Fantasia muito bem criada escrita por Senhora Oh


Capítulo 2
O amor é real?




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O grito foi inevitável. Soltou o copo para tampar seus olhos, aquilo não podia ser real. A dor que sentiu em seu peito lhe mostrou o contrário, ao abaixar as mãos e olhar para os corpos juntos das duas pessoas que mais amava e confiava no mundo, lhe provou que de fato aquilo era sim verdade. Saiu correndo atordoado que nem ouvia seu nome sendo chamado, quase caiu da escada várias vezes ao tropeçar nos degraus, tamanho o seu desespero e as lágrimas que caiam sem controle. A única coisa que queria era sair o mais depressa daquela casa que já chamou de lar perfeito.

No andar de cima Trowa chamava por Quatre insistentemente, tirou os lençóis de cima de si e levantou desajeitadamente, ouvia Duo chorando e se lamentando na cama nem se deu ao trabalho de olhá-lo. Colocou a única peça que achou em sua frente, que por sorte, era sua calça que estava jogada no chão e saiu correndo atrás de seu namorado. Cortou um de seus pés nos cacos de vidro que estavam na porta. Ignorando a dor que sentiu, desceu as escadas pulando os degraus e gemendo a cada pontada no pé. Estava indo até à sala quando ouviu o barulho da porta da garagem, rumou em disparada até lá gritando para que parasse. Chegou a tempo de vê-lo saindo com o carro em alta velocidade, pegou o veículo ao lado e saiu atrás dele. O pânico tomou conta do seu corpo, pressentia que algo de muito ruim iria acontecer.

Quatre nem sabia o que estava fazendo e muito menos para onde estava indo, só queria ir para bem longe de tudo. Se soubesse que seria ele a ter uma surpresa jamais, teria cogitado a ideia de ir para a casa mais cedo. Riu de forma forçada do seu próprio pensamento, era tão estúpido que preferia continuar a sendo traído por seu namorado e melhor amigo, do que descobrir a verdade. Via através do retrovisor um carro em alta velocidade lhe buzinado, não precisava ser um gênio para saber quem era, só queria que ele lhe deixasse em paz. Acelerando ainda mais, pegou o caminho da rodovia desviando dos carros a sua frente.

— Deus, por favor. Só faça parar de doer. Porque dói tanto? — Perguntava para si quando aquela dor iria acabar, só queria que ela parasse.

Largou o volante por alguns segundo para enxugar o rosto, as lágrimas o impedia de ver o caminho. Quando voltou a abri-los, desesperou-se tomando a direção novamente desviando de um quase atropelamento de uma pessoa que atravessava a rua. Pediu desculpas mentalmente aquela pobre mulher. Não era sua culpa, estava desesperado; na verdade, estava quebrado. Como pode ser tão burro que não percebeu a traição bem debaixo de seu nariz? Estava tão cego de amor que nem notara os dois juntos? Como Duo pode fazer isso com ele se eram melhores amigos, se conheciam desde a adolescência. Amava ao amigo como a um irmão que nunca teve. Se ele também gostava de Trowa então porquê os juntou?

— Porque ele é um puto de um vadio que só riu da sua cara. Com certeza eles eram amantes antes. Como ele pode fazer isso comigo?— batia no volante descontando sua raiva.

Continuou dirigindo sem rumo em alta velocidade. Ouvia as buzinas e xingamentos dos outros motoristas, todavia pouco se importava, tudo o que queria era que Trowa o deixasse em paz, que parasse de fingir que ele significava alguma coisa. Via que ainda era seguido por ele, que acenava e buzinava pedindo para parar.

 

XxX

 

Em uma de suas inúmeras viagens encontrou uma senhora e ela simplesmente lhe parara no meio da rua para lhe disser que tinha pena dele, pois, estava destinado a sofrer. Que mesmo com todo o dinheiro do mundo, jamais seria feliz de verdade, disse que existiam pessoas na vida que não tinham sorte e que nunca encontravam a verdadeira felicidade, que tudo não passava de uma fantasia. A felicidade era momentânea, as promessas não seriam compridas e o amor realmente nunca existiu.

Quatre tinha um defeito como sua mãe gostava de falar, sempre colocava os outros acima de si mesmo, doava-se de mais e que as pessoas poderiam se aproveitar disso e o magoa-lo. Ele era muito inocente e puro para esse mundo, sofria em demasiado por coisas bestas, como quando o seu primeiro amigo de infância, filho de um dos sócios de seu pai disse que não queria brincar consigo porque ele era estranho ou quando sua primeira paixonite da adolescência jogou sua cartinha de amor no lixo depois de lê-la.

