A Proposta escrita por Maria Ester


Capítulo 31
Epílogo




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QUERIDO DIÁRIO

É a primeira vez que escrevo aqui, mesmo minha mãe já tendo me dado você de presente a um tempinho.

Me chamo Dulce Maria e tenho 15 anos, sou a mais velha de três irmãos; Artur de 10 e Sofia de 5 anos.

Vivemos com nossos pais; Gustavo e Cecília em Doce Horizonte, uma cidade pequena que eu amo muito.

Apesar da minha idade, que nem é tão pouca assim, vamos combinar, (meu pai vive dizendo que eu ainda sou um neném e minha mãe vive dizendo que a menininha dela nunca vai crescer em seu coração), eu já passei por poucas e boas.

Hoje sou muito feliz e grata aos meus pais, que são os melhores do mundo.

Eu gostaria muito de ter nascido deles, mas se fosse tudo igual ao que quiséssemos, a vida não teria graça. Não é mesmo?!

Sabe, eu sou adotada, mas aqui em casa a gente nem lembra disso. E meus irmãos só souberam porque eu contei.

Apesar de ter levado bronca por isso.

Acho que meus pais ficaram receosos de Artur ou Sofia, por serem crianças, fizerem alguma diferença. Mas a verdade é que não fizeram, continua tudo do mesmo jeito.

Eu queria muito que todas as crianças do mundo fossem iguais a eles e tivessem a mesma sorte que eu tive, de ter encontrado um lar e uma família que me ama de verdade.

Meu pai biológico, eu não conheci, já minha mãe eu preferia não ter conhecido. Ela era uma pessoa ruim, perversa e tenho quase certeza que ela não me amava, mesmo que eu a amasse de todo meu coração e ter sentido sua morte.

Depois que ela partiu, eu fiquei aos cuidados de meu padrasto e nunca soube se tive outros irmãos, avós, tios, primos... a verdade é que nas mãos de meu padrasto eu sofri muito.

Faz pouco tempo que ele me procurou.

Não sei como ele me achou ou como soube da minha vida, mas ele me encontrou e quis abusar da minha boa vontade. Ele estava bêbado e tentou me bater.

Foi na pracinha.

Eu estava com algumas amigas esperando meu pai sair da empresa para me buscar.

Ele me abordou e começou a falar enrolado. Coisa de bêbado!

Primeiro ele me pediu perdão por tudo que tinha feito comigo. Eu até acreditei nele. Juro!

 Só que depois, ele começou a dizer que eu tinha dado o golpe e nada mais justo que dividir com ele. Aí me pediu dinheiro, o maldito dinheiro.

Eu disse que não tinha e ele ficou louco, tentando a todo custo pegar minha bolsa e me machucando por consequência.

Graças a Deus, meu tio que tem um restaurante ali perto, viu tudo e chamou a polícia. Ele foi preso, claro! 

Esse dia foi uma confusão.

Acabou tudo bem. Mas antes disso, foi parar todo mundo na delegacia. Mas tipo, todo mundo mesmo. Até meus irmãos!

Foi tão louco esse dia que até no hospital eu fui parar. Queriam ter certeza que ele não tinha me machucado. Mesmo eu dizendo umas mil vezes que não tinha acontecido nada.  

Meu pai me perguntava a todo momento se eu estava bem e ficava repetindo que só saía dali quando eu fizesse todos os exames.

Tadinho! Ele estava com o rosto desfigurado de tanta raiva e eu até senti pena do meu padrasto se meu pai encontrasse ele na rua.

Minha mãe também estava com os nevos bem exaltados. Ela fez eu dormir entre meu pai e ela uns três dias seguidos. – A desculpa era que eu poderia sentir medo. (Acho que ela que estava com medo KKKK).

E eu reclamei? – Mas lógico que não. -> Eu adoro dormir entre eles!

 Ela vivia repetindo; “Se esse homem tocasse em um fio de seu cabelo, eu ia me desconhecer.” – KKKK Logo minha mãe, a pessoa mais calma e serena do mundo!

Já Artur com a ajuda de Sofia colocaram pimenta líquida em uma pistola d’agua de brinquedo e deram um jeito de entrar na sala aonde o meu padrasto estava detido. Sorte deles que o homem estava algemado e bêbado.

Acho que você já deve imaginar o que aconteceu, né?

Duas semanas de castigo para os dois sem vídeo game, sem sobremesa e como uma boa bronca em dose quádrupla, porque até tia Fátima e tia Estefânia se meteram.

Elas estavam bem histéricas, querendo esganar o homem com a mão a qualquer custo. E olha que eu nunca tinha visto elas daquele jeito.

Claro que eu dei um jeito de contrabandear uns doces para o quarto dos meus irmãos sem que meus pais soubessem. Afinal eles só estavam de castigo por terem me defendido.

Até hoje eu acho graça do Artur dizendo para o nosso pai; “Eu queria achar era aquela pimenta que vocês trouxeram do México quando voltamos das férias, mas só achei essa fraquinha aí, nem deve ter ardido tanto assim. Achei foi pouco. Para ele aprender que ninguém mexe com a minha irmã.”

Sofia para piorar a situação deles, argumentou; “Eu falei para o Artur colocar as bebidas fedorentas que meu pai tem no bar daqui de casa, mas ele disse que pimenta ardia mais. Bem feito. Nunca mais ele mexe com a Dulce. E eu vou logo avisando que se ele fizer isso de novo com a minha irmã, dou um jeito de ele nunca mais enxergar de tanta pimenta que vou botar no olho dele.”

Pois é diário, você deve imaginar a cara dos meus pais e dos meus tios com aqueles argumentos. Até eu levei um belo de um sermão por achar graça daquilo tudo.

