Cursed Girl escrita por troxeane


Capítulo 1
1 - Avada Kedavra




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"Você é uma pessoa boa, por isso cosas ruins acontecem com você."

 

O clima estava insuportavelmente gelado naquele dia. Normalmente eu chamava as minhas amigas para assistir um filme ou apenas conversar e tomar uma xícara de chocolate quente, mas hoje em particular, quando fui o fazer, uma interferência enorme ocorreu na linha telefônica, o barulho era tão irritante que machucou meu tímpano. Ignorei, pois a interferência provavelmente se devia á neve.

Logo após o acontecimento do telefone a energia caiu. Eu não costumava ter medo do escuro, mas a falta de luz solar por conta da crosta de neve nas janelas impendiam qualquer luz de entrar e aquilo me deixou meio temerosa. 

  Com o aquecedor desligado fui obrigada a me envolver em um cobertor grosso. Foi um processo complicado descer as escadas até a cozinha para acender as velas, mas não me desenrolei do cobertor.

  Procurar as velas foi outro processo complicado, por sorte sabia exatamente onde a caixa de fósforo estava. 

  Posicionei as primeiras velas sob o balcão da cozinha. 

  Levei um susto, derrubando o fósforo no chão – o mesmo chamuscou antes de atingir o piso e então apagou. O barulho que me assustara cessou, algo como uma bolha de vento estourando. 

  Poderia ser Margareth ou Edward, meus pais. Era cedo para que estivessem em casa, mas com a nevasca que estava prevista para mais tarde não me surpreenderia se tivessem sido dispensados mais cedo.

  Peguei uma vela já acesa e fui até a sala, querendo saber como que eles tinham feito aquele barulho mas a pergunta desapareceu da minha cabeça quando vi que minha mãe mantinha a expressão apavorada. Ela correu até mim, me abraçando.

  Margareth só separou o abraço para olhar para mim, como se checasse algo. O cabelo alaranjado, que eu havia herdado dela, me esmagando novamente. 

— O que está acontecendo? — Não obtive nenhuma resposta.

— Arrume suas coisas, A. — Eu sabia exatamente o que aquilo significava, mas decidi ignorar, como eu queria que aquilo não significasse nada... — Nós vamos partir.

Eu já estava acostumada a partir. Nunca ficávamos em um só lugar por conta do emprego de ambos, mas estávamos em Londres a dois anos, tempo o suficiente para achar que tínhamos enfim nos estabelecidos, pelo menos por um tempo considerável. Eu tinha até feito amigos, por Deus, eu tinha um namorado.

— Colloportus. — Ela murmurou, apontando com um objeto pontiagudo para a porta. Eu tinha assistido filmes de bruxaria o suficiente para saber que era uma varinha.

— O que está acontecendo? — Repeti minha pergunta, mais séria dessa vez, com uma preocupação verdadeira. Estava com medo de que ela estivesse sendo paranoica. 

Um barulho foi ouvido e a porta voou, literalmente, atravessando a sala de estar e de jantar. Infelizmente ela me carregou junto. 

Uma dor aguda preencheu toda a minha coluna assim que atingi a geladeira.

 Eu comecei a ficar apavorada assim que consegui sair debaixo dos destroços da porta. Dois homens estavam parados empunhando suas varinha para minha mãe. Soube que não era paranoia assim que fios de luz começaram a sair do pequeno objeto em suas mãos, enquanto proferiam palavras que nem se eu quisesse eu saberia o significado.

Quando levantei com a visão empoeirada senti a casa ficar gelada e pude ver algo como um holograma: uma caveira atravessada por uma cobra.

 O gelo que preencheu a casa não foi causado pela falta da porta, eu tinha certeza. O frio normalmente queimava a pele, mas o frio que entrou na minha casa foi absurdamente pior que qualquer machucado que o frio normal já me causara. Ele não doía, mas era como o nada, como se eu estivesse acordada e não conseguisse abrir os olhos e nem me mexer.   

— Estupefaça. — No mesmo momento que a voz da minha mãe soou o corpo de um dos homens foi arremessado. Não fui rápida o bastante para me esquivar ou me esconder e fui arrastada junto com ele. 

Bati a cabeça na quina da mesa, o que fez com que eu caísse na direção oposta da do homem desacordado.

Quando o outro homem olhou para seu parceiro, notou minha presença. Não me deu nem tempo de levantar e veio em minha direção, me arrastando para a sala de jantar pelos cabelos. Gritei de dor, o fato de ele estar puxando meu cabelo só ressaltava a dor do machucado em meu coro cabeludo que eu acabara de ganhar.

  A essa altura eu já chorava.

— Solte-a. — E ele de fato me soltou. Me jogando no piso de madeira, fazendo outra dor surgir no meu ombro direito. — Destruccio. — Ela proferiu assim que eu já estava ao seu lado, o homem de cabelos negros caiu, sua perna se quebrando e fazendo um barulho que me deu uma tremenda agonia.

— Mãe, — Eu disse, checando o ferimento em minha cabeça, ele ardeu ao meu toque. — o que está acontecendo? 

Eu clamava por respostas. Meu coração pulsava como jamais tinha pulsado antes e sentia minhas veias sanguíneas queimarem de adrenalina e medo.

— Você precisa ir com o seu pai, ele te explicará. Defudio. — Um buraco se abriu na parede atrás de mim.

— Eu não vou deixa-la. 

Neguei com a cabeça, constante, ignorando a dor que aquilo causou.

