Nico sabia que não deveria ter ido deitar virado para a parede, não quando se está se sentindo observado e você sabe de existência de bruxas. Contudo, quando uma voz feminina vinda de trás de si preencheu o ambiente, se sobressaltou, mas não fez movimentos bruscos.

— Quando eu tinha dezesseis anos, meu pai me jogou no meio da praça central da nossa vila certinha e jogou muitas pragas, ofensas, xingamentos pra mim, pouco se lixando que as pessoas a nossa volta prestavam atenção para caçoarem da filha de um dos anciãos – Thalia contou, seus olhos fixos nas costas cobertas pela camisa negra dele – meu pai queria uma bruxa poderosa e má para se tornar uma das anciãs junto dele, ou sei lá para que, quem sabe para dominar o mundo, não sei o que se passava na cabeça dele.

Ela o deixou assimilar por alguns segundos em silêncio, suspirando alto e voltando a falar:

— E quando eu decidi que não queria ser a bruxa que as crianças temem, que sempre quer vingança de algo e mata pessoas inocentes por justa causa...bom, ele pirou e me chamou de aberração naquela mesma praça. Eu lembro de como a palavra pareceu ecoar pelo lugar junto com as gargalhadas de fundo. Foi horrível, e eu peço desculpas por ter tido aquela reação tão inapropriada para o momento. Só não queria ter uma reação triste perto de você e tudo mais, sabe? Você é um mundano que tem medo de mim e tal...

   Cauteloso, Nico se virou na cama, levando um dos pra trás da cabeça e a fitando curiosamente.

— Como veio parar aqui?

— Seria essa uma conquista de você não fugir de mim? Ou berrar? – Thalia subiu as sobrancelhas surpresa.

O di Angelo apenas deu de ombros.

— Eu ia te pedir desculpas amanhã, mas já que você se adiantou e veio até aqui, por que não pedir agora, não é mesmo? – ele riu internamente, negando em reprovação ao ver a sombra de um sorriso nos lábios dela. – Desculpa, não foi minha intenção. É que eu sempre fui muito medroso, como você pode perceber. Meus amigos me aterrorizavam com histórias de terror quando eu era menor, e quando você descobre que tem uma bruxa sendo babá do seu melhor amigo..., bom, é algo bem chocante para um humano.

— Leo também foi uma anta, né? Não vamos negar que ele deveria ter dito isso antes de você chegar em casa e com calma – ela tinha o tom divertido – digo que não fiquei surpresa.

Foi a vez de Nico rir.

— Leo é bem estabanado, confesso que me assustei lindamente e paguei micão, mas não tive culpa – a mão que estava pousada em seu abdômen, ele a levantou em sinal de rendição.

O di Angelo acenou com a cabeça para que ela se aproximasse, indicando o lugar ao seu lado na cama. E, por mais que Thalia hesitasse, ela caminhou até lá e se sentou.

— Eu pensei que você iria me expulsar com vassouradas – a Grace puxou um assunto, fitando suas mãos descontraída. – E depois ainda ia jogar a vassoura em mim, sabe? Tipo, voa aí sua bruxa!

Nico riu alto, negando em reprovação.

— Se fosse ontem, talvez isso acontecesse, mas hoje não.

— O que te fez mudar de ideia?

— Bom, tirando o fato que você me acha bonitinho e está sentada na minha cama depois de eu ter te “machucado” psicologicamente? – ele ergueu as sobrancelhas, fazendo aspas com os dedos e voltando a repousar a mão em seu abdômen.

Thalia o fitou de canto de olho com um meio sorriso.

— Então você se tocou?

— Fala sério, se eu não me tocasse, Leo que tacaria a vassoura na minha cabeça! Ou até mesmo Toy!

Ela riu, suspirando baixo e voltando a fitar suas mãos conforme o silêncio prevalecia entre os dois.

— Bom, eu acho que já vou indo – a Grace espalmou as mãos em suas coxas, fitando-o com um pequeno sorriso.

Contudo, quando foi se levantar, as mãos dele se enroscaram em seus pulsos em um movimento rápido, a trazendo para frente. Thalia agora o fitava de perto, seus olhos negros tão próximos assim como sua boca entreaberta.

— Me conte, essa atração que eu estou sentindo por você é de crush à primeira vista ou é porque você é bruxinha? – a voz dele não passava de um sussurro. As palavras escorregando para o italiano.

— Eu não sei, me diz você – ela o respondeu do mesmo modo, as mãos apoiadas na cama para não debruçar em cima dele por completo.

Um pequeno momento de silêncio se estendeu com eles se fitando, até que Nico resolveu corta-lo:

— Eu posso?

— Está perguntando se pode me beijar? – Thalia o mirou nos olhos. Ele não se mexeu, mas seus olhos deixavam claro que a resposta era sim.

Então, a Grace apenas fechou os olhos, sentindo a pressão dos lábios dele contra os seus em um selinho que logo se tornou um beijo. As mãos fortes dele deslizando e contornando seu corpo com uma suavidade que trazia arrepios a ela, cujas mãos estavam brincando nos cabelos negros dele.

Bom, o fim?

Bianca, além de ter ganhado uma cunhada, virou mamãe de um lindo garotinho chamado Nathaniel, este que foi muito mimado por Nico, que não precisou tanto das aulas particulares de Thalia para aprender a cuidar do pequenino.

Leo acabou perdendo a babá para o melhor amigo, que a sequestrava todo dia depois que havia acabado seu expediente para irem em algum lugar mundano fazerem coisas que namorados fazem.

Os pratos? Bom, eu não necessariamente precisaria narrar essa parte, mas queria dizer que eles aprenderam a dançar outros estilos musicais e agora se dão bem com Nico.

E, por fim, Thalico – que é como o Valdez havia apelidado – haviam deixado todas as diferenças de lado e se enroscaram em um relacionamento que, como diz Toy: “É pra casar, hein?”.

Claro que não foi surpresa alguma quando a Grace apareceu com a barriga um pouco mais saliente na casa de Leo, fazendo-o ter um ataque cardíaco para nada, já que era apenas comida acumulada da ceia de Natal mesmo, deixando os amigos rindo e ele exasperado dando um belo sermão nela.

Fim