Sophia escrita por znestria


Capítulo 33
A Terceira Tarefa




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Nos dias seguintes, os três tentaram manter-se calmos enquanto aguardavam algum retorno de Fairfax - o repórter havia prometido encaminhar qualquer resposta que recebesse referente à reportagem. Entretanto, no sábado, Rita Skeeter publicou um artigo polêmico no Profeta Diário que dizia que Potter sofria de dor de cabeça (por causa de sua cicatriz), delírios constantes e possivelmente uma necessidade egocêntrica de continuar relevante.

Como a matéria de Skeeter teve grande repercussão, principalmente entre os alunos de Hogwarts, o trio perdeu em parte as esperanças d’O Pasquim dar algum retorno, então se focaram em seu mais novo projeto. Os gêmeos queriam se aproveitar da última tarefa do Torneio para divulgar seus fogos de artifício encantados, então estavam trabalhando para personalizar quatro opções de fogos, uma para cada campeão. Os de Potter seriam um leão rugindo, os de Cedrico um texugo, o de Viktor uma águia e o de Fleur um ramo de rosas, de acordo com suas respectivas Casas e escolas. A ideia seria soltar os fogos do campeão que retornasse vencedor e fosse coroado vencedor do Torneio Tribruxo.

“Não acham meio arriscado?” perguntou Sophia. Teria sua última detenção com Snape na terça, não gostaria de estender seu castigo.

“Soph, o que eles podem fazer? É a última semana de aula!” argumentou Jorge.

“E, se conseguirmos o dinheiro de Bagman, estaremos um passo mais próximo de abrirmos nossa loja!” continuou o irmão. “Precisamos divulgar nossos produtos!” 

A garota acabou concordando, afinal, que mal faria se divertir um pouco? 

Com este novo projeto em mente, os dias passaram correndo e Sophia mal percebeu quando chegou a última terça-feira do ano, dia da terceira e última Tarefa do Torneio Tribruxo. Quando finalmente processou essa realização, sentiu seu peito afundar. Era a última semana do ano, e ela não fizera nada em relação a Viktor. O garoto iria participar da última tarefa e então partir de volta para a Bulgária. E ela não o veria mais. 

Seu coração palpitava muito rápido e seu estômago embrulhou. Não tinha apetite algum, mas se forçou a descer para o café da manhã. Quando chegou ao Salão, viu Viktor na mesa da Sonserina, com sua expressão meio carrancuda de sempre, mas parecendo perfeitamente calmo. 

As pernas de Sophia tremiam, mas ela não sabia o que fazer. Poderia simplesmente ir até ele, mas o que falaria? Sem falar que ele estava cercado de sonserinos e outros alunos de Durmstrang nada simpáticos. Não, era melhor esperar. Falaria com ele após a refeição. 

Sentou-se à mesa da Corvinal e tentou agir normalmente, mordiscando uma maçã enquanto observava Viktor. Ele não parecia ter pressa alguma. Finalmente, Karkaroff aproximou-se do menino e disse algo, e ele se levantou e seguiu o diretor até uma câmara. 

O coração de Sophia quase escapou por sua boca enquanto ela assistia à cena desamparada. Karkaroff provavelmente levara Viktor para algum preparativo do Torneio, que poderia muito bem durar o dia inteiro. Desesperançada, saiu do castelo e sentou-se em um banco à margem do Lago. Como já haviam acabado os exames, alguns professores haviam dispensado os alunos da última semana de aulas, então ela teria a manhã inteira livre. Pegou uma miniatura de fogos dos Weasley que estava usando para praticar e começou a brincar, transformando suas formas e fazendo-os se organizar em figuras diferentes.

Estava distraída com os fogos e seus próprios devaneios quando ouviu passos - passos próximos demais. Guardou os fogos apressadamente no bolso do uniforme, mas sentiu que não os apagara completamente. Sua coxa queimava e ela podia sentir o leve cheiro de malha queimada.

