Segunda Chance, Capítulo 9.

POV IZZIE

Dor. Ela pode vim de tantas maneiras diferentes que é difícil definirmos ao certo o que sentimos em determinadas situações. Muitas vezes as dores se mesclam, física e psicologicamente. A dor física, na maioria das vezes, conseguimos trata-la com um remédio, já a psicológica... Ah essa dor é a pior que existe. Ela é silenciosa e aos poucos vai destruindo o que temos de melhor e mais sagrado, nós mesmo.

Assim que eu entrei no quarto hoje de manhã, eu fecho a porta e me isolo aqui dentro. Escuto Alex bater e me chamar várias vezes, mas não abro. Por que eu faria isso? Ele que vá procurar sua noiva e me deixar em paz. Não demora e percebo que ele desistiu... Isso me deixa, ao mesmo tempo, aliviada e com raiva. Ando de um lado para o outro no quarto, até escutar outra pessoa batendo e entrando no quarto. O mal dos quartos da pediatria é não terem chaves para trancarmos a porta.

— Alex, se você veio...

— Sou eu, Meredith. – Ela fala entrando no quarto e se aproximando de mim.

— Oh, Meredith. – Corro e a abraço, faz tanto tempo que não a vejo. – Com a confusão, acabei não te procurando. 

— Eu percebi – Ela ri e o barulho faz George se remexer na cama.

— Você tem que me atualizar do que está acontecendo aqui. 

— Vamos tomar um café? - Ela sugere.

— Eu não posso sair daqui. – Me aproximo da cama e vejo que George continua dormindo e sua febre abaixou.

— Ele vai continuar dormindo até voltarmos. Vou pedir para um interno ficar de olho nele e, qualquer coisa, ele nos chamam.

Minha barriga faz um barulho de fome, faz horas que não como nada e juntando com o esforço e estresse de mais cedo isso me deixa irritada. Fico meio indecisa, mas acabo aceitando. Olho George mais uma vez e acompanho Meredith até a sala dos atendentes, muito bonita por sinal. Agradeço mentalmente por estar vazia. Pego uma xicara de chá, alguns biscoitos e sento no sofá. Vejo que Meredith está calada e me observa querendo falar algo, mas não fala.

— Vai, pode falar. – Reviro os olhos e espero sem paciência.

— Por que você nunca nos deu notícias? – Ela pergunta com sua expressão típica.

— Eu precisava de um tempo, o fim do meu relacionamento com o Alex, me destruiu. – Desabafo.       

— Onde você esteve todo esse tempo? – Ela arqueia uma sobrancelha.

— Fiquei um tempo em Londres e depois fui para Los Angeles.

— Você sabe que não precisava passar por isso sozinha. – Parece meio hipócrita ela falar isso, mas não comento nada.

— Eu tentei voltar, juro que tentei, mas não consegui... Até essa semana. – Fecho os olhos.

— Muitas coisas aconteceram nesses últimos anos.

— Eu fiquei sabendo, sinto muito pelo Derek.

Mc Dream is dead.

— Sinto muito por George. – Ela fala e suspiramos juntas.

— Alex, já te contou tudo, não é? – Observo seu rosto e ela confirma a cabeça.

— O que você vai fazer agora? – Ela me olha compadecida.

— Vou esperar o resultado do exame e ver se Alex é compatível para fazer o transplante de medula, se ele não for compatível, eu realmente não sei o que fazer. – Respiro profundamente não querendo pensar em algo assim, ela parece querer falar algo, mas fica quieta. Não ligo muito para isso.

— Izzie, depois que o tratamento de George acabar, o que você vai fazer? – Reflito um pouco e decido ser sincera.

— Vou embora.

— Você não pode ir embora outra vez e levar o George e essa criança que vai nascer para longe do Alex.

— Eu tenho uma vida longe daqui, Meredith. – Respondo, não entendendo aonde ela quer chegar com isso.

— Alex sofreu muito quando você o deixou. – Ela balança a cabeça me repreendendo.

