Meu Professor de Muay Thai escrita por Fairbolt


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Meu primeiro one ♥
Espero que gostem.
Muay Thai é minha paixão, então quis dividir um pouco com vocês ♥



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Foi difícil para o jovem praticante de muay thai acordar cedo àquela manhã, pois a chuva da noite anterior deixou a temperatura mais amena em Chiang Mai, o que deixou o sono do rapaz ainda mais pesado, posto que tinha uma preferência justificável pelo friozinho trazido pelas precipitações ao calor característico do verão úmido da Tailândia. Ao finalmente despertar e olhar para a hora no relógio, o lutador pulou assustado da cama por perceber que já estava demasiadamente atrasado para o treino daquele dia. Assim, com o mesmo ímpeto com o qual nocauteava adversários, correu até o banheiro, fez sua higiene matinal e correu até o andar térreo da casa onde ele e sua família moravam e, se dirigindo até a sala de jantar, encontrou seus pais a desfrutarem de um farto desjejum.

Wâi! – o rapaz juntou as mãos como se fosse rezar e se abaixou em reverência, realizando o tradicional cumprimento tailandês enquanto sentava à mesa. – Por que não me acordaram? Sabem que tenho treino.

Seus pais se olharem, o direcionaram um sorriso característico do povo tailandês, o cumprimentaram de volta e o empurraram uma tigela abarrotada de mingau de arroz, ovo cozido temperado, salada ao molho de camarão seco e uma enorme caneca de ga-yen, um tipo de chá da Tailândia à base de chá preto e flor de laranjeira, sendo aquela refeição reforçada preparada pela mãe do lutador no intuito de dá-lo tinha para que o mesmo se saísse melhor nas aulas de Muay Thai e superasse seus limites, como sempre fazia com dedicação e disciplina.

— Você dormia como o bebezinho que é, pequeno Arthit!  – sua mãe o respondeu deixando-o corado. – Tive pena de acordá-lo.

O rapaz reclamou enquanto dava um gole no seu chá e abocanhava um dos ovos. Sua mãe era deveras carinhosa e preocupada, mas exagerava ao tratar seu filho de dezoito anos como uma criança de colo.

— Além disso, é sua responsabilidade acordar cedo, então não nos delegue essa tarefa. – seu pai tomou a palavra. – Estou criando um homem, não um gato manhoso. Agora vá e se entenda com seu professor.

Obedecendo ao seu pai, logo que terminou seu café-da-manhã, correu; levando consigo seus equipamentos; até a parada de ônibus mais próxima, onde, por pura sorte, embarcou num coletivo assim que pôs os pés lá e, após vinte minutos de viagem observando a paisagem exótica de Chiang Mai, chegou à enorme Academia de Muay Thai do Mestre Sunan, uma grande construção com janelas de vidro, um belo e bem-cuidado jardim, dotada de piscina sauna, ar-condicionado e, obviamente, um enorme tatame. Todo o luxo daquele lugar era bancado pelos patrocinadores do melhor lutador de toda a Tailândia Sunan Darawan. Por conseguinte, o rapaz adentrou no lugar de treino e teve uma surpresa ao ser pegue de supetão com um soco do seu famoso professor.

— O meu melhor aluno chegando atrasado? Que vergonha. – o mestre de Arthit falou ainda em posição de batalha atrás de si, observando-o enquanto massageava o ombro espantado com o soco repentino. – Pague cem flexões, corra dez voltas ao redor do tatame e pratique seus chutes.

Sawadee Krap. – o jovem se restringiu a responder com um cumprimento usado na referida arte marcial quando o praticante chegava ao tatame e ao fim do treino.

