— Está olhando o que, Potter?

— Essa sua cara feia, Malfoy.

— Sua mãe não te ensinou a ser educado com os outros? Ah, esqueci. Ela não teve tempo de te ensinar nada.

— Ao menos a minha mãe não era um Pikachu do meu pai.

— Retire o que disse!

— Ah, fala sério. Você nem entendeu a minha referência.

— Não preciso entendê-la para saber que é uma ofensa! A propósito, o que é um Pikachu?

— Um rato que dispara raios pelas bochechas.

— Está chamando minha mãe de rato?

— Meninos! — exclamou Hermione. — Esse nem é mais o ponto da conversa. O “Pikachu” é um personagem de um desenho animado para trouxas, Malfoy. Agora, por favor, parem de ofender a mãe um do outro.

— Um desenho sobre um rato que dispara raios pelas bochechas. Tsc, tsc. Só mesmo sendo trouxa para gostar disso!

— O que é um desenho animado? — Ronald cochichou no ouvido de Hermione.

— Você lê quadrinhos da Marvel, Malfoy. Me engana que eu gosto — rebateu Harry.

— Mentira! Que mentira!

— É verdade. Você tem uma quedinha pelo Capitão América.

— Men-ti-ra! Eu nem sei o que é Marvel!

Rony abriu a boca.

— Histórias em quadrinhos para trouxas — antecipou-se Mione.

— Ah! E o que são histórias em quadrinhos?

— Você é mesmo burro, Weasley. Não sabe de nada! São histórias com imagens que os trouxas escrevem.

— Ah... Espera, como sabe disso, Malfoy?

— Ouvi por aí — o outro desconversou.

— Você sabe porque lê os quadrinhos da Marvel.

— Calado, Potter!

— As imagens dos quadrinhos se mexem?

— Claro que não, Ronald! — disse Mione. — Francamente, até parece trouxa.

— Não, eu sou bruxo.

Ela suspirou.

— Não adianta mentir, Malfoy. Eu vi os quadrinhos do Capitão América debaixo da sua cama.

A cor sumiu do rosto de Draco. Não que isso fizesse muita diferença.

— Como assim debaixo da cama? Como você entrou lá? Por que você entrou lá, cara?

— Rony.

— Sim, Mione?

— Cale a boca.

— Quê?!

— Eu não sei do que está falando, Potter. Como o Weasley bem disse você não tem permissão para entrar na minha cama. Quer dizer, no dormitório da Sonserina. Quer dizer... Quem é o Capitão América? Deve ser um trouxa sem graça.

— Com certeza! — Harry sorriu. — O Thor é bem mais interessante.

— Retire o que disse.

— Ah, o Thor. — Hermione abanou-se com o pergaminho.

— Thor? Quem é esse aí? Quem é esse cara para eu dar um soco na fuça dele? — bradou Rony, enciumado.

— Tudo bem. Tudo bem — disse Malfoy. — O Thor é bonito. Mas o Capitão América é mais.

— Ah, não é, não.

— Não pedi sua opinião, Granger.

— Do que vocês estão falando?

— Engraçado você gostar tanto de um personagem que tem algo que lhe falta — provocou Harry.

— Está me chamando de fraco magricela, Potter?

— Moral, Malfoy. Estava falando sobre moral. Mas, sim, você é um fraco magricela.

— Como ousa?!

— Meninos, por favor, agora chega. Vamos estudar.

— Certo — grunhiu Malfoy.

— Desculpa, Mione.

Silêncio. Os únicos sons eram o rumor da água, o farfalhar das folhas e o arranhar das penas nos pergaminhos.

— O Homem de Ferro é um idiota.

— Não comece, Malfoy.

— Meninos!

— Desculpe.

— Desculpa.

Silêncio.

— Gente.

Todos viraram o rosto para Rony.

— Qual era mesmo o dever de Poções?

— Droga — disse Malfoy. — Eu esqueci totalmente. Posso copiar o seu, Granger?

Ela o fitou de soslaio.

— Peça ao seu namorado.

— Namorado? — Rony gargalhou. — O Draco tem namorado?! Tenho pena desse infeliz! Mas, conta aí, Malfoy. Quer dizer que você dá a bundinha quando ninguém está olhando?

Ele caiu de costas de tanto rir. Só percebeu que havia algo errado quando se deu conta de que ninguém ria com ele.

— O que foi, pessoal?

— Ronald... — Hermione virou-se para ele e começou a explicar com toda a paciência do mundo. — Lembra aquela conversa que tivemos outro dia...?

— Por Merlim, continua atrasada?

— Eu não estou falando dessa conversa! — O rosto de Mione ficou em brasa. — E, não, não está. Nós sempre tomamos cuidado. Tinha sido só um comentário bobo, está bem? — Ela mexeu nos cabelos, ciente de que Malfoy ouvia tudo. — Lembra que conversamos sobre o Harry estar agindo estranho... E você disse que ele provavelmente estava namorando em segredo?

— Lembro! Você falou que não era tão segredo assim. Que eu é que não estava percebendo os sinais.

— Então...

— Então?

Hermione quase fechou os olhos de desespero. Rony olhou para ela e depois para Harry. E depois para Malfoy.

— Não! Não me diga que...

— Sim, Rony — respondeu Harry.

— Não, não, não...

— Rony, o que conversamos sobre isso? Você prometeu que não ia surtar quando descobrisse.

— Mas com o Malfoy?! Logo com o Malfoy?

Rony bagunçou os cabelos, frustrado. Por um instante aterrador, Harry pensou que perderia seu melhor amigo.

— Está bem. Está bem. Eu supero isso. Ok, então. Meu melhor amigo está comendo a bundinha do cara que eu mais odeio na escola. Legal. Legal.

Ele abriu um sorriso afetado e ficou quase um minuto inteiro balançando a cabeça. Mas Hermione ainda parecia constrangida. E Harry estava mais vermelho que seu cachecol. Malfoy parecia tremer.

— O que...? Você está namorando o Malfoy, não é Harry?

— É...

— Tudo bem! Eu estou de boas com isso! Não precisa ficar sem graça. Está rindo do que, Malfoy?! — bradou, fuzilando o sonserina com o olhar.

Draco afastou as mãos dos lábios. Ignorava solenemente o olhar de aviso do Potter.

— Na verdade... sobre a bundinha...