— E eu? Você acha que eu também não sofri? – Pergunto irritada. – Ele que desistiu da gente, não foi eu.

Será que eu sempre vou parecer a vilã?

— Mas...

— Não jogue a culpa dele em cima de mim. – Completo cruzando os braços.

— Tudo bem. – Ela fica um tempo me analisando em silêncio.

Melhor assim!

— Izzie...

— Meredith não. – A interrompo com o olhar.

Não acredito que depois de tudo ela vai defender ele.

— Ele passou por maus bocados... – Ela continua falando.

— Não quero saber. – Maneio a cabeça inconformada.

— Só estou dizendo que eu vi Alex ir para o fundo do poço várias vezes e não quero que ele vá outra vez. – Meredith fala com a voz firme.

— Uau. – A observo surpresa. – O Alex é sua nova Cristina.

— Sim. – Ela responde sem hesitar. – E não vou deixar você quebra-lo de novo.

— Nossa. – No fundo fico incomodada com isso. – Pensei que você estaria do meu lado.

— Não tem um lado. George também é filho dele. 

— Parece que você já escolheu seu lado. – Respiro profundamente, tentando controlar meus pensamentos.

— Ele tem direito e você sabe que... – Ela fala várias coisas e eu não consigo mais prestar atenção.

Ela não para de falar.

— Eu quero que ele fique com eles! Ok? – Falo alto interrompendo-a. – Não só com o George, mas com o bebê também. Quero que ele os conheça, os ame e cuide deles se eu não tiver mais aqui.

— O que? – Ela me olha confusa. – Como assim?

Inspira, expira... Inspira, expira.

— Meredith, eu tenho grandes chances de morrer no parto. – Falo alto novamente e dessa vez ela para de falar. – Se algo acontecer comigo, quero que Alex, não só conheça os filhos, mas que fique com eles.

— Como assim? – Ela repete com um semblante de confusão.

— Minha gravidez é de risco. – Falo devagar e involuntariamente toco minha barriga. – Eu tenho risco de eclampsia e hemorragias. Quase morri no parto de George.  Os sintomas já estão aparecendo outra vez, minha pressão já está subindo... Corro grande risco no parto dela.

Quando percebo, as finas lágrimas já escorreram pelo meu rosto. Meredith pega minha mão e a aperta forte. Limpo as lágrimas com as costas da mão, respiro profundamente e continuo a falar.

— Eu voltei porque se algo acontecer comigo, quero que meus filhos fiquem com o pai.

Eu não sou a vilã aqui.

— Izzie, você não pode prever isso. – Ela me olha preocupada.

— Eu sou obstetra, Meredith. Eu conhecia os riscos antes de engravidar e sei quais são minhas chances.

— Você tem que conversar isso com o Alex.

— Não. – Falo rapidamente.

— Não pode esconder isso dele. Ele acha que você vai embora outra vez e com as crianças.

— Não fala nada para ele, por favor.

— Mas eu não...

— Droga, Meredith. – Me exalto. – Finge pelo menos uma vez que eu sou a Cristina e fica do meu lado!

— Ok. – Ela responde meio relutante. – Não vou falar nada para ele, por enquanto.

— Eu quero que o Alex queira ficar com eles por amor e não por obrigação. – Confesso sentindo meu coração apertar. – Não sei se ele...

— Posso te garantir que o Alex mudou. – Ela o defende. – Ele não é mais aquele cara do inicio da nossa residência, ele realmente é um cara bom e vai cuidar muito bem dos filhos dele igual cuida dos meus.

Não sei o que o Alex fez para que Meredith, lealdade é uma coisa que se conquista e vejo que aqui ele foi merecedor. De certa forma, isso acalma meu coração. Minha maior preocupação era o Alex rejeitar os filhos e desistir na primeira oportunidade depois de tudo que aconteceu com a gente.

— Posso te garantir que ele já está sentindo muito. Ontem ele chorou igual um garotinho. – Ela brinca e acabamos rindo.

Alex sendo Alex.