Ao ser cumprimentado de volta, Arthit pôs-se a fazer o que lhe foi mandado. “Cem flexões? Que moleza! Pensei que meu castigo por ter chegado atrasado seria algo bem hediondo, mas o Sunan parece estar de bom humor, que sorte a minha.”, Arthit pensou enquanto pagava as flexões. Ao contrário dos outros alunos da academia, que não paravam de reclamar do treino de funcional alegando dor e cansaço, ele o fazia com todo o prazer, pois gostava do resultado de tudo aquilo no seu corpo, o qual era definido como as estátuas daquele país ocidental chamado Grécia. Ademais, aqueles exercícios faziam parte do caminho para se tornar um exímio lutador de Muay Thai e superar seu mestre. Por fim, mesmo com o atraso, alcançou seus colegas de treino e começou a praticar seus chutes, como Sunan indicara.

Em primeiro lugar, aplicou o “chute circular”, que era considerado um dos mais potentes dentre todas as artes marciais e consistia num chute no qual a perna era “jogada” de forma curvada em direção ao adversário e era estendida usando todo o seu impacto com o intuito de flagelar aquele a quem era direcionada. Nesse primeiro, se não fosse a qualidade do saco de pancadas, que absorvia a potência dos golpes, o chute o teria rasgado. Após isso, Arthit trocou a base flexionando, dessa vez, a perna esquerda e deixando o pé direito logo atrás ligeiramente levantado. Seu objetivo era não se restringir a uma base só e, com isso, ter sua gama de movimentos ampliada e, caso cansasse de uma posição, ter a possibilidade de usar outra, poupando suas forças. Então, com ainda mais ímpeto, desferiu um “chute frontal”, o qual era usado para manter a distância entre o executor do golpe e o adversário. Funcionava, basicamente, estendendo-se a perna com de trás da base com o pé virado para cima rumo ao abdome do oponente. Assim, um-a-um, o jovem discípulo de Sunan pôs em prática todos o chutes da arte marcial a qual era adepto.

De tão concentrado que estava, Arthit não percebeu que o horário de treino acabara há tempos, tampouco o fato de os outros alunos já terem ido embora. Concluiu que ainda estava ali por ter chegado atrasado e, assim, haveria de ficar até mais tarde para compensar o tempo perdido. Conseguintemente, mesmo sem uma ordem prévia do professor, resolveu treinar alguns socos, mas foi interrompido por Sunan, que balançou a cabeça negativamente reprovando a indisciplina de seu pupilo.

— Por acaso me ouviu dizendo para treinar socos? – o campeão o perguntou franzindo o cenho. – Se fizer algo além do que lhe foi mandado no campeonato, vai fazer o seu mestre ficar mal falado. Quer isso pra mim?

“Jamais iria querer algo assim para você...”, o jovem lutador divagou a admirar a expressão rígida de seu professor, pelo qual tinha uma queda desde o momento em que pusera os pés naquela academia. Assim, todo contato que tinha com o homem o fazia sentir “borboletas no estômago”.

— Não, senhor. – Foi o que conseguiu responder.

Sem falar mais nada, Sunan investiu contra o jovem com jabs (socos que são desferidos com mão da frente de acordo à base usada) e diretos (socos desferidos com a mão de traz) sem prévio aviso, fazendo com que Arthit, sem conseguir preparar uma defesa à tempo, caísse no chão de madeira do tatame, dando um pequeno gemido de dor.

— O que eu falei sobre abaixar a guarda? – o campeão fez a pergunta retórica. – Enquanto estiver no meu tatame, estará sujeito a ataques, então nunca abaixe a guarda, melhor aluno.

Sunan não usou o vocativo “melhor aluno” ironicamente. Arthit, desde que entrara ali, mostrou-se um verdadeiro prodígio ao aprender rapidamente todas as suas manhas e vencer com honras os campeonatos de luta dos quais participara. Acontece que, por causa desse notório talento, o homem tinha de pegar mais pesado com o garoto do que com os demais. Destartes, sempre o surpreendia com socos e chutes, com o objetivo de fazê-lo se defender das investidas usando o que aprendera ali e, consequentemente, se tornasse um lutador tão bom ou melhor do que si. Além disso, o treinamento rígido, como o campeão não sabia como se expressar por palavras, era uma maneira que ele tinha de se aproximar do seu aluno prodígio, pelo qual nutria fortes sentimentos.