Virou-se em um sobressalto e viu que os passos que se aproximavam eram de Viktor e um casal de bruxos que não conhecia. 

“Sophia?” Viktor fez. Ela mal teve tempo de responder, pois a mulher mais velha ecoou:

“Sophia! Ouvimos tanto falarr de focê!” 

A garota congelou enquanto o casal apertou sua mão animadamente. Se as feições similares já não haviam os denunciado, o sotaque certamente o fez: os dois bruxos eram ninguém menos que os pais de Viktor. 

“Prazer”, ela conseguiu balbuciar, ainda perplexa demais para formar uma frase completa.

“Ficamos ton felizes quando recebemos o convite! Ah, estávamos achando que só irríamos te conhecer nas férrias, quando fosse nos visitar na Bulgária.” 

Sophia ainda estava tentando entender o que estava acontecendo. Olhou de relance para Viktor, que ela conhecia suficientemente bem para perceber o quão desconfortável estava. Ele não olhou diretamente para ela em nenhum momento, e seu rosto ruborizado transparecia claramente um sentimento: o de vergonha. 

“Viktor estava nos mostrando a prropriredade. É certamente extensa, non acha, Vanko?” 

O pai de Viktor grunhiu em concordância. Bom, pensou Sophia, Viktor puxou a postura quieta do pai. E só agora, ouvindo o sotaque carregado da Sra. Krum, que ela percebia o quanto o sotaque de Viktor havia melhorado naquele último ano. 

“Se importarria de se juntar a nós, Sophia?” a mãe perguntou.

O cérebro de Sophia entrou em pânico. Já havia sido completamente tomada de surpresa com a apresentação imprevista aos seus ex-futuros sogros, mas o que mais a havia abalado fora o fato de que eles pareciam acreditar que Sophia e Viktor ainda estavam juntos. Viktor parecia muito incomodado, mas não tomou alguma iniciativa de corrigir os pais. Uma pontada de esperança surgiu em Sophia, mas ela não podia tirar qualquer conclusão. 

“Sophia tem aula de Herbologia”, disse Viktor. Seu tom era impassível e a atingiu como um soco no estômago. 

A mãe do garoto levantou uma sobrancelha. “Achei ter ouvido a sineta.” E olhou significativamente para Sophia.

“A professora nos liberou, pois fizemos o exame final semana passada”, ela soltou. 

A bruxa sorriu. “Ah, ótimo! Poderria nos dar o tour pela escola, então? Afinal, focê é a estudante local.” 

Sophia tentou pensar em alguma desculpa, pois não queria dar sequência a esta situação já extremamente confusa e desconfortável, mas o casal estrangeiro era tão alegre e simpático que ela não conseguiu recusar. 

Passou, então, o resto da manhã passeando pela escola com a família. A mãe de Viktor era bastante receptiva e estava claramente disposta a aprovar Sophia, enquanto o pai era mais sério e acenava para tudo que a mulher dizia. Viktor, por sua vez, seguia-os calado e sem se aproximar de Sophia, apenas respondendo uma ou outra pergunta da mãe. 

Quando passaram pela cabana de Hagrid, Sophia distinguiu Sean e Georgie na orla da Floresta, realizando o exame de Trato das Criaturas Mágicas. Georgie avistou o pequeno grupo e fez uma expressão confusa, mas Sophia apenas deu os ombros, retornando-lhe uma cara muito alarmada. 

Entraram no castelo e foram explorando andar por andar, desde as masmorras até as torres. Os pais de Viktor ficaram especialmente intrigados com a águia que guardava a Torre da Corvinal. 

“É, ela certamente é uma figura”, comentou Sophia, que ainda guardava certo rancor de todas as vezes que a águia a trancara para fora. 

Continuaram o passeio e conseguiram entrar na Torre de Astronomia, já que ela geralmente só era utilizada durante a noite. Enquanto o casal admirava a vista dos jardins, Viktor puxou Sophia para o lado e disse baixinho: 

“Desculpe.” 

