Sekai no Sozokujin: Laços mais que eternos. escrita por SabstoHoku, FrancieleUchihaHyuuga


Capítulo 4
Epifania


Notas iniciais do capítulo

Heeeey! Senti tanta falta de vocês, herdeiros!

Eu sei, eu sei, dois meses de atraso, nos desculpem. Sério! Gente, nosso terceiro ano está sendo uma bagunça! Tudo bem, sei que não é exatamente uma desculpa, porém é considerável. Não vou culpar vocês se nos fizerem ameaças! Ahshshhs

Maaaaas, pra compensar isso, o maior capítulo da fanfic até agora! E um dos mais importantes, também. Escrevemos esse capítulo com o coração na boca, acreditem.

Espero que gosteeeem!

Obs:

Perguntinha extra: Quais são os shipps de vocês? Na sinceridade! Nada de mentir, hein?



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Alguém suspira
Uma pesada respiração
Como eu poderia ser capaz de entender o seu suspiro?
Embora eu não consiga compreender essa profundidade
Está tudo bem, eu irei te abraçar."

—Breath, Lee Hi.

・*:.。. .。.:*・゜゚・*☆

—Ah... Não lembrava que esse lugar era tão longe.

O sol já estava alto no céu, fazendo do dia uma mistura entre um mormaço agradável e raios solares desconfortavelmente brilhantes e quentes; Hitomi, com suas roupas escuras que compunham o uniforme, já não aguentava mais. Queria voltar. Queria retornar ao lugar que fora seu abrigo durante aqueles quase três anos.

Seria ótimo se o motivo fosse apenas o calor, é claro.

—Bom, são dois dias. Acho que você já sabia. —Tadao proclamou, se manifestando de modo rígido. Parecia prestes a dizer mais alguma coisa, entretanto a morena olhou-o de canto, como que alertando-o, fazendo com que o rapaz parasse sua fala ali mesmo, a boca entreaberta. Kohari, ao seu lado, engoliu em seco.

—Você não deveria provoca-lá. -Alertou. Tadao voltou seu olhar para ele, imitando o gesto da Uchiha. Kohari, porém, apenas suspirou de modo cansado.

—Quero chegar logo, estou com fome. -Voltou a resmungar a Uchiha, apressando os passos, sendo prontamente acompanhada pelos dois companheiros. A verdade é que queria fugir; fugir daquele caminho que a levaria a um passado que queria com todas as forças esquecer, ou achava querer. Milhares de questões rodeavam sua mente, que já era, de fato, costumeiramente cheia. Qual seria sua real reação quando colocasse os olhos negros na vila que tanto a angustiava? Conseguiria manter a pose ou desmoronaria de forma rápida e súbita? De qualquer forma, não queria descobrir. Mas teria.

Dividiu, em sua mente, o caminho em etapas; por sua vez, essas etapas eram divididas pelas paradas. Tendo este raciocínio, esquematizou de forma simples seu progresso. Eram três etapas, por enquanto; e já estavam consideravelmente perto, se pensasse que provavelmente fariam apenas mais duas paradas, totalizando cinco etapas de viagem.

Droga, aquele esquema era fácil. Não levara sequer dois minutos para organizá-lo. Não que fosse uma pessoa realmente organizada, porém; queria apenas uma distração.

・*:.。. .。.:*・゜゚・*☆

Mais algum tempo se passou. Mais uma parada foi feita. Daquela forma, apenas mais uma seria necessária, o que significava que estavam a poucas horas de Konoha. Naquele ponto, Hitomi já reconhecia traços daquele caminho. Iam pela estrada comum, mesma estrada aquela onde, três anos antes, o time 7 havia marcado passagem rumo à sua primeira missão em campo. Onde Uchiha Hitomi, naquela época, ia em direção ao primeiro dos muitos traumas de sua vida.

As lembranças deram-lhe vertigem. E não foram uma ou duas as vezes em que a morena, tomada por uma nostalgia que gostaria de não sentir, teve bem perto de si a sensação de um desmaio. Entretanto, não desmaiou de fato. Muito pelo contrário; tratou de esconder da forma que pôde o mal-estar que a consumia. Achava que sua clara relutância já mostrava aos companheiros uma dose significativa de fraqueza e, sendo assim, não precisava de mais nada que a declarasse mais abalada.

