Solum escrita por Mims


Capítulo 1
Ex nihilo nihil fit




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Toda a defesa que Draco Malfoy vinha construindo em torno de si havia sido destruída. A dor de não ser o suficiente afligia sua mente com uma constância inevitável para quem é acostumado a pensar demais. Seu ar escapava abrupto por seus pulmões, em movimentos repetidos e cansativos.

Estava cheio de tudo aquilo.

No fim das contas, ele não era um garoto mau. Incompreendido, talvez. Quem sabe meio renegado, ignorado e desacreditado. A lista de adjetivos crescia e Draco não conseguia parar de acrescentar mais palavras à ela. Seus pensamentos conflitavam assim como o sentimento que perdura em seu peito, quase o esmagando.

Ao seu redor, observava os nuances que possuíam as paredes da Sala Precisa, em um cenário reconfortante no qual satisfazia toda a necessidade de acolhimento que o garoto precisava. Respirava cada vez mais rápido, contendo com todas as suas forças uma sensação que vinha sentindo com cada vez mais constância.

O Malfoy se lembrava da primeira vez em que havia se sentido daquele jeito, com apenas 7 anos, idade suficiente para já entender as palavras do pai em meio à visão borrada pelas lágrimas que tão poucos anos de vida já haviam lhe proporcionado.

—Aprenda a ser forte, um Malfoy nunca demonstra fraqueza. -a voz de Lucio transcendia pelas paredes do salão.

A bochecha vermelha do garoto doía e latejava, seus lábios tremiam em conjunto com suas mãos e o ele nunca havia se sentido tão impotente quanto naquele momento.

De longe, observava o olhar melancólico da mãe sobre si e em seguida via a mulher que lhe deu a vida sair do cômodo acompanhando o marido sem dizer uma palavra sequer.

Hoje, a vontade do garoto era de se mostrar superior àquela situação. “Olhem só como evolui.” Mas mesmo passando aos outros uma pose inatingível, ainda se sentia como se tivesse 7 anos de idade com o rosto inchando após levar o primeiro tapa.

O primeiro de muitos.

O medo, naquela situação, era equiparável ao que sentia no exato momento.

Mesmo recusando-se a admitir para si mesmo, Draco estava amedrontado. Não conseguia lidar com toda aquela pressão imposta que o dilacerava  lentamente até o deixar implorando para que parasse.

Se perguntassem anos atrás o garoto não saberia de uma coisa sequer pela qual já houvesse implorado. No entanto, se o fizessem a mesma pergunta em circunstâncias atuais a resposta seria diferente. Não saberia pelo que já não havia implorado. Na maioria das vezes eram apenas pensamentos, pensamentos que formavam uma espiral infinita de culpa e dor e o obrigavam a viver cada segundo de sua vida com uma sensação que não deveria ser sentida por ninguém.

Contra sua vontade, a mente do Malfoy voltou-se para a mesma situação a qual gostaria de esquecer. Ainda podia enxergar o olhar vazio de Dumbledore em sua direção no dia em que fora para a torre de Astronomia com o propósito de matá-lo. Ainda lembrava como a voz de Severo Snape soou alta e impassível ao proferir as palavras que selariam o destino do ex-diretor de Hogwarts. Mas o pior de tudo: ainda ouvia nitidamente o som do corpo morto da vítima caindo após segundos em uma escuridão sem fim.

Eram pensamentos como este que assombravam a cabeça dele. Pensamentos que ele gostaria de esquecer, mas sabia que não conseguiria nem mesmo com o mais eficiente feitiço Obliviate. E mesmo que conseguisse, ainda restaria a culpa pesando em seu peito.

Um fardo que levaria para o resto da vida.

Ali, no conforto da Sala Precisa, Draco Malfoy chorou tudo aquilo que não havia chorado durante semanas.

Suas lágrimas escorriam alheias pelo seu rosto, carregando consigo uma carga emocional mais poderosa que a utilizada em muitos feitiços. Os suspiros viraram soluços que logo viraram gritos.

Gritos de dor, de agonia, de culpa e de raiva. Gritos que o garoto guardara por tanto tempo em si que saiam às pressas, furiosos, sentimentais. Um segundo depois, achou aquela cena patética.

Não conseguia acreditar que estava submetendo-se a tamanha humilhação. Pensava no quão ridículo estava sendo, mas mesmo assim não conseguia conter as lágrimas que continuavam percorrendo toda a trajetória de sua face, buscando um destino incerto. A marca negra formigava em seu braço, lembrando-o ininterruptamente das escolhas que tomara.

“Um Malfoy nunca demonstra fraqueza.”

As palavras do pai repetiam-se inquietas em sua mente conturbada. Já não mais tentava ter um pensamento equilibrado e tinha medo que os extremos houvessem dominado toda a sua existência.

Não sabia por quanto tempo ficara naquela sala, deixando as lágrimas tomarem conta do ambiente com tamanho fervor. Tampouco se era dia ou noite, mas não se importava com tal perspectiva. Após o que pareceram anos o garoto recompôs-se o suficiente para finalmente sair daquele local que havia se tornado um refúgio.

Ainda ficara o tempo necessário para que seu rosto desinchasse, sua camisa secasse e logo não houvesse pista alguma de que estivera chorando nas últimas horas. O pensamento de que estava tornando-se cada vez mais patético voltou a assombrá-lo. Por um segundo, o seu eu de 7 anos voltou a aparecer.

Draco afastou essa espiral e prosseguiu em direção ao Salão Principal.

Ainda estava frágil, ainda sentia o fardo sobre si, mas não podia deixar sua vulnerabilidade aparecer. Era questão de princípios.

Nunca demonstrar fraqueza.

E então voltou a construir toda essa fortaleza ao seu redor, não para tentar proteger-se do que há mundo afora.

E sim para conter o turbilhão que havia dentro de si.


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Notas finais do capítulo

Ah, Draco Malfoy! Um reizinho injustiçado desses. Mesmo com outros projetos, eu tinha que fazer nem que fosse uma one sobre esse garoto maravilhoso.
Espero que tenham gostado!
Até a próxima e deixem suas opiniões.



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