“Imagine… Hã, não é nada.” 

“Foi uma surpresa. Não sabia que eles viriam visitar.” 

Sophia assentiu. “Tudo bem”, ela murmurou. 

“Eu não… Não tinha avisado que nós, pem…” ele levantou as sobrancelhas. “Estava esperrando para contar quando voltasse para casa. Pessoalmente. Quando fosse mais…” Viktor clareou a garganta. “Definitivo.” 

Com essa última palavra, Sophia encarou o garoto nos olhos. Seu olhar transmitia dor,  dor que ela também sentia. Por um segundo, enquanto o fitava, percebeu o quanto ambos ansiavam pelo outro, o quanto ainda tinham de carinho e o quanto tinham se machucado. E, pela primeira vez, ela realmente compreendeu o sofrimento que ela havia imposto nos dois. 

Abriu a boca para falar algo, mas a Sra. Krum os interrompeu com algum comentário. Seguiram o passeio pelo castelo e, quando finalmente o concluíram, já era horário do almoço. 

“Fai se sentar com a gente, querrida?”

Sophia sorriu. Em outras circunstâncias, estaria radiante com o afeto que a mãe de Viktor direcionava a ela. No entanto, apenas balançou a cabeça e respondeu: “Hã, temos que sentar nas mesas de nossas Casas. Mas muito obrigada.”

Seu olhar encontrou o de Viktor enquanto se afastavam, e o aperto em seu peito ficou mais forte. Sentou-se com seus amigos na mesa da Corvinal, e Georgie imediatamente a questionou. 

“Soph, o que está acontecendo? Aqueles são os pais de Viktor?”  

Sophia apenas concordou com a cabeça. “Eles vieram assistir à Terceira Tarefa. Foi uma surpresa.” 

“É, olhe, aquela senhora ruiva e o cara com o rabo e brinco devem ser da família dos Weasley. Para visitar o Potter, já que ele mora com uns parentes trouxas”, apontou Sean.

“Os pais de Cedrico estão com ele ali”, disse Rogério, acenando com a cabeça na direção da mesa da Lufa-Lufa.

“E a família de Fleur”, completou Georgie, mas quase imediatamente arrependendo-se. Rogério corou, mas não demonstrou nenhuma outra reação.

“Mas a questão”, recomeçou Sean rapidamente, “é por que você estava com Viktor e os pais dele? Quero dizer, vocês não estão juntos.” 

O amigo disse a última frase em um tom de pergunta, e Sophia balançou a cabeça negativamente. “Bom, Viktor não havia exatamente… Atualizado seus pais. Ele disse que estava esperando para contar quando voltasse para a Bulgária, quando fosse algo mais, hã, definitivo. Seja lá o que isso quer dizer.” 

Sua cara devia estar deixando muito claro que ela não queria falar sobre o assunto, então os amigos retomaram a conversa. Sean e Georgie estavam contando sobre o exame de Hagrid, e, fora uns arranhões de um jackalope mau humorado, os dois passaram pela prova sem muitas dificuldades. 

Durante o resto do almoço, todos os alunos só falavam de uma coisa: a Terceira Tarefa do Torneio Tribruxo. A maior parte já sabia sobre o labirinto no campo de quadribol, então muitos especulavam sobre as criaturas que os campeões teriam que enfrentar. As torcidas já estavam frenéticas discutindo entre si, e Fred e Jorge pareciam sobrecarregados - mas muito contentes - com a manada de alunos que inscrevia suas apostas de última hora. 

Durante a tarde, Sophia teve que comparecer à última detenção de Snape. O professor havia acabado de administrar o exame de Poções do segundo ano, então Sophia passou a maior parte do tempo limpando a bagunça. Até ficou grata pela ocupação, pois lhe dispensava de interações desajeitadas com a família de Viktor e lhe dava mais tempo para pensar sobre a situação. Desde aquela conversa com Rogério, ela vinha considerando a possibilidade de tentar reatar as coisas com Viktor. Na verdade, ela mesma já sabia que queria isso: percebera que não valia a pena jogar fora todo o potencial do relacionamento apenas pelos desafios que ele teria que enfrentar no futuro. 

