O Reflexo da Bruxa escrita por Stefani Ferrera


Capítulo 1
Almas Desesperadas


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



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O castelo real do reino de Belfrey estava completamente deserto àquela hora da madrugada. A única pessoa ainda acordada era a própria rainha, a jovem Tremaine, que se sentia inquieta demais para dormir. 

Encostada á janela, ela podia ver as luzes da aldeia no sopé do castelo, e imaginava que todos os seus súditos estariam falando dela.
Finalmente, depois de um ano inteiro de incertezas e medo, a rainha estava esperando o herdeiro ao trono. Automaticamente, Tremaine levou as mãos ao ventre, ainda liso e sem curvas, e o segurou com força como se quisesse proteger o que estava crescendo lá dentro. Das três últimas vezes que havia engravidado, o destino havia sido cruel com a jovem rainha, que perdera os bebês antes mesmo da quarta semana.
Agora, ela estava completando seis semanas inteiras e não havia sentindo nenhum mal-estar, estava saudável e forte, e seu bebê também, segundo o médico da corte.
Sorriu ao imaginar a emoção do marido quando recebesse a notícia sobre o bebê, e pulando de alegria caminhou até a cama.
O rei Uther não estava no palácio naquela noite, e ficaria fora por semanas. Ele havia saído para um tratado de paz com um reino vizinho. Ainda sim Tremaine não conseguiu conter a felicidade e enviou um mensageiro com uma carta sua contando ao marido a felicíssima notícia.
Deitada na cama de lençóis de seda, e com um enorme dossel de madeira cravado com pedras preciosas, Tremaine não acreditava em sua felicidade.
Ficou imaginando que nomes daria ao bebê, se seria menino ou menina, como seria a festa de batismo e apresentação da criança ao reino… Lentamente suas pálpebras começaram a pesar e como se estivesse caindo em um chão coberto de plumagem, Treimaine caiu no sono.

O grito de dor escapou de seus lábios antes mesmo de abrir os olhos. Curvando-se na cama, Tremaine segurou a barriga com força, enquanto uma terrível dor lombar, muito conhecida, a fazia tremer.
— NÃO! — gritou a rainha, rolando na cama — De novo não, por favor! Por favor…
Sussurrando, Tremaine escondeu o rosto entre os travesseiros de plumas, enquanto espalmava a barriga querendo segurar o bebê ali, dentro dela. Lagrimas banhavam seu rosto, e as ondas de dor vinham em pequenos intervalos, sentiu o sangue escorrer quente e pegajoso por suas pernas, e socou o travesseiro varias vezes, numa tentativa inútil de amenizar o sofrimento, tanto física quanto da alma.
Quando a dor passou, e as cólicas foram embora, Tremaine ficou deitada, toda encolhida na cama, manchada de sangue. Lagrimas silenciosas molhavam seu rosto, e pequenos soluços faziam seu copo sacolejar.