— Vá, Aurora. — Fazia um bom tempo desde que ela não me chamava assim. Aquilo fora o suficiente para me fazer levantar. — Me prometa que não vai voltar. — Eu prometi, incerta se seria algo que cumpriria. — Lembre-se, auroras sempre surgirão novamente. 

Corri para a passagem recém aberta, ela proferiu mais algumas palavras depois que eu entrei. Me virei para vê-la, sentindo que seria a última vez.

— Eu te amo. 

Eu assenti, incapaz de falar algo, sequer pensar em outra coisa que não fosse correr de volta em sua direção e eu tentei, mas dei de cara com uma parede invisível o que me desnorteou por alguns segundos, segundos o suficiente para ver o loiro, que antes estava desacordado, caminhar em direção á ela. Empunhado sua varinha com um olhar mortal.

Esmurrei a parede invisível, numa tentativa falha de faze-la sumir de lá.

— AVADA KEDAVRA. — Ele gritou, fazendo um jato verde sair de sua varinha e ir em direção ao coração dela. 

Prendi a respiração. Antes de seus olhos serem tomados por uma escuridão eles me mandaram um aviso: “fuja”.

  Senti algo bater em meu pé descalço, olhei para o chão, vendo a varinha de minha mãe, parada, esperando para ser pega, e foi o que eu fiz.

E então eu fugi. Saí correndo escada abaixo, não me permitindo chorar para que eu não tropeçasse por conta das lágrimas. 

Quando minha mão tocou a maçaneta da porta, o metal frio a machucou. Nem sequer liguei.

 O rosto familiar do meu pai me fez desabar. Corri em sua direção o abraçando. Ele nos separou, friamente.

 O olhei, desesperada.

— A mamãe, ela... — Fui interrompida por ele. Seu olhar sério me assustou. Será que ele estava com aqueles homens? 

— Temos que ser rápidos, querida. — Quando ouvi sua voz esqueci de qualquer desconfiança, até me senti envergonhada por ter pensado em tal coisa. – Sua mãe se foi e logo eu também irei. — Ele disse com pesar.

Percebi que eram apenas palavras que substitua o fato de que ela morrera, ela morrera e eu não fui capaz de fazer nada.

Parei de respirar por um momento. Como ele esperava que eu aceitasse que ele iria me deixar? Senti raiva. Estava pronta para o insultar quando ele voltou a falar.

— Você ainda não atingiu a maioridade, portanto não pode usar sua magia. Quando eles me matarem, Aurora, eu preciso que os amaldiçoe. 

Nada do que ele falava fazia sentido. Eu sabia muito bem que magia existia, a batalha travada a pouco na minha sala de estar provava isso, mas eu não entendia bulhufas do que ele falava.

— Isso é loucura. – Cada célula do meu corpo tremia, pedindo informações e explicações – quais eu realmente entendesse –, qualquer coisa.

— Assim que os amaldiçoar, o ministério vai mandar um auror para te prender, você só estará segura quando falar com Harry Potter. 

Esse nome me é completamente conhecido, mamãe me contava histórias de como minha avó o odiava, dizia que era o mesmo motivo que fizera ela odiar minha mãe. Agora fazia sentido. Ambos são bruxos.

— Entregue isso á ele. – Papai me entregou um saquinho de veludo púrpura. — Diga sobre a família de sua mãe, ele vai te ouvir.

A tempos minha mãe não usava o sobrenome de seus pais. Apenas concordei. Querendo ter mais tempo com ele.

— Nada disso faz sentido. — Ele concordou. Passando a mão em meus fios loiros-morango.

— Desde que nasceu tem um destino incerto, A. — Ele sorriu, tristemente. 

Edward não ousou desviar seu olhar de mim, parecia querer memorizar cada detalhe meu. De que adiantava? Logo ele estaria morto e apenas estampava em minha cara que eu não podia fazer nada.

“Desde que nasceu tem um destino incerto”. Mas o dele não era.

Tateou uma mesa atrás dele, em busca de algo. Suas mãos voltaram com uma mochila preta, não muito grande.

— Aqui tem tudo o que precisa. – Suspirei, aceitando a mochila de bom grado, de qualquer jeito eu teria que fugir e não teria tempo de arrumar nada. — Inclusive os diários de sua mãe. Tudo o que precisa saber está escrito neles. – Assenti, já sentido meu peito se apertar. Ele falava mais rápido, o que significava que aqueles homens se aproximavam. — Use a maldição Cruciatus, irá trazer o ministério correndo atrás de você. Você precisa proferir “Crucio” realmente querendo machucar alguém, se não, não funcionará. 

Não vai ser difícil, pensei, querer machucar aqueles dois desgraçados.

  Coloquei a pequena bolsinha, que parecia ter um frasco, dentro da mochila.

— A varinha de sua mãe já não mais pertence á ela. Ela te protegerá, nunca se separe dela. — Aquele aviso foi tão cuidadoso e meticulosamente falado que não questionei o porquê, nosso tempo juntos estava se esgotando.

Sussurrei um “eu te amo”, obtendo a mesma frase em resposta.

O abracei com toda a minha força e eu não o soltaria se a porta não tivesse explodido.

  Papai não tinha uma varinha para empunhar, ele nem sequer gritou quando foi arremessando para o outro lado do cômodo e nem protestou quando o segundo homem apontou a varinha para ele e gritou: — Avada Kedavra!

 


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