Mas sabe?! Acho que nunca fui tão paparicada quanto aquele dia.

É, depois que passa, a gente rir!

A verdade que agora eu não sinto mais raiva, nem medo, nem nada do meu padrasto. Aprendi a perdoar o que ele fez. Talvez se não fosse isso, eu não estaria aqui com as pessoas que mais amo no mundo.

É tão fácil viver entre eles.

Costumamos sair sempre juntos. Já fizemos muitas viagens. Sempre em família. Só meus pais que uma vez ou outra fazem uma viagem a dois. Chamamos de “A Viagem de Lua de Mel”.

É estranho ficar uma noite sem eles.

Final de semana passado mesmo, minha amiga me convidou para passar o FDS no sítio dos avós dela e eu topei, mesmo mamãe dizendo que eu poderia sentir falta de casa (depois ela me confessou que quem sentiria mais falta era ela kkkk) e meu pai falando com toda a família  da minha amiga e ainda assim não querendo deixar.

Acabou eu indo.

Como fomos na sexta à noite, a primeira dormida foi tudo tranquilo, um sentimento de liberdade, “já sou grande” e talz.

Mas na segunda noite, “o bicho pegou”. E lá estava eu mandado um Whats para minha mãe, perguntando se seria muito vergonhoso eu dizer que estava com saudades de casa.

Ela só me disse que já era tarde e que no outro dia ela me ligava.

Eu fiquei tipo, chocada!

Mas o que eu não sabia era que, quando raiou o dia, eles apareceram lá para me buscar, com uma desculpa bem esfarrapada por sinal.

E eu fiquei morrendo de vergonha da minha amiga!

Pais... adoram matar o filho de vergonha!

Mas ela entendeu e ficou tudo bem.

Depois Artur me falou que quando eu estava fora, parecia que eu tinha me mudado para o outro lado do mundo. Mamãe só falava que a casa ficava vazia sem um dos filhos e papai vivia reclamando pelos cantos de que criar filho para o mundo era difícil.

O mais interessante é que mesmo eles querendo que eu não fosse ou que que eu pedisse para voltar, eles não me induziram a nada em nenhum momento. Mas ao mesmo tempo se fizeram presente, via WhatsApp ou mesmo por ligação normal de celular, nos “bom dia”, nas recomendações de comporte-se bem, nos te amo... Enfim no fim das contas, mamãe tinha razão; eu senti falta de casa. kkkkk

Fazer o que né?

Ah, já ia esquecendo a parte mais fofa e mais engraçada do dia;

Sofia ao me ver, me deu um abraço de urso e disse que só porque eu voltei logo, ela iria deixar eu comer um bombom que a mamãe deu para ela.

Todos achamos graça da cara de desconcerto de Sofia por estar dedurando mamãe e de contrariedade do meu pai.

É que ele não gosta de comermos porcaria antes do almoço.

Ele vive dizendo que minha mãe faz tudo que a gente quer e faz dele o que quer.

Eu acho graça dele dizer isso, porque eles parecem meio bobos quando estão juntos. E acho que nunca vi eles distantes um do outro.

Aliás, uma vez só. Uma vez eles se separaram. Faz tempo já, meus irmãos ainda nem tinham nascido.

Nossa, eu sofri demais!

Mas logo eles estavam junto de novo. É eles se amam de verdade!

O incrível é que quando um deles fala, para o outro parece ser lei.

É difícil eles discordarem de alguma coisa.

E nunca, mas nunquinha mesmo, discutiram na nossa frente. Pelo contrário, sempre estão em um clima de romance. S2 (acho lindo!).

Minha mãe sempre diz que nós manipulamos eles direitinho. Mas ela sabe que não assim. É que nós nos conhecemos tão bem, que sabemos o que pode ser conversado e mudado e o que não se pode discutir, apenas obedecer.

Mas a gente só leva bronca mesmo, quando passa do ponto. Mamãe sempre diz que não sabe quem apronta mais. (Confesso que nunca fui nenhuma santa, mas verdade seja dita, sempre fiz tudo com boa intenção.   (Já melhorei muito)).

Ela é minha melhor amiga.

Papai costuma dizer que não sabe de onde a gente tira tanto assunto.

Mas é porque tudo que acontece em minha vida, é para ela que eu conto. E só ela sabe me dar os melhores conselhos.

Meu pai também é muito amigo e nunca deixa que nenhum de nós passe por aperreio.

Ontem mesmo ele livrou Sofia de receber uma bela bronca da minha mãe por ter quebrado seu batom favorito. A desculpa foi que ela queria ficar tão bonita quanto eu estava no meu baile de debutante.

Antes que mamãe descobrisse, ele comprou um igual e colocou em suas coisas.

Mas antes disso fez um belo discurso sobre esperar que o tempo dela chegasse e não mexesse em coisas alheias sem autorização, mesmo sendo do papai ou da mamãe.

Eu amo o jeito dele nos dar bronca, ele nunca sabe ficar sério até o final. Sempre acaba com um sorriso lindo no rosto. Minha mãe também, com seu jeitinho doce, sempre acaba nos perdoando.

Não disse? Eles pensam e agem igual.

E assim a gente vai vivendo, com a felicidade estampada no rosto e o mais importante; com o amor, porque sem amor, nada seríamos.

 

FIM...


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Notas finais do capítulo

Bom gente, então é isso.
Foi muito bom viajar nessa história e saber que eu pude proporcionar um pouco desse prazer para vocês também.
Eu espero realmente que tenham gostado, pois foi feito de coração.

Chegamos ao fim, mas como já dizia Millor Fernandes;
"Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus... "

Nos vemos em outras Histórias.

Um super beijo a todos!



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