Certo, Sunan tinha trinta anos enquanto Arthit apenas dezoito, mas o campeão não via a idade como uma limitação para o sentimento que fervia dentro de si. Todavia, não tinha certeza se o jovem lutador sentia o mesmo, o que o deixava angustiado quando parava para pensar. Desse jeito, mantinha com o rapaz aqueles exercícios difíceis com o objetivo de, pelo menos, ter mais tempo junto dele.

Posteriormente, prevendo outra investida, Arthit defendeu um chute frontal afastando para a esquerda a perna de seu professor e recuando um pouco no sentido oposto. Então, aproveitando a pequena abertura que conseguiu, deu um soco no abdome de seu mestre, que; contraindo o músculo; absorveu o dano sem prejuízos. Posteriormente, o aprendiz teve de defender uma sequência de rápidos e potentes socos, saindo-se bem, ainda que tenha tido algumas dificuldades, posto que lutava contra o maior campeão da Tailândia.

— Só isso que sabe fazer? – Sunan sorriu provocante. – Nem dá pro cheiro.

— Eu não vou perder! – Arthit se deixou levar pelo calor da batalha.

Dito isso, o aluno prodígio avançou contra seu mestre com cotoveladas, joelhadas e chutes, mas tais golpes foram bloqueados como se aquilo não passasse de uma brincadeira de criança. Vendo que sua investida costumeira não obteve êxito, Arthit resolveu usar sua arma secreta: a clinchada, um golpe que consistia em agarrar o oponente cruzando as mãos atrás de sua nuca e, por conseguinte, dá-lo chutes ou apenas arremessa-lo ao chão. Assim sendo, o rapaz, aproveitando uma pequena abertura lateral quase imperceptível de seu professor e o clinchou num rápido movimento, encontrando uma hiperativa resistência do mesmo, visto que Sunan se debatia, tentava uma joelhada e por os braços para escapar do golpe, mas seu pupilo aguentou com todas as suas forças e o arremessou ao chão. Todavia, não esperava era que acabaria caindo sobre o mesmo.

Caídos ali, o mestre e o aluno ficaram se olhando por alguns minutos, durante os quais um turbilhão de pensamentos invadiu a mente dos dois. Arthit pensava que, caso confessasse o que sentia por Suna, levaria uma surra ali mesmo. Já o último, imaginava que, além de perder um excelente aluno, nunca mais o veria na vida e isso lhe dava uma sensação de pesar. Entretanto, a dupla, ao mesmo tempo em que receava, desejava fervorosamente falar sobre seus sentimentos.

“Essa sensação está me matando. Preciso agir como um homem e dar um jeito de confessar o meu amor ao meu pupilo.”, o campeão pensou. Nesse contexto, lhe surgiu uma ideia, a qual resolveu por em prática imediatamente.

— O campeonato já é amanhã. – o mestre comentou ainda com Arthit sobre si. – Você está mais do que preparado.

— O senhor acha, P’Sunan? – o jovem perguntou usando o sufixo respeitoso que os tailandeses usavam ao chamar o nome de alguém, cuja a situação exigia reverência, olhando-o fundo nos olhos.

Aquele olhar fez o professor de Muay Thai sentir um arrepio que o percorreu toda a espinha. Era incrível e ao mesmo tempo terrível que, mesmo tendo vencido várias competições ao redor da Tailândia, Sunan não conseguia lidar com aquela sensação que irrompia seu peito, tampouco confessar-se para seu amado. Tal fato o deixava frustrado.

— Tenho certeza, P’Arthit. – o campeão da Tailândia falou sussurrando no ouvido do mais jovem. – Mas devemos ter uma garantia, não acha? Algo para estimular você a vencer.

— O que? – o rapaz perguntou confuso acerca da tal garantia.

