Posso te pagar um sorvete? escrita por Lillac


Capítulo 2
Belíssima primeira impressão.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Percy às vezes fazia coisas estúpidas. Como naquela vez que viajara para o Canadá com Frank e prendera a própria língua em uma maçaneta de metal, ou quando apostara com Leo que conseguia colocar mais mashmellows na boca do que ele ou — oh, deuses — ou naquela incrivelmente estúpida vez que desafia Thalia em uma queda de braço.

Mas, no fundo, eram todas ações bem-intencionadas e de bom coração. Ele não estava nunca tentando machucar alguém ou fazendo coisas perigosas de propósito.

Percy duvidava que aquela garota fosse entender assim.

Um grupo de pedestres haviam os ajudado a tirar a bicicleta de cima de seus corpos machucados, e Percy agora se via no centro das atenções de pessoas desconhecidas, o que não era nada do que ela imaginara para aquela tarde. Aceitou a mão que um homem de cabelos grisalhos o estendeu, e, quando se virou para tentar ajudar a garota, viu que ela já estava de pé. Os shorts jeans que ela usava estavam completamente sujos de lama, bem como a camiseta cinza. O cabelo desgrenhado e a expressão nada amigável. Percy abriu a boca para se desculpar, mas os olhos cinzas tempestuosos dela voaram para baixo e ela disse em uma voz dura:

— Para trás.

O rapaz achou melhor obedecer. Ele deu alguns passos bambos para trás, temendo ser atacado ou coisa parecida, mas tudo o que ela fez foi se inclinar e juntar algo do chão. Olhando ao redor, Percy notou do que se tratava: uma folha de papel A3, inteiramente suja e amassada. A garota correu o olhar pela página uma ou duas vezes, antes de fechar os olhos, franzindo o rosto bonito e suspirar exasperada.

— Eu sinto... — Percy começou.

Um rapaz aparentemente mais velho abriu caminho entre a multidão à acotoveladas, e alcançou-os, segurando uma casquinha de sorvete em cada mão. Ele olhou uma vez para a cena — a bicicleta descartada de lado e as folhas de papéis espalhadas pelo asfalto como folhas de árvore caídas — e pareceu compreender:

— Ainda dá para salvar alguma?

— Eu não sei, Luke — a garota meneou a cabeça — estão todas sujas de lama. Eu ainda as tenho em PDF no notebook, mas imprimi-las todas de novo vai custar... bastante. Sem falar que a maioria delas caiu — ela apontou com o polegar para a gigantesca poça na qual eles haviam caído.

Luke fez uma careta. Percy decidiu-se: ajoelhou-se mais uma vez, arregaçou a manga direita do moletom e enfiou o braço na nada-agradável poça lamacenta. A lama estava gelada e logo sentiu o fundo de terra molhada e solta.

Honestamente, Percy não achou que ela foi a melhor de suas ideias. A garota também pareceu achar a ideia estúpida — correu para o lado dele, e o puxou seu braço de volta com as duas mãos.

E, como nada na vida de Percy nunca dava certo, obviamente o puxão o fez perder o equilíbrio e escorregar. Ele sentiu os pés deslizando no asfalto recém-molhado de lama e afundando na poça enquanto suas costas acertavam o chão. Para piorar, levou a garota consigo no tombo. A lama espirrou para todos os lados mais uma vez e aqueles que estavam se divertindo assistindo à cena afastaram-se em passos apressados, tentando defender-se dos respingos.

— Esse dia está ótimo — a garota grunhiu, levantando-se mais uma vez.

Ela limpou a lama do rosto e olhou para Percy com a expressão mais assustadora que ele já havia visto. Mesmo assim, estendeu uma mão para ajudá-lo a levantar.

— Eu sinto muito, mesmo — ele pediu.

— Está tudo bem — ela respondeu, e Percy soube que não estava nada bem. — São só alguns projetos da faculdade.

— É, Annabeth — Luke completou, jogando os sorvetes sujos em uma lixeira próxima, com uma expressão profundamente decepcionada. — Você só estava trabalhando neles há meses...

Percy sentiu uma pontada de culpa. Deuses, por que ele sempre fazia tudo errado? Então, lembrou-se do que Annabeth havia dito sobre faculdade e procurou desesperadamente ao redor pela mochila caída, e, para sua imensa infelicidade, descobriu que as folhas de seu fichário haviam também sido perdidas no meio da confusão.