—Tem certeza que está bem? -Tadao questionou-a, encarando o rosto naturalmente pálido com uma preocupação velada. Hitomi pigarreou, limpando a garganta, saindo do poço de pensamentos em que havia se afundado com aquele ato. Balançou a cabeça lentamente em concordância, tentando não fazer nenhum movimento muito brusco, e mantendo a expressão tão amena quanto possível.

—Tenho.

—Mesmo? -Insistiu Kohari. Hitomi suspirou.

—Mesmo. -Confirmou. Tadao lançou-lhe um olhar desconfiado.

—Não quer parar?

"Parar? Cretino!"

Com aquela questão, a menina travou o maxilar. Era sua impressão, ou Tadao tentava provocá-la? Absurdo! Não era mais nenhuma genin em treinamento. Era uma chunnin com habilidades superiores às de alguns membros das tropas anbu. Tinha certeza que o companheiro de time tinha consciência de sua percepção. Assim, tornava-se ainda mais estranho aquela tentativa do mais velho de tentar extrair informações de maneira tão medíocre.

—Não. Eu não quero.

O garoto apenas não insistiu mais, então voltaram a caminhar novamente. A morena observou que não tinha mudado muita coisa, pelo menos naquele caminho; ouvia o farfalhar das árvores com a brisa fresca da tarde. Por alguns instantes, uma certa calma preencheu-a. Entretanto, antes que se desse conta, um ruído cortou sua desejada paz. O pior talvez fosse saber a causa: seu estômago.

A barriga havia roncado alto, indicando que já passara um bom tempo desde sua última refeição.

—Acho melhor comermos. - Comentou Tadao em um tom um pouco mais baixo, como se tivesse medo de ofendê-la com aquele comentário simples. Por sua vez, Hitomi apenas concordou com a cabeça e voltou a caminhar rapidamente.

—Tem um pequeno restaurante aqui perto. - Explicou brevemente, sem dar mais detalhes.
Andaram uns cinco minutos até encontrarem uma pequena casinha ali no meio do nada, retiraram suas sandálias e entraram no estabelecimento. Tinha um ar agradável, como se em algum momento houvesse sido uma casa de família, e provavelmente realmente fora. Contrário a isso, entretanto, era notável uma aura solitária. Algumas poucas mesas eram distribuídas de modo estratégico aqui e ali, e poderia ser considerado vazio se o pouco barulho oriundo de onde devia ser a cozinha não fosse audível.

De qualquer forma, era um lugar conhecido. E Hitomi se sentiria acolhida caso não se sentisse tão mal. Tinha o olhar voltado ao chão, e mal teria levantado a cabeça se uma exclamação conhecida não tivesse chegado a seus ouvidos. Levantou o olhar para observar o local, e sentiu sua respiração falhar de súbito. Quanto tempo já fazia?

Não era como se não tivesse visto-o algumas vezes durante seus treinos. Porém, não esperava encontrá-lo ali.

—Mitsuki. - Pronunciou, quase num sussurro, e o azulado olhou para ela com seu típico sorriso.

—Hit. -Mitsuki trazia consigo um tom de voz novo, mas ainda ameno e conhecido. Não havia mudado tanto desde a última vez que o vira, e predominavam o branco e o azul, que pareciam fazer de suas roupas quase uma parte dele, tendo em vista sua pele e cabelos também azulados. Cabelos esses que, inclusive, estavam maiores do que ela se lembrava, chegando aos ombros largos do garoto. O sorriso gentil manteve-se ali por pouco tempo, sendo trocado por lábios e olhos franzidos. -Você está bem?

—Estou… -Confirmou, novamente em um murmúrio, o que fez do filho de Orochimaru não muito convencido.

—Você o conhece? -Questionou, enfim, Kohari. Hitomi tinha de admitir que já tinha dado falta das muitas perguntas dos companheiros de equipe; talvez estivessem, afinal, apenas tão cansados quanto ela.

—Conheço. -Franziu as sobrancelhas, confusa. -Vocês não? São da Vila do Som. Não é possível que não o conheçam.