Ela enrolara durante essas duas semanas por medo, mas agora já não havia mais tempo. Tinha que conversar com ele, pois não tinha como saber o que aconteceria quando o Torneio acabasse. 

Quando Snape finalmente a liberou, ela correu para o Salão e ficou aguardando em um banco próximo. Fred e Jorge a cumprimentaram alegremente e a convidaram a apostar em seu bolão, mas a garota os dispensou - tinha que ficar de olho, pois aquela era sua última oportunidade. 

Viktor e seus pais chegaram antes da última sineta tocar. Sophia levantou-se prontamente. Não podia pensar muito, ou perderia a coragem.

O Sr. e a Sra. Krum a cumprimentaram, mas Sophia olhava diretamente para Viktor. “Você tem um minuto?” ela perguntou, prendendo a respiração. Ele levantou as sobrancelhas, surpreso, mas assentiu, e os dois caminharam para um canto vazio. 

“Oi”, ela começou, nervosa.

“Oi”, ele respondeu.

“Desculpe vir até você agora… Não queria te perturbar logo antes da Terceira Tarefa, mas não sei o que vai acontecer depois de hoje à noite.” Ela respirou fundo. “Eu… só queria dizer que sinto muito. Eu estava com medo. Com medo de perder o que tínhamos, mas no final acabei perdendo tudo.” 

Sophia levantou o olhar e viu que a expressão no rosto de Viktor havia se suavizado.

“Acho que… Que só queria dizer que ainda estou torcendo por você.” Abriu um sorriso tímido. Ele retribuiu um pequeno sorriso, e Sophia sentiu o quão emocionalmente exausta havia estado. Se ela achou que o fim dos exames havia liberado um peso do seu peito, aquilo não tinha nem comparação.

“Boa sorte hoje à noite”, ela disse, por fim, e se retirou.  

O banquete daquela noite estava fantástico. Sophia, agora perfeitamente em clima festivo, conversava entusiasmadamente com os amigos. Ludo Bagman sentava-se à mesa dos professores, e ela percebeu que o juiz não parecia tão animado quanto das outras vezes. Talvez o artigo d’O Pasquim tenha o afetado, Sophia torceu.

Dumbledore finalmente silenciou o Salão para iniciar o evento.

“Senhoras e senhores, dentro de cinco minutos vou pedir a todos que se encaminhem para o estádio de quadribol para assistir à terceira e última tarefa do Torneio Tribruxo. Os campeões, por favor, queiram acompanhar o Sr. Bagman ao estádio agora.” 

Todos aplaudiram enquanto os quatro campeões levantavam-se e saíam do Salão. Ninguém mais aguentava a antecipação. Finalmente, como de costume, os diretores de cada Casa organizaram as filas e encaminharam os alunos para o estádio. 

O campo de quadribol estava irreconhecível. As sebes, que haviam sido plantadas apenas 1 mês antes, já alcançavam seis metros, e o labirinto ocupava o gramado inteiro. Sophia ouvia os alunos prenderem a respiração ao chegarem, e ela e os amigos correram para pegar um lugar bom. Mesmo na arquibancada, não conseguiam enxergar bem o que havia dentro do labirinto. 

Quando todos terminaram de se acomodar, Bagman amplificou sua voz com a varinha e apresentou a tarefa:

“Senhoras e senhoras, a última tarefa do Torneio Tribruxo está prestes a começar! Deixe-me lembrar a todos o placar atual! Empatados em primeiro lugar, com oitenta e cinco pontos cada - o Sr. Cedrico e o Sr. Harry Potter, os dois da escola de Hogwarts!” 

As torcidas da Lufa-Lufa e da Grifinória levantaram-se, aplaudindo. 

“Em segundo lugar, com oitenta pontos - o Sr. Viktor Krum, do Instituto Durmstrang!” 