Talvez sua mãe e a senhora tivessem razão, mas de todo nunca fora errado amar e se doar de corpo e mente. Não era dessa forma que os grandes filósofos que estudou diziam que isso era amar? Se deixar entregar pela emoção, felicidade e principalmente pela pessoa que ama? Estaria todos eles errados e ele seria mais um tolo que se deixou enganar?

Deixou-se acreditar em uma fantasia muito bem criada então. Pois, desde o dia que conheceu Trowa e mesmo que esse não tenha dado muita bola para si, soube que aquilo era amor que todos diziam ser a primeira vista. Com a ajuda de seu melhor amigo, consegui descobrir toda a ficha de dele, suas redes sociais, se era solteiro, quantos anos tinha e tudo mais, Duo era bom em pesquisar sobre as pessoas. Foi a partir daí que começou a “caça ao moreno de um olho só”, como dizia seu melhor amigo.

Descobriram onde trabalhava, os restaurantes que gostava de frequentar e quem eram seus amigos, os “encontros” acidentais pelos lugares da cidade e os “amigos” em comum era tudo coincidência para Trowa, só Quatre e Duo sabiam o quão sacrificante foram aqueles meses de perseguição para que enfim depois de exatos quatro meses, Trowa lhe convidasse para um encontro.

Lembrou que no dia do encontro passou muito mal tamanha a sua ansiedade, não conseguiu dormir direito e ainda teve dor de barriga. Na hora marcada ele estava sobre efeitos dos remédios que sua empregada tinha lhe dado para segurar a diarreia e com tanta maquiagem para cobrir as olheiras que Duo fez, que nem ele se reconhecia ao olhar no espelho, quem dirá seu amado. O local escolhido pelo moreno fora um de seus restaurantes favoritos, entretanto, estava com medo que se colocasse uma coisa pela boca fosse sair imediatamente por baixo, que ficou o encontro todo somente na água e algumas folhas de alface. O dia em que deram seu primeiro beijo, ficou tão nervoso e afobado que mordeu os lábios de Trowa; sem querer é claro. Quando tiveram sua primeira noite juntos e não sabia o que fazer por ser a sua primeira vez. O pedido de namoro mais romântico do mundo, com direito a jantar a luz de velas e pétalas de rosas no quarto do hotel. E principalmente o dia em que se mudaram e Trowa decidiu “batizar” cada cômodo da casa.

Eram os dias mais felizes que Quatre se lembrava desde que o conheceu, desde os momentos mais íntimos, as brincadeiras, as discussões por coisas simples e principalmente a reconciliação e, sempre Duo esteve com ele na maioria desses momentos, sempre lhe apoiando e sendo o seu confidente. Ele estava lá quando tiveram a primeira briga e seu amigo foi tirar satisfação com Trowa por fazer o lourinho chorar e principalmente quando recebeu a notícia que seu pai estava doente e teria que assumir a empresa em seu lugar. Duo sempre foi o seu irmão, aquele em que ajudou a secar suas lágrimas depois da primeira desilusão amorosa na adolescência.

Então como pode aqueles em quem mais compartilhou os melhores momentos de sua vida lhe apunhalarem desse jeito? Será que tudo realmente não passou de uma fantasia que criou em seu mundo de sonhos e não viu o que acontecia bem a sua frente? Quanto tempo foi feito de bobo e principalmente por que com ele, que sempre desejou o bem de todos e só queria ser feliz e provar que sua mãe e aquela senhora estavam erradas?

Uma buzina alta lhe tirou de seus pensamentos, olhou para frente pela primeira vez de verdade para saber onde estava e percebeu que tinha parado de dirigir e ficado preso entre o cruzamento com a ferrovia, as cancelas já tinham se abaixado e as luzas e a sinalização sonora tocava. Não podia ver o trem, porém, conseguia ouvir e sabia que estava perto. As pessoas do outro lado saiam de seus carros e gritavam para que ele saísse, olhando para o retrovisor pode ver Trowa sendo segurado e gritando com aqueles que tentavam lhe segurar desesperado.

Dizem que quando estamos prestes a morrer nossa vida passa bem diante de nossos olhos e, foi isso que eu vi. O melhor e o pior passou tão rápido que nem percebi, senti a paz finalmente me abraçarem de verdade.

— Por favor Senhor, eu só quero que essa dor acabe. — disse Quatre e pela última deixou que suas últimas lágrimas escorressem pelo seu rosto, antes que uma luz lhe tocasse e depois tudo ficar escuro.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada.



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