—Bem, nós… -Kohari, entretanto, foi interrompido por Tadao com um olhar um tanto quanto indiscreto, mas não muito revelador em seus motivos.

—Já ouvimos falar. Mitsuki, filho de Orochimaru, estou certo?

Hitomi sentiu a boca seca; Havia certa rispidez em seu tom, cuja não era comum à ele. Não sabia muito de seus colegas, assim como eles não sabiam dela. Todavia, tal ato partido do mais velho a deixara intrigada; pela primeira vez, sentiu vontade de fazer uma série de perguntas ali mesmo, onde eram claramente descabidas.

—Está. -Respondeu o amigo, a rigidez exposta na voz, claramente equiparando-se ao outro em questão de tom. -Tadao Miyagani, estou certo?

Se a Uchiha não conhecesse bem o amigo, diria que tinha certo sarcasmo, com um toque suave de deboche, emanando daquela frase.

—Sem dúvidas. -Arrumou os cabelos alaranjados com certo nervosismo, e ali deu certeza à mais nova de que havia algo sendo escondido. Apesar de habilidoso e bonito, Tadao tinha um gênio difícil de se lidar, então não se tornava improvável alguma richa passada, embora Hitomi não soubesse quando, como ou porquê aquilo teria começado. Sequer sabia se suas suspeitas tinham fundamento. Teria argumentado algo…

Mas caiu. De súbito, como se sua consciência houvesse decidido por si só que era a hora de colapsar.

Não ouviu as vozes que chamavam por seu nome ou os braços que a levantavam. Não teve tempo de sentir ou notar a presença pesada que passara a preencher o local. Ninguém notara os olhos furtivos.

“Que cenário odioso.”

・*:.。. .。.:*・゜゚・*☆

Voltou a si tão subitamente quanto havia deixado. Sentia-se acordada, mas fraca, como se as forças de seus músculos tivesse sido roubada. Suas reservas de chakra preservavam-se intocadas, porém. Não entendia bem o quê realmente acontecera, ou, ao menos, desejava não entender.

Permaneceu com os olhos fechados, e odiou-se por saber estar sendo carregada. Aquela sensação frágil lhe trazia lembranças e elas, de qualquer modo, não eram exatamente bem-vindas.

Aqueles desvanecimentos não eram mais tão comuns quanto um dia foram; tinham tido seu auge logo após sua ida à Vila do Som, e os odiava não apenas por fazerem-na parecer fraca, mas porque nada tinham haver com seu estado físico. E ela, contrário ao que deixava transparecer, sabia bem daquele fato.

—Já estamos perto. - Ouvir o comentário de Kohari causou embrulhos em seu estômago, porém ao menos deu-lhe a certeza irrelevante de que não era o menino de cabelos verdes a carregá-la nos braços. Suspirou de forma profunda, ainda relutante em abrir as pálpebras.

—Sim. Mais alguns quilômetros até avistarmos a entrada principal, se me lembro bem. -Tadao manifestou-se. Tinha toques de irritação maciça em sua voz medianamente grave, e o fato de ouví-lo ainda mais distante do que Kohari fez com que Hitomi tivesse alguns segundos de confusão mental; pouco após, porém, a resposta tornou-se clara: Se seus companheiros de time soavam mais distantes, significava que nenhum deles a carregava. E aquilo só poderia significar...

—Está certo. -A voz de Mitsuki confirmou, alta e clara, e Hitomi foi capaz de sentir até mesmo as pequenas vibrações que ressoavam por seu corpo enquanto falava. Repentinamente, pegou a si mesma questionando se ele, cujo contato estava tão próximo, já havia tomado ciência de seu despertar. Inspirou profundamente, reunindo todo o ar que seus pulmões eram capazes de suportar, quase fazendo suas narinas arderem ao expirar. Sentiu um movimento suave ser feito, sinalizando que seu corpo estava sendo erguido um pouco mais e, por um momento, pensou já ter chegado no lugar que tanto temia.

—Está tudo bem. - Disse o menino em tom baixo e doce, o que anulou todas as recentes dúvidas da Uchiha. Ela, no entanto, não respondeu, apenas ajeitou-se de forma mais confortável, afundando o rosto nas roupas de algodão do colega.