Aquela seria a hora do campeão por sua ideia em prática. Agora, seria tudo ou nada. De uma vez por todas, jogaria para fora tudo o que mantivera preso dentro de si. Dessa forma, de súbito, aproximou seu rosto do de Arthit e o beijou. No começo, tinha medo da rejeição, então fez tudo com um certo receio. No entanto, notou que o seu pupilo o correspondia e tornou o beijo mais voraz, sentindo uma onda de calor percorrer seu corpo e cada pelinho arrepiar. Ver que estava sendo retribuído ali o deixou tão feliz quanto elefante tomando banho nos rios das florestas encontradas no seu país.

— O que foi isso, P’? – Arthit o perguntou corado. – Não fazia ideia de que o senhor sentia isso por mim...

O jovem havia sentido a mesma sensação intensa que seu amado. Para o rapaz, aquilo foi como andar numa montanha russa enquanto tomava nom yen, sua bebida favorita que era feita usando leite, gelo, açúcar e um xarope vermelho de fruta tailandesa chamada Sala, que dava à bebida uma coloração rosa.

— E como sinto! Mas escute, roubei um beijo seu. Somente se você vencer, vai poder recuperá-lo. – o homem o respondeu dando o maior sorriso que conseguia. – E digo mais: se vencer o torneio, poderá me medir o que quiser.

Certamente, tal afirmação deixou o aluno prodígio cintilante de alegria, afinal Sunan o correspondera e ainda o beijara em pleno treino. Ademais, já sabia o que pedi-lo, mas preferiu guardar até sua vitória na competição oque haveria de ocorrer no dia seguinte.

Logo depois, os dois levantaram, se cumprimentaram com um “swadee-krap” por terem terminado o treino e Sunan deu ao seu pupilo uma carona de carro até sua residência, pois chovera durante o treino e era arriscado que alguma rua de Chiang Mai estivesse alagada, impossibilitando a passagem de ônibus. Contudo, uma precipitaçãozinha não impediria o Range Rover Evoque do P’. Com isso, ambos chegaram em pouco tempo até a casa dos pais de Arthit, que, ao verem o grande campeão da Tailândia, o convidaram para almoçar.

Durante toda refeição, ao contrário do seu professor, que conversava sobre mil assuntos com seus anfitriões, Arthit permanecia calado. Na verdade, até um cemitério parecia mais animado do que o jovem lutador. O motivo daquela carinha de quem comeu e não gostou era o beijo de mais cedo naquele mesmo dia, que levava à mente do rapaz um universo de pensamentos. “Será que eu beijei bem? Será que ele estava só brincando com a minha cara? Será que ele quer apenas tirar minha virgindade?”, o jovem devaneou aquelas ideias negativas.

— Nossa, filho, eu e sua mãe ficamos muito felizes em saber que você tem grandes chances de vencer. – seu velho progenitor exclamou, tirando-o de seus devaneios. – Estaremos na torcida.

— E não sabíamos que seu mestre é ninguém mais, ninguém menos do que o grande Sunan Darawan. – a mulher falou enquanto servia o professor de Muay Thai com mais pedaços de porco. – Será que daí sairá um noivado?

Com tal fala, ocorreu um momento histórico ali: Sunan corou constrangido. O homem, pego de surpresa com a pergunta embaraçosa, engasgou-se com o porco e precisou dar longos goles no seu copo de nom yen. Não soube, sequer, dar uma resposta.

— Que é isso, mãe?! – Arthit bradou, do mesmo modo, vermelho como um pimentão. – Eu e o P’Sunan somos apenas amigos!

Também pela primeira vez na história, o jovem lutador pôde ver seu mestre com uma expressão triste no rosto. Concluiu que o motivo se dava pelo fato dele ter dito que sua relação era apenas de amizade em resposta ao que sua mãe falara sobre noivado. “Então... Ele quer ser mais do que amigo? Então não é apenas para tirar minha virgindade? Nossa, isso é um sonho que se realiza!”, Arthit devaneou novamente. Apesar de alegre com a hipótese que lhe veio ao pensamento, não conseguiu deixar de se comover com a carinha angustiada de seu amado campeão. Assim, ao término da refeição, ele pediu licença aos pais e levou seu querido P’ consigo até o jardim.

