas agora era diferente. Todos os dias novos comentários ruins surgiam na Internet, onde todos podiam ver.

A menina não aguentava mais! Precisva fazer alguma coisa pra deixar de ser tão odiada. Talvez devesse mudar... E se aprendesse a tocar um instrumento? Assim pelo menos não podiam dizer que ela não era talentosa... mas do jeito que era perfeccionista, ia demorar até sentir que estava tocando bem o suficiente pra fazer isso em público. Não, tinha que ser uma coisa mais imediata, a situação exigia medidas drásticas!

Depois de muito avaliar a situação, Sandy soube o que tinha que fazer: terminar o namoro com Joaquim. Ela sabia que, apesar de tudo o que falavam dela, o namoro era o que mais incomodava as fãs. Aliás, não só elas: alguns pais de fãs achavam que Joaquim e Sandy estavam dando mal exemplo por namorarem sendo tão novos, Davi e Flora estavam sempre de olho neles e, de vez em quando, a tia fazia umas perguntas sobre o assunto que deixavam a menina muito desconfortável, e ela sabia que provavelmente Davi falava as mesmas coisas com Joaquim...

Sandy ficava muito triste em pensar em terminar, mas era um sacrifício que estava disposta a fazer. Só não sabia exatamente quando... Ela nunca tinha terminado um namoro na vida, então não sabia se haveria um momento certo pra isso, mas sabia que com certeza não seria nas próximas 2 semanas: a semana de seu aniversário e a do aniversário de Joaquim e Samuca, que seria também a semana em que aconteceria o primeiro evento de premiação que as bandas iriam participar. Teria que esperar até depois disso antes fazer alguma coisa.

Janete e Eleanora, que achavam completamente absurda a ideia de Sandy, estavam torcendo pra que esse tempo colocasse algum juízo na cabeça da menina e ela desistisse de terminar com Joaquim.

***

Davi estava adiando pra mandar os materiais pros testes de DNA. Assim como Sandy, estava pensando no aniversário dos meninos e no evento das bandas e achou que não era o melhor momento pra eles descobrirem que seu pai biológico estava vivo. Clarinha não concordava com isso, achava que depois ele ia acabar encontrando outro motivo pra dizer que não era o momento certo e continuar adiando. Porém, respeitou a decisão do noivo e não o pressionou nem contou nada aos meninos. Só lembrou a Davi que ele tinha que pensar em Henrique também, que, além realmente poder ser o pai biológico dos meninos, tinha passado por muitas dificuldades na vida, o que fazia Davi se sentir culpado, mas não era o suficiente pra criar coragem pra encarar a realidade.

Enfim, é claro que, por mais que tentassem disfarçar, Davi e Sandy estavam agindo muito estranho e Joaquim não pôde deixar de notar. Mas já tinha aprendido com experiências passadas que nem sempre ficar interrogando a pessoa era o melhor jeito de descobrir o que ela tinha e sabia que Samuca e Téo também pensavam assim. Os três estavam no shopping com Davi e Clarinha procurando presentes pros aniversários quando Joaquim contou aos irmãos o que estava pensando. Ele disse aos adultos que queria que seu presente fosse surpresa, então sugeriu que se separassem dele e dos irmãos enquanto estes procuravam os presentes de Sandy.

Clarinha gostou da ideia e Davi teria achado estranho Joaquim não querer escolher o próprio presente como fez nos últimos natais e no seu último aniversário se não estivesse tão preocupado com a história do suposto pai biológico. Samuca e Téo, porém, acharam bem estranho. O irmão, então, falou que estava preocupado com Davi e com Sandy e, ao mencionar situações em que eles pareciam estranhos ou distraídos demais, os irmãos tiveram que concordar com ele. Téo começou logo a ficar preocupado também, se lembrou de que na última vez em que Joaquim fez uma observação assim sobre as Chiquititas, elas foram abandonadas pela tia.

— Ah, não! — Exclamou o mais novo. — Será que a tia Flora voltou a tratar elas mal?!

Os meninos ficaram pensando nisso, mas Samuca disse que não fazia sentido, já que, pelo menos pra ele, Janete e Eleanora pareciam bem. E Janete era a mais sensível, se tivesse alguma coisa acontecendo, ela provavelmente seria a primeira a demonstrar. Joaquim, então, chegou à conclusão de que talvez Sandy só estivesse com medo de que as coisas voltassem a ser como eram antes com a tia, assim como ela já tinha admitido pra ele antes.

— Talvez... — Disse Samuca. — E se ela tiver com algum tipo de trauma porque elas foram abandonadas no aniversário da Janete? Talvez ela esteja pensando que vai acontecer alguma coisa ruim no aniversário dela...

Era uma ótima teoria, ainda que não chegasse nem perto da realidade. De qualquer forma, pensar nisso fez Joaquim escolher o presente da namorada com muito cuidado, queria que fosse uma coisa que fizesse ela muito feliz e que tirasse qualquer sentimento ruim que ela tivesse.

Já sobre Davi, os meninos pensaram que podia se tratar de alguma coisa do trabalho. Até podia ser, mas Joaquim decidiu continuar de olho nele até chegar a uma conclusão melhor.