Os Cuecas e as Chiquititas escrita por SnowShy


Capítulo 14
O capitão




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Clipe musical: "O Bom" por Joaquim.

***

Era segunda-feira e a turma 601 (a turma do sexto ano da qual os Cuecas e as Chiquititas faziam parte) estava tendo uma aula de educação física como todas as outras: meninos no futsal, meninas no vôlei. Joaquim adorava isso, já que adorava futsal, porém seus irmãos, que eram péssimos e sempre os últimos a serem escolhidos para o time, odiavam. Sandy e Janete também odiavam aquelas aulas porque não tinham o menor jeito em nenhum esporte que envolvesse uma bola e só não eram as últimas a serem escolhidas porque Eleanora, que era a melhor jogadora, sempre escolhia o próprio time e sempre colocava as irmãs nele.

Mas, por incrível que pareça, até Eleanora estava enjoando de jogar vôlei toda segunda e quarta. Ela gostava de vôlei, mas seus esportes preferidos eram tênis, futebol e futsal. Era impossível haver uma aula de educação física com os dois primeiros esportes, já que, até onde ela sabia, não tinham raquetes de tênis na escola, nem um campo de futebol. Só que os meninos jogavam futsal toda educação física e ela só podia olhar. Era uma injustiça!

Enfim, estava quase acabando o horário da educação física e o professor pediu para os alunos sentarem nas arquibancadas porque ele tinha um anúncio importante para fazer. Após estarem todos sentados, o professor começou a falar sobre uns jogos de futsal interescolares que haveriam ao longo do semestre. 

— O primeiro jogo será no final deste bimestre e aqui na nossa escola. Joaquim, eu percebo o seu desempenho no futsal desde o bimestre passado e devo admitir que você joga muito bem! Então eu tenho uma proposta, você gostaria de ser o capitão do time?

Joaquim ficou muito feliz, mas muito feliz mesmo, e nem pensou duas vezes antes de aceitar.

— Ótimo! — Disse o professor. — Agora eu vou explicar pra vocês como vai funcionar: qualquer aluno do sexto ou do sétimo ano pode se inscrever. Como eu não estou na escola em todos os horários, o Joaquim vai ficar responsável pelas inscrições, ou seja, quem quiser se inscrever, vai ter que procurar por ele; mas vocês só podem se inscrever até sexta-feira, porque na próxima semana já começaremos os treinos. Nós vamos treinar toda segunda, quarta e sexta no horário da tarde. Dúvidas? Não? Ótimo! — Ele entregou uma prancheta para Joaquim e, em seguida, disse: — Estão dispensados.

— Isso é muito legal! — Disse Joaquim aos irmãos enquanto saíam da quadra. — Eu vou ser o capitão do time! Até os alunos do sétimo ano vão participar e o professor me escolheu! Ai eu sou demais!

— Sim, você é tão demais, que nem pensou no show de talentos na hora de aceitar a honra de ser o capitão do time, né? — Disse Samuca, ironicamente.

— Você acha mesmo que eu ia esquecer do show de talentos? — Na verdade, ele tinha ficado tão empolgado com o negócio do futsal, que tinha esquecido mesmo, mas não queria que os irmãos soubessem. — Eu consigo fazer as duas coisas ao mesmo tempo.

— Mas como você vai treinar pros jogos e pro show de talentos? — Perguntou Téo.

— Ué, vocês não ouviram o que o professor disse? Os treinos do time vão ser só três dias por semana, eu vou ter todos os outros dias disponíveis pra me dedicar à música.

— Mas você não é o capitão? O professor já te deu uma responsabilidade logo de cara, e se ele vier com outras depois? Ou se você ficar muito cansado com tudo isso? E se não der tempo de você ensaiar pro show de talentos? E se...

— Samuca, caso você tenha esquecido, nós somos estrelas da música, não precisamos ensaiar tanto assim pra um showzinho de talentos de escola...

— Espera, deixa eu dar uma olhada nisso — Samuca pegou a prancheta que Joaquim segurava. — O primeiro jogo é no dia do show de talentos!!!! Joaquim, você tem que sair dessa!

— Eu acho que você precisa aumentar o grau dos seus óculos — Joaquim pegou a prancheta de volta — porque aqui tá dizendo que o jogo começa às 14 horas, e a gente sabe muito bem que o show de talentos só começa às 20. Não é possível que não dê tempo.

Quando Davi soube, não gostou nem um pouco da novidade. Ele sabia que Joaquim adorava ficar no comando e que essa história de capitão ia interessar bem mais a ele do que o show de talentos, o que era péssimo, pois, além de o menino ter se comprometido com o show muito antes, os irmãos dependiam dele para ensaiar.

Assim, juntamente com os outros meninos, Davi tentou convencer Joaquim a sair do time ou, pelo menos, largar a vaga de capitão. Mas ele não era uma pessoa muito fácil de convencer e insistia em dizer que daria conta dos jogos e do show, então a única coisa que podiam fazer era dar um jeito de ensaiar só quando ele estivesse disponível.

***

Sandy e Janete haviam notado que desde manhã na escola Eleanora estava um pouco calada. De noite, resolveram perguntar a ela o que estava acontecendo.

— É que eu queria falar com vocês sobre uma coisa, mas eu não sei se vocês vão gostar muito do que eu quero falar...

— É alguma ideia pro show de talentos? — Perguntou Janete.

— Olha, contando que você não queira mudar nada nem na coreografia nem nos figurinos, eu sou toda ouvidos — disse Sandy.