Sophia aplaudiu. Viktor estava sério, mas parecia até um pouco distraído. 

“E em terceiro lugar, a Srta. Fleur Delacour, da Academia de Beauxbatons!” Ao fim dos aplausos, Bagman continuou: “Então, quando eu apitar, Harry e Cedrico! Três… Dois… Um.” 

O apito soou alto e claro, e os dois campeões de Hogwarts dispararam para dentro do labirinto, seguidos de muitas vivas dos colegas. Passados alguns minutos, Bagman apitou novamente, e Viktor desapareceu entre as sebes. Por fim, Bagman apitou uma última vez, e Fleur adentrou o labirinto.   

A espera era angustiante. De vez em quando, ouviam um ou outro barulho - um campeão gritando ou uma criatura rugindo e sibilando. Mas, na maior parte do tempo, era impossível de dizer o que estava realmente acontecendo. Sophia se perguntou como é que os amigos tinham aguentado assistir à Segunda Tarefa, que acontecera dentro do Lago e, consequentemente, fora de vista. 

Passaram-se vários minutos, mas ninguém se mexia. Todos continuavam na ponta dos assentos, os pés inquietos na expectativa. 

Sophia avistou os gêmeos Weasley em uma das primeiras fileiras, próximos à entrada do labirinto. Eles haviam combinado de tentar interceptar Bagman antes do início da tarefa, mas ela não sabia se tinham sucedido. Os dois pareciam ocupados com a mochila cheia de explosivos para a comemoração de fogos quando um campeão fosse vitorioso.

Finalmente, viram o primeiro movimento. No canto norte do labirinto, uma chuva de faíscas vermelhas foi lançada ao ar. Todos arquejaram. Um campeão havia oficialmente se desclassificado do Torneio. 

A Prof. McGonagall surgiu alguns minutos depois com Fleur. 

Georgie lamentou-se a seu lado. Fleur parecia um pouco abalada, mas não apresentava nenhum ferimento grave no corpo. Sophia perguntou-se o que é que teria feito Fleur se desclassificar, pois lembrava da garota na Segunda Tarefa, após ter sido atacada por grindylows - ela não parecia ter se importado com a dor física. O que é que havia dentro do labirinto certamente devia ser horripilante.

Os alunos de Beauxbatons mostraram-se um pouco mais desinteressados pelo Torneio, agora que sua campeã havia sido desclassificada, mas ninguém na plateia tolerava conversas paralelas. Era preciso silêncio absoluto para que conseguissem ouvir alguma notícia dos campeões remanescentes. 

Passados mais alguns minutos, viram faíscas vermelhas novamente, não muito distante de onde Fleur as havia lançado. Sophia apertou a mão de Georgie enquanto esperavam para um dos professores voltar com o campeão desclassificado. 

Dessa vez, Hagrid foi o patrulheiro que voltou. E ele carregava o corpo imóvel de Viktor.

Sophia sufocou um grito e levantou-se instintivamente. Seu coração batia mais rápido que nunca enquanto seu cérebro visualizava múltiplos desenlaces para a situação de Viktor.

Os demais professores foram ao auxílio de Hagrid, e Dumbledore logo acenou a varinha, fazendo Viktor acordar. Sophia expirou, aliviada, e sentou-se, enquanto Georgie a abraçava. Viktor não demorou a levantar, e parecia fisicamente bem. No entanto, sua expressão estava muito estranha. Ele não parecia demonstrar emoção alguma, e mal reagiu à medida que voltava a um banco e sentava-se com Fleur. 

Agora que sabia que ele estava seguro, Sophia pode lamentar a derrota de Viktor no Torneio. Ela realmente estava torcendo por ele. O garoto tinha ficado em primeiro lugar (empatado com Potter) logo na Primeira Tarefa, e teria ficado em segundo lugar na próxima se não fosse pela questão do duplo sentido da música. Ele tivera boas chances.