Na manhã seguinte, antes dos primeiros raios de sol surgirem no horizonte, a cama da rainha estava impecavelmente arrumada. A própria Tremaine vestia um lindo vestido de frente única num tom de creme, e exalava uma paz que não existia.
Depois do aborto sofrido, a jovem saiu de sua cama e arrancou todas as evidências do que havia acontecido ali, mandando um dos guardas queimar as provas antes do castelo começar suas atividades normais. Tomou um banho que ela mesma preparou e vestiu a si mesma, coisa que não fazia sozinha a cerca de um ano.
Caminhando pelos corredores do palácio, Tremaine ainda se sentia fraca, tanto física quanto psicologicamente. Sua mente vagava em lugares sombrios, e ela se perguntava porque os céus, a divindade ou o universo era tão cruel com ela. Porque lhe encher de alegria e esperança para arranca-la de si de forma tão abrupta e desumana?
Para todos seus súditos ela era a verdadeira princesa dos contos de “era uma vez”, nascida pobre, vivendo na floresta, conhecendo um príncipe e futuramente se tornando rainha.
Como num conto de fadas, pensou, rindo amargamente.
Mas as pressões que vieram com o título de rainha eram inúmeras e Tremaine não se sentia leve há muito tempo. Queria voltar a viver na floresta, com os pés descalços e a cara suja de lama.
— Majestade! — gritou alguém, e Tremaine se virou para ver Zelena, uma das servas correndo em sua direção.
Zelena era uma ruiva esguia, alegre. Estava sempre disposta a ajudar, mas era um tanto quanto rude em seus modos. Aproximando-se da rainha ofegante, Zelena fez uma pequena reverência e sorriu encarando sua majestade.
Ambas deviam ter quase a mesma idade, aida sim, Tremaine parecia ser mais jovem que ela.
— Senhora, eu tenho um presente para lhe entregar… — falou a serva entregando a rainha um pedaço minúsculo de pano dobrado. — É muito humilde e simples, mas fiz de coração para o bebê.
Zelena encarou a rainha, esperando alguma reação enquanto a jovem a sua frente desdobrava a pequena camisa branca que ela havia passado as últimas horas do dia anterior fazendo.
Tremaine engoliu o choro e sorriu forçadamente para Zelena, segurando a pequena peça nas mãos.
— Não devia ter se dado ao trabalho, Zelena. — comentou a rainha, tentando conter a dor na voz — É muito gentil.
Zelena sorriu, radiante e só então a rainha percebeu que ela passava a mão pelo próprio ventre.
— Está gravida? — perguntou Tremaine, olhando para a barriga de Zelena e depois encarando seus olhos azuis.
— Hades e eu estamos esperando um bebê. Eu estava fazendo roupinhas para ele, quando percebi que poderia fazer uma para o futuro herdeiro. — comentou a criada, levando a mão á barriga de Tremaine, que, instintivamente se afastou.
— Obrigada, Zelena. Agora, por favor volte ao seus afazeres. — dispensando a serva, Tremaine a viu fazer uma reverência e seguir pelo largo corredor, sumindo de vista. Com raiva Tremaine observou a roupinha que a serva havia lhe dado, olhando para uma tocha na parede, Tremaine jogou a roupa em cima das chamas, e viu a mesma ser consumida.
Decidiu dar uma volta no jardim do castelo para desanuviar os pensamentos, uma vez que só conseguia sentir raiva da jovem serva, que havia lhe presenteado tão inocentemente. Tremaine não gostava dos sentimentos que cresciam em seu coração, mas não conseguia evitar. Observou o movimento dos criados por algum tempo, muitos deles vinham cumprimenta-la e parabeniza-la pela gravidez. O castelo todo sabia da notícia e estavam todos felizes com a chegada do herdeiro. Não aguentando mais aquele monte de felicitações e sentindo-se fraca, Tremaine voltou para seus aposentos.
Assim que fechou as pesadas portas de madeira pensando que teria alguma paz, a rainha percebeu que não estava sozinha.
Parada ao lado da cama, com olhar de desprezo se encontrava sua sogra, Nora.
— Vim ver como está meu neto. — comentou a mulher, passeando pelo quarto.
— Está muito bem, agradeço a preocupação. — respondeu Tremaine, encarando a sogra, desconfiada.
— Sabe o que é engraçado? — perguntou a antiga rainha de Belfrey — Eu fiquei sabendo que seu guarda levou suas roupas de cama hoje, antes do alvorecer.
— Algum problema nisso? — fingido calma, Tremaine sentou-se em uma poltrona azul e cruzou as pernas.
— Seus guardas agora fazem o serviço das criadas? — questionou Nora, limpando uma poeira imaginaria da penteadeira da rainha.
— Como a senhora mesma disse, meus guardas. Eles fazem o que eu mando fazerem. — respondeu, levantando o queixo.
A sogra se limitou a sorrir de lado, e caminhou pelo quarto. Era como uma fera cruel que atacava apenas por diversão. Nora não aprovava Tremaine como esposa de seu filho, muito menos como a rainha que tomara seu lugar do trono. Odiava o fato do filho ter se casado com uma mera camponesa, e embora todos acreditassem que Nora era um amor de pessoa, havia uma crueldade nela que somente a própria Tremaine conhecia.
— Espero que nada tenha acontecido ao meu neto. Seria uma pena se você, digamos, perdesse outro bebê. — virado-se para a rainha, Nora suspirou — Imagine o que o povo diria! Uma rainha incapaz de gerar um herdeiro é completamente inútil.
Cerrando os punhos, Tremaie forçou um sorriso, mas seus olhos soltavam faíscas em direção a sogra.
— Não se preocupe, tudo está perfeito. ­— confirmou, os nós dos dedos já brancos de tanta força.
— Ótimo! Porque eu juro que se você não segurar este bebê, farei meu filho manda-la de volta para o buraco de onde nunca deveria ter saído. — com um sorriso de pura maldade, Nora saiu porta afora desfilando pelos corredores do castelo.
Tremaine se levantou, os nervos a flor da pele. Cheia de frustração e raiva jogou a escova de cabelos que se encontrava em cima de sua penteadeira no espelho que se estilhaçou em milhares de pequenos pedaços.
Em todos eles, o reflexo de uma Tremaine muito diferente da garota que havia chegado no palácio tomava forma. Indo em direção a janela, Tremaine pode ver com perfeição quando Zelena, lá embaixo no pátio do castelo, abraçava seu marido Hades que a rodopiou no ar. Tremaine não podia ouvir, mas imaginou que eles estariam gargalhando. Uma mancha de inveja cresceu dentro da rainha.
Era como se estivessem zombando dela!
Tremaine não podia acreditar que, ela a rainha de um reino prospero não era capaz gerar filhos, enquanto uma serva e seu marido cavalariço podiam. O que eles poderiam oferecer a criança além de servidão pelo resto da vida?
Raiva, indignação, frustração e muitos outros sentimentos perigosos se revoltaram dentro da jovem rainha. Sentimentos que se não contidos poderiam levar um ser humano a fazer loucuras.
Observando a felicidade de Zelena e vendo seu próprio fim pelas mãos da odiada sogra, Tremaine decidiu.
Num futuro, talvez se arrependesse daquele exato momento, aonde tudo o que importava era fazer com que a sogra engolisse suas palavras e mostrar ao reino que poderia gerar um herdeiro para o trono. Mas aquele instante, com o coração envenenado pelo ódio, pela inveja e pela afronta, Tremaine tomou a decisão que daria um sentido diferente a tudo.
— LIAM! ­­— gritou, um segundo depois um rapaz jovem de cabelos louros e enrolados apareceu a porta de seu quarto, o semblante um tanto sério enquanto reverenciava sua majestade. ­­— Traga-me Gothel, imediatamente. ­­


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!!!
Vejo vocês nos comentários :)



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