"Está?" sua consciência duvidou.

・*:.。. .。.:*・゜゚・*☆

Boruto já não sabia mais o porquê tinha aceitado aquela vaga estúpida para ficar no portão principal da vila.

Sinceramente, o quê tinha na cabeça? Poderia estar treinando com Sasuke, tentando extrair mais informações e palavras da irmã, ou até mesmo ameaçando Inojin ("Cara, você realmente acha que não vi o jeito que tava olhando pra ela, dattebane? Se toca. Tô de olho em você."), mas não, decidira ficar ali, testando sua própria paciência. Embora tivesse se desenvolvido consideravelmente, a vila ainda funcionava de forma muito interna. Poucos eram os carregamentos que chegavam, e menos ainda os ninjas que saiam em missões. Então, fazer a guarda dos portões da vila era, basicamente, ficar plantado no posto ao lado da entrada, dizer alguns "Ois" e esperar que algo de interessante acontecesse. Ah, o que os tempos de paz não faziam, não é mesmo?

O Uzumaki não trazia muito consigo; Nem ao menos vestira o uniforme de batalha completo. Não levava a capa de tecido escuro nas costas, e sequer contava com arma alguma além de sua própria katana e algumas shurikens. Sua mãe provavelmente lhe chamaria de despreparado caso soubesse da "munição" carregada por ele; mas estava tudo bem. Nada de novo.

Deu um longo suspiro, saindo do posto para dar alguns passos à frente, encostando-se em uma das enormes portas de madeira. O sol banhava seu rosto e boa parte de sua cabeça, fazendo com que os cabelos loiros quase brilhassem diante de toda aquela luz. A estrada estava vazia, como era de costume. Fechou os olhos, deixando-se aproveitar do calor confortável que lhe tomava, fazendo com que a função de guarda e toda aquela monotonia desaparecessem momentaneamente. No lugar disso, suas lembranças dos últimos dois dias de perguntas com respostas vagas e tendo de readaptar-se com a presença de Hokuto em sua vida. Haviam sido dois anos sem a gêmea; não era de surpreender que, agora, não soubesse bem como agir. E, para ser sincero, ela parecia não saber também, e aquilo aliviava-o.

"-Porquê você foi embora? - Questionou-a, querendo não parecer tão curioso quanto realmente estava. Viu Hokuto curvar as costas, sem virar para olhá-lo, e apenas com aquele gesto sabia que a pergunta a incomodara.

—Para treinar. Assim como você, dattebane. - Ela trazia um tom de voz ameno, porém era quase claro ao irmão que estava escondendo algo; o menino levantou uma de suas sobrancelhas, duvidoso.

—Quanto tempo depois de mim?

—Isso importa? - Ela ainda evitava se virar. - Alguns meses. Passei o tempo antes disso aprofundando o treinamento médico com a mamãe.

—Então você é uma ninja médica agora? - Foi a vez dele de ficar exasperado. Sabia muito bem que Hokuto nunca quisera aquilo.

—Não. Digo, sou, mas... Não.

—E o que foi treinar?

—Muitas coisas.

—É muito vago.

—Você não me fala do seu treinamento com tio Sasuke.

—Você não me fala de Hitomi. - Soltou. As mãos de Hokuto pararam no ar, exatamente na mesma posição que estavam enquanto arrumavam os pertences na cômoda do quarto da rosada. O silêncio pareceu preencher o cômodo, e os dois podiam ouvir as respirações um do outro.

—Bolt...

—Já fazem dois anos. Foi embora por causa dela, não foi?

—Isso não importa.

—Porque você não me conta? Porque nunca me explica o que aconteceu? Disse que iria explicar, e então partiu. -Embora tentasse manter a voz calma, tinha uma certa agressividade no jeito que falava. Sentou-se na cama onde anteriormente estava deitado, não mais olhando para as costas da gêmea.

—Você foi embora primeiro! Acha que eu queria ficar aqui?! -Viu de esguelha a menina se virar, mas não a encarou.

—Eu não sabia que iria! Acha que eu quis, 'ttebane?

Mais alguns segundos de silêncio.

