Não sei bem quando a ideia surgiu ou como suas delicadas raízes fincaram-se em mim, com tal força, que foi impossível desistir da minha obstinação de busca pela sua reencarnação.

Talvez tenha sido durante seus últimos dias, ou quando expôs seu último sorriso que se petrificou no tempo mesmo quando sua respiração já havia parado.

Apenas sei, que durante a cremação, enquanto as chamas crepitavam e as lágrimas daqueles que tinham afeto por você, manchavam o solo batido, a ideia já se mostrava com frutos de um plano selado.

Desculpe, Rin, mas eu não chorei sobre seu corpo envelhecido e desfalecido.

Não exibi as lágrimas de tristeza pela partida de uma pessoa tão querida para mim. Eu não consegui fazer jus aos seus ensinamentos sobre os sentimentos humanos, algo que meus pais não me ensinaram, mas sei que meu pai, um dia viveu.

Talvez as lágrimas não tenham brotado devido a ideia insana de reencontrá-la em breve.

Jaken e nossos filhos, foram os únicos a quem expus sobre a minha partida. Sei que podem ter me taxado como louco em silêncio, mas eles permitiram, pois sabiam que uma decisão minha não seria alterada pela de terceiros.

Minha natureza determinada em nada se alterou desde que nos conhecemos... e continuou a mesma quando pulei dentro daquele poço após dar um último olhar em nossos três filhos.

Apenas uma possibilidade. Era isto. Uma possibilidade que se concretizou quando a passagem se abriu e eu alcancei o outro lado.

O mundo estranho que InuYasha uma vez me contou se abriu para mim e lá encontrei um senhor, o responsável pelo santuário xintoísta.

Ele sorriu ao me ver, antes de perguntar se sua irmã foi feliz. Aquele era Souta, o irmão envelhecido de Kagome, o qual se prontificou em me apresentar aquele novo mundo.

As terras verdejantes com pequenos vilarejos que eu conhecia, não existiam mais, apenas montanhas de concreto se apresentavam a minha frente.

Levou algum tempo, mas eu a encontrei presa a uma sala de estudo de uma faculdade renomada. Havia se tornado uma historiadora, afinal, e como se o nosso Akai Ito percorresse séculos e vidas, seu grande interesse que permeava sua tese de mestrado, era sobre os Youkais da Era Feudal.

Eu quis destruir a distância que existia entre nós assim que pude admirar mais uma vez seu rosto de vinte e poucos anos, a mesma idade com a qual a reencontrei após deixá-la com Kaede; a mesma idade que você tinha quando eu me apaixonei pela sua vida passada. No entanto, a sensatez do velho Souta, fez-me ser paciente e a esperar para recebê-la no santuário todas as vezes em que ia nos visitar em busca de mais conhecimentos e misticismo que permeavam o local.

Detenho-me em lhe retirar dúvidas sobre Youkais enquanto seus grandes e inteligentes olhos castanhos me fitam com intensidade e um Q de dúvida.

Eu sei que você agora é apenas uma humana que vive num mundo que se esqueceu da existência dos Youkais e que nem imagina que eles ainda vivem entre vocês. Eu sei que devemos ter um passo de cada vez e que por mais que eu sinta vontade de lhe contar sobre nossos três filhos Hanyou, eu devo ser paciente.

E enquanto compartilhamos mais um chá e a sua reencarnação anota com voracidade palavras-chaves no seu eterno bloco de notas acreditando que eu sou apenas um descendente de uma família responsável por um santuário xintoísta, eu permaneço na minha promessa de que...

Eu serei paciente, Rin.