Quando o relógio marcou sete horas, Kiba finalmente decidiu que era hora de buscar Shino. Passou a tarde toda colocando as ideias no lugar e chegou a uma óbvia conclusão; tinha mesmo que parar de implicar com Shino e ficar acusando o amigo de ser um grande pervertido.

Depois que a mãe explicou que Shino veio apenas por insistência dela para experimentar uma roupa, da qual não entraram em detalhes, Kiba acabou rindo de si mesmo por ser tão exaltado. Chegou a pensar que Shino o estava perseguindo até mesmo em sonhos. Acabou pedindo desculpas ao amigo, que foi detido por Tsume até a hora do almoço. Shino sorriu sem jeito, aceitando as desculpas de Kiba, até mesmo porque Shino sabia que nada aconteceria entre eles, lá, no quarto de Kiba. Estava na casa do amigo e Tsume não toleraria tamanha falta de respeito embaixo do seu teto.

Ninguém tocou no assunto do jantar. Tsume desconhecia a companhia do filho e, por algum motivo, não quis falar nada sobre isso durante o almoço. Shino imaginou que Kiba não quisesse contar pra mãe que eles teriam um encontro mais tarde, coisa que Shino até agradeceu internamente; seria muito constrangedor. Quanto a Kiba, só voltou a relaxar. Mais a noite faria uma surpresa para a mãe, levando Shino para completar a festa e todo mundo ficaria feliz.

Tsume resolveu ir na frente. A mulher não tinha paciência para suportar a lerdeza do filho, além disso, disse que precisava investigar o território primeiro. Deixou a roupa do filho arrumada e uma tonelada de recomendações, muitas das quais, Kiba tinha certeza de que nem eram necessárias. Kiba riu, mas, deu graças, pois assim, poderia buscar Shino em casa tranquilamente.

Kiba se surpreendeu em como conseguiu se virar sozinho. Ainda não entendia por que a mãe o perturbava tanto e insistia em vesti-lo, sempre que tinham que ir a algum lugar importante; “coisa de mães” ele pensava.

Assim que chegou a casa de Shino, já encontrou o rapaz sentado próximo a porta da frente. Os passos de Kiba se tornaram lentos conforme foi se aproximando de Shino, que se levantou vindo ao seu encontro.

Shino estava completamente diferente. Usava um casaco azul-marinho bem alinhado com uma calça em um tom meio bege e uma camisa azul bem clarinha por baixo. Os cabelos, cuidadosamente penteados, embora, ainda estivessem bem rebeldes. Mas, o que chamou a atenção de Kiba nem foi o fato de que o amigo estava sem seu habitual óculos escuros e sim sua vestimenta; Kiba sentiu um cheiro familiar naquela roupa.

— Está atrasado. - Shino falou sem muita seriedade, mas, pareceu não ser ouvido. Kiba continuava olhando para as vestes de Shino como se elas mordessem.

— Essa roupa… - Kiba passou a mão sobre um dos botões do terno.

— Era do seu pai. - os olhos de Kiba se arregalaram e Shino não soube dizer qual seria o sentimento de Kiba agora. – Desculpe… eu posso tirar se você se sentir desconfortável com isso.

— Que isso Shino, ficou louco? - Kiba se afastou ainda emocionado – Minha mãe te mata se fizer uma desfeita dessas. Além disso, ficou ótimo; parece que foi feito para você. Vai ser a atração do jantar.

“Minha mãe te mata. Vai ser a atração do jantar”… Shino chegou a uma desconfortável conclusão.

— Kiba, por acaso o nosso encontro seria um daqueles famosos jantares na casa da senhora Mebuki; aqueles que a sua mãe sempre costuma recusar?

— Costumava. - Kiba corrigiu já se sentindo bem mais aliviado por Shino ter chegado aquela conclusão sem ele ter que explicar nada. – Agora que eu tenho companhia, ela finalmente aceitou o convite, legal, né.

— Companhia… eu? - Shino sentiu um calorzinho gostoso no peito quando Kiba se referiu a ele daquele jeito. Shino sabia muito bem como Mebuki via as companhias dos filhos de suas amigas. – Tem certeza, Kiba?