— Está chateado, P’Sunan? – o jovem perguntou preocupado.

— Não, claro que não. – o mais velho tentou disfarçar a expressão melancólica em seu rosto com um sorriso forçado. – Por que acha isso?

— Porque vi como você ficou quando respondi minha mãe. – Arthit o respondeu dando alguns passos até que ficasse frente-a-frente com seu professor. – Eu menti naquela hora. Falei que éramos amigos, mas gostaria que algo mais... Forte acontecesse entre nós dois.

Ao terminar de afirmar isso, o aluno prodígio aproximou seu rosto aos poucos do de seu mestre. Dessa vez, ele iria tomar a iniciativa do beijo e teria conseguido, se não fosse o chute frontal que recebera do campeão da Tailândia, que o arremessou na terra de um canteiro vazio do jardim.

— Também quero algo mais com você, meu aluno exemplar. – Sunan afirmou tirando a chave do seu carro do bolso. – Mas lembre-se que combinamos que você só recuperaria o beijo que tomei de você quando vencesse o torneio de amanhã. Estou apaixonado, mas não deixo de cumprir o que eu digo.

Com isso, o mais velho entrou em seu veículo, deu ignição e deixou seu aprendiz caído ali sozinho. Por alguns instantes, Arthit riu da inflexibilidade do seu mestre e resolveu usar sua promessa e aquele chute doloroso que levara, como motivação para a competição do dia seguinte. Nesses termos, treinou alguns socos durante alguns minutos, depois se arrumou e foi à faculdade, onde passou toda a tarde e um pedaço da noite em aulas longas de Educação física. Então, na saída, foi surpreendido por um Range Rover que conhecia muito bem.

— Arthit, choveu de novo, então fiquei preocupado e vim busca-lo aqui na universidade. – o professou de muay thai destravou as portas do veículo. – Venha.

Durante um momento, o jovem estranhou aquela carona repentina que lhe estava sendo dada pela segunda vez naquele mesmo dia. Aliás, também estranhou aquela gentileza repentina, visto que seu mestre não era o tipo de pessoa que demonstrava preocupação e prestava cuidados tal como estava fazendo daquela forma. “Ele mudou da noite pro dia. Será que é assim mesmo quando se está apaixonado?”, Arthit imaginou.

— Obrigado, P’! – foi o que o aluno prodígio se restringiu a responder.

Os dois foram calados durante todo o percurso até a casa de Arthit, pois não sabiam como interagir depois do beijo dado no treino, da tal promessa e da conversa do almoço. Portanto, de certa forma, foi um alívio finalmente terem chegado ao destino definido e, logo após. se despedirem, tendo Sunan desejado boa sorte ao seu aprendiz no torneio que ocorreria dia seguinte. Com isso, o jovem lutador jantou algo leve e dormiu como uma pedra, mas antes teve o cuidado de por o despertador perto de si para acordar bem cedo no outro dia.

Entretanto, o rapaz despertou bem mais cedo do que o horário que tinha programado no relógio para despertá-lo, e se arrumou rapidamente.  Ao descer para o café e cumprimentar seus pais, ele se restringiu a comer algumas frutas e tomar alguns copos d’água para não ter o perigo de sentir algo ruim no estômago durante o torneio. Por conseguinte, pegou o primeiro ônibus que levava ao ginásio da faculdade e, ao chegar, deu de cara com uma enorme plateia e vários lutadores. Entre os mestres, encontrou Sunan, que pulou do espaço reservado para si e correu em sua direção quando o viu.

— Boa sorte hoje. – o mais velho falou bagunçando os cabelos do aluno prodígio. – Lembre do combinado.

Sunan sorriu e tentou dar um soco em seu aprendiz por pensar que este estava de guarda baixa, mas se surpreendeu ao ver que ele defendeu com a precisão de um verdadeiro mestre.