—Acha que eu quis? - Rebateu. Boruto levantou-se, subindo os olhos até encará-la. Hokuto tinha o rosto sério, mas notas de arrependimento em seu olhar. Foi quando seus pensamentos se clarearam, e, como num estalo momentâneo, ao menos o mínimo daquele olhar doloroso pareceu fazer sentido. Baixou os olhos, sem saber se observava o chão ou as próprias mãos. Não queria demonstrar fragilidade.

—Deveria ter dito pra mim. -Tinha algo de magoado em seu tom. E, dando o diálogo por encerrado, saiu do quarto, deixando para trás a irmã, com lábios franzidos e feições nulas. Ao descer as escadas, teve a impressão de ouvir algo sendo quebrado."

Era uma das últimas conversas que havia tentado ter com a irmã; todas as que envolviam a companheira de time acabavam de forma vaga. Daquele jeito, não fora capaz de saber nada realmente claro sobre o que acontecera entre Hokuto e Hitomi nos dias após sua partida. Sabia da morte de Toshiko, e ouvira boatos de que Hitomi fora a responsável por pará-la... Mas de que forma aquilo se relacionava com a fragilidade exibida por Hokuto à mera menção de Hitomi?

Não sabia. E, se tudo continuasse a caminhar daquela forma, não saberia tão cedo quanto esperava.

Ei! - Uma voz firme fez-se presente. Entretanto, não muito alta por conta de distância. Boruto abriu os olhos, arrancado do turbilhão de pensamentos que o haviam envolvido. Viu, ao longe, dois garotos à frente. Traziam consigo bandanas da Vila do Som, e usavam o que eram claramente uniformes de missão. Havia notado a presença de uma terceira pessoa atrás, carregando algo, ou alguém. Entretanto, daquela distância não era possível vê-la corretamente. Soltou uma exclamação insatisfeita, desencostando-se de seu apoio, observando-os ficarem mais próximos. E, à medida que caminhavam, ficavam mais claros. Mal pôde conter a surpresa quando notou que a terceira pessoa, um menino de cabelos azuis, era mais do que apenas conhecida. Disfarçou um sorriso.

—Mitsuki! - O nome do outro foi dito alto, e Boruto esforçou-se para conter o tom animado. Mitsuki, no entanto, não respondeu, sequer deu um aceno, o que fez Boruto duvidar do tom que usara. Talvez tivesse sido agressivo demais?

Esperou que chegassem até ele, estranhando o modo de agir dos garotos da frente. O quê havia com eles? Andavam lado a lado, em sincronia, fazendo com que mesmo Boruto, que tinha uma altura considerável para seus míseros quinze anos, não pudesse ver Mitsuki nem o que era carregado por ele. Tentou espiar por cima dos ombros daquele que aparentava ser o mais velho, cujos cabelos alaranjados e expressão carrancuda não impressionavam-o nem um pouco.

—Acho que deveria prestar mais atenção na sua própria vila, loiro. -Comentou. Boruto encarou-o de forma entediado. Aquilo não havia ofendido sequer minimamente. Quem aquele metido achava ser?

—Deveria? -Questionou. - Como sabe que eu não estava prestando atenção?

—Estava de olhos fechados.

—E o que isso significaria para um ninja? -Rebateu. O garoto fechou as mãos em punho, soltando um som baixo, porém claramente irritadiço. Parecia conter-se, e Boruto tentou ocultar o fato de estar achando as provocações extremamente interessantes. -Quem são vocês?

—Tadao Miyagani e Kohari Mao, chunnins da Vila do Som. -Apontou para o outro ao seu lado, de cabelos verdes e olhos azuis-escuros, um pouco mais baixo, mas obviamente mais velho que Boruto. -Viemos em missão.

Boruto franziu as sobrancelhas. Missão? Com Mitsuki? Quando ele havia voltado à Vila do Som? De alguma forma, sentia que aquelas peças não se encaixavam.

—Que missão?

—Missão protetiva.

—Mitsuki é a sua missão? -Tinha certa incredualidade na maneira que pronunciou aquelas palavras. Umas das últimas pessoas a necessitarem de algum tipo de missão de proteção era Mitsuki, e tinha plena certeza dessa afirmação.

