— Vai, Kentin! — berrei, fazendo um levantamento de bola para ele.

Ele levantou o rosto, olhando para cima, vendo a bola cair em sua direção. Deu alguns passos para frente, ficando próximo da rede, e assim deu um corte na bola, a fazendo cair direto no campo do outro time. Nossa equipe comemorou com o ponto ganho, e Kentin olhou em minha direção, parecendo orgulhoso.

Sorri para ele, e levantei minha mão, fazendo um gesto de “joia”. Ele sorriu abertamente, antes de voltar sua atenção ao jogo. Estávamos em um jogo de vôlei de rotina, no clube onde costumávamos ir sempre. Uma música animada tocava nos alto falantes, deixando o ambiente mais divertido e energético.

Nosso time sacou, e eu aproveitei para olhar para o meu namorado, que estava concentrado na posse de bola do outro time, pronto para bloquear a jogada, caso necessário. Às vezes eu me pegava lembrando de como ele era diferente, quando nos conhecemos. Era baixinho, magro, usava óculos redondos, cabelo tigela...

Era engraçado.

Eu gostava dele, ele sempre foi gentil comigo, mas confesso que nunca pensei nele como um namorado, porém... fiquei muito triste quando ele tinha ido embora.  Fiquei até surpresa com o que senti na época, e assim descobri que eu gostava dele mais do que um simples amigo, tarde demais.

A vida, engraçada como ela é, me trouxe ele de volta. Bem diferente, fisicamente, mas o mesmo, emocionalmente.

— Olha a bola! — Alguém gritou, me fazendo acordar dos meus pensamentos.

Olhei para cima, no automático, e vi a bola vindo em minha direção. Abaixei um pouco e a levantei de mal jeito, e ela foi torta para o outro lado do nosso campo. Segurei meu pulso direito, sentindo uma pontada de dor e fiz uma careta.

— O que foi? — Ouvi Kentin na minha frente, parecendo preocupado.

— Acho que dei mal jeito no pulso.

— Deixa eu ver. — Segurou minha mão com delicadeza, e soltei meu pulso, o deixando ver.

Não havia nenhuma marca e nem estava vermelho, mas estava dolorido. Ele cercou o pulso com a mão, e apertou de leve.

— Dói muito?

— Não, só um pouco.

— É melhor você não forçar então. — Tocou meu ombro e me puxou em direção ao banco.

— Mas...

— Mas nada — disse firme. — Não quero que você se machuque de verdade. Eu vou pegar gelo para você. — Me fez me sentar.

— Kentin... — chamei, mas ele saiu andando para dentro do pequeno prédio. Acabei rindo. Como ele era preocupado.

Um pouco depois, ele voltou com algumas pedras de gelo em um saquinho plástico.

— Aqui. — Ajoelhou na minha frente e pegou meu braço, deixando o gelo acima do pulso. — Depois eu vou pegar uma pomada na minha mochila.

— Pomada?

— Para lesões. Eu sempre ando com uma. Nunca se sabe, né? — Sorriu.

— Você é um amor. — Sorri, sentindo-me corar. — Vai, volta para o jogo.

— Tem certeza? Não quer que eu fique com você?

— Não, pode ir. Se eu sentir mais dor, dou um berro.

Ele riu. — Tudo bem. — Se aproximou e deu um beijo entre minhas sobrancelhas, depois levantou e voltou para a quadra.

Kentin falou algo com os colegas, e um deles foi para dentro do prédio, e voltou com sua namorada, para me substituir. Cruzei as pernas no banco, e fiquei olhando para o jogo enquanto segurava o gelo no lugar.

Era legal olhar de fora. Dava para ver coisas que você não veria se estivesse dentro do jogo. Como por exemplo, Kentin arrumando os óculos sempre que se movimentava muito rápido. O que era uma graça. Felizmente eu o convenci a voltar com eles. Não eram os mesmos redondos de antes, mas combinava perfeitamente com ele. Fazia pouco tempo que ele tinha cortado o cabelo, então estava um pouco mais curto do que ele costumava usar. E, com certa frequência, vi que ele passava a mão na testa, onde antes costumava ficar sua franja, vendo que os fios não estavam mais tão grandes, e voltava sua mão para baixo.

Admirei os momentos em que ele levava seus braços juntos para frente, para fazer a recepção da bola, e seus músculos se tencionavam levemente. Ele vestia tão bem aquelas camisetas brancas, principalmente quando deixava seu inseparável colar com a plaquinha do exército para fora. Era um charme só dele.

A cada cinco segundos, ele lançava um olhar rápido para mim, acho que para se certificar que eu não estava morrendo de dor. E, ao ver que eu também o olhava, sempre virava o rosto, ficando corado.

Sorri e suspirei, morrendo de vontade de ir até lá e o beijar sem parar. Esperei pacientemente, só vendo ele se movimentar e defender sua quadra com dedicação e um sorriso de diversão no rosto.

Assim que o jogo acabou, o vi passar as mãos na testa e andou em minha direção.

Novamente, ficou de joelhos na minha frente. — Como está seu pulso? — Pegou meu braço e o olhou.

— Não está mais doendo, não se preocupe... Você jogou muito bem.

— Ganhei por você. — Sorriu e olhou em meus olhos, ficando corado. — Vamos lá. Vou passar a pomada para você, e podemos ir tomar um sorvete, o que acha?

— Acho ótimo. — Me levantei, e ele me imitou, pegando minha mão e cruzando nossos dedos. — Eu adoro te ver jogar, sabia?

— Ah é? Por quê? — Começamos a andar para dentro do prédio.

— Você fica todo concentrado. É muito fofo.

Ele riu, envergonhado. — Você também é muito fofa jogando, e parada, e fazendo qualquer coisa. — Levou minha mão até sua boca e a beijou.

— Você é um amor.

— Você que é. — Parou de andar e roubou um beijo dos meus lábios.

Antes dele se afastar, segurei seu rosto e o beijei de novo, tentando demonstrar todo meu carinho e amor por ele. E aparentemente, ele percebeu, pois segurou meu rosto e retribuiu o beijo com a mesma paixão.