— Você ficou bem previsível. – Arthit sorriu malicioso. – Vou recuperar o meu beijo custe o que custar.

Após esse momento, uma sirene soou dando início ao torneio. Nesse contexto, o primeiro adversário do aluno do campeão da Tailândia era um garoto nervoso, que não parava de dar chutes descoordenados, os quais Arthit desviava com facilidade. Então, aproveitando a enorme abertura que o desastrado deixara, deu uma cotovela em seu rosto e o nocauteou de primeira.

— Vitória de Arthit Praves. – o árbitro anunciou e a plateia pôs-se a aplaudir e a vibrar admirada com a maestria do rapaz.

Em seguida, o aluno prodígio foi designado ao segundo ringue onde haveria de enfrentar a luta número dois. O seu novo oponente tinha um pouco mais de experiência que o anterior, mas errou em deixar uma perna exageradamente separada da outra, o que permitiu que Arthit o derrubasse com um pequeno chute no primeiro round. No segundo, o garoto percebeu seu erro, corrigiu o problema na base e investiu contra o aluno de Sunan, mas este estava apressado para ir logo às semifinais, então desviou dos golpes e, na primeira abertura que encontrou, deu um soco tão forte numa das têmporas do adversário, que o nocauteou de forma que não havia perigo dele levantar durante a contagem.

— Vitória de Arthit Praves. - O árbitro anunciou novamente.

— Você pegou pesado dessa vez. – Sunan falou para seu aprendiz de onde estava sentado, sorrindo de forma provocante. – Isso tudo pra recuperar um beijo?

De tão constrangido que ficou, Arthit não conseguiu responder seu mestre e correu até o ringue da semifinal. Lá, tomou um susto ao ver um rapaz bem mais alto do que si. Intimidado, iniciou a luta contra seu terceiro oponente.

No primeiro round, os dois, devido a velocidade com que agiam, conseguiram apenas trocar socos e defender-se deles, respectivamente, estourando assim, o tempo de três minutos que marcava cada round.

— Procure atingi-lo no abdome. – o campeão da Tailândia aconselhou a trocar seu protetor bucal, dá-lo um pouco de água para beber e passar vaselina em seu rosto como era regra nos torneios que os técnicos prestassem auxilio aos lutadores nos intervalos entre os rounds. – Ele parece ter dificuldades para contrair os músculos dessa região ou defender golpes mais fortes.

— Entendido. Obrigado pelo conselho, P’Sunan. – o aluno prodígio o respondeu e voltou à luta.

No segundo round, o jovem lutador seguiu o conselho do seu mestre e deu preferência a socos e joelhadas na direção do abdome adversário, mas este, percebendo que Arthit descobrira seu ponto fraco, o chutou com tanta potência, que ele foi parar fora do ringue e o árbitro iniciou a contagem.

— Um, dois, três, quatro, cinco... – o árbitro pronunciava cada número e a plateia escutava em silêncio.

Contudo, o homem não conseguiu terminar de contar, pois o pupilo de Sunan conseguiu pular de volta no ringue. Furioso por causa do golpe que levara, avançou com todas as suas forças contra o rapaz alto e conseguiu acertá-lo com um chute no abdome, o que o fez baixar a guarda em decorrência da dor e, com isso, o deu vários socos e chutes, conseguindo nocauteá-lo logo nos primeiros quarenta segundos do terceiro round. Dessa vez, não houve contagem, pois o garoto alto não quis continuar a luta pelo fato de sentir que quebrou uma costela.

— Vitória de Arthit Praves. – o árbitro anunciou mais uma vitória.

Com isso, finalmente o rapaz chegou à luta final. Seu oponente não era nada impressionante fisicamente como o anterior, mas por estar ali, deveria ter algum talento nas lutas. Assim, Arthit não ousou abaixar a guarda.