— Não, não é sobre o show de talentos — respondeu Eleanora. — Se bem que pode ser que tenha a ver... É que... sabe aqueles jogos interescolares que o professor falou?

— Ah sim! Eu achei ótimo o Joaquim aceitar ser o capitão, daí ele não tem tempo pra ensaiar pro show de talentos e a gente ganha dos Cuecas de lavada! Hahaha.

— Mas por que você queria falar disso, Eleanora? — Perguntou Janete.

— Então — ela deu uma risadinha nervosa. — Eu tava pensando em pensando em me inscrever...

— O QUÊ?! — Perguntaram as duas mais velhas.

— Você não pode fazer isso! Vai acabar com as nossas chances de vencer o show de talentos! — Disse Sandy.

— Pelo que eu soube, o primeiro jogo vai ser até no mesmo dia! — Complementou Janete.

— Que horror! Imagina você chegando toda suada lá no show! ECA!

— Ai, Sandy, eu ia tomar banho depois, né? Enfim, eu passei o dia inteiro tentando pensar em argumentos pra fazer vocês concordarem comigo, mas não consegui encontrar muitos... Tudo o que eu posso dizer é que eu vou fazer o máximo pra ir bem no show de talentos e que, quando eu não estiver na quadra, eu não vou nem pensar em futsal, só em música. Mas sério, eu queria muito participar desses jogos porque faz tanto tempo que eu não jogo nada além de vôlei...

— Ah nem me fale! Saudades de quando o papai levava a gente pra jogar tênis...

— Eu não sabia que você gostava de jogar tênis, Sandy.

— Ah eu não gostava. Mas amava aquelas roupas!

— Tá bom, então... Mas e aí, vocês acham que dá pra eu participar dos jogos?

Janete e Sandy pensaram.

— Se você disse que vai mesmo se concentrar no show de talentos, eu não vejo problema — disse a primeira.

— Claro, o show é a minha prioridade.

— Mas se em algum momento a gente perceber que você tá relaxando com a música e dando bola demais pro futsal — disse Sandy —, você vai ter que sair dos jogos, combinado?

— Sim. Eu prometo que não vou decepcionar vocês!

— Só que agora você precisa pedir autorização pra Tia Flora, né? — Disse Janete. — Esses jogos vão acontecer várias vezes, você não vai sair de casa só uma vez, que nem o show de talentos; aliás, alguns jogos vão ser até em outras escolas!

— Você tem razão, eu não tinha pensado nisso... Vou mesmo ter que falar com a Tia Flora. Tomara que ela deixe!

— Boa sorte! — Disse Sandy.

Obviamente, a Tia Flora não deixou de primeira.

— Você sabe que eu trabalho de tarde.

— Tudo bem, eu posso ir sozinha. A gente não volta da escola sozinha quando você não tem tempo pra buscar a gente?

— E essa história de jogos em outras escolas, hein? Eu não vou te levar...

— Eu pego ônibus.

— E o dinheiro da passagem?

— Eu posso vender brigadeiro na escola pra pagar. Por favor, Tia Flora, deixaaaa!!!

Vendo que não teria que gastar dinheiro, nem levar a sobrinha a canto nenhum, Flora acabou cedendo. Mas avisou que se Eleanora fizesse alguma besteira, teria que sair do time na hora. A menina ficou tranquila, já que era boazinha e não costumava fazer besteira. Quer dizer, ela iria escondida com as irmãs para o show de talentos, mas tia Flora não saberia disso, então estava tudo bem.

***

Na escola, Eleanora foi procurar Joaquim para se inscrever para os jogos interescolares.

— Você quer se inscrever? — Ele perguntou, incrédulo.

— É. Escreve aí: "Eleanora Miller, turma..." você já sabe, a mesma que a sua.

— Desculpa, mas eu não posso fazer isso.

— Por quê?

— Porque você é menina.

— E...?

— E nenhuma outra menina se inscreveu...

— E daí? Eu posso ser a primeira.

— Tá, mas eu acho difícil alguma outra se inscrever porque as meninas geralmente não gostam muito de futsal... E você não pode ser a única menina no time... Na verdade, não pode ter nenhuma menina no time.

— Quem disse?

— O professor.

— Que mentira! Ele disse que qualquer aluno do sexto ou do sétimo ano podia se inscrever...

— Exatamente. Aluno, não aluna.

— Joaquim, você é burro assim mesmo ou se faz, hein? Ah, quer saber? Eu não vou perder o meu tempo te dando aula de português... Enfim, em nenhum momento o professor disse que meninas não podiam se inscrever.

— Mas os meninos jogam futsal em todas as aulas de educação física, aliás, é por causa disso que eu sou o capitão — Eleanora revirou os olhos quando ele disse "capitão". Parecia que Joaquim estava se achando demais por causa de um titulozinho... — Se eles quisessem que as meninas participassem dos jogos, vocês iam jogar com a gente toda aula. Desculpa, Eleanora, não sou eu que faço as regras. Eu ouvi dizer que você é muito boa no vôlei; quem sabe algum dia não apareçam uns jogos interescolares de vôlei e você participa...

Eleanora ficou com muita, mas muita raiva! E também ficou bem triste. Ela não falou mais nada, só saiu de perto de Joaquim e ficou sentada em um banco perto do bebedouro lanchando sozinha até tocar o sinal para o início da quarta aula. Ela não quis procurar as irmãs porque não queria ter que contar a elas que não podia se inscrever nos jogos porque era menina.


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