— Claro Shino. Quando minha mãe falou sobre o convite, pensei em você na hora.

— Kiba… - Shino se aproximou de uma vez. Levou ambas as mãos ao colarinho da camisa de Kiba puxando-o em sua direção. Deslizou as mãos para a parte de trás do pescoço de Kiba fazendo o garoto tremer um pouco. Kiba odiava olhar para Shino assim, diretamente, sem os óculos. Sentia-se sendo devorado pelos olhos de Shino. Shino desabotoou um botão da camisa fazendo a cara de Kiba ficar tão vermelha quanto a marca do clã Inuzuka. – Seu colarinho; estava desalinhado! - Shino voltou a se afastar observando a recente melhoria. – O que foi?

— Na… nada. Besta! - Kiba tratou logo de ir andando, sendo prontamente seguido por Shino que voltou a colocar os óculos escuros.

***

O queixo de Tsume se deslocou um pouco quando Kiba e Shino se aproximaram.

— Yo, mãe!

— Não fala assim com a sua mãe, moleque. - Tsume aproveitou para dar um cascudo daqueles em Kiba. Nem tanto pela forma como o filho se dirigiu a ela mas sim, pela companhia do garoto.

Tsume mal conseguia disfarçar o susto que levou ao ver Kiba acompanhado de Shino. A mulher ficou caçando uma possível terceira pessoa ali, coisa que não passou tão desapercebido por Shino.

— Algum problema, Tsume-sama?

A voz grossa com aquele leve tom de desconfiança, deixou Tsume um pouco sem reação. Olhou para Shino e tinha certeza que podia ver a suspeita através dos óculos escuros do rapaz. Olhou para Kiba, que farejava o ar, provavelmente tentando adivinhar o cardápio da noite, alheio a toda a situação desconfortante que ele mesmo causara.

Tsume olhou o relógio. Tarde demais para tentar explicar tudo, principalmente para Kiba, que levaria mais tempo ainda para assimilar as coisas.

— Então, vamos entrar? - a mulher empurrou Kiba para dentro. Quando Shino também passou por ela, Tsume colocou a mão em seu ombro. – Conto com você, Shino.

Shino não disse nada, apenas seguiu atrás de Kiba. Tsume também não esperava uma resposta, e nem precisava. A mulher tinha certeza de que Shino se sairia bem em qualquer situação, por mais inusitada que fosse.

Quando os três finalmente entraram, se tornaram o centro das atenções.

Ino Yamanaka estava sentada com sua mãe, e, ao seu lado, Sai, que parecia uma estátua de cera. Bem próximos à família Yamanaka, Hiashi Hyuuga, que, obviamente, acompanhava Hinata, olhava feio para todo mundo, principalmente para o acompanhante da filha, sentado ao seu lado, todo esparramado na cadeira. Mebuki Haruno, a anfitriã, se encontrava bem próxima a eles no círculo, e estava sozinha, guardando mais dois lugares. Bem lá no fundão, quase oculto nas sombras, a madrasta de Shikamaru sorria para os recém-chegados, acompanhada apenas do jovem Nara, que parecia tirar um cochilo.

Kiba observou todos ali e colocou a mão no queixo, parecendo pensar em algo.

— Mãe. - Tsume engoliu um pouco de saliva. – Eu queria fazer uma pergunta. - a mulher olhou para Shino em busca de algum apoio, mas o rapaz só riu de leve. – A que horas vão servir a janta?

Apesar do alívio, Tsume, mais uma vez, deu um belo cascudo no filho pelo tremendo susto, arrancando alguns risinhos debochados de Ino e Naruto.

— Tenha educação moleque. Vai cumprimentar todos antes de ficar pensando em comida.

— Vem, Kiba. Primeiro a dona da casa. - Shino guiou Kiba até Mebuki, que se levantou toda pomposa para abraçar os dois garotos.

Tsume soltou todo o ar aliviada. Era bom respirar bastante antes do próximo susto, que com certeza, não demoraria a chegar.