—Não. -E, finalmente, o mais novo manifestou-se. Murmurou um “com licença” aos garotos em sua frente, que abriram espaço, embora relutantemente. -Ela é a missão.

E, naquele instante, o mundo pareceu parar. O tempo perdeu sua constante fluídez enquanto os olhos de Boruto analisavam e reconheciam aqueles cabelos brilhantemente escuros contrastantes com a pele alva e, ao mesmo tempo, extremamente pares com as roupas de tecido preto. O rosto de feições que considerava perfeitas estava escondido entre as roupas do outro menino, o que quase fê-lo sentir-se decepcionado. O tempo havia passado, as roupas haviam mudado. Mesmo assim, continuava a ser quem era. Quanto tempo não havia desperdiçado querendo vê-la novamente? Quanta saudade não havia sido sentida? Quantas palavras não haviam sido carregadas pelo vento?

O nome dela apareceu em sua mente. Uchiha. Hitomi. Daquela forma. Delicadamente desenhado, sublinhado, quase silabado, tão paralisado quanto sentia-se naquele momento. Quando a musa pensada decidira tornar-se real novamente?

—O que aconteceu com ela? -Sentiu que sua voz demonstrava certo desespero, mixado com preocupação e ansiedade. -Está bem, dattebane? Foi atacada?

—Boruto… -Mitsuki murmurou, quase como um aviso. Talvez estivesse sendo demonstrativo demais, ou um pouco eufórico. Sentia algo queimar por dentro. Queria pegá-la em seus braços e levá-la até o hospital.

—Ela está ferida? -Insistiu. Mitsuki indicou um não com a cabeça. Na esquerda, Tadao levantou uma sobrancelha.

—Porque te interessa tanto? -Interrogou. Boruto ignorou-o. Tinha outras preocupações, muito maiores do que um shinobi estrangeiro enxerido.

—Me dê ela, vamos ao hospital.

—Ela só desmaiou. -Kohari interpôs. -Vai ficar bem.

—Só o quê?!

—O que ele está dizendo - Mitsuki apressou-se -É que não é nada grave. Provavelmente só estava exausta da viagem.

—Dane-se. Ela não está bem. Me dê ela, dattebane.

—Bolt, -”Bolt? Como assim Bolt?” -eu acho melhor não.

—Tá tirando com a minha cara?

—Não, eu só…

—O que deu em vocês?! -Estendeu os braços, no objetivo de trazer a amiga até seus braços. Mitsuki afastou-se um passo, o que fez com que a raiva borbulhasse em seu peito. Queria cuidar, não machucar!

—Podemos levá-la ao hospital, mas seria melhor se ela continuasse comigo.

“OI?!”

—Porquê?

—Não quer acordá-la, quer?

—Eu não a acordaria!

—Mas poderia. -Foi a vez de Boruto levantar uma sobrancelha. O que diabos ele estava insinuando? -Por acidente!

—Mas…

—Qual é a sua, garoto? -Tadao tornou a tomar a voz, calando a semi-discussão. -Se vai levá-la ao hospital, ande com isso. Estamos perdendo tempo.

“Babaca” uma parte de sua mente alegou.

“Mas um babaca com razão” outra sobrepôs. Decidiu seguir a segunda. Suspirou, dando-se por vencido.

—Vamos. -Virou-se, atravessando os portões da vila, seguidos pelos outros três.

・*:.。. .。.:*・゜゚・*☆

Seu novo despertar teve êxito em não ser tão turbulento quanto o primeiro; Entretanto, não menos incômodo. Primeiramente, sua audição denunciou pássaros piando alegremente do lado de fora, o que a deixaria feliz, caso seu próximo sentido não tivesse revelado que raios de sol batiam, brilhantes e quentes, em seu rosto, esquentando-a de tal forma que já imaginava estar vermelha pelas queimaduras.

Xingou a si mesma por alguns instantes por estar deitada, aparentemente, em direção à janela, mesmo que provavelmente não fosse sua culpa. Apertou as pálpebras, numa relutância típica, virando-se para o outro lado. Sabia que já estava em Konoha, e aquilo, além de um calafrio, causou-lhe um sobressalto.