Nos dois primeiros rounds, nenhum dos lutadores conseguiu acertar o outro com seus golpes, pois ambos tinham profundo conhecimento das defesas do Muay Thai e, consequentemente, evitaram as investidas um do outro. No terceiro, o aluno prodígio foi arremessado para fora do ringue com um chute frontal do adversário, mas ao voltar não conseguiu desferir nenhum golpe no oponente.

— Vou usar minha arma secreta. – ele comentou com Sunan enquanto recebia o auxílio técnico deste no intervalo após o terceiro round.

— Excelente ideia. Dê o seu melhor. – o campeão da Tailândia respondeu.

Em seguida, o gongo soou e os rapazes começaram o quarto round. Desviando de todos os socos, Arthit conseguiu clinchar o adversário, mas não esperou que sua resistência fosse tão forte a ponto de quase se desfazer da clinchada. Contudo, conseguiu dobrar o oponente e o deu uma joelhada. Então, aproveitando o seu atordoamento, o deu socos na orelha, no abdome e, por fim, um chute circular, que o fez desmaiar e provocou-lhe o nocaute, dando a vitória para o pupilo de Sunan. Na verdade, aquele round fora quase tão rápido quanto o momento em que venceu do rapaz alto da semifinal.

— Vitória de Arthit Praves. – o árbitro falou enquanto entregava ao jovem lutador o cinturão de ouro e um troféu especial da universidade. – Parabéns, rapaz.

— Obrigado, P’. – o aluno prodígio o respondeu.

Dessa forma, todos comemoraram. A plateia foi à loucura, jogou flores e gritou o nome “Arthit” diversas vezes. Seus pais o abraçaram à ponto de quase estrangula-lo. Contudo, a atenção do rapaz se voltou para seu professor, que o chamou para um local maisreservado.

— Parece que você ganhou. – o homem falou sorrindo maliciosamente. – Acho que te devo algo...

Sunan foi interrompido por um beijo voraz dado por seu aprendiz, o qual ele não recusou dessa vez. Na verdade, encostou su amado na parede e assumiu o controle da situação. Destartes, o campeão da Tailândia tomou os lábios do seu jovem aprendiz num ósculo que misturava ferocidade e ternura, extraindo suspiros do mesmo. Ademais, sentiu a mesma sensação que experimentara durante o treino, mas dez vezes mias potentes, o que o fez deixar escapar alguns suspiros mais altos. Obviamente, Arthit se sentia da mesma forma e, por já estar mais sensível devido aos golpes que levara, soltou alguns gemidinhos em decorrência da dor e do êxtase. Assim, o professor havia cumprido uma parte do que combinara, que consistia em devolver o beijo tomado de seu amado.

— Agora falta o meu pedido. – Arthit afirmou enquanto tomava fôlego. – Eu te amo, P’Sunan. Sempre te amei. Mesmo com os treinos pesados, com sua rigidez e suas broncas, esse sentimento não sumiu. Pelo contrário, apenas cresceu dentro de mim. Dito isso, me horaria muito se você fosse meu namorado. Esse é o meu pedido.

Aquilo emocionou o campeão, que não conseguiu conter as lágrimas e abraçou seu pupilo com todas as forças.

— Eu também te amo desde que você pisou na minha academia! As broncas e tudo mais eram apenas uma forma... Um pouco ortodoxa que encontrei para estreitar laços com você. Te amo do fundo do meu ser. – o homem falou ainda vertendo algumas lágrimas. – Claro que aceito o pedido! Quero você junto de mim para sempre!

Os dois se beijaram novamente, mas de forma mais lenta, aproveitando cada segundo daquele momento.

— Ah, e você vai pagar trezentas flexões na academia por me ter feito chorar, ok? – Sunan falou e os dois deram gargalhadas.

Assim, mestre e pupilo foram juntos de mãos dadas até a academia onde treinariam juntos para sempre, como propora Sunan, campeão da Tailândia e atual namorado de Arthit em Chiang Mai.


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Notas finais do capítulo

Em revisão. Estou aberto à críticas construtivas.
Nos vemos nos reviews =D
#Enjoyyyy