— Ele realmente quer uma família. – Ela fala olhando nos meus olhos. – Dá essa chance para ele. Deixa ele se aproximar e conhecer os filhos.

Só temos essa chance.

— Eu vou fazer isso. – Falo sincera.

— E não se preocupe com a Jo, ela não é uma má pessoa. – Reviro os olhos só de escutar o nome dela.

Até perdi o apetite.

— Não foi o que me pareceu hoje de madrugada. – Me encosto ao sofá deixando a xícara de lado.

— Eu não gostava dela até pouco tempo atrás. – Meredith balança a cabeça e sorri de lado. – Com o tempo se acostuma.

Não me conformo de alguém aturar essa garota.

— Ela é muito teimosa e irritante. – Falo com franzindo a testa.

— Eu sei, mas ela é uma boa médica. – Meredith fala a contragosto e franze um pouco o nariz.

— Você não está ajudando. – Reviro outra vez os olhos.

— Ela realmente gosta dele. – Ela me olha com pesar.

— Eu sei. – Suspiro, inconformada. – Hoje ela estava pronta para lutar várias guerras por ele.

— E ele por você. – Seu tom é baixo e eu finjo não ouvir, assim ficamos em silencio por algum tempo.

Será que o Alex ainda gosta de mim? 

— Você ainda gosta dele?  - Ela parece ler meus pensamentos. Penso um pouco antes de responder.

O que eu ainda sinto?

— Se eu falar que não, vou estar mentindo. – Encaro seu rosto. – Mas meus hormônios não me deixam no juízo perfeito, então não sei o que eu sinto.

— Você nunca teve o juízo perfeito. – Concordo com ela e acabo sorrindo. – Então está na vantagem ter algo para por a culpa, nem que seja a gravidez.

— Sabe... Voltar mexeu muito comigo, meus sentimentos estão muito bagunçados. Eu ainda gosto muito do Alex, mas sei que não daria certo outra vez. – Solto o ar, sentindo meu coração apertar.

Queria acreditar que daria, mas sei que só estaria me iludindo.

— Agora isso não importa também. Ele está noivo, eu tenho um noivo. Nós dois estamos em relacionamentos diferentes.

— Perai, Você está noiva? – Ela me encara surpresa.

— Sim, ele é maravilhoso. Se tudo der certo, vamos nos casar depois do nascimento do bebê. – Sorrio, mas a alegria não chega aos meus olhos.

Não posso perder a fé nessa altura do campeonato.

— Por que ele não está aqui? – Ela franze a testa.

— Eu não avisei para ele que viria para cá. – Falo sem graça.

— Izzie. – Ela me repreende. – Você não pode desaparecer para ele também.

— Ele é médico e estava numa conferencia... Quando tudo aconteceu, eu só peguei minhas coisas, George e vim para cá.

— Ele deve estar preocupado. – Meredith maneia a cabeça.

— Eu deixei uma carta. – Forço um sorriso e ela me olha confusa.

— Izzie!

— Agora não importa, eu pedi um tempo. – Suspiro, cansada.

— Se ele é maravilhoso, por que você terminou? – Ela me olha esperando uma resposta.

— Não terminei, só pedi um tempo. – Encolho os ombros. – Não quero que ele se envolva nisso tudo.

— É até melhor ele não estar aqui. Alex não pode arrumar mais nenhuma confusão. – Ela parece pensar alto essa última parte.

— Como assim? - Ela para de falar e eu fico confusa.

— Nada. – Ela percebe que falou demais.

— Meredith, qual confusão o Alex se envolveu dessa vez? – Sinto meu peito apertar de preocupação.

— Depois o Alex te conta, isso é assunto dele. – Ela fala isso e fica em silêncio.

— Não acredito!

— Não posso falar. – Ela encolhe os ombros.

— Cristina. – Falo inconformada.

Realmente fiquei muito tempo longe.

— Sabe... Você daria uma péssima Cristina. – Ela levanta os cantos da boca em um sorriso maldoso. – Você é muito emotiva. Cristina voltaria no mesmo instante.

