A Proposta escrita por Maria Ester


Capítulo 12
Capítulo 12




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Era um domingo, já tinha se passado um mês e meio desde que Cecília e Dulce foram morar com Gustavo.

Já tinha passado as festas de final de ano, onde os três comemoraram e um clima familiar, junto com seus respectivos familiares, que se adoravam e nunca entenderam muito bem a separação do casal. Dulce era um capítulo à parte e diga-se de passagem, o mais lindo da vida deles.

Mesmo com aquele clima ainda tenso entre os dois adultos, quando eles estavam com Dulce Maria, era mágico, todos os problemas se esvaíam, era somente eles três que importava, nada mais.

Nesse momento Dulce estava na casa de Fátima, que a convidou para passar o final de semana em sua casa. Dulce relutou de imediato, sem que Gustavo ou Cecília insistissem, para eles era até um alívio que ela não quisesse, pois, um final de semana era como passar uma vida longe da menina.

Ao final do dia Dulce decidiu que iria. Com a promessa de que qualquer coisa, eles iriam busca-la, era só ela pedir.

Era mais um pedido dos adultos do que a própria criança, eles realmente queriam que ela não ficasse longe por muito tempo. Mas Cecília e Gustavo confiavam em Fátima.

Nada aconteceria!

 Ao sair para nadar, Gustavo passou pela sala e parou.

Cecília estava esparramada no sofá folheando uma revista espanhola, usando uma camiseta até a coxa e um rabo de cavalo bagunçado, sem nenhum sinal de maquiagem. Ela comia uma barra de chocolate de forma mecânica.

Concentrada, ela não o notou, e ele pôde observá-la à vontade. Sentiu um aperto no estômago.

Antes que ela percebesse, foi para a área da piscina, deixou a toalha numa espreguiçadeira e mergulhou.

Enquanto nadava, esperou a calma de sempre esvaziar sua mente. Mas não aconteceu. Só pensava na mulher. Não nas conversas sobre negócios, que terminavam com uma trégua estranha, nem no sexo, que continuava intenso, mas na imagem dela no sofá comendo chocolate, como comia biscoitos no escritório quando estava por lá.

 Era o déjà vu de novo, a sensação de olhar para o Fantasma da Esposa Passada.

Pela primeira vez, parou para pensar se ela não teria razão quando disse que passara o casamento tentando agradá-lo.

Quando se conheceram, Cecília tinha uma alegria natural, um riso fácil. Foi o que o atraiu nela, além da sensualidade.

Embora o riso continuasse ausente, a naturalidade havia voltado. Quando se conheceram, achou que o estilo à vontade dela fosse falta de dinheiro, que toda mulher quisesse ter um personal shopper, cabeleireiros e nutricionistas à disposição.

Não conhecia uma mulher que não quisesse.

Mas nunca havia conhecido ninguém como Cecília.

Admitia que seu círculo íntimo era mínimo, composto de gente da mesma classe social e com as mesmas perspectivas de vida. Lembrou-se de que Cecília abraçara aquilo tudo, até o racionamento de chocolate.

Só queria que ela fosse feliz e se encaixasse naquele mundo, e, com alguma ajuda, teria se entrosado perfeitamente. Com a ajuda dele, nunca se sentiria julgada.

Ou assim ele acreditava... Vê-la comendo chocolate... era tão pequeno, mas bastou para mudar a perspectiva dele. Para fazê-lo questionar... Nem sinal de alta-costura, penteados elaborados, dieta rígida, de abdômen sarado, substituído pela maciez lasciva do início da relação.

Completou suas braçadas diárias e saiu da piscina. Não estava com fome. Tudo parecia rígido dentro dele, tenso demais para comer. Ele esfregou a toalha no cabelo e no rosto. Ao secar as costas, Cecília apareceu ao sol matinal e foi até ele de telefone na mão.

— Temos planos para amanhã? – perguntou, mantendo uma distância respeitável, embora ele tivesse percebido com alguma satisfação que os olhos dela se demoraram demais no seu peitoral.

De repente, o desassossego evaporou.

Ele se aproximou e foi tocar o quadril dela.

— Você vai me molhar – ralhou ela sem convicção.

Após todo esse mês de sexo, ele já sabia que a resistência dela era só uma forma de provar seu autocontrole.

— É a intenção – murmurou.

Não resistiu e a beijou, deliciando-se com o gosto de chocolate. Ela escorregou a língua para a boca dele e pôs os braços no seu pescoço, antes de afastar-se. Havia uma marca molhada em sua blusa.

— Amanhã? – lembrou.

— Você vai estar comigo no escritório.

— Fazendo o quê? Alguma coisa importante ou vou ficar presa no escritório de novo? Até porque, de burocracia, meus documentos já estão todos encaminhados.

 – O que eu solicitar.

— Fátima me ligou pedindo para a Dulce vir depois de amanhã, parece que vai ter uma festa no condomínio e ela quer muito ir, eu autorizei. E Fabiana acabou de mandar uma mensagem. Dois funcionários da Escola estão doentes.

— E o que isso tem a ver com você?

— Eles vão ficar com pouca gente.

— Não.

— Eu ainda não pedi nada.

— Preciso ficar lembrando você do acordo que fizemos sobre a escola?

— Não, mas sem funcionários a Escola não vai poder abrir, e as crianças...

Ele não queria ouvir nem falar em criança, não dela. Toda vez que ela pronunciava a palavra, ele se lembrava da traição. Tudo bem que tinha Dulce, mas era diferente, existia toda uma história por trás da adoção dela, mas imaginar Cecília rodeada por criancinhas o tempo todo naquela escola era como uma punhalada nas costas.

— Não vou discutir a questão. Já combinamos que o seu trabalho diário na escola voltará somente quando o acordo acabar, agora você resolve tudo de dentro do escritório.

Ela ficou séria, com desprezo nos olhos.

— Mas...

— Shh. – Ele pôs o dedo nos lábios dela. – É um dia lindo sem maiores preocupações. Não vamos perder tempo discutindo sobre coisas que já ficaram combinadas.

Devagar, ele desceu o dedo da boca de Cecília para o pescoço. Quando seus dedos encontraram o elástico do cabelo e o soltaram, ela prendeu a respiração. Mais uma vez, quando os lábios dele encontraram os dela, não houve protesto. Só vontade. Seguida de êxtase.

Após um dia e uma noite fazendo amor, Gustavo acordou segunda de manhã e encontrou a cama vazia e o barulho de um helicóptero voando ao longe. Ele olhou para o relógio e, surpreso, viu que havia dormido uma hora a mais. Podia jurar que botara o despertador.

Perguntando-se onde estava Cecília, ele tomou banho e se vestiu rápido. Tinha uma reunião às 10h e detestava atrasos.

O cheiro de café, pães e bolos preenchia o ar, aromas que o animavam. Os empregados estavam trabalhando com o cuidado costumeiro.

A mesa estava posta... Para um.

Havia um bilhete sobre a mesa.

Fui para o centro.

Volto à noite.

Cecília.

P.S.: Peguei o helicóptero.

A primeira reação dele foi rir. Não acreditava na ousadia dela. Estava diante do Fantasma da Esposa Passada de novo.

A Cecília do início da relação era impulsiva, vivia o momento..., mas devia estar ciente das consequências.

A risada morreu. Quando o café chegou, já não achava graça.

Ela realmente achava que podia desafiar suas vontades? Estava de brincadeira? Achava que, agora que estava de volta à cama dele, podia fazer o que bem entendesse, que seria perdoada? Estava na hora de ela aprender uma lição. Se não quisesse aprender, ele teria que cancelar o acordo.


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