"O quê?" Perguntou-se mentalmente. Não estava realmente confusa, apenas um tanto incrédula. Abriu os olhos, reconhecendo o quarto quase inteiramente branco. Sabia que estava em um hospital; ainda mais, sabia qual. Movimentou os braços de forma quase involuntária, apenas para ter a desagradável surpresa de que tinha uma agulha, cuja pequena mangueira ligava ao soro, fincada em seu braço esquerdo.

—Mas que porra. -Retirou-a cuidadosamente, o tanto quanto seu curto treinamento médico havia conseguido ensiná-la. Sentou-se na maca, os olhos ônix correndo rapidamente por todo o ambiente até deterem-se na porta. Ouvia cochichos. E conhecia aquelas vozes como a palma de suas mãos.

“Mitsuki e Boruto…?” Sua testa enrugou-se e levantou-se com cautela, andando na ponta dos pés, de forma que fizesse o mínimo barulho possível. Encostou-se na parede ao lado da porta. Agora, a conversa se tornara clara.

—Você poderia ter acordado ela. -A voz de Mitsuki foi a primeira a surgir. Em seguida, ouviu Boruto bufar. Sem dúvidas, parecia irritado.

“Merda…” Aquele argumento era fraco. De fato, não era exatamente de seu agrado saber que a aparente discussão se dera por sua causa, principalmente por ter consciência de ter fingido ainda estar desmaiada ao chegarem ao portão da vila. Ou, mais especificamente, ao ouvir a voz de Boruto.

A verdade é que pudera ouvir grande parte da recepção que seus colegas haviam recebido, e que o desespero ao reconhecer aquela voz harmoniosa, tão mais firme que da última vez que a ouvira, se instalara em seu peito quase automaticamente. Por isso, fingira ainda estar desacordada, e Mitsuki sabia daquilo, fora seu cúmplice. Porém, antes de sequer chegarem ao hospital, o cansaço levara sua mente embora novamente.

—Que se foda. -O Uzumaki respondeu, fazendo com que a menina aregalasse os olhos. Talvez pela constante vigilância da mãe quando mais novo ou por puro querer, nunca ouvira o garoto pronunciar um palavrão de forma tão aberta. -Sabe que poderia ter deixado ela comigo.

Um silêncio curto se seguiu. Mitsuki soltou um suspiro.

—Está com ciúmes? -Questionou. Tinha claro interesse exposto naquela pergunta, pessoal ou não, nunca saberia.

—Está imaginando coisas. -Alegou, prontamente, o outro. Hitomi soltou um risada baixa, triste. Ciúmes? Depois de todo aquele tempo? Até parece.

Mitsuki não respondeu. Permaneceu calado e, dessa forma, Boruto também. Hitomi deixou-se escorregar pela parede branca, sentando-se no chão. Não queria estar ali.

Ouviu passos no corredor. Imaginou, num lúdico primeiro momento, que fosse Tadao ou Kohari à sua procura.

—É ela…? -Mitsuki voltou a indagar, com o que parecia ser assombro. Boruto deixou escapar uma risada baixa.

—Eu também não acreditei, cara.

“Ela?” Então era uma mulher. Torceu para que fosse sua mãe, ou Sakura. Num instante de fraqueza, desejou até mesmo que fosse Mirai.

Mas não. No fundo, sabia, de alguma forma, que não.

E, então, aquela voz. Mais velha, mais séria, mais baixa. Inesquecível, inconfundível, inigualável. Fechou os olhos. Desejou ter apenas raiva, mas queria chorar.

—Onde ela está? -Foi nesse momento que afundou-se em si mesma, ao perceber que estava verdadeiramente de volta àquele lugar que queria abominar. Hokuto Uzumaki estava a uma porta de distância. Hitomi Uchiha, porém, tinha dois anos e meio em seu caminho até lá.


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Notas finais do capítulo

Pessoaaaal, o que acharam?

Ah, sobre o nome do capítulo: Epifania significa um momento de revelação súbita, quase como um visão. Ele, obviamente, não foi dado por acaso, e espero que vocês consigam captar a(s) mensagem(ns) escondidas nesse capítulo, e qual foi a suposta epifania citada



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