— Isso é verdade. – Acabo rindo. Meredith se levanta e olha a mensagem do pager dela.

— Eu tenho que ir. – Eu me levanto também e a acompanho para fora do quarto. Já fiquei muito tempo longe.

Depois da conversa com Meredith, não consegui dormir mais, só fiquei deitada assistindo desenho. A manhã passou rapidamente, George estava melhor, o que me deixava mais tranquila. Por volta das 9 horas da manhã a equipe da Dra. Robbins passou no quarto, ela pegou o caso do Dr. Thorpe. A princípio, eu estranho o porquê da ausência de Alex, será que ele realmente não se importa com o filho? Mil coisas passam em minha mente e eu só me acalmo quando o vejo parado na porta. Reconforta saber que ele está aqui comigo. Quando Arizona falou que tínhamos um doador compatível toda minha insegurança e medo passaram. Eu olho para seu rosto e vejo que ele também sente isso.

Ele será um bom pai.

Espero ansiosa todos saírem do quarto e vou até ele e o abraço fortemente. Nem sei o que ele iria pensar com isso, só quero mostrar meu agradecimento. Ele corresponde ao abraço, o que aos poucos aquece meu coração. Sinto minha pulsação acelerar e me afasto. Trocamos algumas palavras e sorrimos um para o outro. Agradeço mentalmente não ter ficado um clima estranho, principalmente depois do que aconteceu ontem e hoje de manhã. Minha tensão aumenta quando vejo George ao meu lado, acabo esquecendo que os dois estão presentes no mesmo quarto. Noto que Alex fica dividido, rezo mentalmente para que ele não fale nada. Eu quero falar para George no momento certo.

Ele se abaixa e fica na altura de George, meu coração falha algumas batidas pensando na possibilidade dele revelar ser o pai agora. Vejo que ele fica abalado, queria que as circunstâncias fossem outras. A Leucemia e o tratamento são bem agressivos com o corpo, mesmo que eu hidrate, alimente e cuide de George, ele é uma criança doente e ver ele assim, me mata aos poucos. Imagino que para Alex, também seja um choque muito grande. Ele logo se afasta, mas antes dá um beijo na testa de George e isso enche meu coração de ternura.

Ele realmente será um bom pai.

— Mamãe, eu fiz alguma coisa? – George me pergunta olhando para onde Alex saiu.

— Não meu amor. – Eu me abaixo na frente de George, com certa dificuldade, minha barriga já não está me ajudando nisso. – Você lembra quando mamãe falou que tinha um cavaleiro que morava em uma terra distante e estava em uma missão?

— Lembro. – Ele me olha com a testa franzida.

— Ele é o cavaleiro. – Revelo em tom de confidencia.

— Ele é o cavaleiro? – Ele me olha com os olhos arregalados. – Sério?

Claro que ele não iria associar que o cavaleiro na verdade era o pai dele, mas isso é assunto para depois. Olho por cima dos ombros de George e vejo que Alex se vira e olha para nós. Sorrio para ele e olho novamente para George.

— Sim, meu amor.

— A missão dele é aqui? – Ele fica empolgado.

— Ele está aqui cuidando de crianças e vai cuidar de você também.

— Eu faço parte da missão? – Ele parece fascinado.

— Faz sim, mas isso é segredo.  – Falo baixo e ele ri, esse som aquece meu coração.

— Legal. – Ele sorri largamente. – Eu vou ficar bem de novo?

— Sim. – O envolvo nos meus braços. – Ele vai te dar algumas poções com poderes mágicos e vai te fazer melhorar.

— Vou poder tomar sorvete e brincar com meus amigos outra vez? – Ele fala animado.

— Quando sairmos daqui, você vai poder tomar o sorvete que quiser. Irei fazer muitos bolos e vamos passar o dia todo no parque com seus amigos.

— Eba. – Ele pula animado com a possibilidade. – Ele é meu herói, mamãe.

— É sim, meu amor.

Ele é seu pai.