Todo o corpo estudantil de Hogwarts mantinha o olhar imperturbável no labirinto. A competição se estreitara entre Potter e Cedrico, entre Grifinória e Lufa-Lufa. Sophia, é claro, inclinava-se mais para Cedrico, por ser mais próxima dele, mas não deixava de admirar a bravura e competência de Potter, que era apenas um quartanista. Um quartanista famoso por derrotar o maior bruxo das trevas de todos os tempos, mas ainda assim. 

Dez, quinze, trinta minutos se passaram. Não havia mais nenhum som saindo do labirinto. Ninguém sabia o que estava acontecendo lá - talvez Viktor, que saiu por último, mas ele continuava com um olhar vazio. Burburinhos começaram a surgir na plateia, e Sophia percebeu que até alguns professores pareciam inquietos. Sophia tentou calcular o tamanho do labirinto. Será que realmente demoraria tanto tempo assim para atravessá-lo? Que tipo de criaturas os campeões haviam encontrado? 

“Será que alguém se machucou?” perguntou Georgie. “Às vezes não tiveram tempo de lançar as faíscas para pedir ajuda…” 

Mais tempo se passou, e nada de movimento no labirinto. 

“Existe algum tempo limite para a prova?” Sophia ouviu uma veterana da Sonserina perguntar ali perto, mas ninguém respondeu. 

Quanto tempo mais teriam que esperar? Potter e Cedrico poderiam estar realmente em perigo… Já havia passado quase duas horas desde que a prova havia começado…

De repente, Karkaroff fez um barulho estranho e saiu apressado do estádio. Snape o seguiu, mas ninguém deu muita bola - provavelmente, estava só frustrado com a eliminação do seu campeão. Sophia tinha presenciado em primeira mão a raiva e o envolvimento pessoal do diretor.

Os demais professores e os juízes do Torneio Tribruxo agora discutiam baixo entre si. Os pais de Cedrico já estavam conversando com Dumbledore, e os Weasleys e demais amigos de Potter pareciam extremamente aflitos. 

Já estava ficando tarde quando, de repente, dois corpos se materializaram no meio do gramado. Sophia pode reconhecer os cabelos escuros de Potter e o corpo esguio de Cedrico. A Taça Tribruxo se encontrava firme na mão do primeiro. 

Vivas explodiram das arquibancadas, e todos se abraçaram para comemorar. Aparentemente era um empate, mas a vitória ainda era de Hogwarts. Sean e Georgie se abraçaram, e Rogério divagava se aquilo significava que ele não ganharia sua parte do bolão, pois tinha apostado só em Cedrico, não em Cedrico e Potter. 

Se tivesse apostado com Bagman, ele com certeza não daria a sua parte da aposta, pensou Sophia, e deu uma risadinha. Escaneou a arquibancada em busca de Fred e Jorge - afinal, eles deveriam estar se preparando para soltar os fogos a qualquer momento - mas não os encontrou. 

Os alunos foram descendo as escadas, para tentar se aproximar do gramado, e Sophia só se deu conta que a comemoração da torcida estava se aquietando quando ela atingiu silêncio absoluto. O murmurinho que seguiu era indecifrável, e Sophia tentava costurar por entre as centenas de corpos até a beira da arquibancada. 

“Ele está morto”, ela ouviu.

“Morto!” 

“Cedrico Diggory!” 

Sophia empurrava os alunos da frente desesperadamente. Muitos já haviam descido ao gramado e se amontoavam em volta de um círculo. Era impossível chegar mais perto, mas ela tentava a todo custo vislumbrar algo. 

Viu um borrão passar correndo em sua frente, e logo identificou que eram os pais de Cedrico, que disparavam para o centro da histeria. Não muito depois, um grito horrível cortou o ar da noite: era um grito de desespero, de angústia, de sofrimento infinito. 

Sophia novamente tentou avançar pelo mar de corpos, e foi aí que viu. 

Cedrico Diggory jazia, sem vida, no chão frio do estádio.


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