Quando ele estava prestes a considerar encolher-se e chorar pensando em todas as noites em claro tomando notas e assistindo a aulas em vídeo, uma voz conhecida o distraiu:

— Percy?!

Com boa parte da multidão já dispersada, ele reconheceu facilmente a melhor amiga, que se aproximava juntamente de uma garota alta, de pele escura e cabelo preto preso em uma trança — Reyna.

A garota em questão ficou parada enquanto Racchel ria da situação, ao mesmo tempo em que procurava tirar a lama do rosto dele com um lencinho. Ele a viu, pelo canto dos olhos, erguendo uma sobrancelha com o maior ar de confusão que já presenciara.

Porque tudo o que Percy precisava era conhecer sua nova professora coberto de lama e consideravelmente humilhado.

Reconsiderando: tudo o que Percy precisava era saber que a garota que ele havia derrubado na lama era a colega de apartamento de sua nova professora.

Ele nem conseguia mais ficar surpreso.

Annabeth e ele esperaram do lado de fora do prédio enquanto Reyna, Racchel e Luke subiam para pegar algumas toalhas para que eles não sujassem os corredores. Quando enfim alcançaram a porta do apartamento, deixaram os sapatos do lado de fora e Reyna o instruiu a utilizar o banheiro do quarto dela. Ao sair do banho, Percy encontrou, surpreendentemente, roupas masculinas o aguardando encima da cama bem arrumada e perguntou-se de quem poderiam ser.

— São minhas — Luke o respondeu — eu ia usar na academia mais tarde, mas acho que você precisa delas mais do que eu. 

Percy ficou em silêncio. Se Reyna namorava com Racchel, seriam Luke e Annabeth um casal? Ele achava possível. Eles pareciam mesmo estar em um encontro naquela tarde antes dele estragar tudo.

Depois da história ser explicada e as apresentações serem oficialmente feitas, Reyna pediu que todos fossem para a copa. Racchel pegou alguns refrigerantes na geladeira e distribuía-as pelo grupo, enquanto a outra garota ia explicando:

— Na verdade, fui eu quem pedi para que a Annabeth nos encontrasse lá também. Eu não tinha ideia de que isso ia acontecer — ela tomou um gole. — Mas pelo menos agora vocês já se conhecem.

— Annabeth faz a arquitetura na nossa faculdade — Racchel explicou. — E a Reyna achou que ela podia te ajudar melhor com a parte de cálculo e tudo o mais.

Percy não respondeu, optando por ocupar-se bebendo seu refrigerante. Não queria nem pensar na belíssima primeira impressão que havia feito em Annabeth.

Para sua surpresa, tudo foi organizado muito rápido: Reyna era de fato uma ótima professora, e, mesmo ao seu jeito meio reservado e calado, Annabeth também era. Percy não podia dizer que elas haviam feitos milagres — havia uma grande, grande parte do conteúdo que ele ainda não fazia a menor ideia de como entender — mas achava que com duas professores tão boas ele já estava ao menos meio caminho andado.

Racchel ficou com Luke no sofá, jogando videogame e o atrapalhando de vez em quando, como uma boa melhor amiga. Percy não notou o tempo passar, mas, antes que percebesse, Reyna estava se levantando e dizendo que precisava ir para a academia. Ele, muito à contragosto, começou a fechar os cadernos e preparar-se para ir embora, mas ela o olhou com uma expressão confusa:

— Para onde está indo?

— Eu...

— Annabeth e Luke vão ficar aqui — ela explicou. — Você pode ficar mais tempo, se quiser.

Percy considerou a proposta — ele realmente podia usar mais algumas horas de estudo, mas acabou recusando. Como Hazel havia insistido, ele precisava comer direito e descansar, e, além disso, não queria forçar a barra com Annabeth.

Por fim, ela acabou ficando sozinha no apartamento. Racchel deu carona para Luke e Reyna até a academia, e depois levou Percy em casa, antes de partir para a própria.

Caso perguntado, Percy negaria até a morte. Mas para si mesmo, não podia negar que passara toda a viagem de volta pensando nos cachos de fios loiros e em olhos tempestuosos.

Percy perguntou-se em quantos mais problemas ele conseguiria arranjar para si mesmo antes daquele maldito teste de química.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada à quem leu até aqui, e eu espero que tenham gostado.
Comentários são sempre apreciados.



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